06 fevereiro, 2011

Homilias dominicais (citando Saramago) - 27


Procurar um texto interessante de Saramago é coisa fácil. Cada livro seu e, em qualquer um, cada página sua e, em qualquer delas, cada parágrafo seu ou em cada frase, tudo é digno de reflexão. Nem o tempo lhe dá mofo nem as datas são dificuldades a superar, pois tudo o que lhe leio parece acabadinho de ser escrito. A actualidade é patente. As palavras sabem sempre a hoje, como se andasse por aqui... Eu até acho que andam, pois homens assim não há morte definitiva que os leve ou os cale...

HOMILIA DOMINICAL

"… Repito que não gosto de siglas. Já não seria pequeno defeito a sua demonstrada habilidade de exprimirem coisas contrárias entre si: onde o seu vicioso carácter fica a descoberto, é precisamente naqueles casos em que vão ao extremo de ocultar, apagar ou remover, por completo, o sentido daquilo que começaram por significar. Um exemplo, e basta: quem ainda hoje tem a certeza de que a ONU é apenas o modo abreviado de dizer Organização das Nações Unidas? Unidas? Deixai-me chorar.

Mas, já agora, não me queiram fazer acreditar a mim que o problema da mentalidade portuguesa se resolve com a entrada nesse reino da inteligência moderna que seria o Mercado Comum. À ideia não faltam adeptos que, em meu entender, não são de qualidade. Porque, a bem dizer, o que os move não é tanto quererem ser europeus como não gostarem de ser portugueses. No fundo, é esta a dolorosa verdade."

José Saramago, A Qualidade dos Vivos (1 de Fevereiro de 1985), in Folhas Políticas, página 128

11 comentários:

  1. Caro Rogério
    E em cada dia que passa, em cada novo acontecimento, mais fica de facto a sensação de que Saramago anda por aí. Claro que não anda, mas deixou escrito e dito matéria suficiente e tão actualizada, que até parece que anda.
    Abraço

    ResponderEliminar
  2. Caro Rógério
    Há concidências!!! Como é possivél José saramago tantos anos antes escrever, eu atreveria-me mesmo a dizer a prever a actual miséria para a qual o governo nos está empurrar. Há coisas
    Beijinho

    ResponderEliminar
  3. Relativamente ao último parágrafo, do qual concordo, direi de minha lava que o que os move, além de não gostarem de ser portugueses, é a busca de dinheiro fácil. Julgavam eles...

    ResponderEliminar
  4. Saramago tal como o amigo sublinhou, não morreu continua a nos alertar e a ensinar com os seus prodigiosos escritos.
    O último parágrafo revela exactamente como somos, lamentavelmente.

    beijinhos

    ResponderEliminar
  5. Querido Rogério,

    Se é verdade que gosto das palavras de Saramago e da sua actualidade, não é menos verdade que a tua apologia "Saramaguiana" não lhe fica nada atrás.

    Abraços e uma boa semana de trabalho

    ResponderEliminar
  6. Subscrevo o comentário do FMF!

    Acrescentando que o que os moveu foi tão utópico como isto:

    “Ergue-te, Sancho! Quais moinhos?! Quais?!
    Ai! Pobre Sancho, que não sabes ver
    Em moinhos iguais
    Qual deles é só moinho de moer!”

    Saramago in "Pesadelo de D. Quixote".

    Beijinhos

    Janita

    ResponderEliminar
  7. Meus Caros,
    Fica a V. atenção apenas no 2º parágrafo, tal é a consentida descrença na ONU. Fica então Saramago a ter apenas lágrimas minhas a acompanhar as suas. De facto os povos revoltados do Norte de África e do Médio Oriente já não podem contar mais com as Nações... Unidas.
    Se a besta por aí se soltar, nada haverá mais a fazer... os povos estão mais sós e os espoliadores mais acompanhados. Triste mundo...

    Janita,
    Desconhecia esse "pesadelo".
    Irei conhece-lo.
    Obrigado pela citação...

    ResponderEliminar
  8. Saramago expunha seu ponto de vista, se a preocupação de agradar principalmente ao políticos. Muitas vezes era contestado por não ser entendido.
    Abração

    ResponderEliminar
  9. abraço, meu caro.

    penetrante o teu olhar crítico. em que Saramago é apenas pretexto!

    ResponderEliminar
  10. Muito bem

    Que viva o nosso Saramago

    Abraço

    ResponderEliminar