29 dezembro, 2011

Talvez o meu melhor trabalho, em 2011 - (1)

Depois da sede de uma flor próxima da morte, 
a sede de um homem crucificado

"Eli, Eli, lama azavtani?" (Meu Deus, Meu Deus, por que me abandonaste?)


Imagem do filme de Mel Gibson "A Paixão de Cristo"
“Depois, sabendo Jesus que já todas as coisas estavam terminadas, para que a Escritura se cumprisse, disse: Tenho sede”...“Estava pois ali um vaso de vinagre. E encheram de vinagre uma esponja, e, pondo-a num hissope, lha chegaram à boca”. ----Evangelho: São João 19:28
È sem dúvida a Biblia um manual de maus costumes, como ontem me lembravam, citando as palavras de Saramago (e que eu relembro aqui). A Biblia diz que Jesus terá dito "Perdoai-lhes Pai, pois não sabem o que fazem". Tal não é expressão de cristão digna de um cristo que com seu gesto violento expulsa os vendilhões do templo. Contradições? Sim, daquelas que levam os povos à resignação. Bem fizeram os escravos e plebeus em se terem revoltado e três séculos depois terem imposto o fim do esclavagismo e a queda do Império Romano. De Cristo, prefiro recordar as últimas palavras, as humanas: "Meu Deus, porque me abandonaste?", sabendo que eu, enquanto parte do meu povo, não tenho perdão se aceitar os vendilhões do templo...

10 comentários:

  1. Digo como Cristo, " Meu Deus porque me (nos) abandonaste?"

    Estranho Deus este que envia o Filho para a morte, que observa e não interfere.
    Deus é, no fundo, o primeiro retrato da nossa sociedade. Estamos a viver isso mesmo. A Humanidade caminha para o matadouro, em fila bem comportada e a nossa sede é-nos reduzida com vinagre.

    Quando é que as pessoas ( as outras) se convencerão que não é com vinagre que se apanham as moscas? Se calhar só quando todos sairmos para a rua...

    Beijo

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  2. Talvez não! É sem dúvida um dos melhores textos sim, e com ele concordo plenamente.

    Eu não me pergunto da mesma forma, pois não há deuses mas eleitos.
    Os eleitos fazem parte do circo montado para iludir os confessos devotos, de os levar como formigas no carreiro para todo o lado e lhes dar soluções para os seus mais temidos medos.

    Somos fruto da evolução dum animal que dominou e sobreviveu à cuata de mais alguns neurónios, nada mais!

    Assim penso.

    Beijinhos

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  3. Meu Amigo
    Também eu as repito muitas vezes: "Pai, porque me abandonaste"? Mas a minha fé dá-me respostas embora naquele momento, o sinta tão
    humano como eu...Ele também não perdoou os vendilhões do templo ( e sem contradições...) como nós não perdoamos a quem nos vende... É uma questão de honra e dignidade!
    À porta, está 2012...Que nos trará?
    Queria enganar-me e não ver que o País continua em saldos e em retalhos...Sinto-me feliz por sentir a minha alma acima de qualquer número circense e do rebanho ( ou serão formigas...?) que gravitam à volta dos "deuses"...
    Que em 2012 os portugueses sejam mais unidos e lutem todos pela mesma bandeira: a NOSSA!
    Graça

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  4. E nós também não nos abandonamos à nossa sorte e nos resignamos, sempre à espera que alguém faça o servicinho por nós para podermos usufruir das conquistas dos outros?
    Feliz 2012, Rogério

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  5. Concordo: "a Bíblia é um livro de maus costumes."

    Bom Ano, bons novos trabalhos, amigo Rogerito!

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  6. Rogério,

    Estou feliz porque o livro chegou hoje.

    Quanto ao post, teria tanto, mas tanto a dizer que nem sei por onde começar, é daquelas coisas que gosto mais de discutir ao vivo, olhos nos olhos. A minha primeira crise religiosa deu-se pelos 18 anos, procurei respostas em Bertrand Russel, no seu livro "Porque não sou Cristão" e na Bíblia e foi precisamente a passagem dos vendilhões do templo
    que marcou o meu ateísmo durante muitos anos. Atravessei outra fase em que Cristo me pareceu o primeiro dos "revolucionários", um Che Guevara da sua época, via e vejo nele ainda, uma força de transformação da sociedade que muitos de nós precisavamos ter. No fundo foram as religiões e a mente humana que deturparam a sua imagem, sobretudo a hierarquia religiosa, daí que pessoas como Leonardo Boff e o nosso Padre Mário Oliveira da Lixa, acabem por ser expulsos da Igreja e até presos pelo poder, como foi o caso do Padre Mário, por estarem do lado da libertação. Para lhe dizer a verdade, acho que Saramago podia dizer o mesmo de forma diferente, nunca concordei muito com a generalização que atravessava os seus discursos e como lhes dava um mediatismo exagerado.
    Eu concordo plenamente e é no que mais concordo com ele que a noção de pecado é a mais diabólica de todas as noções, sempre vi isso muito claramente desde muito cedo, aliás nos anos sessenta e enquanto aluna de franciscanos chegaram eles a defender que não deveria existir qualquer espécie de confissão, mas uma absolvição geral na própria missa e praticaram isso algum tempo, para evitar esses conceitos e por vezes um excesso de "beatismo" que também os afligia.
    A Igreja retrocedeu entretanto e apesar de acharem que João Paulo II foi óptimo e até o terem beatificado, para mim foi dos Papas que mais fez regredir a religião e nem vejo sequer em que é que as numerosas viagens que realizou levaram alguma Paz ao Mundo. A Religião só levará a Paz ao Mundo quando fôr capaz de ser humilde e dividir as suas riquezas. O resto, o que vai na cabeça de cada pessoa religiosa é respeitável desde que não faça dela escravo ou a torne passiva perante tantas injustiças.
    Por pessoas como aquelas que recolheram guerrilheiros em Timor, que morreram nas guerras civis de Angola e Moçambique defendendo as populações ou ajudando a matar-lhes a fome e a enterrar os mortos, bem como desenvolvendo
    conceitos básicos de higiene e medicina, de agricultura e sobrevivência, de costura e culinária e muito mais, onde outros não chegavam, por esses religiosos eu tenho que ter respeito e gostar do seu exemplo, apesar de não concordar com todos os aspectos da Evangelização, que também já não é o que era.

    "Deus" pode ser um conceito inventado para muitos fins, para o bem e para o mal.

    Aproveito para lhe desejar um ano de 2012 cheio de força, apesar dos maus augúrios, eu acredito e acreditar na força que temos, no Amor, é um outro Acreditar.

    Beijinhos
    Branca

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  7. Eina, que tratado! E tive que cortar ao comentário porque o sistema não aceita mais que 4000 e não sei quantos caracteres. Ao menos aprendi isso e fiquei aqui toda a noite, :)

    Beijos.

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  8. Da resignação e do abandono: Uma realidade dolorosa.

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  9. Sinto-me pequena para comentar este post. Mas não me sai da cabeça a frase de Saramago quase no final do livro 'O evangelho segundo Jesus Cristo' - Homens, perdoai-lhe, porque ele não sabe o que fez.

    Um abraço.

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