30 abril, 2010

Porque é que, não devendo lá estar, vou para a rua gritar?

Após o 25 de Abril, Maio nasceu com esperança e festa. Na festa entrei eu, tu, este, aquele, nós vós e os outros. Tal não escapou a João Abel Manta, que na altura, desenhou um esclarecido "cartoon", comigo mesmo ali, à direita do operário, mascarado de Povo Unido:
Amanhã, esperam alguns, algo de novo vai acontecer. Vai estar quem deve: Que a raiva se sobreponha ao desanimo; que a consciência se junte à determinação; que a desesperança se transforme em resistência...


Eu não devia estar na rua:
- Não estou entre os 700 mil desempregados

- Não estou, nem nunca estive, em condições precárias de emprego
- tenho uma pensão de reforma jeitosinha
- Nunca fui operário
- Não sou funcionário público
- Não pretendo ser presidente da junta, nem da câmara
- Nunca disse que na URSS é que era bom
- Nunca paguei cotas de um sindicato

Mas acho que devo ir para a rua gritar, por opção de classe! As palavras de ordem lá estarão...

Libertem os vossos peixinhos, já!

Enquanto esperam por razões, que anuncio de muito fortes, para o post "Porque é que, não devendo lá estar, vou para a rua gritar?" libertem os vossos peixinhos.
Vejam como eu fiz:
Video elaborado por "vox nostra" que insiste em captar retalhos bons da minha vida

29 abril, 2010

Os meus contributos para a morte lenta da Indústria Transformadora

Não sei o porquê deste ar de quem tem sentimentos de culpa. Nem eles, nem os partidos que representam, podem ser culpabilizados. A culpa é minha. A morte lenta do aparelho produtivo tem, na minha descuidada intervenção, a principal causa. Os semanários poupam-me. Omitem as minhas culpas, mas estes vão aparecer como os principais salvadores.


Introdução – Se bem se lembram, já contei, fui enfermeiro graças aos testes psicotécnicos que me descobriram tal aptidão. Quatro anos de serviço militar. Passado à “peluda” em finais de 1971, não foi difícil arranjar emprego. Não potenciei a minha vasta experiência anterior adquirida em diversas actividades: como paquete num escritório; vendedor; revisor de textos num jornal; enfermeiro. Nem sequer quis utilizar a cunha do meu sogro, para ingressar numa seguradora. Quis uma função fabril: Programador de Trabalho. O que se seguiu foi o ingresso numa profissão aliciante que passou de Programador a Técnico de Organização Industrial e depois a consultor, atingindo o topo da carreira como senior manager nas áreas da consultoria em organização e gestão. Conheci apenas 4 entidades patronais, mas em 8 admissões. Como explicar esta incongruência? É simples: Saia de uma e entrava noutra de onde saía para regressar à primitiva. Fiz isto quatro vezes. Um verdadeiro boomerang, lançado para novos rumos e com regressos festivos e melhorados em salário, categoria e respeito profissional. Digo isto por vaidade pessoal? Não! Claro que não. Digo isto só para dar evidência de que este meu testemunho se baseia em competências reconhecidas e admiradas…

Uma carreira construída a fechar empresas – Ao fim do meu percurso profissional, faço o balanço e constato que de todas as empresas que me deram emprego (Ramalho Rosa, Ld.ª; G. Tournier, SARL ; NORMA; Coopers & Lybrand; PwC Consulting e Lisconsult) apenas esta parece ainda ter alguma actividade. Todas as outras ficaram pelo caminho...
Quase todos os projectos onde participei levaram ao encerramento de empresas de grande ou média dimensão ou a alterações profunda na sua missão. A lista é tremenda: Siderurgia Nacional; SAPEC; MAGUE; Companhia Portuguesa do Cobre; MJO; Fundição de Oeiras; A Reguladora; IPETEX; J.B. Corsino; Companhia Portuguesa de Trefilaria; Sociedade Portuguesa dos Sabões… Estas empresas tiveram o meu apoio em projectos inovadores visando replicar efeitos de produtividade e melhoria da qualidade em outras, por feitos de demonstração de boas práticas… As outras replicaram mesmo: ou já fecharam ou acabarão por encerrar. Os quadros seguintes dão a visão global dos efeitos da minha intervenção.

Entre 1990 e 2002 fechei várias empresas, as outras imitaram os meus projectos e vão fechando sob o efeito da minha competente intervenção. Porque os efeitos só se fazem sentir a médio prazo, as agências de "rating" chamam a isto uma economia em "morte lenta"

Claro que o impacto no emprego também me coloca na lista negra como principal causador de muitos dramas que vão por aí.

E o sector público? - Pois, também aí vão acontecer coisas. Tendo eu realizado projectos relevantes na CARRIS, STCP e INCM não se deverá esperar muito para... Não estas não fecham, privatizam-se. E como passei na Direcção Geral dos Serviços Prisionais, sem ter ficado em nenhuma das suas celas, nada me admira se não teremos presos em Estabelecimentos Prisionais privados... prontos para nos receber a nós (aos outros, não!).

Epílogo - Os dois senhores que irão salvar as trapalhadas que eu ando a fazer desde o 25 de Novembro, já chegaram a um entendimento, que podemos resumir assim:

    • Nada de reforçar o aparelho produtivo que eu derreti, iria dinamizar a economia, criar emprego e aumentar a base de incidência das receitas do Estado. Nada de fazer isso. Embora reformado, eu continuo por aqui e sou um perigo
    • Pelo lado da receita será melhor privatizar, sobretudo o que dá lucro
    • Irão reduzir os subsídios de desemprego, ver-se-ão livres dessa despesa
    • Irão fazer mais umas coisas, nem eles sabem bem o quê...

Serão os salvadores do Sistema. Ou aparecerão como tal...

28 abril, 2010

Porque é que eu, gajo urbaníssimo, sonhava com a Reforma Agrária?


Parece que o sonho terá começado assim - Aos 30 anos lembro de me lembrar que quando tinha 12 ou 13, comecei a pensar em certas coisas. Foi por finais dos anos 50, nas férias de Natal passadas na quintinha dos meus avós (sim , aquela de que já aqui falei há dias atrás), que me punha a olhar para a pequena charca, com a imaginação solta. Imaginava, mais uma vez, um personagem dos contos do meu avô. Eu Tom Sawer ou Huckleberry Finn, atravessando um grande caudal de água, não no Mississípi e sim no Guadiana, mais propriamente no Alqueva. O meu imaginário lidava com todas as mensagens fortes e mal interpretadas, apanhadas nessa minha infância atenta às conversas de adultos. Falavam eles do Alentejo, da fome e privações e da esperada abundância trazida pela água que passaria a irrigar todas as terras alentejanas. Que bom seria ver o Alentejo como a quintinha que o meu avô, com força que lhe vinha sabe Deus de onde, punha a produzir tudo. Mesmo tudo. De tudo havia na horta, no pomar de laranjeiras, tangerineiras e algumas romãzeiras, a seguir videiras, mais oliveiras e ainda figueiras. Não pensem que a vaca e os coelhos não tinham erva fresquinha apanhada num fim de tarde, todas as tardes. Via, imaginava o Alentejo dos meus avós com franca abastança e com os putos alentejanos ao colo dos avós a ouvir contos e novelas como só os homens felizes sabem contar…

Na escola aprende-se e equacionam-se as duvidas - Quando, na escola, ouvi falar em Lei das Sesmarias, com o professor de olhos brilhantes, sabe-se lá se pelo prazer de ensinar história se pelo entusiasmo do tema, redobrei a minha atenção. Contava ele que, segundo a Lei das Sesmarias, se o proprietário não fertilizasse a terra para a produção e a semeasse, esta seria repassada a outro agricultor que tivesse interesse em cultivá-la. Isto era bonito de ouvir. Menos interessante e justo me pareceu o facto de somente aqueles que tivessem algum laço com a classe dos nobres, os militares ou os que se dedicassem à navegação e tivessem obtido honrarias que lhes garantissem o mérito de ganhar uma sesmaria, tinham o direito de recebê-la. Meu avô, por exemplo, teria direito a uma sesmaria? Não me parece que tivesse tal direito. Perguntei ao professor se o meu avô, no caso de alguém que recebesse sesmaria se estivesse nas tintas para as terras, se ele as poderia receber. Nicles batatóides, o professor respondeu com um vago e impreciso: “Talvez, Rogério! Talvez…”
Depois, depois foram leituras e vivências - Fiquei assim cheio de duvidas, até que progressivamente foi tomando consciência seguindo um percurso que já descrevi neste blogue (podem ir por aqui vasculhar no meu baú os posts que já escrevi sobre o tema). É assim que hoje não me resta qualquer reserva sobre o que se perdeu e sobre o que se está a perder por a reforma agrária ter ficado pelo caminho…

Evolução da utilização da terra ou de abandono progressivo?

Quem não quiser dar-se ao trabalho de ver o que já escrevi, leia o gráfico (1974/76 anos da Reforma Agrária não aparecem mas seriam certamente superiores aos de 1979 ) - Fonte PORDATA

Não basta ter esperança! - Ontem, no Programa Prós e Contras sobre a agricultura portuguesa não se falou nem na quinta do meu avô, nem nas origens da posse da terra, nem na reforma agrária, nem das razões porque as terras permanecem com elevados níveis de abandono e o Alentejo se vai despovoando. Banco de Terras? Que é isso? Vejam. Vejam e digam lá se não vale a pena lutar por isso. Mesmo que seja uma pessoa urbanissima, como eu!


27 abril, 2010

Que fazia eu em Angola (1969/71) com uma arma na mão? (2)

Continuação

De armas e bagagens rumo ao Andulo/Nhareia – Terras de domínio de Savimbi, foi-nos concedido aí merecido descanso. Com outro comandante (o primeiro foi castigado por um sem número de zombarias em Maquela do Zombo) a vida afigurava-se pacata e calma. Contudo, as “baixas militares” continuaram. Sem qualquer violência, as prostitutas lá foram propagando doenças venéreas à velocidade da ignorância dos “amantes” no que respeita a preceitos básicos de prevenção mínima. Continuou-se aí a difusão de leituras e discos, agora sem a exuberância revolucionária que a anterior “Universidade Livre” tinha patrocinado. Ainda eu, mal tinha passeado o meu bastão (oferta do soba lá do norte) e mal saboreado frutas-pinha (anonas), mangas, abacates e outras iguarias que Lisboa desconhecia, quando dois acontecimentos viriam a reforçar a minha impressão que a guerra colonial estaria por um fio: o novo comandante, também este castigado, iria ser substituído; Andulo/Nhareia foi sol de pouca dura e desta vez teríamos que voltar a pegar em armas e bagagens, rumo ao Umpulo. Três capitães em pouco mais de um ano era uma média preocupante...

Na vila de Nhareia, à paisana para me dessimular de mim mesmo, armado do bordão que o soba me tinha oferecido

De Nhareia ao Umpulo vai um pulo – Umpulo era terra também de domínio da UNITA, situa-se a umas poucas dezenas de quilómetros de General Machado e à beira do Rio Cuanza. Fomos para aí chamados para ocupar o lugar de uma unidade de recrutamento angolano. O efectivo (soldados negros) tinha-se sublevado contra o comando (oficiais brancos) e, pelo que corria, teria havido cenas horrivelmente chocantes. Depois de um inicio calmo, regressaram as operações. O MPLA estava a implantar-se na região tradicionalmente da UNITA. As nossas tropas não hostilizavam Savimbi. Savimbi e nós guerreávamos a UNITA. O MPLA punha-nos minas a centenas de metros do aquartelamento. Uma complicação, quer para entender quer para sobreviver. Com o passar do tempo e o agravar da situação foi então desencadeada uma operação de grande dimensão com tropas provenientes de várias regiões militares, reforços da Força Aérea e uma unidade de Cavalaria com …cavalos. Pela primeira vez tive enquadramento da competência realmente competente: os médicos. A estes devo o que se passaria depois. Depois. Depois de ter entrado nos copos, aí pelos primeiros dias de Dezembro de 1970, até sem ter saído deles dois meses depois. Por recomendação médica fui enviado, em missão sem objectivo, para Nova Lisboa. Sozinho. Sozinho e sóbrio!
Dos riscos de alcoolismo para outros riscos, na cidade do Planalto – Nova Lisboa. Cidade pequena e airosa que podia ser percorrida a pé em pouco mais de uma hora. Tinha três poisos esta ave que aqui escreve: a Biblioteca; o bar do Rádio Clube do Huambo; a esplanada do Ruacaná. Triangulando por aqui, cedo fiz amizades. Arrepio-me só de pensar a facilidade com que penetrei em determinados meios da burguesia local e entre alunos da Faculdades de Veterinária e Agronomia. Se fosse agente da PIDE teria feito grandes estragos no MPLA. Se alguém dessa polícia se tivesse infiltrado, teria eu algumas complicações. Pequenas, mas teria… O tempo esse passei-o a fazer coisas interessantes: criar um movimento de artistas. Jovens pintores e escultores locais propunham-se organizar-se em atelier-escola com o objectivo de trocar conhecimentos e permutar técnicas, promover a exposições de trabalhos individuais e colectivos. O projecto acabaria por ser abortado por medo. Medo não infundado perante notícias provenientes de Luanda: uma exposição de artistas de vários países africanos tinha sido proibida, algumas obras retidas e várias pessoas acusadas de que o certame estaria relacionado com pretensa recolha de fundos destinada a financiar a guerrilha. Com este desfecho só me restava aguardar pelo regresso, com passagem por Luanda.
Enfim em Luanda, protinho para o regresso - Não, não falo de 3 semanas passadas em Luanda. Merece outro post. Fica para um dia destes…

Epílogo: Só poderia terminar este texto com a resposta à pergunta que dá título ao post “Que fazia eu em Angola (1969/71) com uma arma na mão?" Resposta: Recolher indícios e provas que o destino não se adia por força das armas e que o povo angolano tem mais a ver com 25 de Abril do que este tem a ver com a libertação dos povos africanos. O gráfico abaixo ajuda a compreender isso mesmo, ilustrando que o crescente esforço imposto pelos movimentos de libertação não seria sustentável pelo regime.
Evolução dos efectivos deslocados nas três frentes da guerra colonial

Fonte: Guerra Colonial

Que fazia eu em Angola (1969/71) com uma arma na mão?

Uma longa introdução: Não esperem reportagem documentada dos factos, nunca dei por mim a percorrer destinos anotando coisas e fotografando paisagens de nuvens, de terra e de gentes. Não esperem uma análise ao conflito armado nem às políticas coloniais da época. Tudo isso faz o Joaquim Furtado, por vezes melhor do que eu faria com os recursos que lhe são dados. Não entrarei em grandes explicações tais como dos porquês da minha patente de Furriel Miliciano nem sequer da eficiência dos Serviços Psicotécnicos do Exercito que terão descoberto em mim competências de salvador, ao seleccionar-me a especialidade de enfermeiro. Este post não é isso. O que será não sei, mas pretendo deixar por testemunho que os Capitães de Abril só fizeram o que fizeram, graças a mim. É por isso que dedico, estas recordações mascarado de moço de 30 anos, a este seu autor já sexagenário. Sim, ofereço isto a mim próprio. Mereço!

Chegada a Luanda de um Vera Cruz sobrelotado de militares, pouco menos que gente (os salva-vidas estavam lá só para fazer pirraça)

11 Dias de viagem, chegada ao porto de Luanda no dia da 1ª alunagem. Dia histórico para a humanidade e para mim. Viagem distraída, imersa na ocupação voluntária e preocupada em juntar todos os conhecimentos possíveis nas práticas de enfermagem e actos médicos, no posto de socorros de bordo, O convívio com sucessivas equipas de médicos militares dos Serviços de Saúde. Permitiram-me aprimorar algumas técnicas de aplicação de agrafos e de pequena cirurgia. Eu, tinha de encarar uma colocação que tanto podia ser assim como assado, mas que me confrontaria, sempre, com a minha quase que irrelevante preparação. De outras coisas, retenho as condições em que viajaram os soldados ao visitar pisos inferiores sob a proa do Vera Cruz. Maricas como era, emocionem-me. Eles… Eles teriam tido a pior viagem das suas vidas. Tratados a um nível abaixo de gente certamente que não estariam em condições ideais para grandes actos de heroísmo…

Eu, lendo o livro mais volumoso, não procurava a evasão. Procurava naquelas páginas a razão de ser de estarmos ali

Estadia em Maquela do Zombo, sofrendo: Não era bem em Maquela mas a poucos quilómetros dessa vila, situada perto da fronteira do norte de Angola, que se situava o aquartelamento. Os primeiros meses foram de sofrimento (os seguintes também). Durante a rendição das unidades militares, houve alguma passagem de know how do estilo: “pouca confiança nesta gente” e registávamos mil ocorrências a comprovar os conselhos. Quanto a distracções? À pergunta sucedeu-se uma resposta longa, como quase sempre acontece quando se fazem perguntas estúpidas: “Dantes ainda se caçava alguma coisa de jeito. Hoje, se apanhares uma pacaça num mês, terás muita sorte. Contentem-se na caça ao “churrasco”(1), aí nas sanzalas (2). Mas nada de usar armas, os “secúlos” (3)não gostam e os sobas(4) costumam fazer queixa na sede do Batalhão. Se para nós militares a distracção tinha acabado para as populações locais esse recurso alimentar tinha-se esgotado há muitos anos. A guerra tinha dizimado todas as espécies animais em grandes áreas territoriais de Angola. Mas não foi isso que me levou a pensar que a situação não seria sustentável. Foi mais forte esse sentimento quando percebi que à passagem da nossa coluna militar os caminheiros, mulheres e crianças, afastavam-se da picada (5) e entravam capim dentro aí uns bons 10 metros, distancia considerada de segurança perante o risco de atropelamentos de ódio e vingança”. Foi igualmente forte quando, conferindo o material sanitário e o stock de medicamentos, dei conta de quantidades inusitadas de morfina. Que estaria aquilo ali a fazer? Quantos toxicodependentes saíram daqui ontem? Quantos andariam por aí, abastecidos pelos Serviços de Saúde do Exército?

Estadia em Maquela do Zombo, zombando – A partir de certa altura, foi o deboche (talvez a partir da altura em que passamos a cumprir efectivamente a missão e a ter de mandar grupos de combate para o terreno das operações). Diariamente, passavam na “instalação sonora” do aquartelamento todo o tipo de música entremeada com Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Padre Fanháis e outros… Os oficiais passaram a frequentar a messe de sargentos que passou a ser apelidada por Universidade Livre do Reino da Roça (6) lugar de culto ao livro, à conversa solta e ao whiskey (que eu bebia com uma bala de G3 dentro simulando, pelo tilintar, a pedra de gelo que nem sempre havia). Quando apareceu a ordem de transferência para a região do Andulo eu tinha uma certeza: a complacência nestes comportamentos era sinal de que todos, do comandante ao soldado, estavam ali por razões que nada tinham a ver com o discurso oficial do regime…

(continua)

Notas

  1. “churrasco”, todos os animais com penas, eram designados assim
  2. sanzalas, aldeamentos (no centro e no sul são designados por kimbos
  3. “secúlos”, os mais velhos oa quais detèm vários poderes
  4. sobas, autoridade representativa dos negros junto da administração colonial
  5. picada, caminho ou estrada de terra
  6. roça, fazenda normalmente com plantações de café

26 abril, 2010

Entre duas datas, que fazer com este bocadinho de liberdade?

A liberdade está a ser utilizada em projectos criativos, Oquestrada e Deolinda fazem-me rejuvenescer. Que fazer agora que regresso aos meus trinta anos?
***
As canções, novas e panfletárias, estão de regresso. Passam mensagens populares, subversivas e ainda de versos contidos, com vozes impertinentes de mulheres que sentem que terão papel determinante num futuro que já tem odores mesclados de Abril e Maio.
Perceberam que rejuvenesci com isso. Assim, estou disposto até à madrugada do próximo sábado fazer lembrar que não é com um bocadinho de liberdade conquistada que calam o que Abril prometeu. Sim, da Liberdade foi só um bocadinho. A parte maior anda por aí a ser usada a medo...
Até grande parte de inofensivos blogueres vestem burquas, escondem-se sem que eles próprios saibam bem porquê. A outra grande fatia da Liberdade está a ser bem utilizada por novos vampiros. Estes, tal como os outros, comem tudo. Chegam a todos o lado, pousam onde lhes apetece, enchem as tulhas e bebem vinho novo. Eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam mais que um ténue sentimento de liberdade que aproveitamos para queixumes e veementes protestos sem correspondência nos resultados eleitorais…
O meu programa, entre datas, vai ao sabor de pedidos que me foram feitos por amigos e pela minha filha mais nova. Será em toada de quem está a prestar contas pelos seus actos. Vai ser assim:
  • Amanhã – Que fazia eu em Angola (1969/71) com uma arma na mão?
  • 4º Feira – Porque é que eu, gajo urbaníssimo, sonhava com a Reforma Agrária?
  • 5ª Feira – Os meus contributos para a morte lenta da Indústria Transformadora
  • 6ª Feira - Porque é que, não devendo lá estar, vou para a rua gritar?
  • Sábado – 1º de Maio – Balanço de uma semana entre duas datas

25 abril, 2010

Escolas da minha vida: Agrupamento Escolar Nuno Gonçalves

Abanca-te e lê! Vale a pena ir ler o jornal da minha escola. ABANCATILÊ, aqui

Não vi as cerimónias oficiais de comemoração do 25 de Abril. Só li alguns jornais. Dediquei grande parte do tempo a revisitar a minha escola. Procurei ali a esperança num Abril Novo. E encontrei. Para minha satisfação vi lá coisas que me foram familiares, muito semelhantes ao que de bom eu vivi no meu tempo (ver o meu post de ontem). A minha visita virtual foi recheada de boas surpresas utilizando o excelente site da escola e os seu inúmeros blogues. E não vi, nem vestígios de marchas fardadas, nem de continências nazis... É uma Escola do 25 de Abril.

A minha sugestão aos professores
Não apaguem a História. Não reduzam os efeitos do 25 de Abril à conquista das Liberdades. Falem por favor:
  • da educação por sexos e na Mocidade Portuguesa
  • da queda do Império Colonial, nas alterações profundas na África Austral e no fim do apartheid. Falem no Nelson Mandela. Podem enquadrar isso explicando que eram cerca de 150 mil os jovens que andavam por terras de África a tentar adiar o destino...
  • das Nacionalizações, sem as quais não se teria reintegrado mais de 500 000 retornados das ex-colónias. Podem também dizer que a economia, nesse tempo, sofreu menos do que está sofrendo hoje...
  • das medidas sociais que resultaram dos primeiros governos, tais como o salário mínimo nacional e o subsidio de desemprego (1974/75)
  • da Reforma Agrária ...

É difícil falar de tudo isso? Claro que é. Mas acho mais difícil esconder e continuar ter mão nos putos quando eles desconfiarem que lhes estão a apagar a história e a distorcer o destino. Palavra. A gente miúda não racionaliza, mas sabe muito bem sentir a mentira...

24 abril, 2010

Escolas da minha vida: Escola Preparatória Nuno Gonçalves

O painel na entrada parecia avisar-me: Nesta escola aprenderás grandes coisas...
Entrei confiante na escola e no primeiro dia de aulas marquei pontos. Um matulão tomou conta de mim e não passei por torturas tremendas de “calduços”, “roda muda” e “amostras”. Nada como entrar com o pé direito numa dimensão até aí desconhecida. A imponência do edifício, tantos professores, imensos espaços de aula e recreios e muitos, muitos e barulhentos miúdos… Depois, depois foi bom.
O mestre de Trabalhos Manuais, na sua bata azul, lá batia de vez em quando, com uma régua vigorosa, na primeira bancada. O som soava com ressonâncias mil. Era assim que ciclicamente a turma silenciava, temendo que atrás do trovão surgisse alguma faísca disciplinar. No 2º ano, com o mesmo mestre, fiz um bonito candeeiro. Uma ancora de madeira com grossa corda entrelaçada e que o próprio professor electrificou.
As aulas de português eram vivas. Frequentemente teatralizávamos textos. Por certo entusiasmado, o professor resolveu fazer algo de mais criativo com o tema da revolução de 1640. Roupas e cenários a sério, com a colaboração dos pais. Textos adaptado por um grupo. Fiquei magoado com o meu papel de traidor. Mas eu era o mais pequeno Miguel de Vasconcelos da turma, era o único que cabia no armário…
Em Canto Coral, fui cooptado para o orfeão. Em Desenho, fui cooptado para um grupo restrito de criadores e pintar tudo e mais alguma coisa, Recordo o deslumbramento quando vi a minha obra, depois de passar pela mufla da Cerâmica Viúva Lamego. Era um prato decorativo com as imagens de uma cegonha e uma raposa com dizeres que já não recordo, mas que seriam certamente alusivos à fábula de La Fontaine.
Estes grupos funcionavam às 5ªs feiras, mas acabaram. Em sua substituição passamos a ter uma outra preparação para a vida. Fardados, mas já não de bata branca.. Passei a ter de marchar, fazer continência…
Isto, não só estragou o resto desse meu ano lectivo de 1957, como me marcou para o resto da minha vida...

Escolas da minha vida: a quintinha dos meus avós

Na quintinha, sentia-me um dos personagens dos contos do meu avô

Tinha 11 anos e passava as minhas férias na pequena quintinha dos meus avós, lá na margem esquerda do Tejo. Foram férias de alvoroço diferente. Não subi a nenhuma árvore, não nadei no tanque de rega, não apanhei lagartixas nem corri atrás dos gansos. A ansiedade fazia-me distrair da bicharada e do calor, naquele verão que antecipou o meu ingresso numa nova etapa escolar. Minha avó deu conta. “Que estás aqui a fazer? Vai brincar. Vá!” . Dever-me-á ter dito isso ou algo parecido. Não me lembro bem.
Recordo mais o meu avô, contando-me histórias sem fim. Rosário de contos, bem ligados e onde, fazendo ora de narrador ora de figurante, passava dos ambiente soltos e de riso para os mais densos e medonhos com monstros do fim do mundo a serem vencidos pelos destemidos navegadores. Isto entre duas quadras ou algo que rimava. Só mais tarde identifiquei algumas daquelas narrativas e poemas. Foi nesse ano que meu avô me deu a conhecer Suassuna, Mark Twain, António Aleixo, Fernando Pessoa, Gil Vicente e até Camões, sem disso me dar conta. Passei o resto das férias entremeando os meus tempos de atenção ao meu avô com tentativas de imaginar mostrengos e padres Cíceros e outros personagens daqueles mundos para onde ele sabiamente me transportava.
Um dia minha mãe me dissera: “Sabes, o avozinho era muito considerado lá na aldeia. Todos o respeitavam. O professor procurava-o sempre, levavam tempos e tempos na conversa em passeios quase diários…” À distancia dos anos, acho que aquelas férias reforçaram o meu afecto àquele meu velho e prepararam-me para a escola. Compreendi que poderia confiar em todos os professores pois eles também sabiam as histórias que o meu avô contava...
Foi assim que semanas depois entrei na Nuno Gonçalves, na esperança dos meus novos professores me irem explicar algumas coisas que eu, para não quebrar o encanto da narrativa, nunca cheguei a perguntar ao meu avô.

23 abril, 2010

Escolas das Nossas Vidas - Beiriz

Estão enganados, nunca lá estive. Nem sabia que existia uma freguesia com tal nome no Concelho da Póvoa do Varzim. Dei com ela, com a sua escola, quando fiz pesquisa no Google curioso por saber o que era lá isso do projecto Fénix. Fui dar a um blogue, que passei a acompanhar. Roubei de lá estas imagens relativas a um evento que a escola realizou sob o lema "Escola da Minha Vida". É uma escola pública, onde os professores...

Se querem saber mais, passem por lá. Talvez fique a ser a escola das vossas vidas. Sim, porque nós temos que ligar as nossas vidas a todos os lugares onde se educam as novas gerações.

PS: Talvez venha a falar na minha escola, na propriamente dita. Um dia destes...

22 abril, 2010

Dia da Terra - Dois avisos e uma mensagem de esperança

Dois avisos: 2014 data crítica do pico petrolífero (o petróleo esgotar-se-á dentro de 40 a 60 anos); 2025 data crítica de stress hídrico (1,8 biliões de pessoas viverão em países ou regiões com escassez absoluta de água).


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Uma mensagem de esperança: É possível desenvolver uma consciência ecológica e cívica que evitará a catástrofe

21 abril, 2010

Somos aquilo que fazemos e as memórias que cultivamos.

Dois convites num só dia, um denominador comum: a memória. Aceitei ambos. Mantenho a convicção que nós somos aquilo que fazemos e as memórias que cultivamos.
  • Primeiro convite – Relembrar relações distantes, então irmanadas por tantos sonhos e lutas comuns. Reencontro com um grupo que insiste em percorrer os caminhos da memória com a esperança de que irão dar a um destino feliz.
  • Segundo convite – Relembrar quase tudo o que tem a ver com o lugar e com a comunidade local, a minha, da qual me vou aproximar mais. As variáveis espaço e memória devem ser , pelas razões que referi no meu post de ontem, devidamente acarinhadas e participadas. Se o quiserem fazer também, apareçam. Este último convite é público:

Encontros de História e Património

Diálogos em Noites de Verão 2006-07 [ lançamento editorial]
24 Abril 2010, 16h00
Forte de São Julião da Barra, Oeiras

20 abril, 2010

Nuvem Passageira - Um bom treino, a servir de pretexto para...

Mudar a nossa cultura, viver sem aviões, regressar ao campo e à economia de subistência

Uma nuvem, grande, grande! Pequeno o vulcão, enorme a lição:

Alguém se lembra, ou mesmo saberá, que a Revolução Francesa começou numa erupção vulcânica e que, uns anitos depois, uma outra daria origem àquilo que historiador John D. Post chamou de "a última grande crise na subsistência no mundo ocidental"? Caso não, relembrem aqui. Julgo que ocorrências dessa dimensão ajudariam a mudar toda uma cultura e modo de vida baseada no petróleo. Alterar uma sociedade totalmente dependente de uma imensidão de produtos derivados do petróleo não é fácil. Se um pequeno cataclismo ajuda, um dos grandes ajudaria muito mais.
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A verdadeira ameaça é o fim da civilização do petróleo (Fase E):
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Para a maior parte dos cientistas já aconteceu o inicio da fase D

Hoje tal ameaça é reconhecida por entidades insuspeitas e pelo próprio governo britânico. O ministro da Energia Lord Hunt, efectuou em 22 de Março uma reunião cimeira "à porta fechada" com uma task force de especialistas do "pico do petróleo". Segundo informações dos que compareceram, a cimeira produziu algumas conclusões importantes:
    • O Pico Petrolífero está já aí, ou bastante próximo.
    • Os preços terão de ser mais altos pois a procura ultrapassa a oferta.
    • Governos serão forçados a intervir para manter níveis críticos de abastecimento de petróleo e limitar a volatilidade.
    • Medidas de racionamento podem ser inevitáveis.
    • A electrificação do transporte deve ser prosseguida a fim de reduzir a procura.
    • As comunidades precisarão de trabalhar rapidamente para reorganizar-se a andar a pé ao invés da condução, produzir alimento e energia localmente ao invés de importar e tentar na generalidade reduzir as suas necessidades de petróleo.

Por cá, como se estivessemos na fase D, tomam-se medidas desgarradas:

O transporte aéreo de passageiros levará uma grande volta, reduzindo-se a mobilidade

Decidem-se TGVs e novo aeroporto e ainda não foi apresentado o Plano Integrado de Transportes. Ignora-se o problema como se nada se passasse e o "pico petrolífero" fosse uma ficção. Ignora-se mesmo realidades que se metem pelos olhos dentro, como seja a tendência para a redução do transporte aéreo (ver alerta hoje no Diário Económico).
No que se refere à autonomia alimentar, continua-se sem ter tomates (o Pingo-Doce vai comprá-los a Espanha) e a encarcerar a água do Alqueva sem lhe definir o preço nem uma politica de uso. Ignora-se que as terras alentejanas permanecem incultas... ou pensa-se em empreendimentos turísticos. Pois não se vê que a mobilidade vai deixar de ser o que era.
A nuvem passageira não serviu de alerta? O vulcãozito não despertou inteligências nem memórias?

19 abril, 2010

Vamos lá pôr ordem no espaço aéreo...

Se eu não limpar isto, vamos ter a Europa num virote...
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De acordo com Olivier Jankovec, director da ACI Europe, 6,8 milhões de passageiros foram afectados pelo encerramento do espaço aéreo europeu, os prejuízos dos aeroportos europeus já atingiram os 136 milhões de euros e as companhias aéreas perdem 185 milhões por dia.
Visto pela positiva, encarem-se estas restrições como um ensaio para as severas limitações ao consumo do petróleo. É um ensaio em cenário de ruptura: Não há aviões, não há autocarros, nem táxis. Nada! Acabou o petróleo…

Claro que as coisas na realidade não se vão passar assim, a acreditar na teoria do Pico Petrolífero. Por outro lado há quem esteja a tomar medidas. Retirei de um artigo (ver aqui) o testemunho de que assim é:

"O que deveríamos fazer acerca do Pico Petrolífero? Comecemos com o que fez a U.K. Industry Task Force on Peak Oil (a qual inclui Sir Richard Branson da Virgin Airlines): Reconhecer a realidade dos limites da oferta. A seguir estudar as vulnerabilidades dos sistemas de transporte e alimentares aos altos e voláteis preços do petróleo, e então começar a tornar aqueles sistemas mais resilientes e menos dependentes do petróleo.
Mas fazer isso rapidamente. A adaptação levará décadas e estamos a começar muito tarde."

“It's Time To Deal With Peak Oil”, By Richard Heinberg in National Post

18 abril, 2010

Mau tempo! Vai haver borrasca?

Tenho vindo a adivinhar chuva... Depois de factores climáticos anómalos, que desde o inicio do ano tem atormentado os que anseiam por uma verdadeira primavera, as notícias que me chegam não são as melhores.
Surpresa? Só para quem anda no laréu, distraído e a pensar que a eira cheia de sol é para seu usufruto e que a chuva, quando cai, é lá para o nabal...
Juntei os três meteorologistas que, desde o inicio do ano, me sopram que o mau tempo, aquele que é mesmo muito mau, ainda está para vir. Do que eles disseram, transcrevo as partes que justificariam que todos nós, que somos da protecção civil, tomássemos medidas:

“As pensões mínimas deveriam ser de 500 € e as máximas de 5000 € … Estamos num país talvez à beira de explosões sociais … o povo de brandos costumes pode não durar".
Meteorologista da AMI, Fernando Nobre, in jornal Expresso 20 Fevereiro e aqui

“PS ou PSD? Não há qualquer diferença entre uns e outros … é preciso recuperar rapidamente o país … Depois não temos que nos queixar que venham aí ditaduras…O Hitler apareceu assim”.
Meteorologista do Pingo Doce, Alexandre Soares dos Santos, in SIC 11 Março e aqui

“As explosões sociais sem controlo, ou a convergência de interesses espúrios que depois não se sabe onde vão parar … são potenciadores de populismos radicais”.
Meteorologista da InterSindical, Carvalho da Silva, in Expresso, 13 de Março e aqui

Este post é dedicado ao meu amigo folha seca, para que a Primavera lhe chegue, numa qualquer madrugada de Abril...

17 abril, 2010

Querem divertir-se? Claro que podem (mas preparem-se para pagar a factura)


Eu, que tenho como compromisso mudar o mundo, tenho de desenvolver este texto, digo eu:

Com as anunciadas privatizações perderá o Governo condições para contrariar a avalanche de especulação dos preços, fenómeno que frequentemente acompanha este tipo de conjunturas. Que jeito daria agora se o Estado pudesse dispor da Siderurgia Nacional para poder contrariar os cambalachos que se avizinham em torno do comércio do aço, que regista um aumento de 50% num só dia. Mas não é apenas a perda de instrumentos sobre sectores estratégicos do desenvolvimento. É, também, perder enormes fontes de receita com o falso argumento de a posse das Empresas Públicas serem o grande factor de endividamento do país…
Sobre este tema, dou uma vez mais a um economista o espaço que os semanários lhe negam, diz ele:

"No passado, os governos do PSD e do PS utilizaram diversas razões para justificar, perante a opinião pública, a privatização de empresas públicas. A experiência depois mostrou que essas razões não eram válidas. Neste momento, o governo defende a privatização de mais empresas públicas, com o argumento de que isso é necessário para reduzir a divida pública. No entanto, a experiência e a análise objectiva mostram que não é com a venda de empresas públicas que se consegue reduzir a divida. Muito contrário, até se agrava como se prova neste estudo.

Entre 1987 e 2008, os governo de Cavaco Silva, Guterres, Durão Barroso e Sócrates, procederam à privatização maciça de inúmeras empresas públicas, obtendo uma receita de 28.039,6 milhões de euros a preços nominais. No entanto, no mesmo período, a Divida Pública passou de 19.049,4 milhões de euros para 110.346,6 milhões de euros, ou seja, aumentou 5,8 vezes (+ 91.297,2 milhões de euros). Até 2013, o actual governo tenciona privatizar totalmente cinco empresas (INAPA, Edisoft, EID, Empordef, Sociedade Portuguesa de Empreendimentos) e parcialmente sete empresas (GALP, EDP, TAP, CTT, ANA, Companhia de Seguros Fidelidade-Mundial e Império- Bonança, e EMEF), e arrecadar desta forma cerca de 6.000 milhões de euros. No entanto, em 2013, o governo prevê no PEC:2010-2013 que a Divida Pública atinja 89,8% do PIB o que corresponde a cerca de 163.860 milhões de euros, ou seja, mais 53.513,5 milhões de euros do que em 2008, e mais 144.811 milhões de euros do que em 1987. É claro o fracasso desta politica de venda de empresas públicas para resolver o problema do aumento rápido da divida pública."

Para ler na integra este estudo do economista Eugénio Rosa, ver aqui

16 abril, 2010

Gritar, gritar bem alto! (porque hoje é dia mundial da voz)


Galatea de las esferas (Salvador Dali 1952)



Todos os dias são dias de qualquer coisa. Então façamos qualquer coisa todos os dias...

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(Dedico este post a todos os que nos fazem escolher entre o doce e a travessura)



GRITAR

Aqui a acção simplifica-se
Derrubei a paisagem inexplicável da mentira
Derrubei os gestos sem luz e os dias impotentes
Lancei por terra os propósitos lidos e ouvidos
Ponho-me a gritar
Todos falavam demasiado baixo falavam e escreviam

Demasiado baixo
Fiz retroceder os limites do grito
A acção simplifica-se
Porque eu arrebato à morte essa visão da vida
Que lhes destinava um lugar perante mim

Com um grito

Tantas coisas desapareceram
Que nunca mais voltará a desaparecer
Nada do que merece viver

Estou perfeitamente seguro agora que o Verão
Canta debaixo das portas frias
Sob armaduras opostas
Ardem no meu coração as estações
As estações dos homens os seus astros
Trémulos de tão semelhantes serem

E o meu grito nu sobe um degrau
Da escadaria imensa da alegria

E esse fogo nu que pesa
Torna a minha força suave e dura

Eis aqui a amadurecer um fruto
Ardendo de frio orvalhado de suor
Eis aqui o lugar generoso
Onde só dormem os que sonham
O tempo está bom gritemos com mais força
Para que os sonhadores durmam melhor
Envoltos em palavras
Que põem o bom tempo nos meus olhos

Estou seguro de que a todo o momento
Filha e avó dos meus amores
Da minha esperança
A felicidade jorra do meu grito
Para a mais alta busca
Um grito de que o meu seja o eco.

Paul Éluard, in "Algumas das palavras", 1977

Vulcão ou economia da UE a esfumar-se em cinzas?

Cinzas do vulcão da Islândia? Treta! Cá para mim, aquilo é a Europa a dar o berro...

De economia e finanças percebo zero. Sou bom é em vulcanologia e outras ciências da natureza. Por isso, penso que as dívidas que, por natureza, são incobráveis irão fazer levantar muita poeira (e não só). Vejam só:

"A dívida do governo grego é apenas a primeira de uma série de bombas de dívidas europeias destinadas a explodir. As dívidas hipotecárias nas economias pós-soviéticas e na Islândia são mais explosivas. Embora estes países não estejam na Eurozona, a maior parte das suas dívidas é denominada em euros. Uns 87% das dívidas da Letónia são em euros ou em outras divisas estrangeiras e são devidas principalmente a bancos suecos, ao passo que a Hungria e Roménia têm dívidas em euro principalmente para com bancos austríacos. Assim a contracção de empréstimos governamentais por membros não-euro foi para apoiar taxas de câmbio a fim de pagar dívidas do sector privado a bancos estrangeiros, não para financiar um défice orçamental interno como na Grécia.
Todas estas dívidas são praticamente incobráveis porque quase todos estes países incorrem em aprofundamentos dos défices comerciais e afundam-se na depressão…
(…)
Há um reconhecimento crescente de que as economias pós-soviéticas foram estruturadas desde o princípio em benefício de interesses estrangeiros, não das economia locais. Exemplo: o trabalho na Letónia é tributado em mais de 50% (trabalho, empregador e contribuição social) – tão elevado quanto necessário para torná-lo não competitivo, ao passo que os impostos sobre a propriedade são inferiores a 1%, o que proporciona um incentivo rumo à especulação desenfreadas. Esta filosofia fiscal enviesada tornou os "Tigres do Báltico" e a Europa Central mercados de empréstimo primários para bancos suecos e austríacos, mas o seu trabalho não podia encontrar empregos bem pagos internamente. Nada disto (ou suas abissais leis de protecção laborais) existe nas economias da Europa Ocidental, América do Norte ou Ásia."
(…)
Confrontados com a prepotência do sr. Brown – e dos caniches holandeses da Grã-Bretanha – 87% dos eleitores islandeses opuseram-se à liquidação da dívidas que no mês passado a Grã-Bretanha e Holanda procuraram forçar através da garganta do Allthing [parlamento]. Isto é uma votação nunca vista no mundo desde a antiga era stalinista.
Isto é só um aperitivo. A opção que a Europa fizer provavelmente levará milhões às ruas. Alianças políticas e económicas mudarão, divisas desmoronar-se-ão e governos fracassarão. A União Europeia, e na verdade o sistema financeiro internacional, mudará de formas…

Para ler o artigo integral de Michael Hudson , entre aqui

15 abril, 2010

A riqueza perdida devido ao desemprego corresponde a 14% do valor do PIB de 2010

Qual tornado, qual carapuça. É o PEC que vem aí...

Ontem era a imagem do dia. Ilustrava Bruxelas a aprovar PEC português e a alertar, ameaçador, para consequências de incumprimento. Se este incumprimento acontecer, será um verdadeiro terramoto.
Porque não acredito que estejamos condenados aos desígnios da natureza, nem que nos apareça, como na Islândia, um vulcão a baralhar a Europa toda, fui procurar outras visões. Encontrei esta:

"Teria sido muito mais importante para o País e para os portugueses, que o governo, no lugar ter apresentado um Programa de Estabilidade e Crescimento dominado apenas pela obsessão de reduzir o défice que vai trazer só mais atraso e pobreza, tivesse apresentado um plano com medidas concretas para aproveitar a gigantesca fonte de criação de riqueza, que está neste momento desaproveitada, que são os mais de 700 mil portugueses sem trabalho, portanto sem possibilidades de produzir riqueza.

A redução significativa do desemprego determinaria, por um lado, um acréscimo muito significativo das receitas fiscais e contribuições recebidas pelo Estado (mais de 5.911 milhões de euros) e, por outro lado, um redução muito importante das despesas da Segurança Social (2.200 milhões de euros só com o subsidio de desemprego), o que permitiria reduzir o défice orçamental para menos de metade.

Por outro lado, se destruição da riqueza provocada pelo desemprego fosse reduzida, é evidente que Portugal atingiria facilmente taxas de crescimento económico elevadas que faria sair rapidamente o País da estagnação económica em que se encontra mergulhado há quase 10 anos (a média das taxas de crescimento económico verificadas no período 2000-2009 foi inferior a 1% e as taxas de crescimento económico previstas para os próximos anos também são inferiores a 1%). Para concluir isso, basta ter presente que a riqueza perdida devido ao desemprego corresponde a 14% do valor do PIB de 2010."

Lêr aqui estudo completo, do economista Eugénio Rosa

14 abril, 2010

De facto as crianças não podem andar sozinhas ou os pais exageram?

A pergunta pertence à jornalista do jornal i, numa longa entrevista : "De facto as crianças não podem andar sozinhas ou os pais exageram?"

Daniel Sampaio responde assim: "Essa é a pergunta mais difícil que fez até agora. As cidades não são seguras. Na altura eram. Mas acho que os pais exageram. Têm uma paranóia securitária, estão sempre a pensar em coisas horríveis que podem acontecer e não deixam as crianças com dez e 11 anos atravessar a rua. E depois, extraordinariamente, aos 15 anos deixam-nos sair à noite até às seis da manhã. Quer dizer, não as prepararam para vencer as dificuldades do dia-a-dia. Depois, de repente, entram na adolescência, consomem álcool e drogas e não há nenhum controlo. Tenho um exemplo de um rapaz que sigo. Trabalho ao pé da escola secundária onde anda. Fiquei de lhe arranjar uns apontamentos. E esse menino, que tem 15 anos e sai à noite para as discotecas, não atravessou duas ruas para os ir buscar a minha casa. O pai teve de largar o emprego para ir a minha casa buscá-los. Os pais não têm firmeza para dizer "tu não deves sair antes dos 16 anos".
O DS comentou que a pergunta era difícil. Contudo, acho que deu uma resposta fácil. Poderia ter dito mais alguma coisa (mesmo que se alongasse, teria sempre lugar neste sítio) mas optou por algo que estaria, até, ao meu alcance responder. Eu, que só sou avô... (mas se fosse dito por mim, ninguém daria a atenção que o assunto merece...).

13 abril, 2010

Salvar o mundo, através da Educação

O menino veio visitar a minha árvore,
(que está alguns posts abaixo)
veio com autorização...
Lê,
Lá de cima,
Sabe Deus o quê...
Confio nas leituras,
Na educação,
Quer do meu jardim
Quer destes professores
Quer dos outros?
... também!

Esta foto, foi amávelmente "roubada" aos professores. Obrigado!

I saved the world today

Sim!
Salvei o mundo, hoje!
(faço isso todos os dias)
Só não posso dizer,
como diz a canção,
que todos estão felizes, agora
Tu aí que tens tempo para iluminar o sol, faz o favor de o ser e de me acompanhar!
(isto de salvar o mundo todos os dias, é muito para um homem só...)

12 abril, 2010

Trindades de fé e outras...

Sagradas escrituras – Pai, Filho e Espírito Santo
Com idade muito tenrinha fui atraído pelos mistérios da fé. A Santíssima Trindade desafiou, durante alguns anos, a minha curiosidade de criança. Passei a idade dos “porquês” acreditando que, pelo sinal da cruz, se iria obter a mais plena felicidade, aqui na terra como no céu. Esta fé acabaria por soçobrar por volta dos 13 anos. É uma idade que dá azar. A partir daí deu-se-me um vazio espiritual tão inexplicável quanto era aquela crença. A vontade de acreditar só viria mais tarde e a ser preenchida por uma outra fé. Aconteceu na primavera. Em 1974. Nesse ano troquei a trindade. Passei da divina a coisas de homens…

Manifesto do MFA – Descolonizar, Democratizar e Desenvolver
Foi um delírio o regresso desse sentimento irracional (a fé) a partir de um milagre florido: A Revolução dos Cravos. Nessa altura, ia eu pelos meus 29 anos. Dei por mim a acreditar que outros sinais dariam caminho àquela felicidade sempre sonhada: o punho erguido. Esquerdo ou direito, Qualquer. Qualquer servia para ver acontecer outra trindade para mim quase tão santa quanto a outra. Os “Três Ds” do Manifesto do Movimento das Forças Armadas: Democratizar, Descolonizar e Desenvolver apontavam objectivos. Apareceu a Democracia e deu-se a Descolonização. O terceiro D (de Desenvolvimento), tal como Deus, tarda a aparecer. Os punhos foram caindo (alguns teimam em erguer-se pois “só de punho erguido a canção terá sentido”). Cedo apareceram outros sinais. Com os dedos de uma mão. Para que não se criem equívocos sempre vos digo tem a forma de V. V de vaca, Dizia-se que ter “vaca” tem o mesmo significado de sorte, o que não deixa de andar perto do sentimento de fé.


Nunca gente tão sisuda e cinzenta me colocou tanta cor na alma
Manifesto do PPC - Despartidarizar, desestatizar e desgovernamentalizarO Congresso do PSD terá vindo fazer renascer alguma esperança. Dito de improviso o Manifesto do PC (não confundir com o outro) foi por mim escutado com a RTPN sem som, o que me deu enorme estímulo e fez renascer a minha tão maltratada crença de felicidade. Não ouvia. Mas via. Eram lábios a deixar passar palavras talvez ditas em tom de sermão. Grandes planos de rostos de quem bebiam promessas de um futuro melhor. Rostos, também, de visível arrependimento. Lá estavam os Vs entremeados com palmas. Hoje ao ler o DN encontrei o que não tinha ouvido. A trindade, santificada em três Ds, com letras garrafais: Despartidarizar, desestatizar e desgovernamentalizar. A minha fé acabou aí, quando dei expressão inteligente ao que não tinha ouvido na véspera. A minha esperança, se a tinha, durou um dia…

Cheguei a admitir o improvável, que o PPC fosse um Cisne Negro

Manifesto CDJ (Cá do Je) – Desparazitar, Desratizar e Desprivatizar
Aos 65 anos mantenho ainda um potencial enorme de fé. Prova é este meu Manifesto, réplica da verborreia que leio, respondo com 3 V (verbos) também iniciados por D, fazendo um sinal diferente: um manguito (que é um sinal mágico e popular, com a singularidade de conter um punho erguido) enérgico. Manguito ao outro manifesto, com ânsias de recuperar o 3º D, o do desenvolvimento, preconizado em Abril pelos capitães e pelo povo. Os meus 3 Ds:
Desparazitar: Útil e urgente retirar do Estado os parasitas que por lá andam. Pode ser por doses para o corpo aguentar. Pode começar-se por retirar ao Governo capacidade de nomear por confiança política muitos cargos da Administração Pública. Que Directores Gerais e Regionais passem a ser preenchidos na base da carreira profissional e não do carreirismo político. Aplique-se doses similares às empresas públicas…
Desratizar: Útil e urgente disseminar ratoeiras de elevado calibre (a rataria parece-se com coelhos, tal o seu porte) em todos os lugares de onde florescem indícios de corrupção, de negócio ilícito, de economia paralela e de fuga de capitais. Isso de andar atrás do ratito que se refugia nas contribuições sociais do Estado para ganhar o que não ganha os que vergam a mola, pode parecer moralizador mas, no fundo, não passa é uma ratoeira que deixa milhares de ratazanas a gozar com o pagode .
Desprivatizar: Acho que inventei um novo verbo (ou, pelo menos, dei-lhe vida). Poderia escrever renacionalizar, mas não entraria na trindade dos 3Ds em que acredito desde os meus 29 anos, como forma de se atingir o Desenvolvimento. Energia e Poupança não podem ser objecto da ganância. Rima e é verdade. A Banca e os recursos naturais, são instrumentos que devem estar nas mãos do Estado. Estado desinfestado, sem parasitas num país sem ratazanas.

Ainda tenho fé de que assim será!

11 abril, 2010

Valores da família


Ontem,
Depois de regada
Com mil beijos,
A minha árvore ficou assim, orgulhosa dos seus 90 anos
Cheia de mais vida, pronta para mais um ano
Rodeada de filhos, netos, bisnetos e por mim

Não é só uma família, é um jardim

10 abril, 2010

Aniversário de uma velha árvore


Hoje vou estar todo dia ocupado
Vou repousar à sombra de uma velha árvore
Sentir-se-á útil
e eu, agradecido

Fracos ramos e rala folhagem?
Sim, de tudo isso um pouco...

Que esperar dos seus 90 anos
Completados hoje
De pé. Isso mesmo, de pé.
(Não é ela uma árvore?)



09 abril, 2010

Hoje há resultados da minha sondagem

Passou mais de um mês sobre a publicação da minha última sondagem que, se bem se lembram, foi no dia 4 de Fevereiro. Desde então muito se passou sem que nada se tivesse alterado. Sócrates continua a levar porrada que se diz oriunda daqueles mesmos lados que lhe facilitam a passagem primeiro do orçamento e depois do PEC. O PSD fez eleger um novo líder, o qual foi muito aclamado enquanto era comparado em múltiplos aspectos ao mais maltratado Sócrates. Vários acontecimentos foram acontecendo sem que a maioria dos portugueses perceba que esteja a acontecer, de facto, qualquer coisa. Progredindo assim, a opinião pública carece que se disponibilize mais uma das minhas sondagens. A sondagem incluiu duas perguntas apenas. Como encara o futuro e qual o acontecimento recente que mais o preocupa.
O gráfico abaixo mostra expressivamente o estado de espírito dominante como resposta à primeira questão, por parte da maioria das classes inquiridas. A excepção situa-se na classe C1 que anda às voltas com a leitura dos últimos semanários a ver que consegue entender o que se está a passar:

Imagens do estado de espírito de cada classe face à actual situação

Quanto à segunda questão: Qual o acontecimento recente que mais o preocupa? Levei com todos os estilhaços de ter feito uma pergunta aberta. Vejamos os resultados e a sua análise:

  1. A classe A, cerca de 5,5%, isto é, todos, afirmam que não há nada que os rale, que o sistema democrático está a funcionar e as instituições também…
  2. A classe B, 11,9 %, isto é, também todos, afirmam que até à eleição de Pedro Passos Coelho a sua grande preocupação era a falta de uma oposição credível a Sócrates. Agora estão na maior e no restante pronunciaram-se na mesma linha da classe A…
  3. A classe C1, 24,9% de mortais, encontra-se dividida. Metade não conseguiu dar qualquer resposta e afirma, unanimemente, que ainda não percebeu o que lhe vai acontecer com a implementação PEC, estando ainda a ler as medidas aí contidas. A outra metade alinha pelo optimismo da classe B, acrescentado que o PEC não vai ser cumprido porque o PSD não vai deixar…
  4. As classes C2 e D, que somadas dão 57,7% da malta toda, criaram-me problemas de tratamento dos dados que não consegui ultrapassar: Listei 724 acontecimentos recentes que os preocupa. Grande parte desses problemas nem sequer aparecem nos semanários que a classe C1 anda lendo. Como síntese poderei resumir: “Isto tudo está uma valente merda” e enquanto a classe C2 se limita a mostrar o desânimo por ser essa a situação a D está visivelmente zangada. Ainda bem que esta está em evidente minoria.

    Ficha Técnica: Foram inquiridos 9 milhões de portugueses, via telemóvel. Os desempregados viram as suas respostas anuladas para não dar um tom demasiado pessimista aos resultados globais. Foi aplicada uma metodologia assente nos critérios usados pela Marketest no que se refere ao dimensionamento das classes sociais. A análise de resultados segue metodologia própria que designada por Marketestista. Não tem nada de marxista embora, em sonância, o faça lembrar, apesar de fazer arranhar muito mais o aparelho auditivo.

08 abril, 2010

Liverpool 4 - Conversavinagrada 0

Hoje comecei o dia um tanto mal humorado e um tanto expectante. Termino-o ainda mais mal humorado e sem expectativa nenhuma. O Benfica marcou um golo. Eu, nem isso. Chutei mas nem nos postes acertei.
Mas amanhã vão ver...

07 abril, 2010

Fruta fresca e Converseta marada, dois grandes mercados

Porque é que as grandes superficies vendem fruta fresquinha, bonita e calibrada e os quiosques só "converseta marada"? Respostas possíveis:
  1. Porque as grandes cadeias de distribuição dominam a cadeia alimentar de um grande mercado de consumidores àvidos de emoções fortes, de notícias golpistas e de sonhos cor-de-rosa (alternados com cor de laranja);

  2. Porque sim. Até nem toda a gente compra jornais...

Existem vários pontos em comum entre os produtos de grande consumo disponibilizados pelas grandes cadeias de distribuição e os media detidos, por igualmente grandes, grupos económicos. Um deles tem a ver com a qualidade dos produtos. É compreensível que, para as coisas funcionarem bem, terão de haver orientações sobre limites de conformidade aceitável para que as suas marcas, quer se trate de fruta ou de um artigo de primeira página, tenha correspondência com a “responsabilidade social” que os grupos queiram assumir, dentro de uma lógica que é sua e faz parte do seu sistema.
De certa forma as declarações produzidas ontem na Comissão Parlamentar de Ética, e em particular as “surpreendentes” de Emídio Rangel, andam à volta da qualidade do produto “informação”.
Sendo mais directo: Porque é que as grandes superfícies não vendem fruta tocada, bichada ou fora do calibre enquanto os jornais disponibilizam diariamente textos fedendo a podre e opiniões com argumentos em adiantado estado de decomposição?
Dir-me-ão: Se é verdade que 63% dos portugueses são tolerantes com a corrupção, desde que esta lhe traga benefícios. Então o produto jornalístico, sendo mau e manipulador, estará bem ajustado à dimensão ética do seu mercado.

Pobre de quem, como eu, faz parte de uma minoria…

Educação - A contextualização que faltava às minhas 6 propostas

Acabo de vir de um blogue que decidi seguir e que tem o sugestivo titulo "terrear".
Transcrevo na integra o que lá li, com a compreensão de me ter faltado engenho para contextualizar as propostas que fiz para melhorar a capacidade educativa (consultar ). Passo a transcrever:

"Há quem tenha saudade das "mudanças" decretadas em Diário da República. Quem ocupe o seu tempo a analisar e a criticar as decisões políticas materializadas nas Leis, Decretos, Portarias, Despachos. As escolas precisam de muito menos normas e muito mais liberdade para agir. Tarda outro modelo de governação. Não poderia ser desta vez que se ensaiasse?"

Posted by JMA

06 abril, 2010

Cidades da Minha Vida: Porto

Claro que gosto do Porto. Contudo, tenho com a cidade uma relação ambígua e nem sempre confortável. Conheço bem quase todos os bairros e recantos. Vivendo em Lisboa (e depois em Oeiras) passei grande parte da minha vida aí deslocado. Desde 1975, seguramente 5 anos de presença em tracejado... Estou, assim, em condições de traçar percursos gastronómicos, itinerários turísticos, produzir rankings de melhor serviço para duas ou três dezenas de hotéis.
Mal consigo falar de pessoas. Senti-me muitas vezes um estranho na cidade. Algumas vezes estabeleci relações. Foram fraternas. Ficaram na memória. Contudo, ainda hoje não entendo essa cidade...
...mas reconheço, no Porto Sentido, o meu sentido sentimento quanto ao Porto

05 abril, 2010

Cidades da Minha Vida: Lisboa


Grandes e pequenas ausências reforçaram o meu amor por Lisboa. Amor e respeito, com laivos de orgulho mas também de cúmplice e envergonhado desencanto. Cidade que desperta tão desencontradas emoções nos meus regressos merece ter melhor sorte e ser por todos bem amada e respeitada. Onde ela vos possa envergonhar, façam como eu, façam um esforço por mudar. As cidades, antes de serem pedra, são gente, são civilização.

A minha maior ausência durou 2 anos. Entre 1969 e 1971, forçado a ir à guerra, reforcei lembranças e recordações de lugares da minha cidade. Quem por cá ficou não se deu conta das mudanças. Eu dei e senti-as profundas neste meu regresso. Cantava-se Ary dos Santos, as mulheres vestiam calças e saia curta, falava-se mais abertamente e respirava-se outro ar e outra esperança. Eu também tinha mudado. Passei a dar mais atenção aos pormenores de tudo o que determina o carácter das pessoas, o seu comportamento e relações e, assim, também a sua cidadania. Residindo em Benfica, dei por mim a revisitar as ruas do Alto do Pina, a Paiva Couceiro, a Fonte Luminosa, Praça de Londres e Avenida de Roma. Esses lugares tinham permanecido quase iguais mas senti-os diferentes, avizinhava-se um Abril Novo, que chegaria pouco tempo depois. A minha cidade tinha-o adivinhado…

O respeito e orgulho por Lisboa tem as suas datas. A forma como acolheu e integrou milhares de retornados das ex-colónias. A forma em como reconverteu bairros de barracas e zonas degradadas. A forma em como reconverteu a zona do Parque Expo e organizou este certame. A forma em como lida com a integração de milhares de cidadãos com outras culturas e religiões e que procuram em Lisboa um melhor futuro (uma escola, nas Olaias, integra alunos de 28 etnias!). A forma em como acolhe turistas.

Tem sido nas pequenas ausências que mais insistentemente me ocorre se vale a pena trazer para Lisboa o que de melhor percebo noutras paragens. Curiosamente nunca pensei em trazer nada de Paris, S. Paulo ou do Rio de Janeiro, cidades de que gostei à minha maneira (talvez por não ter penetrado na sua intimidade). Apaixonado por África, nunca pensei em trazer de Luanda ou do Maputo o pôr-do-sol que por lá faz. Contudo, traria de bom grado: de Barcelona e Hannover os seus invejáveis transportes públicos; de Tilburg, as suas escolas e universidades; de Nice, a iluminação cuidada dos monumentos; de Alger ou Annabá, as laranjeiras das suas verdes avenidas…
E era tão fácil plantar laranjeiras em Lisboa, ou replanta-las onde as têm tirado. Dariam ainda mais autenticidade ao seu passado mouro…
Lisboa seria melhor ainda, se tivesse

Como Alger, laranjeiras nas avenidas

Como Barcelona, transportes públicos eficientes

Escolas públicas como em Tilburg

Museus e igrejas, bem conservados e iluminados, como em Nice
Mas não é por não ter (ainda) tudo isto que deixo de amar Lisboa....

PS - Este post, sendo a resposta a um desafio de um amigo lá do rochedo é, também, uma sugestão à Câmara Municipal de Lisboa