30 junho, 2012

Um gráfico aldrabão... ilustra esta "loja dos trezentos".


Um gráfico marado e pouco verdadeiro, pois só comecei a actividade há (faz hoje) dois anos e meio.  O gráfico, se batesse certo, daria (correctamente) a tendência crescente das visitas que fui tendo ao longo do tempo... de qualquer forma o contador é... meu amigo


Agora o que me anima é já ser uma "loja dos trezentos"... Isso, trezentos amigos


Prometo continuar... a desassossegar
esperado desse desassossego uma certa inquietação

(Post reeditados às 16.30h)

29 junho, 2012

E se vivêssemos nessa harmonia? Sei que muita gente não gostaria... e é pena!


Ele já escreveu isto há uns tempos, mas só agora li...
"...o que mais impressiona é a falta de paranóia. Ninguém está ansioso, a começar pelos seguranças que nos deixam passar só com um sorriso, sem nos vasculhar as malas ou apalpar as ancas. Em matéria de livre trânsito, é como voltar aos anos 60. Só essa ausência de suspeita vale o preço do bilhete. Nos tempos que correm, vale ouro. Há milhares de pessoas a entrar e a sair mas não há bichas. A circulação é perfeitamente sanguínea. É muito bom quando não desconfiamos de nós..."
Texto parcial de um artigo de Miguel Esteves Cardoso, in revista "Sábado"

27 junho, 2012

Pena? Pena eu tenho, mas... o futebol é apenas a coisa mais importante de entre as coisas pouco importantes com que nos temos que preocupar...

(Talvez o Rogérito ainda escreva uma carta ao seu colega palerma)

...na praia, à hora das gaivotas


Na praia, à hora das gaivotas
Meu poeta
(Um deles)
Me dizia um dia
Que não há nada mais triste
Que um Não, dito
Numa sala vazia

De dentro
Sinto
Outro dito
Nada há de mais triste
Que um nome sozinho
Num percurso de um caminho

Hoje estive na praia
À hora das gaivotas...
Como me canta o Tim
E olhei as pegadas da gente, tanta gente
Pegadas correndo atrás de mim
As pessoas?
As pessoas voam
Oiço-lhes as asas...
Rogério Pereira

26 junho, 2012

"Somos governados pela política de fascismo económico"

Da moção fica a memória da votação e o que lá foi dito. O que se diz do que lá se disse, é outra coisa. E isso, a história também registará. Entretanto, o ministro vem dizendo que o problema é o ajustamento estrutural ter tido um aceleramento. De facto, estamos indo em passo acelerado... para o buraco

... e a propósito de ficar na memória. Que fique para registo, este aviso: 
"Somos governados pela política de fascismo económico"...
(para saber mais pode ainda ver outros registos)

25 junho, 2012

Geração sentada, conversando na esplanada - 5 (sentimento único)

"(...) Sabemos bem que é inútil resmungar contra o ecrã do telejornal."
"(...) Vida, se nos estás a ouvir, sabe que caminhamos na tua direcção. A nossa liberdade cresce ao acreditarmos e nós crescemos com ela e tu, vida, cresces também. Se te quiserem convencer, vida, de que é impossível, diz-lhe que vamos todos em teu resgate, faremos o que for preciso e diz-lhes que impossível é negarem-te, camuflarem-te com números, diz-lhes que impossível é não teres voz."
José Luís Peixoto, in 'Abraço'

Até o pachorrento rafeiro saiu da sua habitual bonomia para escutar o que se ouvia...

Estávamos todos como costumávamos estar, cada qual em seu lugar, talvez temendo, ainda que inconscientemente, qualquer pequena transgressão à rotina. Excepção para o rafeiro, do senhor engenheiro, que cansado de ser pisado, se levantava de cada vez que um de nós chegava e depois de nos ver sentados é que se deitava, tranquilo, pois tinha passado o perigo. Adaptava-se assim inteligentemente à adversidade. Podia ter optado por rosnar ou até ladrar e isso não ficaria mal à sua condição de cão, mas não, a sua estratégia silenciosa era mais segura e sem intimidar ninguém. Alheias à estratégia do rafeiro, o grupo das jovens conversavam dentro daquele ambiente que entre elas se foi criando. Às tantas, a Teresa explodiu: "Não suporto mais conversas destas" e o quase grito e o ar transtornado do dito eram reveladores de que não estava mesmo a suportar aquela conversa. Até o pachorrento rafeiro saiu da sua habitual bonomia para escutar o que a Teresa discorria: que o que se pretende com a noticia insistente é provocar um único sentimento que acompanha a imposição do pensamento único; que esse sentimento é o da total dependência do rasgo individual  em prejuízo da valorização do trabalho e esforço colectivo; que tanto vedetismo e culto lhe cheirava mal e até disse não saber se não nos estarão a preparar e a mentalizar para que um qualquer salvador apareça. Foi ao dizer que no dia a seguir à vitória se ter chegado ao cúmulo de lhe publicarem imagem igual na primeira página de três jornais, que percebi do que e de quem falava. "Este estardalhaço, esta fantochada de patriotas de fachada, prepara-nos para o pior!" As outras olhavam-na sem compreenderem, nem a fúria, nem o que a Teresa dizia e menos ainda o que considerava ser o pior. Numa coisa lhe reconheceram razão, ganhar o europeu era um sentimento... o único que lhes animava a alma. E de pronto a conversa convergiu para o concerto de Madona.

Lembrei-me das palavras de José Luís Peixoto e jurei a mim próprio dá-las a conhecer à Teresa...   

24 junho, 2012

Homilias dominicais (citando Saramago) - 89


Cada vez estou menos convencido de que quem defende um texto pelo mero rendilhado das palavras e pela beleza da sua ligada harmonia, fluindo esta como um rio, não tenha propósitos, mais ou menos inconscientes, mais ou menos escondidos, visando o desviar os sentidos, e o juízo, das palavras necessárias para defrontar estas horas amargas. Não, não estou a dizer que um escritor seja um mero produtor de conteúdos, alheado das coisas da alma. Mas de que vale falar desta somente, se o corpo é que sente? "O corpo é que paga", dizia um cantor (com alma) a quem poucos davam atenção até seu próprio corpo pagar. Se insistem, escrevam então com a alma. Mas por favor, façam da escrita um acto de amor e não de mera masturbação... É que o amor implica sempre a existência do outro, o respeito pelo outro, a necessidade de ouvir o outro e de o entender, para além do prazer. Que escrever seja a tradução de gestos e afectos...

HOMILIA DE HOJE
"Escrever é traduzir. Mesmo quando estivermos a utilizar a nossa própria língua. Transportamos o que vemos e o que sentimos, para um código convencional de signos - a escrita - e deixamos às circunstâncias e aos acasos da comunicação a responsabilidade de fazer chegar à inteligência do leitor, não tanto a integridade da experiência que nos propusemos transmitir, mas uma sombra, ao menos, do que no fundo do nosso espírito sabemos bem ser intraduzível, por exemplo... a emoção pura de um encontro, o deslumbramento de uma descoberta, esse instante fugaz de silêncio anterior à palavra que vai ficar na memória como o rastro de um sonho, que o tempo não apagará por completo..." 
José Saramago. Ler tudo em Traduzir in "Outros Cadernos de Saramago"

23 junho, 2012

Dê-me uma quadra de São João, de alho-porro na mão...


Os martelinhos não substituirão tão antiga tradição 
Tiram-nos tudo, ó São João
Que fazer desta má sina?
Festejos são ilusão
Com martelinhos vindos da China

Com martelinho vindos da China
Vem meu santo em meu socorro
Inverte esta má sina
Devolve meu alho-porro

Rogérito
Uma explicação de_vida, dada por uma amiga (pós-edição, já em pleno dia de São João)
"O S. João continua a ser uma corrente de extraordinário civismo e convívio, ainda não vi até hoje que houvessem diferenças nesse aspecto, porventura alguns casos pontuais que outros possam ter observado e eu não. E os martelinhos não vêm da China não, embora possam haver imitações, os martelinhos foram inventados em 1963 por um português que tinha uma indústria de plásticos no Porto, o Sr. Manuel António Boaventura e não apareceram com o objectivo de serem usados no S.João, foi o povo que os adoptou (pesquisar no google a história dos martelinhos) que chegou a trazer dissabores ao seu criador. Cresci a ser despenteada pelo alho porro na noite de S. João e a cheirar a erva cidreira, bem como umas plumas bem cheirosas que passavem pelo pescoço e pelo nariz das senhoras e que nem sempre os maridos gostavam. Os martelos só me fizeram impressão no primeiro ano, de resto hoje já nem acho tanta graça ao alho porro. A delicadeza com que a maioria das pessoas brinca com o martelo mantém o espírito saudavel das festas Sanjoaninas." 
Beijos 
Branca

22 junho, 2012

RIO+20: No "Sustentabilidade" há mais...


É verdade, a Manuela tem lá mais...

A Grécia voltará a ganhar?


Foi assim! A Grécia poderá perder (ou até ser expulsa da competição) 
caso a equipa de arbitragem for a conhecida troika...

Noticia de última hora: impedidos de alinhar. Clistenes (Grécia) e Marx (Alemanha)

21 junho, 2012

Portugal: a vitória foi... de quem a mereceu, digo eu! (será... que o Guilherme fica por cá?)

Os meus netos ainda se interrogam... Eu não! 
Sem outra troika, que não seja a equipa a arbitragem,
só nos parará quem for melhor que nós... ah, não liguem ao Guilherme...
(Enquanto isso, a Moody´s continua em serviço)

Cimpor, passa para as mãos dos brasileiros. António Borges, consultor do Governo para as privatizações, considera a operação como uma operação "do maior interesse para o país".

"Portugal perde oitava cimenteira do mundo"

Lembrei-me, a propósito da noticia de ontem, contar aqui um episódio da minha vida profissional. Foi num dia qualquer, de um qualquer mês do inicio de 1999, que fui convocado pelo partner (administrador) da firma onde então trabalhava, e que era responsável da "conta Cimpor", para uma sessão com os quadros daquela empresa, visando expor as oportunidades de melhoria do desempenho organizacional de uma área de gestão, da qual eu considerado como especialista qualificado e experiente. 
Fui. Eu e o partner. A  sala de reuniões, na sede da Rua Alexandre Herculano, estava quase repleta com os responsáveis das diferentes fábricas, outros directores operacionais, directores das áreas de gestão dos custos industrias, da informática, entre outros. Enquanto eu ultimava os preparativos para a apresentação, o "meu" partner ia, informalmente, trocando impressões com os presentes. Deu para cedo perceber que, nem a convocação da reunião era pacifica, nem a disposição de grande parte daquela gente estava conforme o descontraído ambiente.  Iniciei a sessão, com o power point aberto na agenda, começando por agradecer a presença dos circunstantes. Ia eu nisso, quando fui interrompido -"Posso contar uma anedota?" - o partner,  surpreendido, consentiu perante a gargalhada de uns quantos e os sorrisos contidos dos demais, que conheciam quer a situação quer a anedota que ia ser contada. Contou ele, genialmente:
Vinha por uma estrada do nosso Alentejo profundo, num carro de topo de gama, um senhor engravatado e, assim (e apontou-me), de fato escuro. Ao ver um pastor conduzindo o seu rebanho, pelo campo à beira da estrada, abrandou a marcha do "carrão" e, depois de acompanhar o pastor um bom bocado e em marcha lenta, dirigiu-se a este com uma pronuncia mal amanhada: "Bom dia, compadre!", "bom dia" respondeu o pastor, levando a mão ao chapéu, à laia de saudação. "Ó compadre, se eu lhe disser, assim de repente, quantas ovelhas tem esse seu rebanho, vossemecê oferece-me uma?", o homem coçou a cabeça, como quem pensa e, talvez por não acreditar em tal possibilidade, consentiu "Atão na dou?, vamos lá a ver s´adivinha!..." - O engravatado, já com o carro parado, avançou certeiro "são quarenta e duas". O pastor, visivelmente espantado: "Atão como é que c´adivinhou?" Orgulhoso do feito, decidiu levar mais longe o gozo: "Foi fácil, contei-lhes as patas e dividi por quatro". O pastor, resignado, disse ao engravatado que lá levasse a ovelha conforme o combinado. O homem desceu do carro, pegou num animal, e dirigia-se ao carro, quando o pastor o interrompeu "Pere lá, compadre. Agora proponho eu, sê cá adivinhar a sua profissão o compadre me devolve a ovelhita?" O engravatado presunçoso, assentiu e o pastor, avançou com tom convicto "O compadre é consultor!" Desta vez foi o engravatado o surpreendido "Mas como é que adivinhou?" disse, deixando para trás a falsa pronuncia com que sempre falara. Calmamente o pastor respondeu "É que no meio de tanto animal igual, só um consultor se poderia enganar. O que o compadre pegou é o cão que me guarda o gado!".  
Como a provocadora anedota não beliscava, minimamente, o meu querido pastor alentejano, não me senti atingido nem reagi mal. A reunião correu muito bem, com interesse, até, de que me fizera a provocação. 
Mas o que é que isto tem a ver com a notícia em título? Quase nada, mas eu gostava de saber o que pensam os quadros da Cimpor de um engravatado que depois de "ter entregue" a Cimpor, talvez se prepare para entregar o gado, o cão, o pastor e o seu cajado. É que esse engravatado é capaz de tudo... 

E já agora, que pensará o povo?
 

20 junho, 2012

RIO+20 - «Quando a economia e o capitalismo se pintam de verde»

O verde vende. Desde a revolução verde , passando pela tecnologia verde, o crescimento verde até chegar aos "brotos verdes" que tinham de arrancar da crise. A última novidade: a economia verde. 
Uma economia que, ao contrário do que o próprio nome indica, não tem nada de "verde" para além dos dólares que esperam ganhar com ela aqueles que a promovem. E a nova ofensiva do capitalismo global por privatizar e comercializar maciçamente os bens comuns, tem na economia verde o seu expoente máximo. 

Justamente num contexto de crise económica como a atual, uma das estratégias do capital para recuperar a taxa de lucro consiste em privatizar ecossistemas e converter “a vida” em mercadoria. A economia verde será precisamente tema central da agenda da próxima Cimeira das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio +20, a ser realizada de 20 a 22 de Junho no Rio de Janeiro, vinte anos depois da Cimeira da Terra da ONU que em 1992 teve lugar na mesma cidade. E duas décadas depois, onde estamos? Onde ficaram conceitos como "desenvolvimento sustentável" cunhados na dita cimeira? Ou a ratificação da Convenção sobre Mudanças do Climáticas, que estabeleceu as bases do Protocolo de Quioto? Ou a Convenção sobre Diversidade Biológica, que foi então lançada? No papel, nem mais nem menos. 

Hoje estamos muito pior do que antes. Durante estes anos, não só não se conseguiu travar as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade, parar a desflorestação ... senão, pelo contrário, esses processos se agudizaram e intensificado. Assistimos, pois, a uma crise ecológica sem precedentes que ameaça o futuro da espécie e da vida no planeta, e tem um papel central na crise de civilização que enfrentamos. Uma crise ambiental que demonstra a incapacidade do capitalismo para nos tirar da "beco sem saída" a que a lógica do crescimento ilimitado, o benefício a curto prazo, o consumismo compulsivo ... nos conduziu. E esta incapacidade de dar uma "saída" real, vimo-la claramente após as falhadas cimeiras do clima em Copenhague (2009), Cancun (2010), Durban (2011) ou na cimeira sobre a biodiversidade em Nagoya (Japão 2010), etc., onde acabaram por se colocar os interesses políticos e econômicos à frente das necessidades coletivas dos povos e do futuro do planeta. 

Nestas cimeiras surgiram falsas soluções para as mudanças climáticas, soluções tecnológicas, desde a energia nuclear, passando pelos biocombustíveis até à captura e armazenamento de CO2 no subsolo, entre outras. Medidas que tentam esconder as causas estruturais que conduziram à atual crise ecológica, pretendendo de fazer negócios com ela, e que mais não farão que agravá-la. Os laços estreitos entre aqueles que detêm o poder político e o poder económico explicam esta falta de vontade para dar uma resposta eficaz. As políticas não são neutras. Um solução real implicaria uma mudança radical no atual modelo de produção, distribuição e consumo, enfrentar a lógica produtivista do capital. Tocar no núcleo duro do sistema capitalista. E aqueles que detêm o poder político e económico não estão dispostos a isso, a acabar com a sua "galinha dos ovos de ouro." Agora, vinte anos depois, querem-nos "vender a moto" da economia verde como a solução para a crise económica e ecológica. Outra grande mentira. A economia verde procurar apenas fazer negócios com a natureza e com a vida. 

Esta é a neocolonização dos recursos naturais, aqueles que ainda não foram privatizadas, e pretende transformá-los em mercadorias para compra e venda. Os seus promotores são precisamente aqueles que levaram à situação de crise em que estamos: grandes empresas multinacionais, com o apoio ativo dos governos e instituições internacionais. As empresas que monopolizam o mercado de energia (Exxon, BP, Chevron, Shell, Total), da agroindustria (Unilever, Cargill, DuPont, Monsanto, Procter & Gamble), das farmacêuticos (Roche, Merck), da química (Dow , DuPont, BASF) são os principais impulsionadores da economia verde. Assistimos a um novo ataque aos bens comuns, donde quem saímos a perder somos os 99% e o nosso planeta. 

E especialmente as comunidades indígenas e camponesas do Sul global, cuidadoras desses ecossistemas, que serão expropriadas e expulsas dos seus territórios para o benefício das empresas multinacionais que procuram negociar esses ecossistemas. Com a cimeira Rio +20 pretende-se criar o que poderíamos chamar de "uma nova governança ambiental internacional" para consolide a mercantilização da natureza e que permita um maior controle oligopolista dos recursos naturais. Em suma, abrindo caminho para que as corporações internacionais se apropriem dos recursos naturais, legitimando práticas de roubo e usurpação. A resposta está em nossas mãos, dizer "não" e expor o capitalismo como uma economia que se tinge de verde.» 

Texto e foto, retirado do "Sustentabilidade é Acção", de Manuela Araújo

Movimento Sem Emprego - Clarificação: assim... não!

Não estou a abrir qualquer hostilidade, apenas venho clarificar uma posição que evoluiu, de um sim para um não. Aquando do anúncio da manifestação para dia 30 de Junho com a correspondente divulgação do video (que editei aí ao lado), de pronto aderi. "Unidos contra a troika e os governos do desemprego" mobilizou minha vontade e pronta adesão. 
Acontece que acredito que a unidade referida no video se faz na acção. Qualquer acção. Qualquer que coincida nos objectivos e independentemente de quem a convoca. Mas exijo dos outros o que exijo a mim próprio.  Porque não me parece que este movimento (que agora se pretende estruturar) tenha tido qualquer participação (ou posição solidária) para com a manifestação do passado sábado dia 16, (contra o pacote laboral) só posso entender que me coloca perante um vem tu aqui que eu não vou lá. O facto de se reclamar de independente, não o limitaria a manifestar adesão. E... assim, não. 


19 junho, 2012

Síria, hoje apetece-me escrever a sério...

Escrevi um dia, transcrevendo um texto sobre a Síria, como este país estava no percurso de um outro onde se dizia que uma chamada Primavera  acontecia. Nesse post, de Agosto do ano passado, nada do que lá estava escrito parece hoje errado! Volto ao tema, com esta entrevista, mais actual...

<

...onde a linguagem do entrevistado é cautelosamente "equidistante". 
Podia era ter-se dispensado de eufemismos, 
referindo-se aos rebeldes: "não são, propriamente, uns santos"...??? 

18 junho, 2012

Geração sentada, conversando na esplanada - 4 ( lições de vida, olhando a natureza )

(ler conversa anterior)
(...)
"Meus filhos, a existência é boa
Só quando é livre. A liberdade é a lei,
Prende-se a asa mas a alma voa
Ó filhos, voemos pelo azul!Comei!"

E mais sublime do que Cristo, quando
Morreu na Cruz, maior do que Catão,
Matou os quatro filhos, trespassando
Quatro vezes o próprio coração!"
(...)
"O Melro", Guerra Junqueiro

O negro melro, divertido, não esquecia a missão que tinha...

Parecia fácil a brincadeira proposta pelo menino, não fosse o ficar fatigado e ofegante pouco depois de a ter iniciado. O menino, o cão e eu, por esta ordem, corremos atrás dos pássaros. O menino ria, o rafeiro ladrava e eu arfava. O primeiro a desistir foi o pombo, que depois de andar por ali a esvoaçar rumou para o beiral do telhado e por lá ficou, sem regressar. O esquivo melro, ia e vinha chegando a ter, de nós, uma proximidade surpreendente. Parecia ter o propósito de nos distrair e entreter. A seguir ao pombo, desisti eu. Sentei-me na relva. O menino não ficou contrariado por eu ter parado e sentou-se ao meu lado, imitando-me a posição. O cão olhava-nos desafiante, talvez o mais frustrado pela brincadeira se ter ficado por ali. A mãe do menino, continuava, na esplanada, na conversa e esquecida de que o filho também a ignorava trocando a sua companhia pela minha, um desconhecido. "Eu corro muito" disse o miúdo orgulhoso do prazer  lúdico do seu correr. - "Também corres atrás dos pássaros com o teu filho?"- "Já tenho filhas muito crescidas... corro e brinco é com os filhos delas, com os meus netos..." - "Então porque não estás a brincar com eles agora?" E lá expliquei que aquela era a semana, intervalada, em que o meu neto ficava com a outra avó e que os outros moravam longe." - "O meu pai também brinca muito comigo", disse o menino sem me olhar. Pressentindo que estava mentindo, desviei a conversa e apontei o melro - "Olha, já reparaste que o negro melro não se tira daqui?" E, para continuar, fiz um esforço para me lembrar do pouco que sabia sobre estas pequenas aves, "sabes que o passarito, que sempre andou por aqui e nem fugiu, deve ter definido este espaço como um espaço seu?..." O miúdo interessou-se e mais se interessou quando de seguida me levantei e olhei a árvore  próxima - "Se calhar há ninho e crias por aqui...". Havia. Numa pernada da pequena árvore, sob uma densa folhagem, lá estava um ninho. Dentro, quatro crias e perto a mãe. À nossa aproximação o melro cantou um cantar enrolado, belo mas agitado, como que a dar o alarme. "Vês?" -  O miúdo abanou a cabeça afirmativamente "Sim!... pega neles e leva para minha casa. Minha mãe tem lá uma gaiola, de outro pássaro que morreu..." - "Nem todos os pássaros aguentam o cativeiro, nem todos os pássaros suportam perder os filhos. Sabes? Os pais dos melros nunca abandonam os filhos, são estes que quando são mais crescidos, decidem quando vão embora?" - O menino olhou-me atentamente e, de seguida, longamente olhou a cena da mãe a dar de comer aos pequenos melros que se agitam dentro do reduzido espaço do ninho. Depois, iniciou uma corrida, direitinho à esplanada onde estava a mãe. Pensei que tinha feito um disparate e que o menino iria convencer a mãe a levar o ninho. Enganei-me. Quando ele chegou, limitou-se a abraçar a mulher e ela, surpreendida pela chegada, lhe correspondeu ao abraço, distraidamente. Ainda bem que a nossa conversa acabara desta maneira. Não saberia como contar-lhe tudo o que sei sobre melros e a natureza humana e que um dia uma boa amiga (a Janita) me contara...

Continua na próxima segunda-feira
NOTA: reeditado em 20 de Junho, por alteração do texto e dos links

17 junho, 2012

A vitória sobre a Holanda dá origem a perguntas em coro: "Vô, e agora?, já provámos que somos combativos, trabalhadores e esforçados? Já temos crédito?"

Os meus netos acham que isto está no papo...
Levei um montão de tempo a dizer-lhes, que de facto,
as coisas não são bem como o Guilherme escrevia
... e que o futebol tem pouco a ver com o que a carta dizia 

Homilia dominical (citando Saramago) - 88


Olharei, depois da visita, o mundo talvez com os olhos com que o via a Rita, a pedido dele. 

HOMILIA DE HOJE
"Esta Rita a quem quero parecer-me quando for crescido é Rita Levi-Montalcini, ganhadora do Prémio Nobel de Medicina em 1984 pelas suas investigações sobre o desenvolvimento das células neurológicas. (...) Disse ela: “Nunca pensei em mim mesma. Viver ou morrer é a mesma coisa. Porque, naturalmente, a vida não está neste pequeno corpo. O importante é a maneira como vivemos e a mensagem que deixamos. Isso é o que nos sobrevive. Isso é a imortalidade”. E disse mais: “É ridícula a obsessão do envelhecimento. O meu cérebro é melhor agora do que foi quando eu era jovem. É verdade que vejo mal e oiço pior, mas a minha cabeça sempre funcionou bem. O fundamental é manter activo o cérebro, tentar ajudar os outros e conservar a curiosidade pelo mundo”. E estas palavras que me fizeram sentir que havia encontrado uma alma gémea: “Sou contra a reforma ou outro qualquer outro tipo de subsídio. Vivo sem isso. Em 2001 não cobrava nada e tive problemas económicos até que o presidente Ciampi me nomeou senadora vitalícia”. Nem toda a gente estará de acordo com este radicalismo. Mas aposto que muitos dos que me lêem vão também querer ser como Rita quando crescerem. Que assim seja. Se o fizerem tenhamos a certeza de que o mundo mudará logo para melhor. Não é isso o que andamos a dizer que queremos? Rita é o caminho" 
José Saramago - "Quando for crescido quero ser como Rita" - 2008

16 junho, 2012

Seara Nova, uma conferência que me fez recordar o meu dever de oficio

Hoje, assisti a uma conferência de que foram oradores Paquete de Oliveira (professor Universitário e ex-Provedor do Telespectador) e Alfredo Maia (Presidente da Direcção Nacional do Sindicato dos Jornalistas). Estive lá e com pena de não ter estado num outro lado. Fi-lo  por dever de oficio, pois, se bem se lembram, teve este blogue como seu projecto inicial denunciar casos de manipulação da opinião pública ou da omissão de tudo o que concorressem para que esta se formasse com verdade. Falou-se de como o poder económico se apoderou de jornais e televisão, de como domina redacções  e de como a "coisa" funciona
À medida que ia ouvindo ia lembrando trabalho meu. Lembrei-me de um post, onde comparava os malefícios do tabaco com os avisos disso, em confronto com a ausência de avisos iguais a serem obrigatórios nos jornais. E dizia: "Todos os jornais deviam em cabeçalho (ou rodapé) anunciar em caixa alta: "Ler esta porcaria mata a cidadania" ou então "Não procure o omitido, publicá-lo pode produzir outro resultado"... 
Não pude deixar de recordar o quanto o sistema instalado na imprensa evoluiu, desde que a Globo ensinou, grosseiramente, como manipular em situação limite e de forma a evitar que um candidato da esquerda fosse eleito presidente, em 1989. Os processos estão aí. Por enquanto a sua eficiência é visível a  evitar que tal confronto se dê. Uns pensam que não temos gente como o Lula. Eu, limito-me a achar que "eles" não vão deixar que haja...



Por cá, estes processos são usados para evitar "surpresas"...

14 junho, 2012

As sombras têm alma, mas tardam em o descobrir...


As sombras têm alma, mas tardam em o descobrir...
Porque nos remetemos à nossa própria sombra
esquecendo o sol que a projecta?
Será porque existem vários caminhos
e não saibamos a direcção certa?

Ou porque nos apontam apenas um
e ignoramos que os corpos têm vontade própria?
Rogério Pereira
Foto de família 

13 junho, 2012

Dia de Santo António de Lisboa, dia de tudo lembrar


Soubesse eu desenhar um só som que fosse
Soubesse eu escrever entre claves de várias partituras
Palavras e quadras (1) alegres, graves, suaves ou duras
Que sob a forma de canção
Te desse deste dia toda a sua dimensão

De arco, balão, vestes antigas e com antigas lembranças
Desceram a avenida com marcação e sorrisos
Da Liberdade de que desceram esquecidos
de antes sonhadas e ansiadas esperanças

Soubesse eu desenhar um só som, que nos fosse querido
E escreveria, à memória dos meus mortos (2) um hino
Que lembrasse, também, um sermão esquecido (3)
Desse, que trás ao colo um menino

Povo tão afastado de si, bem levado se leva
Quem de alegria mascara a treva 
Rogério Pereira
(1) desgarrada (2) meus mortos (3) sermão esquecido

12 junho, 2012

Santo António, à desgarrada: Leve um meu manjerico. Eu, com as quadras fico


A desgarrada mais bela que me foi dada 


 O MEU DESAFIO

Ora dá cá uma quadra
Que eu te dou um manjerico
Terás tua alma perfumada
E eu ficarei bem mais rico
Cá do Je
A DESGARRADA 
E eu ficarei bem mais rica
E melhor acompanhada
Seremos dois passarinhos
Em conversa adocicada
Da Fê Blue-bird

Uma quadra lhe vou dar
Gostava que a achasse bonita
Seu manjerico me perfuma
Fique com o perfume da Janita.
Da Janita

Ao Rogério deixo uma quadra
e vou levar um manjerico
não levo mais nada
mas deixo um beijito!
Da Manuela

Os líricos, ai os líricos
Não quero amor imenso
Não quero imensa paixão
Quero apenas um manjericão!
Da ematejoca

Meu amigo Rogério
Quero dois manjericos
Do seu lindo e vasto império
Sem imaginar namoricos.
Da Catarina

Uma quadra é muito pouco
Para um poeta tão querido
Mas se o pedido são quatro versos
Deixo-os e levo o manjerico.
Da Gisa

Era uma vez um santinho
Que gostava de pregar.
Não lhe deram cavaquinho…
Contra a maré, foi remar.
Do Rui Pascoal

Santo António sem saber 
era muito pobrezinho
Desde sempre ouviu pedir
Para si um tostãozinho

Sem nunca ver o fruto
De peditório tão antigo
Santo António está de luto
e a bem dizer... Perdido!
Da Lídia Borges (2)

Uma quadra enquadrada
num espaço que é janela
por feia e mal engendrada
acaba por ficar bela
Da Manuela Araújo

O manjerico levo, então
Vou daqui mais perfumada
A caminho do S. João
E de mais uma noitada
Da Filoxera

A minha negação para rimas
Abstém-me de participar
Desculpa lá Rogérito
Os manjericos não levar
Da Tite

Rogerito, meu amigo,
Até me pões a rimar!
Cheguei tarde e já tenho
Manjerico p'ra levar...
Da Carol
... E VENHA DE LÁ MAIS UMA QUADRA,
AGORA COM OUTRO  MOTE

Cantigas de portugueses
São como barcos no mar —
Vão de uma alma para outra
Com riscos de naufragar.
___________________________________________________________________Fernando Pessoa

SEARA NOVA - Sem seareiros não há searas...


Saber como os eleitos mantém o paradigma 

11 junho, 2012

Geração sentada, conversando na esplanada - 3 ( lições de ética, com exemplos de falta dela )

(ler conversa anterior)
"Sim, julgo às vezes, considerando a diferença hedionda entre a inteligência das crianças e a estupidez dos adultos, que somos acompanhados na infância por um espírito da guarda, que nos empresta a própria inteligência astral, e que depois, talvez com pena, mas por uma lei mais alta, nos abandona, como as mães animais às crias crescidas… " - (Bernardo Soares) 
"E dizer que, quando formos grandes, talvez sejamos tão estúpidos quanto eles!" - (A Guerra dos Botões)

Beijou o rafeiro, do senhor engenheiro, como a mãe o beijava a ele...

O rafeiro continuou a abanar a cauda, satisfeito com a chegada do menino. O senhor engenheiro, deu um sorvo apressado no galão claro e guardou o bolo de arroz para o fim. A Teresa, a Gaby e a Ana, fizeram um ó de exclamação enquanto a Zita não escondia a contrariedade em ter o grupo inesperadamente alargado pelo recém-chegado. - "Tu, aqui?" e inquiria imperativa esperando a resposta - "Foi o pai que me trouxe. Ele disse-me que eu ia ver que tu não tinhas nada que fazer e bem podias tomar conta de mim". A Zita não disse nada porque sua cara dizia tudo. A Teresa pôs água na fervura e desviou a conversa "Está bonito, o teu filho". Outra também atalhou - "Está tão querido..." A Ana, chamou-o e ele timidamente se aproximou para que ela o acariciasse. Zita continuava irada. "Senta-te aí e nem piu" e o miúdo, esquivo à ternura da Ana, meio se sentou pois mal chegava à cadeira que entretanto a mãe arrastara para o seu lado. "Porque não anda ele na escola?" perguntou uma delas. E a conversa deambulou por aí, com a Zita a contar os intensos passos e cunhas para arranjar lugar nas escolas das redondezas. "Deve entrar em Setembro, mas o meu pai teve de aceitar ser ele o encarregado da educação, por causa da morada. A minha não dá para o aceitarem..."- "Olha filha, eu tive que manter a minha residência de solteira para ter acesso ao Centro de Saúde, daqui..." Entretanto o miúdo, desinteressara-se da conversa e abandonara a cadeira para vir ter comigo. - "Posso lhe fazer uma festinha?" e apontava o cão, que voltou a abanar a cauda como a dar seu próprio consentimento. - "O cão é deste senhor, dessa mesa ao lado" - "Posso fazer uma festinha?" interrogou ele quase implorado enquanto o rafeiro se ia levantando. - "Depende... De que clube és?" inquiriu o senhor engenheiro. - "Do Sporting!" mas perante a careta de desaprovação do dono do cão, emendou "Ás vezes também sou do Benfica!"
- "Se passares a ser sempre do glorioso, deixo-te brincar com o meu cão", o miúdo fez jura de ir cumprir e passar a ser daquele outro clube  obtendo o consentimento imediato e necessário. Agarrou carinhosamente o pescoço do cão e beijou-o como a mãe o costumava beijar a ele próprio. Na mesa da mãe a conversa continuava com elogios ao Isaltino. O cão saturara-se do menino e este de acariciar o cão. O engenheiro começou o bolo de arroz, que ia partindo aos bocados esperando pelo pombo e pelo negro melro. "Queres brincar comigo?" Perguntou-me o menino. "Vamos lá!" e levantei-me sem se que quer lhe perguntar o tema da brincadeira. Corremos atrás dos pássaros estragando a manhã ao engenheiro. Na mesa, ficara o jornal, aberto na página onde estava o artigo que me tinha interessado. Lê-lo-ia, passado um bocado...


10 junho, 2012

Homilias dominicais (citando Saramago) - 87


Lisboa, foi a cidade escolhida para mais um dia não...

É sempre possível fazer das palavras o que se quiser, neste dia. Com palavras leves se falou de temas pesados. Com palavras pesadas se falou levianamente sobre a actualidade, sobre a história, sobre os portugueses espalhados pelo mundo, sobre Camões e sobre o futuro.  Falou disso quem mal conhece do que realmente fala, porque não sente a nossa gente, porque não sente o poeta que lhe canta os feitos, desvelos e erros e nem lhe conhece a obra. Falou de um futuro sitiado por opções que reduzem o mundo a um só espaço que nos empobrece o corpo e nos reduz a alma. Falou "de paisagens mentirosas", para de seguida amedalhar quem se prestou a ser amedalhado. Será um dia não, havendo razões de sobra para poder ser um dia sim, e alguém isso ousou lembrar. O dia ficará na história do calendário, pois aí nenhum dia é eliminado...

HOMILIA DE HOJE 
De paisagens mentirosas
de luar e alvoradas
de perfumes e de rosas
de vertigens disfarçadas.

Que o poema se desnude
de tais roupas emprestadas
seja seco, seja rude
como pedras calcinadas

Que não fale em coração
nem de coisas delicadas
que diga não quando não
que não finja mascaradas

De vergonha se recolha
se as faces tiver molhadas
para seus gritos escolha
as orelhas mais tapadas

E quando falar de mim
em palavras amargadas
que o poema seja assim
portas e ruas fechadas

Ah! que saudades do sim
nestas quadras desoladas.

"Dia não", poema de José Saramago

09 junho, 2012

Contra a Alemanha, Portugal é um zero, fora do campo... Dentro do relvado foi taco-a-taco e jogar é perder e ganhar.

Eu, explicando aos netos o que aconteceu...
Não há razão para desilusão. A desilusão dá-nos quem joga noutras bancadas e com outras jogadas. Fora do campo, valemos zero. Ou pior, fazemos de bola. Dentro do relvado foi taco-a-taco e jogar é perder ou ganhar. Perdemos, apenas porque não ganhámos... 
Meus queridos, agora têm aqui tampões de ouvidos pois ninguém se vai calar, até voltarem a jogar

08 junho, 2012

Redacções do Rogérito - 10 (tema: carta a Portugal, porque a do Guilherme estava mal)


Tema da redacção: A carta a Portugal que foi escrita pelo Guilherme, despertou ao Rogérito um texto que ele reclama ser muito mais adequado, sério e bonito.
Senhores da selecção de Portugal que amanhã começam o campeonato europeu peço-vos que leiam esta minha carta e esqueçam a que o Guilherme escreveu porque aquelas coisas não se dizem ainda menos a quem joga tão bem e é profissional do jogar e porque jogar é só jogar e isso significa perder ou ganhar ou até mesmo empatar embora eu gostasse que os senhores jogassem melhor que os outros e ganhassem todos os jogos até mesmo o que merecerem perder porque por vezes essas coisas até acontecem aos outros que jogam muito mal e acabam por ganhar porque a sorte faz parte do jogo e vocês até podem vir a ter azar.

Quero ainda que saibam que se as coisas correrem melhor para os outros que vou continuar a sonhar com um Portugal mais justo e não ficar a pensar coisas como esse miúdo que diz que se acaba o mundo e que lá se vai o prestigio e a oportunidade de a bandeira e o hino serem honrados e que os licenciados em bioquímica e medicina terão má sina e terão de ir procurar trabalho noutro lado porque em Portugal já não dá porque vocês se não prestarem para nada os portugueses que cá estão também não prestarão e é por estas coisas não serem assim que vos escrevo esta carta que até nem sei se vai ser por vós lida mas que termino desejando que se portem no campo com alegria e não liguem aos senhores da galp energia.

Rogérito
 Alguém explica ao Guilherme que o futebol é só a coisa mais importante 
de entre as coisas que não têm importância nenhuma ?

07 junho, 2012

«Us Corpu dus Déus é us corpu dus padre que vem tocar nus sino para falar à gente cuns palavra cagente num intende.»

A caminho da igreja iam pequenos grupos de mulheres e crianças, um ou outro velho e raramente um homem mais novo. O sino voltou a tocar, repicado e a miudagem exultava e ria com a pequena melodia que o sino fazia. No local do costume, as prostitutas aglomeravam-se, recatadas e vestidas com panos de cores, achava eu, menos garridas. O furriel Alma Sacrista deu pelo meu ir e esboçou primeiro alguma admiração, depois um sorriso prazenteiro, como se tivesse ele arrebanhado mais um cordeiro para aquele rebanho de Deus. Já a mais de meio caminho, juntou-se o «Meia-Cuca» à minha passada que, por isso, ficou esta mais curta e propícia à retoma da respiração normal do menino e ao deixar de arfar pela corrida que tinha tido para me apanhar. 
«Olá», disse-lhe. «Também vens à missa? Sabes que missa é, e que dia é hoje?» «O dia e essa missa és dus corpu dus Déus!» Fiquei admirado por ele saber pois, mais do que suspeita, tinha a certeza de não ter frequentado escola ou catequese. «E tu sabes o que é o Corpo de Deus?» O «Meia-Cuca» levou quatro ou cinco passos a responder: «Us Corpu dus Déus é us corpu dus padre que vem tocar nus sino para falar à gente cuns palavra cagente num intende.» Ri e ele não se admirou pois eu ria sempre que ele falava. Entrámos e pouco tempo levou isso a fazer a todos os que se reuniram para ali estar. Mesmo fazendo um esforço de memória não me lembro da homilia, pois apenas estava atento a se falaria da guerra, ou da guerrilha, ou do povo raptado, ou do contratado. 
Como não falasse nada do que eu esperava ouvir, perdi a concentração tal como as prostitutas que passados os primeiros minutos de ouvir latim ensaiaram risinhos e gargalhadas, trocando olhares lascivos e concupiscentes com os seus esperados clientes. Estes, sérios e compenetrados na missa, pareceram incomodados com a acústica que ampliavam as risadas das suas prestadoras de serviços carnais. A dado passo, soaram cânticos correspondidos por um terço das vozes. Foi a parte de maior concentração e à qual reconheci beleza. A missa continuou até acabar, com o «Meia-Cuca» já desesperado por ter de estar todo o tempo sossegado. «Gostaste?» A resposta foi imediata como se estivesse esperando a pergunta: «Esta festa num presta. Us mulher que vai nu cantar num pode dançar, us miúdo num pode corer, us homi num bebe e nu há batucada. Porqui num toca o sino cando us mulher canta?»

06 junho, 2012

Bruce Springsteen: Death To My Hometown (lá como cá?)



Death To My Hometown
Nenhuma bala de canhão voou, ninguém de rifle nos ceifou
Nenhuma bomba caiu dos céus, nenhum sangue encharcou o chão
Nenhuma pólvora cegou olhares, nenhum trovão mortal soou
Mas tão certo quanto a mão de Deus,
Eles trouxeram a morte à minha terra-natal

Nenhuma nave atravessou o céu, nenhuma cidade ardeu
Nenhum exército tomou as praias pelas quais morreríamos
Nenhum ditador foi coroado
Acordei numa noite silenciosa, nunca ouvi um só som
Bandidos atacaram no escuro e
Trouxeram a morte à minha terra-natal
Eles trouxeram a morte à minha terra-natal

Eles destruíram as fábricas de nossas famílias
E eles ocuparam nossos lares
Largaram nossos corpos nas planícies,
Os urubus deixaram só os nossos ossos

Escuta bem, meu menino, prepara-te para quando chegarem
Pois voltarão, tão certo quanto o sol que há-de nascer
Arranje uma canção para cantar e cante-a até terminar
Sim, cante-a com força e cante bem
Mande todos os magnatas sem escrúpulos para o inferno
Os ladrões gananciosos que aparaceram
E comeram a carne de tudo que encontraram
Criminosos que continuam com impunidade
Que andam nas ruas como homens livres

Ah, eles trouxeram a morte à nossa terra-natal,
A morte à nossa terra-natal.
Bruce Springsteen
(tradução minha, a partir daqui)

04 junho, 2012

Geração sentada, conversando na esplanada - 2 (preconceitos)

(ler conversa anterior) 
"Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito." - Albert Einstein
Aos preconceitos de outrora, e já muitos eram, juntaram-se outros, de agora. Custa até perceber, nos comportamentos das novas gerações, os que resultam de conceitos assimilados deformados e irracionais e os que se inscrevem na recusa de uma extensa lista de valores proscritos, de usos banidos, de gritos de alma proibidos, de manifestações censuráveis, e de seres a abominar. Na constante procura do reforço de poder, a classe dominante satisfaz-se com uma cultura que convive e alimenta o preconceito. Promove-o. Entre fortes e fracos, uma fatia do meio se sente com o conforto de haver gente pior que ela própria. Tem esse sentimento por manifestações que lhes entra pela casa adentro, pela leitura de revistas dos jornais. E sente-se mal, mas sem outra saída que não seja poder sentir-se pior.
Não procure tudo isso na conversa de hoje, nem tudo se mostra numa esplanada. Contudo, isso tudo está lá, dissimuladamente para além do que é evidente. E o evidente é tanto...

Imagem da net
Leio sempre o jornal no meu canto... mesmo não querendo,
as conversas delas vêm ter comigo, enquanto vou lendo.

Sentei-me e, como é meu hábito, abri o jornal. Ao lado, o lugar continuava vago, o senhor engenheiro e o seu cão rafeiro ainda não tinham chegado. .
A Teresa (a tal da "geração à rasca"), já lá estava. Continuava a chegar cedo, apostada em cumprir, na esplanada, o horário de trabalho, embora o tivesse perdido há um tempo imenso. De vez em quando eu levantava a cabeça que afundara numa ou outra página e olhava durante demorados  momentos a Teresa, na esperança dela  me corresponder. Mas ela, nada, olhava distraidamente o pombo que, ao longe, esperava que a esplanada se enchesse para ir debicar o quer que fosse que viesse a haver. Um pombo tem sempre de que comer. O negro melro, que também faz parte do cenário, também estava atrasado. Interrogava-me, como pode uma jovem mulher ter tal postura, metida consigo mesma, sem ocupação nem aparente interesse por nada que fosse evidente ter.
Estava eu neste esforço de compreensão quando chegaram, de uma só vez, a Gaby, a Ana e o negro melro. Este lá sobre a relva, elas se sentando ao mesmo que beijavam a Teresa. Eu disse para mim mesmo "olá princesa", ao mesmo tempo que a Gaby o fazia, em voz alta, com a costumada gentileza. 
- Ainda não pediste nada?
- Não há empregado, tens de ir lá ao balcão... isto agora passou a pré-pagamento...
- Também... para o que aquele metediço sem graça fazia... só espero é que tenha regressado à terra dele, para graçolas calaceiros já bastam os nossos, que também para trabalhar são uma desgraça...
- Não digas isso, o moço até era educado...
- Brasileiro?! Ó filha, vês-se que não lês os jornais... para mim é gente que anda por aí a mais...
- Eu bebo café, o que é que querem?, eu vou buscar...
- Já agora esperamos pela Zita, não deve tardar, deve ter ido entregar o miúdo...

Esperámos todos, elas e eu, pois sem me dar conta já fazia parte do grupo. Entretanto chegou o engenheiro e o seu cão, que eu sempre considerara rafeiro por o julgar mais inteligente que os cães puros. O engenheiro prendeu o cão ao pé da mesa e entrou para ir buscar o seu galão e o bolo de arroz, como seu costume. De todos os que ali estávamos fui o primeiro a ver a Zita chegar. A Gaby, explicava à Ana as novas funcionalidades do seu "tablet" e a Teresa, permanecia distante, olhando pela enésima vez o pombo, distante. Olhei a Zita. Olhei-lhe a cara de boneca e percebi-lhe a raiva que lhe tomara conta das belas feições. Não era nem expressão de dor, nem de mágoa, nem de desgosto, aquela que trazia no rosto. Era raiva. E vinha apressada. A chegada foi de rompante, depois de ter pisado o cão e este ter virado a mesa por se ter sobressaltado, atirou o saco para cima da mesa, quase fazendo cair o "tablet" e os telemóveis da Gaby, exclamando com voz irada: 
- Não posso mais com aquele gajo!
- Bateu-te, outra vez...
- Não foi trabalhar?
- Anda com outra?
- Ele que me volte a bater, que vai ver... desta vez não foi nada disso, a questão é que hoje era o dia de ser ele a levar o miúdo a casa da avó e fez-me uma cena. Desatou aos gritos, de mais isto e mais aquilo. E que mais nenhum dia levaria o filho a parte alguma e que essa era tarefa minha... Saí porta a fora.
- Se o meu se portasse assim, já o tinha rifado
- Deixa o gajo... vocês nem são casados...
- Mesmo que fossem... parece teres preconceitos contra o casamento!
- Um divórcio é um dinheirão...
- Mãããe!

Fazendo esvoaçar o pombo e o negro melro, uma criança vinha correndo em nossa direcção. Era o filho da Zita. O pai trouxera-o e nem se deixou ver. O grupo iria ficar alargado com o recém-chegado... 
O rafeiro ao ver o miúdo abanou a cauda. O melro e o pombo voltaram a pousar e o engenheiro chegou com um pequeno almoço, pronto para o comer e partilhar...


Post dedicado  a Susana Maurício 

03 junho, 2012

Homilias dominicais (citando Saramago) - 86


"A caridade é o que resta quando não há bondade nem justiça."

Quando, no fim de semana passada, devolvi o saco a uma jovem, ela me sorrio agradecida e me disse - "Obrigada, santo senhor". Aquelas palavras só não foram inesperadas porque não esperava palavra alguma, bastava-me o sorriso. Senti aquele agradecimento como uma censura, ao me acudir à mente dizeres de Dom Hélder Câmara - "Quando dou comida aos pobres chamam-me santo. Quando pergunto por que eles são pobres chamam-me comunista." - E se toda aquela gente se empenhasse em questionar a razão das coisas? e os apelidados de santos procurassem a resposta?

 HOMILIA DE HOJE
"Felizmente há palavras para tudo. Felizmente que existem algumas que não se esquecerão de recomendar que quem dá deve dar com as duas mãos para que em nenhuma delas fique o que a outras deveria pertencer. Assim como a bondade não tem por que se envergonhar de ser bondade, também a justiça não deverá esquecer-se de que é, acima de tudo, restituição, restituição de direitos. Todos eles, começando pelo direito elementar de viver dignamente. Se a mim me mandassem dispor por ordem de precedência a caridade, a justiça e a bondade, daria o primeiro lugar à bondade, o segundo à justiça e o terceiro à caridade. Porque a bondade, por si só, já dispensa a justiça e a caridade, porque a justiça justa já contém em si caridade suficiente. A caridade é o que resta quando não há bondade nem justiça.
José Saramago, em "Outros Cadernos"

02 junho, 2012

A Dª Esmeralda e a vizinha do 4º andar, a conversar (10)...


A vizinha do 4º andar, vê a luz ao fundo do túnel...

Vizinha do 4º andar - Sabe?, Dª Esmeralda, o meu Otário anda encantado. O patrão dele passou a falar que o amor é um sentimento necessário à competitividade e às relações laborais. E que se for despedido isso será sempre um acto de amor... 

Dª Esmeralda (surpreendida) - Não me diga!

Vizinha do 4º andar (olhando religiosamente para o ar) - Assim, já podemos ver... como se diz?... a tal "luz ao fundo do túnel"...

Dª Esmeralda (cada vez mais espantada) - Como, assim?

Vizinha do 4º andar (como se estivesse a pensar) - A pouco e pouco uma onda de solidariedade se espalha. Deus nos valha... (e voltando-se para a Dª Esmeralda) Sabe que o Banco Espírito Santo fez um acordo com a Cáritas, para ajudar os mais azarados, desfavorecidos e marginalizados? 

Dª Esmeralda (admirada) - Não, não sabia não!

Vizinha do 4º andar - Pois é!... não sabia... E por acaso sabe que agora, se o diabo bater à nossa porta, até podemos ir passar a ter um take away, das refeições servidas ali do restaurante do sr. Malaquias, quando ele não der vazão à alimentação, com os clientes que lá vão? Os cantores cantam um hino a isso, do desperdicio... Ah, o sr Presidente da Republica, também se meteu nisso... 

Dª Esmeralda (pasmada) - O Cavaco?

Vizinha do 4º andar - Sim, e a coisa não acaba aqui. Por certo também ignora que o movimento do Banco Alimentar, recolheu alimentação que mata a fome a gente que até mais não... que já mobiliza quase 40 000 voluntários e que se vai internacional e terá de admitir mais gente para se profissionalizar... talvez o meu Otário tenha lá lugar...

Rogérito (gritando da sua janela) - O governo já pode dar cabo do Estado Social e fundar o Estado do Amor e Caridade... o povo passa a ser uma irmandade...

(O Rogérito até acha que o que disse é uma laracha e que há...


quem, dentro da igreja, não se desvia da luta necessária... )

01 junho, 2012

Dia Mundial da Criança? Sobre os direitos, prevalecem os valores da crença? Não faz mal... é apenas uma questão de datas?

Meu neto Diogo, entrando no jogo...


As netas, a Marta protectora e a pequena Maria, a parecer uma senhora


E o puto Miguel, o neto irreverente... Tudo boa e pequena gente.
"A criança necessita de amor e compreensão, para o desenvolvimento pleno e harmonioso de sua personalidade; sempre que possível, deverá crescer com o amparo e sob a responsabilidade de seus pais, mas, em qualquer caso, em um ambiente de afecto e segurança moral e material; salvo circunstâncias excepcionais, não se deverá separar a criança de tenra idade de sua mãe. A sociedade e as autoridades públicas terão a obrigação de cuidar especialmente do menor abandonado ou daqueles que careçam de meios adequados de subsistência. Convém que se concedam subsídios governamentais, ou de outra espécie, para a manutenção dos filhos de famílias numerosas."