11 maio, 2011

A substãncia da coisa e a coisa da substância

Os que me lêem - e os que agora chegarem para o fazer - sabem (ou ficam a saber) o meu gosto em brincar com as palavras, não para lhes alterar o sentido, mas para esmiuçar o seu sabor e peso. Sim, porque as palavras, independentemente do ar e da entoação com que são ditas podem ser doces ou amargas, leves ou pesarem chumbo. Pois foi brincando com as palavras que, num comentário a um blogue de pessoa amiga, escrevi que o discurso politico carece de ser analisado tendo em conta a necessidade de discernimento entre "A substância da coisa e a coisa da substância" e de quando se falar de uma ser quase criminoso (porque manipulador) não falar da outra.
Contrariamente ao que possam pensar, o post de hoje é sobre isso. A alusão ao debate de ontem vai ser meramente ilustrativo da minha figura de estilo...

A SUBSTÂNCIA DA COISA (coisa política, claro)

Todos os conteúdos são definidos por uma substância, se não física e tangível, pelo menos demonstrável (frequentemente com recurso à frieza dos números). Por coisa deve entender-se o domínio a que o conteúdo diz respeito. Uma coisa é falar de galhos outra é de bugalhos. O valor atribuído não é exterior à substância da coisa. Depende dos interesses que se reúnem em torno e que frequentemente disputam a substância. Nada melhor do que um exemplo: AS PRIVATIZAÇÕES enquanto substância. Privatizar qualquer coisa: OS TRANSPORTES, A ENERGIA, O GÁS, OS CORREIOS, A ÁGUA, etc. Discutir a substancia da coisa implica, naturalmente, compreender as funções do Estado em confronto com os interesses privados que tomarão conta da coisa. Como a discussão se passou e quais as ideias em jogo, podem ver no vídeo junto. Compreenderão como os sujeitos em confronto discorrem e, até, formularem uma opinião (logo no inicio, mas mais detalhadamente a partir do 27º minuto)

A COISA DA SUBSTÂNCIA (o aproveitamento politico da substância)

Desde logo há a percepção de que se trata de algo que gira em torno da substância (às vezes tão próxima, que tendem a distraída ou propositadamente confundirem uma e outra). A coisa da substância pode ser a forma em como a substância pode ou não influenciar o voto, ajudar ou prejudicar alianças ou até mesmo a forma agressiva, moderada ou diplomática, com que essa envolvente da substância é tratada. Se quer aprofundar o significado do que escrevi, pode olhar a imagem onde Passos Coelho afirma risonho que muito mais que o seu partido foi o PS o grande privatizador (sem explicitamente dizer que agora chegou a sua vez de o fazer). Pode também ver o ar risonho do seu interlocutor, a concordar com um cordial "sim senhor, tem toda a razão".

CONCLUSÃO

Cada vez mais o discurso politico e de quem o comenta fala da "coisa da substância" esquecendo e distorcendo completamente o seu conteúdo e o valor das posições, os seus beneficiários e, até, de que forma os príncipios e os valores se atropelam pela luta da caça ao voto...

Observação: Poderia ter escolhido outro exemplo como seja a argumentação usada para assinar ou não (substância) o memorando imposto (coisa), mas não faltarão oportunidades até para reflectir sobre a contitucionalidade desse processo, sobre as graves omissões e sobre as consequências da aprovação do acordo na próxima semana, pelos ministros das finanças da UE.

10 comentários:

  1. Esmiuçando essa gravurazita... vai lembrar ao PSD que chegou a vez dele de... nos ordenhar lol

    Bjos

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  2. Substancialmente, as eleições de 5 de Junho vão- nos trazer a mesma substância. Mas há um pormenor: os efeitos no paciente dependerão muito de quem administrar a substância.

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  3. Isa,
    O boneco é do Coelho

    Carlos,
    Acho que não leu um grama do que escrevi. Mas para lhe responder, pelo sentido que deu acho: que com um, o cadáver morre; com o outro, fica morto... O moribundo só se salva se sair da morgue.

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  4. Olá Rogério.
    Pela diferença substancial mostrada no gráfico, podemos concluir que a consubstancialidade dos dois elementos difere nalguma coisa.
    Cabe aos faroleiros, da outra margem, administrar a dose certa da tal substancia luminosa, de maneira a minorar a tendência. Senão a coisa nunca mais mudará para outra coisa...

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  5. "Cada vez mais o discurso politico e de quem o comenta fala da "coisa da substância" esquecendo e distorcendo completamente o seu conteúdo e o valor das posições, os seus beneficiários e, até, de que forma os príncipios e os valores se atropelam pela luta da caça ao voto..."

    Assino por baixo

    José Luís Gaspar

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  6. Rogério, muito lhe agradeço a atenção, mas para ser franca, não percebi patavina da substancia da coisa da substância". O defeito será meu. Já da substancia da "substância da coisa" estamos perfeitamente entendidos.

    Abraço

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  7. Ariel,

    Eu que julgava ser tão fácil... Mas olhe, fique com uma definição alternativa: sempre que se fale de qualquer coisa sem se entrar na substância (o que está sempre a acontecer) tem nessa expressão o que eu quero dar a entender...

    Vale?

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  8. Caro Rogério
    Também tive o meu tempo das certezas absolutas. Acredite que li com muita atenção o que sobre este tema escreveu. No fundo a "substância" está nas bases de apoio e nas "classes" que compõem o eleitorado tradicional de cada um dos partidos em confronto.
    Como o meu caro bem sabe a história nunca se repete. A conquista do poder passa (quanto a mim) pela via eleitoral. Nenhum partido de esquerda só por si o consegue sózinho. Há que unir forças. Preconizo que é necessária uma aliança entre o PCP e o BE que possam recolher apoios na base eleitoral (descontente) do PS. Sente-se que mesmo em parte considerável de militantes e dirigentes deste partido é esta a opção desejável.
    Creia meu caro que apesar de algumas opiniões divergentes tenho por si o máximo respeito, quer pela pessoa quer pelas opiniões.
    Abraço

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  9. Uma boa troca de palavras, numa dança em que ambas as construções frásicas fazem sentido...já para não falar do conteúdo, adequadíssimo, pleno de sentido e muito actual.

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  10. Então pelos vistos o paciente já não é paciente, mas pelo contrario já está morto ou moribundo, visto se encontrar na morgue. Assim sendo só um grande milagre o salvará.
    Mesmo longe continuo lendo os seus artigos.

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