31 janeiro, 2011

Irá a elegante avestruz passear-se pelo Fórum Novas Fronteiras?

Veio-me este post à cabeça quando hoje li no “Público” o texto de André Freire que, como é sabido, foi um dos causadores da minha decisão em me tornar bloguista. Ele e outros. Apetecia-me recomendar que alguém, - porque não ele mesmo? – tomasse esse texto como base de proposta de discussão no Fórum Novas Fronteiras.
É uma reflexão sobre as presidenciais e sobre as divisões da esquerda não comunista. Podia dar-lhe um jeitinho apenas no formato e, talvez já agora, não excluir a esquerda comunista. Saliento partes do texto e alguns links que seria igualmente interessante fazer integrar no texto. Talvez o fórum retirasse conclusões importantes (ou talvez não):

“Vários factores pesados concorriam contra Alegre. Primeiro, o facto de se tratar de uma reeleição, que favorece o incumbente (vencedor Cavaco Silva). Segundo, por ser apoiado por um partido que suporta um governo impopular, seja pelos enormes sacrifícios que tem pedido à população (PEC), muitos deles experienciados à "boca das urnas" (Orçamento 2011), seja por estar a governar a contrario do que prometeu em 2009 e do seu código genético (independentemente da eventual necessidade das medidas). Terceiro, as divisões no seio do PS, de que o apoio à candidatura de Nobre é um sintoma (ver aqui). Quarto, a contradição entre o discurso em defesa do Estado social e a circunstância de o principal partido que o apoiava estar, todos os dias, a emagrecer o dito. Last but not least, os problemas da relação entre o PS e o BE.”

Como, à excepção do primeiro e do quarto, todos os outros factores permanecem após a eleição presidencial, afigura-se que a unidade de esquerda´ser vier a ser um objectivo, terá que ser adiado. Julgo que será até para data distante pois as razões (e mais do que estas, a própria metodologia) que levaram ao lançamento da candidatura de Manuel Alegre se não forem revistas tornam ainda mais distante a percepção, por parte do País, de qualquer possibilidade da unidade da esquerda. Aquilo que André Freire apelida por esquizofrenia da esquerda vai continuar. Resta ao PCP continuar a sua luta. De acordo também com André Freire, o PCP tem “apenas e só apostado em resistir, além de tentar disputar a liderança do voto de protesto ao BE”. Eu não diria assim, mas diria quase igual ao que André Freire escreveu.

30 janeiro, 2011

Homilias dominicais (citando Saramago) - 26

Terminou hoje em Davos a 41ª edição do Fórum Económico Mundial (WEF). Ao que parece o Fórum dos Donos do Mundo colocou em evidência as divisões existentes na hora de escolher quais antídotos aplicar e superar a crise económica de uma vez por todas, no meio de um clima de ansiedade provocado pelas revoltas populares no mundo árabe. Os senhores do poder estão divididos e… ansiosos. Vejamos se um outro fórum, o Fórum Social 2011 trás ideias. O facto de Lula da Silva estar anunciado promete. Para já, do lado dos milionários participantes de Davos, o deserto de respostas é confrangedor sob a ameaça de ventos de mudança oportunamente denunciadas:

HOMILIA DE HOJE

"...Davos foi durante trinta anos a academia neo-con por excelência e, tanto quanto posso recordar, nem uma só voz se ouviu no paradisíaco hotel suíço para apontar os caminhos perigosos que o sistema financeiro e a economia haviam tomado. Quando já se estavam semeando ventos ninguém quis ver que vinham aí as tempestades..."

José Saramago in Davos 2009, aqui

29 janeiro, 2011

Bruce Springsteen - III



Ao nascer do sol, subo a escada
Um novo dia clareia
e eu estou trabalhando num Sonho

Estou trabalhando num Sonho
Embora o possa sentir tão longe
Estou trabalhando num Sonho
Nosso amor irá ser real um dia
--
-------------------Extrato de "Working On A Dream"

28 janeiro, 2011

Bruce Springsteen - II



"Está chovendo mas não há uma só nuvem no céu
Devem ser lágrimas dos seus olhos
Tudo irá ficará bem
Engraçado, pensei ter sentido uma doce brisa de verão
Deve ser você em suspiro profundo
Não se preocupe, encontraremos um caminho
--
Estou esperando, esperando num dia pleno de sol
Tendo mandado as nuvens embora
Esperando num dia ensolarado..."
--
-------------------------Extrato de "Waitin' On A Sunny Day"

27 janeiro, 2011

Bruce Springsteen - I




"...Ontem à noite eu e Kate
Deitamo-nos e na cama e conversamos sobre mudarmos
Arrumar nossas malas e talvez seguir para o sul
Estou com trinta e cinco anos e temos um garoto agora
Ontem à noite sentei-o ao volante
E disse: filho olhe bem em volta
Esta é a tua terra natal"
--
-----------------------(extrato da letra de My Hometwon)

26 janeiro, 2011

Metamorfose - III (despertar do pesadelo)


Quadro de Salvador Dali, retirado do net
----------As rugas, por minhas mãos empurradas,
----------foram parar a outras caras
----------Meti na gaveta da autodeterminação
----------e do socialismo, a Praça da Canção
----------Confirmei naquela outra gaveta
----------(aquela mesmo por baixo da dos valores)
----------se havia espaço para páginas da constituição
----------e bugigangas para troca de favores

----------Peguei no bisturi e habilmente,
----------após profunda incisão na minha mente,
----------fiz ablação da razão, do sentimento e da memória
----------Vesti um fato de treino
----------e com um sorriso cínico de assegurada vitória
----------fui correr, correr, correr, correr, sem tino nem destino----------
----------Acordei suado
----------daquele pesadelo esforçado e sinistro
----------e, aliviado, com ironia pensei:
----------“Bem podia ser primeiro ministro”

25 janeiro, 2011

Dois actos, datas distintas e um futuro mais uma vez adiado...

Lá, onde estava, nenhuma noticia chegava.
Aqui, as noticias que chegaram
lembram as que o vento me calou
(e porque o que hoje acontece é
determinado pelo que se passou,

-------------------------------------------------Vídeo tirado ao donatien alphonse françois

24 janeiro, 2011

Redacções do Rogérito (2)

Rogérito escreve mais uma redacção e um jornalista é da mesma opinião
sobre um comportamento com antecedentes históricos

--------------------------------------------------------------- Clicar no texto para aumentar

Este post é dedicado aos meus colegas de mesa da Assembleia de Voto: a Helena, a Rita, o Diogo e o Tomás. Pena que não nos voltemos a encontrar com as mesmas funções...

23 janeiro, 2011

As redacções das crianças...

Isto de ser presidente, cansa e é deprimente. Recitar nomes de eleitores, encerrar as urnas, apurar votos, escrever e assinar a papelada, reuni-la, pôr em pacotes e fazer laçarotes para em cima lhe pôr lacre... Apre! Isto cansa...
Chegado a casa pouco ouvi, mas ouvi o suficiente e pensei: "As redacções das crianças, nunca dão falsas esperanças e dão muito que pensar...."

Homilias dominicais (citando Saramago) - 25

A verdadeira Democracia faz-se percorrendo o caminho...

Ficarâo agradecidos os que consideram os meus textos muito extensos e por vezes densos. Deixo-vos a densidade clara de Saramago nas palavras mais curtas que encontrei para o fazer, hoje dia de eleições presidencias lembrando as de 1986

HOMILIA DE HOJE

"Usemos então as duas pedras-de-toque, democracia e demagogia, para sabermos quanto vale cada um dos candidatos, que feições são verdadeiramente as suas à luz das poderosas evidências dos seus discursos e dos seus comportamentos."

José Saramago, in "Folhas Politicas", pág. 153 - Democracias e Demagogias (23 de Janeiro de 1986)

(Quem não saiba ainda em quem votar leia toda a página citada. Talvez ajude!)

21 janeiro, 2011

Perguntas a esclarecer até a cruzinha inscrever...

QUANTOS DIPLOMAS VETOU CAVACO, NO SEU PRIMEIRO MANDATO?

PORQUE É QUE UM PRESIDENTE PROMULGA
QUANDO JULGA ERRADO O QUE LHE É APRESENTADO ?

Tentativas de explicação das dificuldades desta eleição - (1)

Esta eleição ficará marcada pelos contributos dos anteriores presidentes
e por canções que embora não ouvidas, explicam
algumas emoções, consciências e contradições...

20 janeiro, 2011

Clarear o futuro começa com actos no presente, para eleger um presidente

Como recomendado, num comentário, com giz risquei num futuro negro e logo ele clareou um bocado
___________



Uma peculiar relação com a despesa pública: vós poupais, eu gasto, a imprensa amocha, a coisa passará incólume.
As ligações perigosas de Cavaco: um esclarecimento definitivo, se ainda fosse preciso, sobre a particular fixação de um político não-político numa coisa distante chamada BPN, e que se declina em compra-vende, 140% e vivenda BPN.

A ideologia de Cavaco: o lugar da mulher na vida pública é... na cozinha, e, vá lá, no larzito, a cuidar da prole numerosa...

(copiado integralmente a quem conheci ocasionalmente)

19 janeiro, 2011

Mesa Redonda (2) - Tema: O Futuro

Esta é a imagem clara da dissertação inicial sobre o futuro

Eu (dissertando sobre o futuro): Isto vai ficar... (e falou, falou, sem se calar)
Meu Contrário (com ar horrorizado): Mas isso é.... Mais isso é... muito negro.
Minha Alma (desanuviando e imitando o falar alentejano): "Óh, mãi! Óh mâi! Traga de lá a candea cu burro dê um coice na sê se foi em mim se foi na paredi"
Meu Contrário (irritado): Uma goza, outro deixa-se abalar. O pessimismo é um pensamento reaccionário. Baixar os braços é fazer o jogo contrário...
Eu: Tens razão, não nos deixemos abalar. Domingo iremos votar!

18 janeiro, 2011

DN, o seu ADN e os jogos de espelhos...

O efeito de espelho está no ADN da nossa imprensa: Ela escreve e o povo pensa

O Carlos Barbosa de Oliveira escreveu um texto. Texto algo extenso. Demasiado para o visitante apressado que quer curto e grosso. Contudo, quase sempre as sínteses servem para dizer o que já foi dito sob uma forma criativa ou com um boneco bonito. Um post curto dá sempre conta de uma realidade encurtada. Ir ao fundo das questões requer mais tempo. Para quem escreve e para quem passa. Diz ele:

Há uma semana elogiei aqui o trabalho de investigação do DN, que se propunha traçar um retrato do Estado. Concluída a publicação, mantenho o que então escrevi: o jornalismo de investigação, liberto das imposições de agenda, é a essência da profissão e, por isso, sempre digno de louvor.
Acontece, porém, que o trabalho dos jornalistas do DN me deixou com água na boca e a sensação de estar a ver uma fotografia desfocada. Fui ao longo da semana bombardeado com números (que não me surpreenderam) mas continuei sem encontrar explicações, sem conhecer detalhes, que me permitam fazer uma avaliação correcta. Pior… em virtude de os dados apresentados se referirem, quase exclusivamente, à última década, fiquei com a sensação de que o Estado é um corpo de 10 anos, imberbe mas monstruoso e não um corpo maduro de 36- os anos da nossa democracia- que foi engordando ao longo do tempo, por falta de exercício e práticas alimentares saudáveis" (...).

(continuar a ler aqui)

17 janeiro, 2011

Corria atrás do vento

Umas vezes
nem é necessário
compreender um poema,
basta senti-lo
Outras,
além de o entender
e sentir,
é necessário ergue-lo
como uma bandeira
ou como um apelo

16 janeiro, 2011

Homilias dominicais (citando Saramago) - 24

O diabo transfigura-se. Parece um deus renascido e as palavras parecem ser novas e igualmente renascidas. O inferno é o mesmo, mas anuncia-se como sendo outro amanhã e logo, hoje, as chamas parecem brandas. "Tu és os nosso deus" há quem diga...Os não enganados denunciam o cenário, os modos e os perigos. E logo todos os doutos senhores, os jornais, leitores e seguidores os titulam: "conservadores, repetitivos e incapazes de inovação". Assim, decorre a campanha. Curiosamente repetitiva, como se a democracia se tivesse convertido na cassete disfarçada por uma demagogia, também ela reinventada. Foi assim a eleição em 1986. Parece hoje...

HOMILIA DOMINICAL

"(...) De democracia enchem os políticos a boca deles e os nossos ouvidos, de demagogia fala-se pouco, apesar de tanto se praticar.
(...) Diz, pois, o dicionário de Aurélio que a democracia é a «doutrina ou regime político baseado nos princípios da soberania popular e da distribuição eqüitativa do poder, ou seja, regime de governo que se caracteriza, em essência, pela liberdade do ato eleitoral, pela divisão dos poderes e pelo controlo da autoridade, isto é, dos Poderes de decisão e execução», o que resumindo em três Palavras, equivale a dizer «governo do povo». Suponho que Os Cinco candidatos à Presidência da República conhecem, por igual, a letra desta definição, embora não duvide que tenham dela entendimentos diferentes e, em alguns casos, irredutivelmente contraditórios. Coisa que logo se verifica quando, na mesma página do dicionário, encontramos a outra palavra em questão, demagogia, que é um «conjunto de processos políticos hábeis tendentes a captar e a utilizar, com objetivos menos lícitos, a excitação e as paixões populares», e também «afetação ou simulação de modéstia, de pobreza, de humildade, de desprendimento, de tolerância, etc.», cabendo aqui, claro está, o mais que a nossa experiência de vida como alvos destes métodos já nos ensinou.
Temos, pois, cinco candidaturas, e também um conjunto de definições consensuais, como carapuças que podem ser enfiadas... "

José Saramago, in "Folhas Politicas", pág. 153 - Democracias e Demagogias (23 de Janeiro de 1986)

15 janeiro, 2011

Por vezes é necessário interpretar a simbologia ou seguir os actos necessários, para voltar a ter esperança...


Julgando criar-lhe um problema conflituante, desenhou a criação (ou recriação?) e a pomba da paz para confrontar o pai da igreja com o que tem que ser feito. Em torno do simbolo fez-se um silêncio tão grande quanto o é agora em torno de um acto claramente assumido. Será a omissão da notícia a falta dela?

Nada de enigmas estou a falar de um homem directo e do seu apoio a Francisco Lopes:
Siza Vieira, o arquitecto da intensa claridade (ou da amena luz?)

Sobre a sua obra não há nada em português. Saber lá os porquês...

13 janeiro, 2011

O Diário de Noticias hoje, "contrafeito", fala do presidente eleito...


A 1ª página do DN de hoje não mostra um Presidente com um banho de multidão...

...também em páginas interiores o DN se "mostra resignado" com o resultado.
O DN isento? O DN independente quando publica, na página 10, uma fotografia indecente, com todo o pessoal triste e dormente? E as fotos da página 12, com a banda já silenciada e o povo que o elegeu esperando por o aclamar, não são fotos de estranhar? Com todo o desplante ainda dá lugar aos vencidos, embora mal aparecidos e com fotos de dimensões menores: é o Alegre, bem triste e de copo em riste, a beber para esquecer; o Lopes a comprar um quilo de cimento, para as obras lá de casa; o Nobre a declarar que afinal não deu e que se vai inscrever num partido que ainda não apareceu; o Moura a dizer que o que mais deseja é candidatar-se à câmara de Beja (o presidente de lá, apoiou um candidato não PS e isso não se esquece); o Coelho, a comprar um nabo à vendedeira que votou em tal nababo... Não se trata assim, de forma tão destacada opositores que acabam de levar uma estocada...
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CLARO QUE TUDO ISTO, SENDO FICÇÃO E ESTANDO AINDA A CAMPANHA A CORRER, LIGUEI PARA A REDACÇÃO PARA APRESENTAR RECLAMAÇÃO. RESPOSTA: O CAVACO NÃO FOI TRATADO COM EQUIDADE, SÓ LHE DEMOS 4 FOTOS E OS OUTROS SÃO 5. (A primeira página foi para o compensar, fiquei eu a pensar. )

12 janeiro, 2011

Mesa Redonda (1)

Da esquerda para a direita: Eu, o Meu Contrário e a Minha Alma

Eu (virado para quem me visita): Esta Mesa Redonda foi sugerida pela Minha Alma. De pronto aceitei e começo por lhe perguntar (virando-me para a Minha Alma): Qual é a ideia, afinal?
Minha Alma: Sabes?, nos dias que vão correndo ninguém questiona a sua alma sobre os seus actos, o seu passado e como pensa que poderá influenciar o futuro. Era bom que o fizessemos nós...
Meu Contrário (interrompendo): … mais do que questionar a alma, poucos se olham nos olhos. Olhar para si próprios é ouvir o seu contrário, a sua consciência… Há gente que pensa que nós só somos do contra…
Eu: Não tens razão de queixa pois oiço-te quase sempre. Julgam que sou lento a reagir, mas no fundo estou-te a ouvir, caro Meu Contrário!
Minha Alma: Dás-lhe demasiada atenção e, assim, acabo por ter mais que fazer. Em vez de me entregar ao poema, à contemplação e ao devaneio tenho que gerir conflitos entre ti e o teu contrário mesmo parecendo desnecessário…
Meu Contrário: Pois, mas és uma alma musculada. Há almas por aí que não moderam nada. Passam a vida a poemar, a contemplar e entregues a um ostensivo devaneio, Quando precisam de decidir sobre coisas importantes, ficam angustiadas e stressadas. Chegam até a ficar deprimidas por ausência de motivos para a depressão. Animam-se com a depressão
Eu: Chega em bater nas almas deste mundo! Qual vai ser o tema destas Mesas Redondas?
Minha Alma: O teu passado!
O Meu Contrário: O nosso futuro!
Eu: Para falar do passado já basta o livro… Que seja então o futuro, tendo em conta o que no passado nos aconteceu. Todas as quartas-feiras, valeu?
Minha Alma e Meu Contrário (em coro): Valeu!

10 janeiro, 2011

"Poema frouxo" / "Canto belo"

"... quem lia parou de ler, como se os olhos fossem ouvidos e fosse necessário olhar para ouvir aquela melodia a tocar. “Because” ia harmoniosamente tomando conta de todos os ambientes. Eu pensei: “Poema frouxo”. “Canto belo” atalhou Minha Alma. E assim ficámos todos ouvindo até chegar “Imagine”, prolongando-nos a nostalgia de imaginar impossiveis...

-----------------"Because, The Beatles

09 janeiro, 2011

Homilias dominicais (citando Saramago) - 23

A minha Homilia Dominical de hoje, dia do "inicio" da campanha eleitoral, não ignora o próximo acto e divulga uma sondagem. A ficha técnica é clara quer quanto aos critérios seguidos quer quanto à elevada fiabilidade. Perguntei apenas aos inquiridos em quem iriam votar. Os resultados não são de espantar...


Imagem do estado de espirito dominante nos eleitores, em cada classe social (ver aqui dimensão das classes sociais Marktest)

Quanto à questão, vejamos os resultados e a sua análise:

  1. A classe A, cerca de 5,5%, isto é, todos, afirmam que não há nada que os rale, que o sistema democrático está a funcionar, as instituições também, recebem prémios e dividendos. Porquê mudar. Todos em Cavaco vão votar
  2. A classe B, 11,9 %, isto é, também todos, afirmam que Cavaco Silva é sério - pouco se ri - ele é a garantia de Pedro Passos Coelho poder mudar a Constituição que consideram quanto ao desenvolvimento o principal travão. Acham que Cavaco está práticamente eleito e votam nele pois lhes dá muito jeito...
  3. A classe C1, 24,9% de mortais, encontra-se dividida e não sabe o que fazer da vida. Andam a ler o "Ensaio sobre a lucidez" mas para entender aquilo faltam-lhe bases do português. Grande parte acha que vai votar em branco pois custam a admitir aquela história lá do banco.
  4. As classes C2 e D, que somadas dão 57,7% da malta toda, criaram-me problemas de tratamento dos dados que não consegui ultrapassar: Listei 724 acontecimentos recentes que os preocupa. Grande parte desses problemas aparecem incessantemente nos semanários que as classes A, B e C1 andam lendo. Como síntese poderei resumir: “Isto tudo está uma valente merda” e enquanto a classe C2 se limita a mostrar o desânimo por ser essa a situação a D está visivelmente zangada. Esta está em evidente minoria e só ela sabe em quem votaria. Uns por militância e outros por alegria...

    Ficha Técnica: Foram inquiridos 9 milhões de portugueses, via telemóvel. Os desempregados viram as suas respostas anuladas para não dar um tom demasiado pessimista aos resultados globais. Foi aplicada uma metodologia assente nos critérios usados pela Marktest no que se refere ao dimensionamento das classes sociais. A análise de resultados segue metodologia própria designada por Marktestista. Não tem nada de marxista embora, em sonância, o faça lembrar (apesar de fazer arranhar muito mais o aparelho auditivo).

HOMILIA DE HOJE

"...em toda a verdade humana há sempre algo de angustioso, de aflito, nós somos, e não estou a referir-me simplesmente à fragilidade da vida, somos uma pequena e trêmula chama que a cada instante ameaça apagar-se, e temos medo, acima de tudo temos medo."

José Saramago in "Ensaio sobre a lucidez", retirado daqui

08 janeiro, 2011

A fisiologia do cérebro e o voto em Cavaco Silva

Sempre achei que a consciência era algo que trazemos pequena, quase insignificante e localizada, conforme o portador, numa parte pouco perceptível do cérebro ou da alma. Nas minhas “rogériografias”(1) nunca consegui uma localização precisa. Apesar de pequena, há pessoas que julgam que a têm grande. Ninguém aceita que a tenha pequena e é impossível encontrar alguém que admita não a ter. Chamar alguém de inconsciente não me passa pela cabeça, por duas razões: A primeira é que a consciência existe de facto e a sua passagem ao estado de inconsciente só acontece ou quanto se dorme ou quando se entra em estado comatoso. Portando não se é inconsciente. Quanto muito pode-se estar inconsciente. A segunda é que dizer a alguém acordado que é inconsciente, para além de se estar a mentir, está-se também a fazer algo que pode desencadear reacções piores que aquelas que um homem perdido de bêbado tem quando lhe dizemos que tresanda a álcool...
A dimensão da consciência é apenas uma parte da questão e não é a parte importante. Importante é a natureza das informações que a constrói quando ele admite processar qualquer colecção de dados visuais e referenciados (mente aberta). Há casos em que a consciência se está nas tintas para isso (mente iluminada) e na consciência já não entra nada.
Os quadros (2) abaixo ilustram um teste. Confrontei uma cobaia com informação ignorada. Vejamos a evolução passo-a-passo desse alguém que estava no inicio disposto a votar em Cavaco Silva…

TESTE 1
Confrontado com o gráfico, a minha cobaia disse estar farto de saber. Mas depois perguntou o que era aquela linha sempre a crescer. Respondi-lhe que eram os empregos de serviços: as atendimentos, as publicidades e artes de "encher chouriços" mas também os dos hospitais e escolas. Serviço público? Interrogou e eu confirmei. E aquele vermelho a subir e a descer? Respondi que precisava de falar mais sobre ela. Acrescentei mais um dado: Cavaco foi Ministro das Finanças em 1980 e Primeiro Ministro entre 1985 e 1995... A cobaia olhou, olhou e soltou: Oh!
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TESTE 2
Aquela linha vermelha do quadro de cima que parece crescer para só depois ligeiramente descer, é o emprego do Sector Secundário. Resulta da soma de alhos com bugalhos. Isto é soma os empregos da construção civil com os "fatos de macaco". Veja-se o que começou a acontecer. Betão, betão, betão sempre a crescer e a produção sempre a descer. Graças ao gajo e aos seguintes que vieram a aparecer... A minha cobaia olhou o gráfico. Olhou, olhou, olhou e exclamou: Oh!
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TESTE 3
Mas não acabou. A divida pública que sofreu forte impulso com a importação de produtos da indutria aumenta também pela importação de produtos da terra. A minha cobaia olhou o gráfico como se procurasse uma alfaia e mais intensamente para descobrir uma semente e situar os anos de governação de Cavaco. Disse: "Ena, tanta terra inculta". Perguntei: "E de quem é a culpa?" Silêncio, caindo em si. SEI LÀ, O QUE ME DIZ FAZ SENTIDO E NÃO FAZ. VOTO NO CAVACO E ESTÁ O ASSUNTO ENCERRADO.
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Pronto, teste falhado. A minha cobaia é um cérebro iluminado (ou já bastante manipulado) e nem a leitura do Expresso de hoje serviu para o quer que fosse. Vai votar Cavaco!

(1) Série de posts sobre a fisiologia do cérebro
(2) Gráficos já publicados num
post sobre Qualificações, Desenvolvimento e Produtividade

07 janeiro, 2011

O mérito do trabalho do DN e o risco do uso de uma linguagem ambigua

Há coisas onde não dá para inventar. Se o valor da produção nacional é fraco – o PIB muito baixo é uma valente dor de cabeça, de estômago e de alma para os portugueses – uma qualquer percentagem sobre esse valor é um peso... pluma.
Do lado oposto, um país de PIB forte terá qualquer percentagem sobre esse valor um peso significativo. O peso do Estado nesses países de PIB forte é pesado como o caraças. Os 47,9% do nosso PIB são incomensuravelmente menos pesados que os 47,5% do PIB alemão, apesar de a sua expressão directa lhe ser superior (para já para não falar de países como a Suécia, a Dinamarca ou Finlândia onde o peso do Estado é “estupidamente” superior ao português).
Portanto o problema não é o peso do Estado mas sim a sua leveza. O problema não é a percentagem do PIB destinado à despesa pública mas sim a pequenez da nossa produção. Os problemas são as políticas de desenvolvimento, a falta de investimento público e a baixa produção nacional. O problema é o PIB, não o peso do Estado. Este é … um peso pluma!
Mas então não há que acabar com a proliferação de institutos, fundações e outras organizações que são sorvedouros de dinheiros públicos? Claro que sim, mas não lhe chamemos “gorduras”. Que se lhe dê os nomes apropriados: nepotismo, jogo de influências e “jobs for the boys”. Não é por nada, é só e apenas porque o uso de determinada linguagem poder servir para justificar o desaparecimento do Estado Social… O trabalho iniciado hoje, apenas em formato papel, no Diário de Notícias é louvável, até porque resulta de um saudável trabalho de investigação, mas embarca nesta ambiguidade de linguagem (ver noticia aqui).
Nesta perspectiva, mais do que saber as "gorduras" introduzidas por Cavaco Silva (chamada de primeira página) conviria saber como a "onda laranja" contribuiu para a destruição do aparelho produtivo nacional e como minou o Estado com "pessoas da sua confiança politica"...

06 janeiro, 2011

Um caçador de bolso, mas grande...

Fui buscar este caçador à margem sul, onde existe um mar arável. Silencioso, não lhe descobri qualquer palavra até chegar a casa. Depois, dia após dia, foi-me desenrolando prosas de encantar. Contou-me como eram os ternos olhos dos câes, como conheceu o cego das esquinas, como se cruzou com a senhora da limpeza e, antes de revelar os seus segredos de caçador de relâmpagos, como se rendera à senhora ministra. Meti-o no bolso para o continuar a ouvir em qualquer lugar e foi hoje que isso aconteceu:

A DUNA SOU EU

"Enquanto aquele anjo permanecer nas areias, bem pode o vento soprar
- O cão ou o velho?
Lentos, trôpegos, com os pés a tracejarem os caminhos de sempre, todos os dias aquelas almas percorriam memórias.
O cão – mais velho que o dono – era o guia, a sua bengala de cego.
Pela orla da praia, desde a gruta onde viviam até à colossal duna, abrupta sobre as águas, as aves marinhas mergulhavam a pique esbracejavam só para os salpicar. Lá iam, serenos, livres, sem palavras – imensos.
No ar, o sussurro dos silêncios embalava-lhes os passos num concerto de maresias.
Chegados ao topo da montanha era sempre assim – o velho afagava as orelhas do cão e o cão lambia-lhe as mãos.
Sentados – respiravam infinitos – o perfume das algas – adormeciam no tempo.
Ao longe, muito ao longe, alguém de um barco bramou:
- Fuja, a duna vai desmoronar-se.
Imperturbável, respondeu baixinho para não acordar o cão:
- A duna sou eu. "
--
Contado por Eufrázio Filipe in "O Caçador de Relâmpagos"/pág. 54

05 janeiro, 2011

03 janeiro, 2011

Pequena exposição - Figuras do meu imaginário de adolescente e rostos que me povoam a mente


EXPOSIÇÃO


Uma vez mais abro este espaço sob a forma de galeria. Depois daquela outra exposição dos lugares de menino e moço que um pintor pintou para mim, perto da quintinha do meu avô Joaquim, outro artista das cores e do traço pintou-me os rostos que povoaram a minha adolescência e o meu amadurecimento. Acho que o fez para mim (ou não fosse eu, o centro do universo). Fernando Campos, não sei se vai gostar. Caso não, azar... A única coisa que lhe prometi foi tratar com dignidade a sua obra da qual escolhi o que exponho, sem catalogar. Se querem mais elementos, procurem no seu lugar...

ENTRADA DA EXPOSIÇÃO - SALA DOS AFECTOS
--Duas pinturas e um auto retrato. Três pessoas, quatro vidas...

--GALERIA "MULHERES" (pintura)


Claro que se fosse um entendido em arte teria aqui muito por onde me estender. Não o sendo, fixo-me não na pintura mas nas almas pintadas, nos rostos, nas formas, nas ansiedades, nas ternuras, nas esperas, nas atrevidas posturas e formosuras destas mulheres que ao longo da vida eu conheci. O Fernando apenas mas recordou...
GALERIA "MINHAS INFLUÊNCIAS E CRENÇAS" (caricatura)

Se há, de modo semelhante ao que acontece com as minhas palavras, traços que possam ser considerados avinagrados, esses são os do Fernando. A ironia, o non sense , a mordacidade e a séria forma que dá aos meus rostos mais queridos torna-os mais meus, mais nossos...
GALERIA "ÓDIOS DE ESTIMAÇÃO" (charge)

Para ampliar clique nas imagens
O Sitio dos Desenhos é um sitio a visitar demoradamente... Faço isso, frequentemente e de cada vez que o faço interrogo-me: "Como pode o Fernando Campos ser tão ignorado?"

02 janeiro, 2011

Homilias dominicais (citando Saramago) - 22

Tendo cada vez mais a imitar-lhe as ocupações, os desassossegos, as palavras reflectindo nelas e imaginando como ele o faria antes de as escrever... Ponho, ou tento pôr, as mesmas interrogações que, imagino, ele a si próprio colocaria. Claro que se não fosse a Minha Alma não teria o atrevimento de procurar as palavras que o meu Nobel usou, ou pensaria usar, para prolongar o balanço que já fiz de um ano a escrever neste espaço. Vou mais uma vez seguir José Saramago. Porquê? Não digo. Se explicasse tudo o que faço e porque o faço iria certamente aborrecer-vos com as minhas dúvidas existenciais... Assim, o balanço dele sobre 2008, passa a ser o meu sobre o ano passado. As coisas não mudaram assim tanto e eu tenho as mesmas inquietações...
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HOMILIA DE HOJE

"Valeu a pena? Valeram a pena estes comentários, estas opiniões, estas críticas? Ficou o mundo melhor que antes? E eu, como fiquei? Isso esperava? Satisfeito com o trabalho? Responder “sim” a todas estas perguntas, ou a mesmo só a alguma delas, seria a demonstração clara de uma cegueira mental sem desculpa. E responder com um “não” sem excepções, que poderia ser? Excesso de modéstia? De resignação? Ou apenas a consciência de que qualquer obra humana não passa de uma pálida sombra da obra antes sonhada. Conta-se que Miguel Ângelo, quando terminou o Moisés que se encontra em Roma, na igreja de San Pietro in Vincoli, deu uma martelada no joelho da estátua e gritou: “Fala!” Não será preciso dizer que Moisés não falou. Moisés nunca fala. Também o que neste lugar se escreveu ao longo dos últimos meses não contém mais palavras nem mais eloquentes que as que puderam ser escritas, precisamente essas a quem o autor gostaria de pedir, apenas murmurando, “Falem, por favor, digam-me o que são, para que serviram, se para algo foi”. Calam, não respondem. Que fazer, então? Interrogar as palavras é o destino de quem escreve. Um artigo? Uma crónica? Um livro? Pois seja, já sabemos que Moisés não responderá."

Balanço in Caderno de José Saramago/5 de Janeiro de 2009

01 janeiro, 2011

Um compromisso e uma prece...

A Ana Paula Fitas premiou-me. Distinguiu-me num dos últimos dias de 2010 como um blogue que valeu mesmo a pena ler e que, por isso, admira. Assumo tal distinção como um compromisso de ser melhor neste ano que hoje começa. Que nada nem ninguém disso me impeça...
Que nada nem niguém me impeça
De cumprir
Tudo o que nesta prece
Também eu pedi
não a Deus
mas a deuses meus e teus!

----------------------Prece de A Nossa Cadeia e do Meu Pássaro Azul