27 maio, 2012

Homilias dominicais (citando Saramago) - 85


"O presente não é um dado imediato da consciência." escreve Bulimundo, citando Jorge Luís Borges, com um titulo (O Presente não Existe...MAS É NELE QUE VIVEMOS). Não aprofundo o tema discorrendo sobre o tempo e o significado desse atraso com que o presente chega ao nosso consciente, nem como concorrem as forças retrógradas para evitar que o presente nem chegue, sequer, às consciências. Voltando àquele texto, escreveu Borges, que por seu turno cita Goethe: "O presente contém sempre uma partícula de passado e uma partícula de futuro (...)" Complemento esse conceito de "tempo" introduzindo-lhe o de "espaço". Ao aviso do "não agora" de Borges,  somou o "aqui" de Saramago, certo de que os caminhos do mundo que não foi dispensado de percorrer, lhe deram, em cada momento, a consciência IMEDIATA do mundo em que viveu, por TODOS OS LADOS em que viveu. 
Em certo sentido, Goethe, Borges e Saramago completam-se... eles não deixariam (nem deixam) apagar a memória.
Por muito que se esconda que ontem desfilaram bandeiras e vozes, esse presente existiu, rejeita um passado recente e chegará às consciências. 

HOMILIA DE HOJE 
«(...)A visita de Saramago à Villa Grimaldi ajudou a alimentar a memória social. Por quê? Em que consistiu o papel de Saramago? Sua figura de escritor, de Nobel e de homem que se define frente às conjunturas e que é mundialmente conhecido, permitiu que atraísse a imprensa, que seus passos se noticiassem, que fosse entrevistado, que gravasse programas de televisão e, dessa maneira, colaborou a que fatos do passado regressem à atualidade, em outras palavras, ajudou a recordar. A realidade repressiva chilena, que durou dezessete anos, é aludida mais uma vez e a presença do escritor impede que se esfume. Possibilitou que a sociedade se enfrentasse novamente com episódios da ditadura militar – que em seu momento não se divulgavam – que arrasaram com os mínimos direitos das pessoas e que, atualmente, poderosas forças sociais ideológicas e econômicas tentam deixar nas sombras do esquecimento. Saramago insuflou uma nova força à rememoração.(...)»
 (retirado de "Assim falou Saramago! Memória e direitos humanos", por Sara Almarza)

10 comentários:

  1. A memória e a tentativa de preservação em sua pureza me encantam tando que meu mestrado foi sobre memória social. Um país que perde ou manipula seus passados é um problema que instiga os pensamentos sobre as causas e asconsequências. Memórias seletivas e selecionadas por quem se entende no direito ajudam a fomentar o problema. Excelente reflexão querido amigo. Um bom domingo para ti e os teus.

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  2. O papel da memória na mundividência dos povos. É aí que reside a pedra-de-toque ( o pedregulho, melhor dizendo)da questão.

    Quanto mais estudo Saramago, mais lhe sinto a falta.

    Resto de bom Domingo.

    Beijo

    Laura

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  3. Que bem citado que fui nesta bela reflexão.. abraço

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  4. Abraço contra a indiferença

    e os tartufos

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  5. Meu amigo:
    Que esse "presente" nos traga a estrela que tanto ansiamos.
    Não podemos nunca esquecer o passado.

    beijinhos e boa semana

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  6. Rogério,

    Gostei muito. Depois de ler abri a "etiqueta" Saramago, aí em baixo, e vi o material que o Rogério já escreveu sobre Saramago. Já pensou que podia editar tudo isso em livro? Algumas coisas que li suscitaram-me a pergunta. Já pensou?

    Beijinho

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  7. Estou (quase) sempre ausente neste espaço de comentários. Hoje é o caso de vir, e (quase) sempre venho para responder a perguntas directas e pertinentes.

    A Maiuka deixou-me uma, sugerindo que eu, apóstolo das palavras de Saramago coligisse em livro meu continuado trabalho. Não tendo nunca pensado nisso, digo agora que nunca o farei. Seria inverter o propósito desses escritos que, lembro, tiveram sempre como principal motivo chamar a atenção para a obra e para o homem (e também chamar a atenção para os seus temas e para provocar a sua reflexão). Nunca faria aproveitamento de Saramago, para projectar as minhas próprias palavras...

    Mas obrigado Maiuka, foi um excelente incentivo para que continue.

    Continuarei...

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  8. Um povo que perde a memória perde a identidade. Temos mesmo a obrigação de transmitir as nossas memórias aos mais novos. Não foi em vão que os meus avós o fizeram, nem foi em vão sinto-o, que ao longo dos anos transmiti as minhas memórias aos meus filhos e as memórias assim transmitidas de geração em geração vão para além da história e dos sonhos individuais, são também e muito tudo que lhes está associado em termos socio-políticos.
    Conversar em família é criar a consciência de que existe um mundo para além daquele núcleo fechado e só assim faz sentido que se viva uma memória colectiva nas raízes da memória individual e se tenha o arrojo de colocar toda a força desse amor na luta pelos direitos humanos.

    Para além de nós é fundamental que escritores como os que citaste e que têm um enorme peso na memória dos povos, não deixem que a História se apague.

    Beijos.
    Branca

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  9. Um povo que perde a memória perde a identidade. Temos mesmo a obrigação de transmitir as nossas memórias aos mais novos. Não foi em vão que os meus avós o fizeram, nem foi em vão sinto-o, que ao longo dos anos transmiti as minhas memórias aos meus filhos e as memórias assim transmitidas de geração em geração vão para além da história e dos sonhos individuais, são também e muito tudo que lhes está associado em termos socio-políticos.
    Conversar em família é criar a consciência de que existe um mundo para além daquele núcleo fechado e só assim faz sentido que se viva uma memória colectiva nas raízes da memória individual e se tenha o arrojo de colocar toda a força desse amor na luta pelos direitos humanos.

    Para além de nós é fundamental que escritores como os que citaste e que têm um enorme peso na memória dos povos, não deixem que a História se apague.

    Beijos.
    Branca

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