19 junho, 2011

Sem sonhadores, não há sonho...


“…E quando passar a tempestade que Saramago – humano - provocou com as suas acintosas apreciações, restarão sempre as lombadas beges de Saramago – escritor - para lembrar que aquele fervoroso e impertinente velho rezingão era, no fundo, um apagado sonhador.”

Termina assim um (longo) texto que li em “casa” amiga. Está bem escrito e serve para homenagear, mas também para o contrário disso. Diz bem com palavras de mal dizer. Diz mal com adjectivação de admiração. É um desenrolar de apreciações num estar com Deus e com o Diabo, ou o de dar uma no cravo, outra na ferradura ou, se quiserem, é um texto para ser lido à hora do chá, a pessoas bem pensantes por quem não sabe o que vai na cabeça de quem escuta tal leitura. Não venho aqui abespinhar-me com o escrito, mas apenas aproveitar para sublinhar que o autor daquele escrito se fartou de enganar vaticinando o apagar do “apagado sonhador”. Hoje mesmo, um escritor da nova geração deu testemunho que assim não será. Passo a transcrever palavras dele, do seu romance e depois um video datado:



[...]
nem sequer impossível. A verdade, como o silêncio, existe apenas onde não estou. O silêncio existe por trás das palavras que se animam no meu interior, que se combatem, se destroem e que, nessa luta, abrem rasgões de sangue dentro de mim. Quando penso, o silêncio existe fora daquilo que penso. Quando paro de pensar e me fixo, por exemplo, nas ruínas de uma casa, há vento que agita as pedras abandonadas desse lugar, há vento que traz sons distantes e, então, o silêncio existe nos meus pensamentos.
Intocado e intocável.
Quando volto aos meus pensamentos, o silêncio regressa a essa casa morta. É também aí, nessa ausência de mim, que existe a verdade.
[...]
in Cemitério de Pianos,
José Luís Peixoto





12 comentários:

  1. Lamento muito, mas não suporto Peixoto desde o dia em que li uma sua crónica acerca da geração que fez Abril!

    Quanto ao "apagado" acho completamente ridículo tal adjectivo.

    Que concretize muitos sonhos durante esta semana.

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  2. Olá São, Não conheço o artigo mas se não diz bem até sou capaz de concordar pois se tivesse sido feito a preceito teriamos agora menos de que nos queixar... (estou meio a sério, meio a brincar...)

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  3. Acho que vou ler o livro do JLP. Quanto ao que se escreve sobre Saramago, não ligue. JS sempre ficará no coração de quem o leu e ouviu.

    Beijo
    Maiuka

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  4. http://camaraazul.blogspot.com/2011/06/blog-post_1316.html

    para ser lido à hora do chá, meu caro Rogério, mas por favor com natas!!!

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  5. Como leitora, sou fâ incondicional da escrita e talento de José Saramago (o que não quer dizer que não tenha algumas reservas pessoais quanto a certas posições pessoais do homem), e por acaso, também gosto bastante de JLPeixoto... no entanto, penso que todos têm o direito de exprimir as suas ideias e se por acaso elas são ambivalentes, como parece ter sido o caso nesse artigo para ser lido à hora do chá,, é a opinião de uma pessoa... sem grande peso, convenhamos. Não acredito que seja apagado, nem a sua memória, o seu legado, nem o seu sonho... mas será sempre responsável por críticas,e opiniões divergentes... esse é também o seu legado(e mérito!)... como o de outros grandes sonhadores... :)
    Abraço

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  6. Rezingão, talvez, e com razão. Mas bem aceso...

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  7. Antes de crucificarem o Diogo, os seus leitores deviam ler o texto íntegral

    http://os-protagonistas.blogspot.com/2011/06/velho-rezingao.html

    que é uma GRANDE HOMENAGEM ao José Saramago, para quem compreender o texto e tiver sentido de humor.

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  8. Estar com Deus e com o Diabo, ou dar uma no cravo, outra na ferradura chama-se na filosofia

    D I A L É T I C A !!!

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  9. Querida Teresa, deixe lá...
    Tenha paciência...
    Só queria dizer, com veemência,
    que o José não ficará no chão
    do esquecimento, com o tal apagão
    que seu amigo lhe destina...
    Não será essa a sua sina!

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  10. O Rogério não compreendeu o texto do Diogo, pois se há alguém que admire e conheça profundamente a obra do José Saramago é o Diogo, ou melhor, toda a família Malheiro Dias.
    Quase todos os livros que tenho do nosso Nobel foram ofertas dessa família.
    Tivemos já mais de mil disputas por eu apreciar muito mais o escritor-intelectual António Lobo Antunes.

    Foi o Diogo que me anúnciou, meio transtornado e com as lágrimas nos olhos, a morte do Saramago, pois que eu me encontrava nesse dia na casa dele em Vila-Nova-de Gaia.

    Que o Rogério não desse a oportunidade aos seus leitores de lerem o texto na íntegra, também não foi um "fair play"!!!
    Pois quando se fazia clique na "casa amiga" aparecia a caricatura do Saramago.

    Na minha opinião, o rapaz escreve MUITO BEM, e sabe se lá se não será o nosso próximo Nobel da Literatura. O escritor Mário Claudio já lhe reconheceu o talento.

    O futuro de Portugal está nas mãos de jovens como o Diogo e não nas mãos da geração rasca que o Rogério tanto gosta.

    Há um provérbio alemão que diz, que nunca se deve enfurecer uma mulher, porque a vingança dela é terrível!!!

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  11. Cara Amiga,

    Também reconheci o mérito à escrita do autor do texto. Mas transcrevo aqui o comentário que lhe deixei (a si e a ele próprio) evidenciando os adjectivos utilizados no texto:

    O azarado burlesco;
    O herege que não espanta;
    O sarcástico embriagante;
    O falador sorrateiro sobre o povo lusitano;
    O eloquente prosaico;
    O sempre dúbio prémio da academia sueca;
    O radical trotskista
    O irritante
    O terrivelmente exagerado
    O estonteante malabarista
    O velho rezingão
    O apagado sonhador

    Quanto ao link tem toda a razão, já corrigi o erro.

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  12. Saramago terá sempre admiradores e críticos. Assim como haverá sempre alguma tendência para o preferirem ou ao Lobo Antunes.
    Eu acho que, sendo Portugal um país pequeno, temos sorte em ter a literatura de ambos. E de outros.
    Eu, continuarei a ler todos, gostando mais de umas obras do que de outras, mas sempre grata por existirem.
    Beijinhos.

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