27 maio, 2014

Manuel Veiga, poeta, Herético - 2

Foram os que estavam e mais os não-ausentes, que os amigos chegam sempre mesmo quando não estão onde querem estar. E foi bonita a festa. De livro em riste, como quem ergue a vida, Manuel Veiga mostra-nos a sua primeira obra. Quase cem "Poemas Cativos" que se libertarão quando lidos (não há amarras para tão irrequietos, densos e belos versos).
"Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam", eram as palavras de Saramago escritas numa das paredes da ampla sala, como pré-anunciando que era aquele o local do nosso (re)encontro. 
Aos meus amigos
No sopro de meus dedos todas as glórias
(Que nestas letras se misturam deuses e criaturas)
Barro que tem reflexo de alturas
Onde germina o Corpo, o Tempo e o Modo.
Infinito-Presente que de tão breve é já Futuro.
Nada de novo no horizonte da palavra que respiro
Pois nada de mim se arrasta neste parto.
Sou além de mim – sou queda e brado!
Partitura que por capricho ou ledo engano
Na música se esvai correndo como o pano
Que aberto se fecha sobre palco festivo...
Promessa mil vezes adiada.
Não me lamentem porém os que de mim colhem
A flor de meus desejos.
Que no bosque esperançoso - em que incauto teimo
Sou vereda e água – e a palavra sussurrada. Ou o vento
Em cópula de Outono sobre as árvores...
Manuel Veiga, in "Poemas Cativos"

8 comentários:

  1. O abraço de sempre
    aos dois
    Venham mais cinco

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  2. E todos chegámos e todos nos esperávamos.

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  3. Já tinha lido este poema noutro espaço e agora ao relê-lo, dei comigo a dizer alguns versos de cor. Isto só me acontece quando a poesia é Poesia.

    Ainda não tenho o livro. Acho que chegará amanhã. :)

    Bjs

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  4. "havemos de chegar ao fim da estrada...". solidários sempre...

    grato, meu caro Rogério.

    forte abraço. privilégio contar-te como amigo.

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  5. Corpo,profunda coerência e melodia, têm os seus poemas, mesmo quando sopram "em cópula de Outono sobre as árvores"!


    O meu abraço! Dos grandes!

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  6. Agora, correndo ao sopro da aragem verdejante e promissora do bosque das palavras, nunca mais os poemas ficarão cativos.

    Que voem bem alto e cheguem a todo o lado.

    Parabéns ao poeta e ao amigo de sempre.

    Abraço.

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  7. "A flor dos meus desejos"
    "Em cópula de Outono sobre as árvores"
    Um sopro destes que anima nas mãos tamanha beleza não pode ser capricho ou ledo engano"
    Parabéns ao MV e ao Rogério pela apresentação.

    Abraço

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