17 maio, 2013

Poesia (uma por dia) - 35


«Non dimittitur peccatum nisi restituatur ablatum»
Não! Não é do «Sermão do bom ladrão»
Que vos falo, com mágoa na voz.
É de mim, é do povo, é de nós,
Das sombras que se estendem pelo chão.

E dos pés que nos pisam? Esses não,
Não podem ser de gente assim atroz.
É que os pés sem as sombras morrem sós,
As sombras sem os pés não morrerão.

Eu não gosto dos pés, eu tenho medo
A quem o rosto dei, nele cuspiu.
Antes o rude corpo do penedo,

E sem alma, sem razão, cego ou mudo,
Onde possa como ele, também eu,
Resistir às tempestades e a tudo.

Né Fonte /  "Mais 1 Poema"

9 comentários:

  1. Imperdoável!

    Mais um belo poema.

    ResponderEliminar
  2. Não sei se resistimos às tempestades...mas podemos afastar os pés que nos pisam.

    Abraço

    ResponderEliminar
  3. Excelente soneto que em nada fica a dever ao Sermão de Padre António Vieira, tal a semelhança do tema.
    Quanto ao estilo parece-me inspirado nos sonetos de Camões.

    Só sei que gostei, mas não quero ser penedo. Quero ser gente com alma, com razão, a tudo resistir
    sem pés que me pisem, ter voz e não ter medo.

    Parabéns à Né Fonte e beijos para ambos.

    ResponderEliminar
  4. A bota hitleriana daria mais força ao poema.
    Não somos, ou não nos sentimos, cascas de ovos e, por isso, muitos não terão, sequer, o cuidado de dar a atenção que o poema merece.

    Abraço

    José Luís

    ResponderEliminar

  5. Um soneto em que a voz do sujeito balança entre a acusação e o medo do porvir.
    Veste bem a realidade [nua] que vivemos.

    Lídia

    ResponderEliminar
  6. Muito bonito.
    Ganhou muito por associar o PAV.

    ResponderEliminar
  7. Um soneto de quem está atento ao que nos consome.
    Gostei muito!

    beijinho

    ResponderEliminar
  8. Muito bom! Cheio de alma e ... de desânimo. Como andamos todos nós, enfim: cheios de desânimo!

    ResponderEliminar
  9. Não sei se ficou como José Ferreira :)

    Bom poema.
    Parabéns para quem o escreveu e mais ainda pra quem o escolheu.

    ResponderEliminar