22 setembro, 2011

Segundo fontes próximas da NASA, o lixo cósmico vai cair em Portugal - Parte II

Resumo do episódio anterior: Na madrugada deste dia a NATO recebe aviso da NASA, logo passado ao Primeiro Ministro português de que, contráriamente ao previsto os destroços do satélite iriam cair sobre 26 localizações. A chamada interceptada por um escuta foi passada aos media e logo divulgada. O pânico instalou-se e o Conselho de Ministros foi convocado para tomar as medidas adequadas.

O satélite irá fragmentar-se e os seus 26 bocados por Lisboa irão ser espalhados

11.35 am - A reunião extraordinária do Conselho de Ministros, após a surpresa inicial, corria com decisões rápidas sobre o que havia a fazer: convocar a Protecção Civil; redigir um comunicado breve e tranquilizador; nomear dois ministros e restantes membros de uma task force para a emergência. O ponto mais discutido foi se deviam ou não dar conta das estranhas localizações. Uns diziam que sim, que tal mobilizaria para a colaboração das populações com a protecção civil. Outros defendiam o contrário, que os locais tinham risco limitado e que podia acontecer os fragmentos poderiam sofrer desvios de rota. O ministro da cultura chegou a admitir erros da NASA e levou fortes reprimendas dos ministros dos negócios estrangeiros e da defesa, para além de "à partes" várias e bem azedas. O ministro encarregue dessa e de futuras comunicações foi o das finanças, reconhecido que lhe foi o mérito da voz pausada e sonolenta. Terminado o conselho foi lido o comunicado, sem conferência de imprensa.
11.40 am - Já todas as televisões tinham passado ou tinham no ar entrevistas a especialistas ou pessoas bem informadas, sobre catástrofes várias e sobre o que era normal ou recomendável fazer. Uma estação ainda tinha a correr uma entrevista ao ilustre Professor, comentador domingueiro, que ia a sair de casa, mostrando um notável conhecimento em tudo o que tinha a ver com o que ia acontecer chegado a dissertar sobre o espectáculo esplendoroso que se adivinhava mais espectacular que as sessões de fogo de artificio realizadas pela municipalidade. Todas as estações estavam na rua. As entrevistas a gente importante estavam difíceis, pois tinham abandonado o pais. Restavam os populares. Uns diziam ser castigo dos céus. Outros, atarefados, diziam não saber de nada respondendo a olhar para as nuvens. Outros ainda, desesperados, diziam palavras impróprias desejando que todo o país fosse para o "galheiro". Um lugar de boa recolha de reportagem eram as igrejas, apinhadas de gente rezando e implorando, em cânticos, a intervenção divina.
02.00 pm - Os noticiários ficaram diluídos na enxurrada de pretensas noticias, recolhas de opiniões, programas sobre lixos cósmicos, antecedente de quedas inofensivas de outros satélites, entrevistas. No prédio do Rogérito, a vizinha do quarto andar estava desfeita por ter perdido a novela da tarde e a filha da Dª Esmeralda perguntava desesperada se os "Morangos com Açúcar" iam ser prejudicados. O Rogérito, atento, ia registado factos para futura redacção e, enquanto isso acontecia, a Protecção Civil reunia. A imprensa internacional dava destaque empolado e escolhiam homens de negócios nacionais, "de passagem" nesses países, para serem interpelados sobre este impacto na economia. Políticos responsáveis de todos os países da Comunidade Europeia manifestaram solidáriedade. Nenhum credor da divida soberana se prenunciou, mas as Agência de Rating agravaram a notação. As bolsas fecharam e a filha da Dª Esmeralda ficou sem os seus "Morangos...". O marido da vizinha do quarto andar barafustava aos gritos ouvidos em todo o quarteirão: "Se esta merda continua nem o Porto-Benfica vai dar..."

O CATACLISMO FENOMENAL, SURREAL...

09.45 pm - A noite estava quente, melhor que qualquer outra de Agosto, e o céu muito estrelado. De repente, um clarão de mil cores, de uma inusitada e nunca vista beleza cobriu, sem exagero, toda a área metropolitana de Lisboa. Parecia um dia colorido. Foram muitos minutos, não contados, mas os suficientes para toda a população desses locais infringirem as recomendações da Protecção Civil saindo à rua ou chegando à janela. Depois, inusitadamente e desafiando todas as leis da gravidade, foram aparecendo, brilhantes e soltando faíscas artísticas, de extraordinária beleza, como que bailando no ar e procurando, sem massa específica, o lugar onde poisar. Tudo em movimento lento. De cada uma que se ia separando do grupo e procurava seu poiso, sem qualquer impacto violento, se ouvia um oh da multidão mais chegada. Foi assim, com o fragmento que se alojou por baixo da mão levantada da estátua de Fernando Pessoa, foi assim que se passou com a que se foi estatelar por baixo da espada da estátua de Camões. Em Belém, o monumento aos descobrimentos, foi contemplada por mais de um fragmento. Levou dois ohs de espanto, da multidão: um pedaço de razoável volume veio a calhar ao Infante D. Henrique; outro pulverizou a esfera armilar, empunhada por Pedro Nunes, colocando-se no seu lugar. Os fragmentos iam, assim, não caindo mas poisando, um a um em cada estátua de Lisboa. Um fragmento de entre os de grandes dimensões mas que não parecia pesado, veio colocar-se entre os braços abertos do Cristo Rei enquanto outro se ia instalar sob a pata levantada, no ar, do cavalo de D. José I, em pleno Terreiro do Paço. Caíram 25 pedaços, faltava o último: o que fizera soltar um ohoooo prolongado, quando as suas coordenadas foram avisadas pela NASA. Ouviu-se então um tremendo ruído, um uivo (quase grito) e perante multidões de milhões dispersas, de Cascais a Vila Franca e de Almada a Caneças, o enorme fragmento desviou-se do Palácio de São Bento e foi estatelar-se no Bugio, fortificação de defesa da barra do Tejo, construída no reinado dos Filipes (período em que Portugal perdera a independência e fora província espanhola). Os que conheciam as coordenadas originais, Ministros, Almirantes e Generais, do Governo e da NATO, já não se surpreendiam. Apenas se interrogavam sobre a razão de estar incorrecta aquela localização...
10.00 pm - A população dava vivas, largas à sua alegria e os que partiram preparavam-se para, aliviados, regressar. Os ministros, outra vez reunidos, nem lembraram o silêncio do Presidente em todo o tempo calado e ausente. Estava o secretário de estado da cultura a comentar a estética impecável das estátuas e a interrogar-se sobre o significado de um Cristo Rei que agora parecia querer mostrar à cidade um monte de aço artísticamente retorcido, quando o télélé do Primeiro Ministro tocou, estridente. "Tô", disse sem ter o cuidado de saber, previamente, quem é que estava do outro lado. A voz disse, num inglês de sotaque bem vincado e pronúncia marcada: "Vou passar ao presidente Obama" e ele ficou à espera que a chamada fosse passada...


Termina amanhã, com a descrição dos efeitos e sequelas

8 comentários:

  1. em que ficamos? podemos ainda desviar a rota??? ehhh...

    pois, gostei muito.'brigada pelo alerta, estarei atenta aos céus, e, claro, não podia já, face ao exposto no post anterior, ter deixado de equacionar onde colocar as orelhas se ouvir zumbidos ... que a coisa deve vir em queda lenta ...

    fraterno abraço
    Mel

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  2. Amigo Rogério, apareço aqui e sou logo atingida, qual "Guerra dos Mundos"! ;)

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  3. Vim ler a continuação e ainda bem. Uma excelente continuação.

    bjs

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  4. bem o medo dos irredutiveis gauleses ( obelix e asterix) parece que tinha algum fundamento

    Bjinhos
    Paula

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  5. O marido da vizinha do quarto andar perdeu o Porto x Benfica? Você é ótimo! O pior é que tudo se passa assim para qualquer assunto!

    Girassóis e beijos

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  6. :)) Aguardo o desfecho, rrsss se entretanto não me cair um pedaço em cima! Bjo

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  7. Nem sabia como comentar, mas atrevo-me, porque receio bem que, com as excepções que ambos conhecemos, o lixo atraia o lixo.

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