12 abril, 2010

Trindades de fé e outras...

Sagradas escrituras – Pai, Filho e Espírito Santo
Com idade muito tenrinha fui atraído pelos mistérios da fé. A Santíssima Trindade desafiou, durante alguns anos, a minha curiosidade de criança. Passei a idade dos “porquês” acreditando que, pelo sinal da cruz, se iria obter a mais plena felicidade, aqui na terra como no céu. Esta fé acabaria por soçobrar por volta dos 13 anos. É uma idade que dá azar. A partir daí deu-se-me um vazio espiritual tão inexplicável quanto era aquela crença. A vontade de acreditar só viria mais tarde e a ser preenchida por uma outra fé. Aconteceu na primavera. Em 1974. Nesse ano troquei a trindade. Passei da divina a coisas de homens…

Manifesto do MFA – Descolonizar, Democratizar e Desenvolver
Foi um delírio o regresso desse sentimento irracional (a fé) a partir de um milagre florido: A Revolução dos Cravos. Nessa altura, ia eu pelos meus 29 anos. Dei por mim a acreditar que outros sinais dariam caminho àquela felicidade sempre sonhada: o punho erguido. Esquerdo ou direito, Qualquer. Qualquer servia para ver acontecer outra trindade para mim quase tão santa quanto a outra. Os “Três Ds” do Manifesto do Movimento das Forças Armadas: Democratizar, Descolonizar e Desenvolver apontavam objectivos. Apareceu a Democracia e deu-se a Descolonização. O terceiro D (de Desenvolvimento), tal como Deus, tarda a aparecer. Os punhos foram caindo (alguns teimam em erguer-se pois “só de punho erguido a canção terá sentido”). Cedo apareceram outros sinais. Com os dedos de uma mão. Para que não se criem equívocos sempre vos digo tem a forma de V. V de vaca, Dizia-se que ter “vaca” tem o mesmo significado de sorte, o que não deixa de andar perto do sentimento de fé.


Nunca gente tão sisuda e cinzenta me colocou tanta cor na alma
Manifesto do PPC - Despartidarizar, desestatizar e desgovernamentalizarO Congresso do PSD terá vindo fazer renascer alguma esperança. Dito de improviso o Manifesto do PC (não confundir com o outro) foi por mim escutado com a RTPN sem som, o que me deu enorme estímulo e fez renascer a minha tão maltratada crença de felicidade. Não ouvia. Mas via. Eram lábios a deixar passar palavras talvez ditas em tom de sermão. Grandes planos de rostos de quem bebiam promessas de um futuro melhor. Rostos, também, de visível arrependimento. Lá estavam os Vs entremeados com palmas. Hoje ao ler o DN encontrei o que não tinha ouvido. A trindade, santificada em três Ds, com letras garrafais: Despartidarizar, desestatizar e desgovernamentalizar. A minha fé acabou aí, quando dei expressão inteligente ao que não tinha ouvido na véspera. A minha esperança, se a tinha, durou um dia…

Cheguei a admitir o improvável, que o PPC fosse um Cisne Negro

Manifesto CDJ (Cá do Je) – Desparazitar, Desratizar e Desprivatizar
Aos 65 anos mantenho ainda um potencial enorme de fé. Prova é este meu Manifesto, réplica da verborreia que leio, respondo com 3 V (verbos) também iniciados por D, fazendo um sinal diferente: um manguito (que é um sinal mágico e popular, com a singularidade de conter um punho erguido) enérgico. Manguito ao outro manifesto, com ânsias de recuperar o 3º D, o do desenvolvimento, preconizado em Abril pelos capitães e pelo povo. Os meus 3 Ds:
Desparazitar: Útil e urgente retirar do Estado os parasitas que por lá andam. Pode ser por doses para o corpo aguentar. Pode começar-se por retirar ao Governo capacidade de nomear por confiança política muitos cargos da Administração Pública. Que Directores Gerais e Regionais passem a ser preenchidos na base da carreira profissional e não do carreirismo político. Aplique-se doses similares às empresas públicas…
Desratizar: Útil e urgente disseminar ratoeiras de elevado calibre (a rataria parece-se com coelhos, tal o seu porte) em todos os lugares de onde florescem indícios de corrupção, de negócio ilícito, de economia paralela e de fuga de capitais. Isso de andar atrás do ratito que se refugia nas contribuições sociais do Estado para ganhar o que não ganha os que vergam a mola, pode parecer moralizador mas, no fundo, não passa é uma ratoeira que deixa milhares de ratazanas a gozar com o pagode .
Desprivatizar: Acho que inventei um novo verbo (ou, pelo menos, dei-lhe vida). Poderia escrever renacionalizar, mas não entraria na trindade dos 3Ds em que acredito desde os meus 29 anos, como forma de se atingir o Desenvolvimento. Energia e Poupança não podem ser objecto da ganância. Rima e é verdade. A Banca e os recursos naturais, são instrumentos que devem estar nas mãos do Estado. Estado desinfestado, sem parasitas num país sem ratazanas.

Ainda tenho fé de que assim será!

6 comentários:

  1. Excelente esta reflexão. Ainda não tive oportunidade de escrever sobre o beato Coelho, mas a minha apreciação não anda muito longe da sua... O problema, é que ao contrário da imagem do Papa, a do PPC vende. Ainda hoje, quando via a entrevista dele ao MST , na SIC, pensei nisso. Ainda não tive oportunidade de ler os blogs passistas, mas imagino que lhe teçam rasgadas loas e cantem fervorosos Hossanas.

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  2. Caro Rogerio Pereira

    Excelente forma de passar pelos sonhos, esperanças ilusões e desilusões. Mas sobretudo a capacidade de acreditar que há "remédio" para acabar com a rataria que "rói" a nossa, ainda viva esperança de ver este País no caminho "certo"
    Logo quando chegar a casa vou procurar aquela canção do José Jorge Letria "só de punho erquido a canção fará sentido" pois a leitura do seu post, abriu-me um apetite terrível de a voltar a ouvir.
    Cumprimentos

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  3. Rogério,

    o texto está giro e as intenções são as melhores.Mas... há sempre um mas. É uma espécie de regresso ao passado.

    Acho que temos que inventar algo novo, e melhor, do que o capitalismo de Estado. Os parasitas e os ratos é lá que melhor se multiplicam.
    Deslocar o foco da propriedade dos meios de produção para a transformação das relações de produção.

    Se nós só admitirmos dois polos, o Estado de um lado e as empresas dos capitalistas do outro, estamos a limitar as possibilidades.
    As empresas podiam funcionar numa base totalmente diferente, numa lógica cooperativa, revivificando a sociedade.
    O Estado, como a história mostra, tem sempre uma lógica de cima para baixo, não liberta nem motiva.

    Devemos recuperar a ideia do Marx que via o futuro como uma sociedade de trabalhadores cooperantes, auto-organizados, que tinham deixado de precisar do Estado tal como o concebemos.

    Só nos falta arranjar maneira de concretizar esta utopia.

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  4. Carlos, Obrigado. Vá depressa, em passo rápido, não poupe passos e visite também neo-passistas, dando os primeiros passos. Com pé direito. Para melhor entender visite um amigo meu: http://dotecome.blogspot.com/

    Folha Seca,
    Com esta primavera, as folhas rejuvenescem...

    Penim,

    Tou dacordo, meu! Lombrigas e ratazanas, as nossas, é deixá-las andar por aí. As outras, pelo de retrovisor, dão imagem de que lá pa traz o sistema era do caraças. Se formos por aí, as ténias viram gibóias e as ratazanas...sei lá.

    O Estado não? Tá bem, meu! O Benfica ganhou e eu estou por tudo. Venho dse lá essas cooperativas.
    Não sabia que o Marx dizia essas coisas (o Benfica já existia?) É que o mundo (e o Marx) não é a mesma coisa. Com Benfica ou sem Benfica.

    Estado não! Autogestão sim!

    Porreiro, pá! (onde é que eu já ouvi isto?)

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  5. Como dizia o outro que nunca mais se cala: Podíamos ter autogestão sem internet, podíamos, mas não era a mesma coisa.

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