17 julho, 2013

Fernando Campos, para que se saiba

Abre o blogue dele citando Eça, e dele já fiz uma admirada exposição, num dia em que converti este meu espaço em galeria. Apareceu, num raro comentário a dizer, com a ironia que "todos" gostamos: "é sempre bom que falem de nós... Ainda que seja bem".
Volto a falar dele, mais de dois anos depois. Não pelo que desenhou, mas pelo que fez e pelo que disse do gesto feito. São estes actos que fazem com que Meu Contrário, cansado, depois de adormecer no regaço de Minha Alma acorde e se reconforte. Cito apenas um pedaço do lido que me deu conforto. Mas vale a pena ler toda a declaração. E é assim, para pequena amostra:
"...embora me manifeste frequentemente também sobre política, nunca participei nela activamente. Nunca - jamais - militei em qualquer organização nem desempenhei qualquer cargo público, eleito ou por nomeação - porque nunca me convidaram e porque não sou de me oferecer (o bom-senso e uma consciência aguda das minhas limitações têm-me impedido constantemente de o fazer). Isto não é sequer um traço de carácter, apenas um reflexo de temperamento: não sou de grupos - nunca fui escuteiro, nem da mocidade portuguesa, tampouco jotinha numa associação de estudantes e nem sequer fui à tropa; não sou sócio da Naval, nem do Ginásio, de nenhuma das filarmónicas, nem sequer dos Bombeiros e não dou para o Banco Alimentar (enfim, dou mas não me orgulho disso. Só o faço quando me sinto demasiado deprimido e impotente para fazer algo mais efectivo pela justiça).
Sou, sempre fui, um caso isolado. Um caso à parte, um outsider. Aquilo a que se chama um independente.
Não sou todavia um pária anti-social: já fundei uma empresa, uma revista de humor, uma cooperativa cultural, um jornal de informação, até uma associação de artistas. Tenho cinquenta anos.
(...)
Assim, o meu nome (e provavelmente a minha triste figura) constará na lista de candidatos da coligação aos orgãos de poder local nas próximas eleições municipais. Devo dizer que me agrada a moral dos comunistas – é de uma substância, surpreendentemente ou talvez não, composta em partes iguais pelas mesmas quatro virtudes cardeais dos antigos cristãos - ou seja, não é elástica nem é de plástico; exactamente como eu gosto. Talvez por isso, assinei voluntariamente um termo de responsabilidade (que eles exigem apenas aos seus militantes, não aos independentes) no qual me comprometo, em caso de ser eleito, a manter o cargo à disposição da coligação que represento; a não enriquecer com a política (o remanescente do que auferir no exercício desse cargo que exceder os meus actuais rendimentos será canalizado para um fundo em benefício de freguesias ou concelhos com eleitos da CDU) e a defender exclusivamente os pressupostos do seu manifesto eleitoral.(...)
Leiam tudo, dá ânimo!

4 comentários:

  1. Bom texto/testemunho/desabafo/discurso - só por este, se vivesse na Figueira, votaria CDU, assim como não vivo, voto CDU na mesma.
    Um abraço da mesma camioneta

    ResponderEliminar

  2. Num país demasiado elástico foi bom conhecer a posição firme deste artista plástico!

    ResponderEliminar
  3. A causa já vem de longe

    Abraço sempre

    ResponderEliminar