16 outubro, 2010

Hoje, Dia Mundial da Alimentação

------I
Não poeta,
Pão da alma, desse tenho
e dele não desdenho...
Preciso do outro,
que resulta de quem trabalha…
Nesse teu poema,
não há nada que me valha
Acredita,
que tempos houve em que tentei comer e comi
uma saborosa palavra.
Mas a fome, essa… voltava
Não poeta, hoje não preciso de ti

--------II
Tenho mar de dar peixe
Terras de semear
Força de fazer
Vontade de acontecer
Porquê, então
poemas sem pão
nem insurreição?

(Post inspirado pela Nossa Candeia, e pela Manuela)


Fechem a porta, não vá a fome entrar sem bater...
Abram a janela, pode a mudança aparecer...

18 comentários:

  1. Obrigado, Rogério... pela referência mas, principalmente, pelo poema!
    Um abraço :)

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  2. Já li! e reli!

    Mas as palavras não saem.
    Entupi!

    Encheste-me os olhos de lágrimas pela emoção!

    Pelo conteúdo, pela falta de pão!

    Fecho a porta à fome...
    Abro todas as janelas à mudança!!!

    Obrigada

    Beijo

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  3. Rogério,
    Este texto e o anterior revelam uma grande sensibilidade social e são do melhor que escreveu. Ou será que o melhor é o que vai escrever a seguir?

    Beijinho

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  4. como gosto de vinagre , não podia deixar de visitar seu blog e estou a gostar muito, vou voltar.

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  5. As palavras são bonitas, mas o clip choca-me e revolta-me. Triste, muito triste.

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  6. "Vemos, ouvimos e lemos não podemos ignorar..."

    Tantas portas trancadas que não querem deixar sair a fome e a miséria.

    Há campos para cultivar o pão e a alegria que faz abrir janelas carregadas de esperança e amor.

    A fome é produto político que cria barreiras sociais.

    A fome é um débito político que nunca mais encontra o crédito....

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  7. 20 % da população mundial come desmesuradamente (Europa e USA) se o resto do mundo que passa fome come-se metade dos egoístas os recursos acabaram em 11 meses...

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  8. Rogério
    Enquanto espero pelo almoço estou no seu blogue.
    Há realidades que sabemos existirem, mas que não estão á nossa frente e por vezes até nos esquecemos delas.
    Mas como o Luis recordou o poema cantado pelo Luis Cilia, ao ver ouvir e ler não podemos de facto ignorar.
    Utilizemos a blogsfera para isto, mas sobretudo, façamos dos nossos post um manifesto contra estas gritantes situações que nos tiram o apetite, mas sobretudo nos envergonham.
    Abraço

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  9. O seu ao seu dono

    No meu comentário anterior atribui erradamente a Luis Cilia a Cantata da Paz. Quem cantou e ainda canta este poema de Sophia de Mello Breyner Andresen é o francisco Fanhais, que é actualmente o presidente da AJA Associação José Afonso.

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  10. Caro Rogério

    Li, vi e ouvi com muita atenção, não vou dizer o que senti, porque não encontro palavras, é algo muito forte, mas assustador quando penso na tendência que existe de vir a aumentar e sinto-me impotente perante estas e outras mais. De facto não foi com este mundo que eu sonhei.

    Continuação de um bom Domingo

    Abraço

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  11. Palavras a um tempo duras e belas.
    :))

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  12. Rogério, como sempre oportuno. A reportagem já a tinha visto na TV e deixa-nos com amargos de boca. Hoje fiquei com a casa mais vazia de bens, mas com alma infinitamente mais cheia, de calor humano.
    Beijinhos

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  13. Tão débeis as portas estão, que nem se conseguem fechar! A fome entra sem bater!
    Abramos, sim, abramos as janelas, gritando por elas
    "Tenho mar de dar peixe
    Terras de semear
    Força de fazer
    Vontade de acontecer
    Porquê, então
    poemas sem pão
    nem insurreição?"
    até que a mudança apareça.
    Abraço

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  14. Olá, Rogério
    Gostei de te ver na minha casinha.
    Já tinha saudades...
    Pois, meu amigo, quem dera poder evitar o entrar da fome. O pior é que ela já existe em muitos lares. E entrou mesmo sem bater à porta, embora há muito tempo houvesse sinais evidentes de que isso poderia acontecer...
    Concordo que devemos manter a janela aberta, a janela da mudança. Se até essa esperaça nos abandonar, o que nos resta?

    O poema é muito bonito, embora retrate uma realidade bastante triste.

    Uma noite feliz. Beijinhos

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  15. Olá Rogério, muito prazer.

    Nessas andanças de blog em blog, encontramos pessoas que sempre têm algo a dizer. Mas há pessoas que têm algo à dizer mais do que as outras. Você é uma delas.

    Me permita a grosseria de ir chegando e citando poema. Não é meu, mas o seu poema, belíssimo, me lembro este.

    Receba com carinho.

    Um abraço,

    Malu
    ------------------

    Apetite sem Esperança
    (Elisa Lucinda)

    Mãe eu tô com fome
    eu dizia eu gritava eu mugia
    minha vó zangada respondia
    você não está morrendo e nem tem fome
    Você tem é apetite
    Você sabe que vai comer, aonde comer, o quê vai comer.
    Fome não! A fome, minha neta,
    a fome, meu irmão,
    a fome, minha criança,
    é um apetite sem esperança.
    Quando há certeza de cereais, toalhas americanas,
    guardanapos e alegrias da coca-colândia
    não há fome de verdade.
    Minha vó já dizia pra mim um futuro de Brasil.
    Minha vó nem viu edifício crescer no lugar de pão
    no lugar de trigo
    nem viu criança com infância de semáforo
    vendendo mariola barata, criança que mata
    porque seu quintal tá sempre no vermelho
    criança cujo ralado de joelho
    dói menos do que o não morar, não existir, não contar
    com a fome tenaz
    Não há tenaz na escola
    há só a cola de cheirar a dor doída
    de um monstro estômago a roncar
    um animal doído dentro do corpo a uivar
    todo dia, sem boa vista, sem quinta zoológica onde morar
    Com a fome das crianças brasileiras
    forra-se a mesa, arma-se o banquete
    dos que sempre tiveram apenas apetite.
    A faminta criança foi apenas o álibi, o cardápio, o convite.
    Desmamada ela cresce procurando o peito da pátria amada
    uma banana, uma manga, uma feijoada
    e a mãe pátria diz nada.
    Tem ela apenas o horror, o descalor, a calçada
    um ódio a todos os tênis dos meninos nutridos
    um ódio a mochilas, a saudáveis barrigas
    com contínuo furor de assaltar os relógios
    um deter o tempo que é o seu verdadeiro balão
    um cai-cai balão que só cai à mão armada.
    A fome gera a cilada de uma pátria de não irmãos.
    A gente podia ter gripe, asma, catapora, bronquite
    A gente podia ter apetite mas fome não.
    Minha vó bem que dizia sem errança:
    fome é um apetite sem esperança.

    (Escrito especialmente para a Campanha Ação da Cidadania Contra a Miséria e Pela Vida/ Betinho / 93. Encenado pela Cia. Teatral do Movimento sob a direção de Ana Kfouri)

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  16. Meu Amigos

    Começo a ter um problema sério: Estar dotado
    de um um só coração
    por sinal, demasiado pequeno
    p´ra alojar tanta emoção

    Obrigado todos!
    (é bom saber que somos muitos
    em estado de alerta
    e a ter
    uma janela sempre aberta...)

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  17. Meu amigo:
    Desculpe a minha visita atrasada e principalmente desculpe-me por hoje não saber o que comentar.
    Fiquei emocionada com a poesia, com as palavras com as imagens com os afectos.

    Beijinhos

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