17 novembro, 2012

Álvaro Cunhal, "Porque nenhum de nós anda sozinho / E até mortos vão a nosso lado.” - 2

"Como, estás louco? Mesmo sem olhos um homem pode ver como anda o mundo. Olha com as orelhas. Vê como aquele juiz ofende aquele humilde ladrão. Escuta com o ouvido, troca os dois de lugar, como pedras nas mãos; qual o juiz, qual o ladrão?"  (Rei Lear)
(A morte de Cordelia - filha do REI LEAR) 

Eu, que sou só corpo e apenas porta-voz do que decidem o Meu Contrário e a Minha Alma, venho cumprir o compromisso de aqui escrever sobre o homem, o escritor, o artista, o ensaísta, o resistente, o lutador, o político, todas as semanas durante todo um ano em que se celebrará o centenário o seu nascimento. Escolheram, Minha Alma e Meu Contrário, que escrevesse hoje sobre Rei Lear, peça de William Shakespeare, e que Álvaro Cunhal traduziu em reclusão (entre 1953 e 1955, na cadeia de Lisboa, sob o pseudónimo Maria Manuela Serpa). Minha Alma e Meu Contrário me aconselharam a que o fizesse: sem esquecer o que terá sido o feito, em tais condições de privação da liberdade; o que terá sido o feito, sobre a pressão de quem levava vida perseguida; o que terá sido o feito, se quem o fez não saberia se o dia seguinte iria existir... Não saberemos nós como o pensar, por ser inimaginável que tivesse superado a adversidade e deixado tal obra acabada e em condições de merecer elevados elogios, por quem faz oficio de tradução o seu próprio ganha pão. Sobre a escolha de Rei Lear para tal trabalho, Minha Alma não tem dúvidas, a trama e o drama, além de permanecerem actuais, reúnem todos os valores (e a sua ausência) que justificam e explicam a sua luta. Meu Contrário realça o desafio, vencido, que expõe o intelectual  perante si mesmo, e acha o feito extraordinário: como foi possível, rodeado de esbirros e de ratos?
NOTA: Texto integral  da obra encontra-se apenas disponível em português do Brasil. As edições portuguesas encontram-se esgotadas.

14 comentários:

  1. Um exemplo sem exemplo.
    Parabéns pelo texto e pela escolha.
    Bjs.

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  2. .

    .

    . http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=1ncbY3rSW1U#! .

    .

    . b f semana .

    .

    .

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  3. A morrer e a aprender!
    Como é que o Álvaro Barreirinhas se lembrou do nome da minha terra para usar como um dos seus pseudónimos. Ainda por cima acrescentá-lo ao nome da minha filha? Ele há coisas!

    Bem me parecia que havia mais qualquer coisa de comum entre nós.

    ( eu e o Cunhal, claro!)

    :)

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  4. Um Homem diferente, muito para além do tempo em que viveu.
    Um Homem Enorme!

    Beijo.

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  5. Bom texto Rogério.

    E sobre a qualidade do trabalho até os seus adversários políticos lhe reconhecem o mérito. Cito-lhe um comentário do Vasco Graça Moura: «Eu penso que a tradução do «Rei Lear» da autoria do Dr. Álvaro Cunhal é uma tradução muito boa. É muita boa, não por causa das condições difíceis em que ele a fez, mas apesar das condições difíceis em que ele a fez. É uma tradução que, por outro lado,
    traduz a luta de um homem contra o enorme isolamento e a situação torturante, de tortura mental e até física, devido ao isolamento em que se encontrava. Isso penso que é uma realização notável, uma afirmação notável de capacidade de resistir e sobreviver e, sobretudo, é muito importante que tenhamos, em bom português, uma tradução do «Rei Lear».

    Abraço,

    José Luís

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  6. Cunhal ...que posso dizer que se não tenha já dito?

    Um abraço, amigo

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  7. Deixou uma herança grande. Que a saibamos honrar.

    Beijinho

    Laura



    Cá estarei para ler.

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  8. Nos momentos difíceis, é que somos verdadeiros para nós e os outros.

    E Álvaro Cunhal como ser humano que foi escreveu sob o estigma da prisão e a incerteza do Futuro.

    Belo texto!

    Maria luísa

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  9. gosto, sobretudo, dos desenhos de Álvaro Cunhal

    e

    muitas vezes é nas piores condições, que se criam obras primas

    um abraço, Rogério

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  10. Merecedor de uma admiração que ultrapassa os limites da política para se estender ao escritor, ao homem de convicções inabaláveis, ao Humanista.

    Lídia

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  11. Uma outra faceta: um enorme carácter, ainda que doa e contrarie muitos. Um artista genial...

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  12. São este mortos que vão ao nosso lado que nos ajudam a vencer tantas barreiras.
    Excelente homenagem e post!

    beijinhos

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  13. HOMENS COMO O CUNHAL NASCE UM DE CEM EM CEM ANOS!!!

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