02 agosto, 2010

Chamaram-lhes namban-jin - I


Sempre que vou lá, fico... como é que eu posso explicar o meu sentir? Intimidado pelo ar solene do ambiente? Fascinado pelas cores e seus exóticos tons ? Acalmado, porque de todas as fúrias e raivas me esqueço e embalo naquele sossego de estar? Pelos suaves sons, quase me impondo a meditação? Um pequeno pouco de tudo isso? Sim, talvez um pouco de tudo eu sinta quando chego ao BANZAI. .

Acho que os portugueses, quando chegaram ao Japão, em 1543, terão tido sensações parecidas e, por isso, são reconhecidos nessas paragens. A história regista que souberam conquistar mais pela dádiva ou pela venda do que pela negociata, mais pela compreensão que pela ocupação. Chamaram-lhes namban-jin, (passando a palavra a ser sinónimo, na História da Arte japonesa, das obras de arte que surgiram após os primeiros contactos entre Japoneses e Europeus sendo que, quando se fala em Europa, é de Portugal que mais se lembram).

A espingarda foi uma das mercadorias levadas, introduzida de modo espontâneo pelos mercadores portugueses, mas o senhor de Tanegashima comprou de imediato duas armas, sem discutir sequer o preço, e ordenou a um dos seus vassalos o estudo do método de fabrico dos arcabuzes. O estudo foi bem sucedido e a fama das armas de fogo espalhou-se de Kyushu a Kyoto. Deste encontro fica ainda a imagem dos japoneses sobre esta "nova" gente, incivilizada e inofensiva, registada em 1606 na Teppo ki, a Crónica da Espingarda:

"Estes homens, bárbaros do Sudeste, são comerciantes. Compreendem até certo ponto a distinção entre superior e inferior, mas não sei se existe entre eles um sistema próprio de etiqueta. Bebem em copo sem o oferecerem aos outros; comem com os dedos, e não com os pauzinhos como nós. Mostram os seus sentimentos sem nenhum rebuço. Não compreendem o significado dos caracteres escritos. São gente que passa a vida errando de aqui para além, sem morada certa, e trocam as coisas que possuem pelas que não têm, mas no fundo são gente que não faz mal".

CONTINUA

(Este é o primeiro de uma série de 3 posts sobre as duas culturas)

7 comentários:

  1. Caro Rogério,
    Fiz link no mais recente Leituras Cruzadas lá da casa :)
    Grande abraço amigo.

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  2. Há quem não saiba, mas a nossa culinária influenciou a do Japão.
    Molhar os legumes em polme antes de os fritar, é uma delas.

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  3. Rogério,

    Depois de curtas férias, regresso aos seus textos. Mais um bem documentado e belo. Sobre as dua culturas sabemos tão pouco. Sobre o que fomos e o que somos, pouco sabemos. Mas vamos sabendo por si e pelo Banzai.

    Beijo

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  4. Muito bem Rogério.
    Cá fico à espera dos próximos "episódios".

    :)))

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  5. Meu querido amigo:
    Ora aqui está uma surpresa mais do que agradável!!! ARIGATOU GOZAIMASU!! OBRIGADA!! Fico feliz por saber que o meu modesto Banzaizinho lhe proporciona alguns momentos zen...e por se lembrar de mim.
    E mais do que oportuno também o seu post, uma vez que se assinalam hoje os 150 anos da assinatura do Tratado de Paz,Amizade e Comércio entre Portugal e o Japão. Os "nambam" eram os bárbaros do Sul.Pra dizer a verdade, acho que para eles, ainda hoje somos um pouco bárbaros... (risos). Há um pratinho típico duma região do Sul do Japão que se chama "Chicken Namban" o que significa literalmente "Barbarian-style chicken"...frango frito com maionese!
    Vou ficar á espera dos outros posts...
    ABRAÇOS GRANDES E GRATOOOOSSS!
    E uam ovação de Banzais para si!

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  6. Querido Rogério!
    Amigão!

    Que gesto mais belo! A nossa amiga linda merece!
    Muito! mesmo!
    Estou tão feliz por ela e por nós. Ela é nossa amiga!!!!!!!!!!

    O texto é fabuloso. Senti a mesma sensação que descreves...
    Quem entra no BANZAI não sai de lá sem respirar fundo e sentir-se em paz ... em ambiente tranquilo de cultura que apraz!!!!

    Adorei a definição feita sobre os Bárbaros do Sudeste!!!
    Tal e qual!

    Beijinhos

    Na casa do Rau

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  7. Estive uma vez no Festival da Espingarda, em Tanagashima, que assinala a chegada das armas ao Japão.
    Fico à espera dos próximos episódios

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