06 julho, 2014

Geração sentada, conversando na esplanada - 67 (sobre o susto, os chimpanzés e os homens)

(ler conversa anterior)
"A Terra rebentará, podemos tê-lo por seguro, mas não será para amanhã. Do que estamos a necessitar é de um bom susto. Talvez despertássemos para a acção salvadora." - José Saramago, aqui

"Na cidade, agora, todas as pessoas esperam por um outro terra­moto, semelhante ao anterior, mas de sentido inverso – que recolo­que o cérebro dos chimpanzés no sítio certo e antigo. E com isso a ci­dade recupere a normalidade." - Gonçalo M. Tavares, aqui

Em menos tempo do que aquele que se leva a contar, foi um debandar. A chuva persistente afastou toda a gente. De todos, ficámos só nós os três abrigados pelo estreito telheiro: eu, o velho e o rafeiro. Mesmo com os pés molhados compensámos tal desconforto com o gosto das palavras trocadas...
- "Voltou a citar o Gonçalo! Mudou de opinião?"
- "Não, apenas lhe estou a voltar a dar uma oportunidade!"
- "Aproveita ter o Gonçalo falado dos efeitos do terramoto... mas não era esse o susto de que falava Saramago!"
- "Não, porventura, não seria!"
- "... e macacos não são homens!"
- "São quase!"
- "Então a cidade é um grande zoo?"
- "É verdade!"
E continuamos a conversar muito para além da chuva parar, deambulando sobre mil assuntos até comentar o que dissera o Carlos:


5 comentários:

  1. No que toca à cidade, e falando da minha Lisboa, que é minha e é de todos, confesso uma ideia que me surgiu ontem ao falar com o nosso amigo Bruno. A ideia, que é uma mistura de ideias que são nossas e de outros, desenvolveu-se ao ler um texto da nossa estimada amiga Lúcia Gomes, no blog Manifesto 74. Diz-nos ela que Lisboa é o maior parque temático do país. Diz-nos ela e com toda a razão. E depois reflecti sobre o assunto:
    Lisboa é como uma Disneyland. E nós, os que vivem na cidade, somos os mickeys e as minies que vão entretendo a rapaziada que está de visita. Uma Disneyland sem os seus personagens não seria a mesma coisa. Mas verdade seja dita, estes personagens, mesmo que precários, são pagos. Nós, personagens temáticos deste grande Parque de Diversões, pagamos com impostos este circo de cidade.
    Que venha um terramoto, talvez a malta desperte para a acção salvadora. Mas este terramoto que desejamos não é daqueles que aparecem por providência divina. Tem de ser daqueles terramotos que nascem dos pés da massa popular, que de passo em passo vibram os alicerces podres deste enorme coliseu circense que chamam de Lisboa.

    Abraço

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  2. Apraz-me ver que se vai rendendo à escrita de G.M.Tavares...
    Isto de os macacos recolocarem o cérebro no lugar do não falar, deixa-me inquieta.

    "De facto, os chimpanzés não estra­gam nada, não partem sequer um copo, mas quando falam colocam uma série de problemas irresolúveis."

    Um beijo

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  3. Gostava de ter participado nos comentários sobre as declarações de Carlos do Carmo. Absolutamente!

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  4. já não sei se são mesmo os macacos que nos imitam tão bem a nós...

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