30 novembro, 2014

Geração sentada, conversando na esplanada - 77 (A municipalização da educação e a escola pública destinada aos pobrezinhos)

(ler conversa anterior)
«Um professor é um decisor: alguém que, a partir do que se encontra determinado superiormente, tem a obrigação de escolher, em liberdade e com sentido de responsabilidade, de entre as possibilidades de acção aquela que, num determinado momento, se afigura mais adequada na concretização do que é o Bem em termos de educação formal. Negar-se esta faceta ao professor, que é a matriz da sua função, é negar a sua existência. Mais honesto seria acabar-se, de vez, com esta profissão!»
Helena Damião, in De Rerum Natura
«...E David Justino, (...) mostra-se entusiasmado com a municipalização do ensino, em experiência anunciada. Estou cansado de ver ex-ministros colarem-se, depois de saírem de funções, à bondade de políticas que poderiam ter executado. A descentralização de que o sistema carece é por via autonómica efectiva das escolas, que nenhum dos ministros de que falo teve coragem de promover. Mas não precisa de municipalização, metáfora do Estado Novo II para substituir um monolitismo por vários caciquismos. »
Santana Castilho, in Público

«Municipalização da educação? Digam-me uma única vantagem para a comunidade educativa, para os alunos, e eu terei de concordar com a solução.»
Director de um importante agrupamento escolar do Concelho de Oeiras

Tínhamos combinado, eu e o velho engenheiro, que não falaríamos nem de justiça, nem de detenções, nem de entronamentos e congressos, e, por isso, estávamos calados, rebuscando assunto. As professoras chegaram e falavam acaloradas. A Ana estava exaltada, a Gaby pousou a mala e elevava a fala. O rafeiro do velho engenheiro agitou-se a até ganiu, de incomodado com a enxurrada de palavras quase gritadas. Mais calada estava a Teresa, mas também ela transtornada. Eu e o velho trocámos olhar interrogativo como que questionando o que seria aquilo. Não foi preciso esperar muito. «O director deveria reunir connosco! Partilhar as preocupações, ouvir-nos...» dizia uma, para outra argumentar «Não o culpes, tudo isto tem sido tratado entre o Ministério e a Câmara, em segredo. Numas reuniões está, noutras nem é convocado». E lá fomos percebendo que se tratava da imposição da municipalização do ensino. A dada altura, sentencia a Teresa, com voz calma e firme: «Se não for afastada a essa ideia de as autarquias receberem prémios por conta da eficiência, dispensando professores a troco de uns apetitosos trocos; se os conselhos municipais de educação tiverem de ganhar um protagonismo novo, e se as suas competências forem conflituar com as dos actuais Conselhos Gerais; se passarem para a competência das câmaras, competências que hoje são atribuições da escola, conflituando com a autonomia que hoje detêm; se as Direcções da escola passarem a ter de reportar decisões que hoje não reportam a ninguém; se, de mansinho, as câmaras se apossarem da responsabilidade pelo pessoal docente; se o pessoal não docente for gerido à distancia, administrativamente, por autarquias sem a garantia de que essa tutela esteja habilitada para o efeito. se tudo, ou parte disso, acontecer, a Escola Pública vai morrer»
- «E tudo começou com a Milú»
- «Lá estás tu!»
Nesta altura eu e o velho engenheiro resolvemos romper com o nosso acordo e lá começámos a falar sobre o congresso e sobre o que lá se disse...

28 novembro, 2014

A Mafalda deixou de ler a necrologia...

A Mafalda deixou de ler a necrologia.
Concluiu que a justiça está viva e não lhe parece que pereça
(da primeira página do jornal i, hoje às 19h)

27 novembro, 2014

O Cante, ainda e sempre




Águia (do monte ao mundo)

Reeditado de um post de Abril 2012, com alterações

ÁGUIA

Minha alma Celta se inquieta
Meu coração Luso pulsa, de repulsa
Meu sangue Mouro, da memória desperta
enquanto uma águia cruza, altiva, o monte e a planura

Não me limito à geografia de estar
Não sou estas fronteiras
Europa? Não sou de um só lugar
e para viver que se procure outras maneiras

Somos de todos os ignorados lados
Somos de mares antes navegados
Somos, do monte ao mundo
Rogério Pereira, um miscigenado 

25 novembro, 2014

Poesia (uma por dia) - 72



A MULHER QUE CHORA BAIXINHO

A mulher que chora baixinho
Entre o ruído da multidão em vivas…
O vendedor de ruas, que tem um pregão esquisito,
Cheio de individualidade para quem repara…
O arcanjo isolado, escultura numa catedral,
Syringe fugindo aos braços estendidos de Pan,
Tudo isto tende para o mesmo centro,
Busca encontrar-se e fundir-se
Na minha alma.
Eu adoro as coisas
E o meu coração é um albergue aberto toda a noite.
Tenho pela vida um interesse ávido
Que busca compreende-la sentindo-a muito.
Amo tudo, animo tudo, empresto humanidade a tudo,
Aos homens e às pedras, às almas e às maquinas,
Para aumentar com isso a minha personalidade.
Pertenço a tudo para pertencer cada vez mais a mim próprio
E a minha ambição era trazer o universo ao colo
Como uma criança a quem a ama beija.

Álvaro de Campos

24 novembro, 2014

O Público, o "sexagenário metalúrgico" e um partido que não carece de ser regenerado...

Público, em Espanha. Esperava o quê? 


Bem podia o artigo explicar algumas razões do que lá foi escrito.
Designadamente isto, dito ontem, pelo tal "sexagenário metalúrgico":
"Nós temos uma proposta de política alternativa inseparável de uma alternativa política capaz de a construir e concretizar, valorizando a luta dos trabalhadores e do nosso povo e apelando à convergência de democratas e patriotas, consideramos que só o reforço do PCP pode ser o pilar da política alternativa. Partido de luta e proposta, partido sério com uma só cara que honra sempre a palavra dada. O que dizemos neste salão é o mesmo que dissemos na Assembleia da República e em todo o lado. Temos um projecto, temos um ideal e temos uma forma diferente de estar na política porque nós, Partido Comunista Português, estamos aqui para servir os interesses do povo e do país e não para nos servimos a nós próprios. Partido que está em condições de assumir as responsabilidades que o povo português lhe entenda atribuir, incluindo responsabilidades governativas. Partido que com o seu projecto e o seu ideal assume-se como portador da esperança por uma vida melhor num país mais desenvolvido e progressista".

23 novembro, 2014

Geração sentada, conversando na esplanada - 76 (no limiar do Estado de Corrupção Geral)

(ler conversa anterior)
«Veio enfim um tempo em que tudo o que os homens tinham olhado como inalienável se tornou objecto de troca, de tráfico, e podia alienar-se. É o tempo em que as próprias coisas que até então eram comunicadas, mas nunca trocadas; dadas, mas nunca vendidas; adquiridas, mas nunca compradas - virtude, amor, opinião, ciência, consciência, etc. - em que tudo enfim passou para o comércio. É o tempo da corrupção geral, da venalidade universal"»
Karl Marx, in "Miséria da Filosofia", 1847

«João Cravinho não esconde a sua desilusão. Autor de um pacote legislativo que deixou no Parlamento antes de ir para Londres para a direcção do Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento, viu as suas propostas serem rejeitadas pela sua própria bancada, a do PS.»
Rogério Pereira, In "Reconstituíndo um post roubado...", 2011

«Recusamos comentários com componente de julgamento»
Jerónimo de Sousa, ontem in "Notícias ao Minuto"
 


Estávamos, eu, o velho engenheiro e o seu cão rafeiro, abrigados no alpendre. Chovia copiosamente. As nuvens negras eram dissuasoras de promessas de sol e já tínhamos desistido de nos sentar a conversar. Falávamos ali, de pé e sem desgrudar, como quem cumpre o ritual de rever as notícias da semana. Quando lhe disse o que pensava escrever, ele fez um silêncio prolongado, para depois comentar: "Citar Marx, Cravinho e Jerónimo?, faz sentido. Está tudo ligado". Depois, referindo-se ao post de ontem "Sabe?, uma televisão assim, ajuda muito. Ao seu post sem nome bem podia dar o título No limiar da Corrupção Geral. É com a destruição dos valores da educação, que a corrupção grassa e se instala"...

22 novembro, 2014

Não consigo encontrar um título para isto...

Cada dia que passa é um dia a mais que tarda
E se tardar muito, tudo estará irremediavelmente perdido
Ah, e não falo da espuma dos dias...

21 novembro, 2014

E alguém chegou e veio dizer "Eu não quero o PS que o Assis quer", mas acho que é mesmo esse que vai ter que levar em cima... a menos que o povo rompa com tão má sina!


Nesta semana, que amanhã finda, mantém-se a sina não lida e traçada na palma da mão, como reza o fado. Em 66 notícias, não consta que António Costa tenha desmentido Assis, nem retirado campo para o que Assis diz.
Miguel Macedo, terá sido referido por um churrilho de elogios a um gesto que se quer fazer passar digno.
Pedro, Aníbal e Paulo fizeram aparições em todos os momentos e ocasiões. A receita seguida pelas TVs, é simples: caras mil vezes repetidas passam a ser caras queridas. E teremos que levar com elas em cima.
A menos que o povo rompa com tão má sina...

20 novembro, 2014

Pois, esse PS também eu queria. Ou um Podemos.


Eu sei que muito boa gente, e alguma da que me lê, gostaria que entre a "família" (tida) de esquerda houvesse diálogo ameno e pontos de entendimento e que a unidade fosse uma realidade que pautasse orientações por outros caminhos.
Pois, só que há reflexões que ficam por fazer e querer não é poder. Brincando com as palavras, diria, que o que dava jeito era mesmo um Podemos... mas que Podemos? O do Boaventura Sousa Santos, da leitura que ele faz ignorando o seu programa? É que lendo o Programa Económico do Podemos, podemos encontrar convergências para um entendimento patriótico e... de esquerda. 
Acho que Assis, mais ainda que o Santos, percebe o perigo disso, quando hoje desanca um jovem quadro do PS. É que ele, sem citar o Podemos, ficou arrepiado com o que disse o jovem quadro:
«...a ‘proximidade ideológica’ que Assis vê entre PS e PSD é para mim um mistério. Eu quero um PS concentrado na recusa do tratado orçamental, numa reforma fiscal que pese mais no capital do que no trabalho, numa revisão profunda do Código do Trabalho, na recuperação da iniciativa estatal, na regulação económica sobre sectores-chave, na renegociação da dívida impagável. E isto não é retórica, é mesmo para ser feito. O país está cansado dos discursos vazios, cheios de esquerda na lapela e que depois se limitam a governar para a gestão da situação...»
Pois, esse PS também eu queria. Ou um Podemos.

19 novembro, 2014

Carlos do Carmo e as palavras mais belas que alguma vez o mundo terá ouvido

 Para ouvir, clique em RTP 1976
Não sei se o Carlos do Carmo logo, falando do seu trabalho, falará da repartição da sua vida e do pão. Não sei se agradecerá ter-lhe, o fado, traçado o feliz destino de ter dado voz às palavras mais belas que algumas vez o mundo terá ouvido. Não sei se agradecerá a todas as vozes que lhe agradeceram a carreira de uma vida inteira e se fará referência a gestos canhestros ou à omissão caseira de gente que não presta. Só quero assinalar que foi por sua voz que ouvi a melhor definição para o que julgara indefinível - o amor - nessa "Estrela da Tarde" que nos povoa a memória.
Esta a minha homenagem, para além da espuma dos dias que por vezes tolda o passado.

18 novembro, 2014

Diabo Na Cruz (Bonito, Isto!)

Clique em "LISTA DE REPRODUÇÃO"
LUZIA 
Ouve os foguetes, Luzia
Eu vim às festas da senhora da agonia
Para te encontrar
Larga o estágio e os deveres
Faz-te à sorte que tu queres
É hoje Luzia que tudo vai mudar
 
Diz ao teu pai que não percebes este mundo
A que foste condenada
Conta à tua mãe que isto agora é prego a fundo
Tu não podes estar parada
Bora! Bambora! Vambora! Bora!
Vem comigo Luzia
É o nosso tempo que nos chama
Com o cerco que agora se anuncia
Há-de vir um novo dia
Pra escrevermos outra trama
 
Os moços que riem nos barcos
Não vieram pela santa
Vão descalços
Têm tanto a esquecer
Tu e eu queremos algo
Que há quem diga estica a conta
Quem sabe, Luzia
Se é a nós que a vida quer 
 
E se as correntes todos sabem estão à beira
Mesmo à beira de quebrar
À nossa frente já se veem as portadas para um mundo a começar
Bora! Bambora! Vambora! Bora!
Vem comigo Luzia
É o nosso tempo que nos chama
Com o cerco que agora se anuncia
Há-de vir um novo dia
Vem escrever uma outra trama 
 
Ao alto bombos
As ruas cheias de flores
Pelos becos vão gentes amansando suas dores
Todos renegados, aturdidos
Sem certezas
É esta a nossa hora, Luzia Vianeza
E se o teu pai não aceita, desconfia
Do que eu tenho pra te dar
Ele que saiba que eu trabalho noite e dia
Pelo roque popular
Bora! Bambora! Vambora! Bora!
Vem comigo Luzia
Vem comigo Luzia
Vem comigo Luzia
Oh, vem comigo Luzia

17 novembro, 2014

LuxLeaks, sed lex


Encontro com Micro, Pequenos e Médios Empresários

O meu título é lixado e carece de ser decodificado.  Com o meu LuxLeaks aponto que o dito cujo, embora se refira ao Luxemburgo, é comum a muitos burgos e o que lá se passa é a lei (sed lex) que impera para amealhar dinheiro no mundo inteiro. Sobre a propriedade dos amealhadores, ouvi falar aos extorquidos. Foi Jerónimo, num discurso exemplar, em que, num aparte, nos explica a escala de medida dos roubos que se programam:
«De facto, estamos perante um escândalo. Portugal vai receber 26 mil milhões de euros de fundos, e vai pagar no mesmo período 60 mil milhões de euros de juros, em grande parte às entidades europeias!» e num aparte «Barroso deu a notícia da tal "pipa  de massa", mas escondeu que para a receber teremos que entregar 3 pipas de volta» 
Jerónimo de Sousa
Ao meu lado, o velho operário-encadernador-de-obras-que-mereciam-ser-encadernadas, proprietário de uma oficina que já conheceu sonhos e melhores dias, desabafa: "Mas isto não pára?"

16 novembro, 2014

Geração sentada, conversando na esplanada - 75 (o "The Voice Kids" e a queda que faz subir audiências...)

(ler conversa anterior)
"E o mar bramindo / Diz que eu fui roubar / A luz sem par / Do teu olhar tão lindo"
Amália, "Canção do Mar"

"Podemos, se queremos, carregar na mochila da escola tudo o que ela pode levar. E a criança leva. Leva até não poder carregar e se cair pode-se levantar. Ou não. Depois vamos aliviar a carga. Só nessa altura percebemos que não levava nada que lhe fosse útil. É nessa altura que ficamos alarmados. Mas já aconteceu a queda"
Eu, ao Bruno, num dia destes, a caminho da Casa do Alentejo
A Gaby, do outro lado da esplanada como lhe era costume, ocupava-se com o seu tablet. A dada altura, com voz embargada comentava o que via. A lágrima testemunhava o que sentia. Apenas balbuciou  "Entram pelo prazer de cantar e com a ambição de ganhar, saem com a consciência de uma nova experiência..." e não a qualificou. Pouco depois toda a esplanada percebeu de que falava. "Treinam-se para competir na selva. A canção cantada não passa de uma metáfora..." disse alguém.

15 novembro, 2014

José Casanova, in Memoriam (1939 - 2014)


Por vezes temos o sentimento de que há homens que gostam de nós, tanto, como nós gostamos de nós próprios. Eu sei que, sendo sentimento, pode bem ser exagero. Mas falando do Zé, o que parece é. Ele gostava mesmo das pessoas, num gostar genuíno. E era nessa Humanidade que alicerçava a força para a sua luta.  Morreu, mas não partiu. Jamais deixaremos partir os nossos mortos!

Na memória, por tudo o que ele foi.

14 novembro, 2014

Os dias. O "Dia Nacional da Indignação, Acção e Luta" e "O DIA EM QUE O GOVERNO NÃO CAIU"


(...)
Dizes tu: que esperaste muito tempo.
Que já não podes ter esperanças.
Que esperavas tu? Que a luta fosse fácil?
Não é esse o caso: a nossa situação é pior que tu julgavas.

É assim: se não levarmos a cabo o sobre-humano,
estamos perdidos.
Se não podermos fazer o que ninguém de nós pode
exigir, afundar-nos-emos.
Os nossos inimigos só esperam que nós nos cansemos.
Quando a luta é mais encarniçada é que os lutadores
estão mais cansados.
Os lutadores que estão cansados de mais,
perdem a batalha.»

Bertold Brecht
"Pessoas detidas são 11. Presidente do Instituto de Registos e Notariado. Director-Geral do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. Secretária-Geral do Ministério da Justiça. Buscas no Ministério do Ambiente. Buscas no escritório de Luis Marques Mendes, Ana Luisa Figueiredo, Miguel Macedo e Jaime Couto Alves Gomes, uma empresa de consultoria e gestão.24 horas de Governo de Portugal. (...) E neste dia o Governo não caiu. Ninguém se demitiu. Nenhuma entidade pediu responsabilidades. O Presidente da República não dissolveu a Assembleia da República. O Primeiro-Ministro continua a ser Passos Coelho. O Ministro da Economia ainda é Pires de Lima. O Vice Primeiro-Ministro ainda é Paulo Portas. A Ministra da Justiça ainda é Paula Teixeira da Cruz. O Ministro da Saúde ainda é Paulo Macedo. E por aí fora."
"No dia em que o governo não caiu", os entretantos  são tantos

13 novembro, 2014

Manoel de Barros - In Memoriam (1916 - 2014)


Os deslimites da palavra

Ando muito completo de vazios.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu
destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas

12 novembro, 2014

A ilusão: um só homem pode, um povo não

A imagem desmente o título?
Folhei-se atentamente um jornal, não importa qual, e percebe-se como se manobra de forma a que o rebanho permaneça manso. Manso e crente. Cada título é um hino ao individualismo, ao rasgo individual e à fulanização. As caras e o nomes mascaram decisões colectivas ou parecem sobrepor-se as estas, como se as organizações que representam não passassem de meros grupos de seguidores, gente cega e sem vontade própria. Não é verdade, cada partido serve interesses de classe ou grupos de pressão. 
O que lemos distorce a realidade e cria a ilusão de que um só homem pode, o povo não. O processo eleitoral é algo de lateral, subsidiário e formal. O poder conquista-se antes da chegada às urnas com o rebanho arrebanhado.  
No entanto, há vozes que se vão juntando.

11 novembro, 2014

S. Martinho baralhou-se porque lhe baralhei a lenda...

(reeditado)

Conta outra lenda (que agora mesmo inventei)
que foi neste dia feita rica oferenda,
a Baco, Deus verdadeiro. (como verdadeiros são todos os deuses)
A oferenda reunia um vinho divinal e um cesto de bela, doce e fresca fruta.
Tomou o gosto ao vinho e procurou, procurou, procurou...
Não encontrou, no meio de tanta,
que desgraça tamanha,
nem um única castanha!
Ia morrendo de raiva, de ira, de susto!
E por ter tão fraco magusto decretou que ninguém mais nesta data bebesse vinho, nem bom nem mau, nem sequer surrapa.
Seus súbditos e outros seguidores da fé
tementes a Baco, inventaram bebida estranha que dá pelo nome: "Água-pé"


Imagem de Baco, tirada daqui
(Claro que tudo isto é treta,
depois da jeropiga já nem sei o que diga...)

10 novembro, 2014

"O próprio Stravinsky gostaria certamente de ouvir isto"


Dizia à Maria Eu, eu a ela, que tinha o condão de ver o som e que isso era tão bom. Disse-me que eu era poeta. Não sei se o sou. Apenas me lembrava de ter visto "o pássaro de fogo" e o que se vê num abraço, a seguir a um improviso. Só isso!

Este vídeo é reeditado
 e, hoje, o título 
é de um comentário lá deixado

09 novembro, 2014

Geração sentada, conversando na esplanada - 74 (descendo ao nível dos galináceos...)

(ler conversa anterior)
 «A lição que pessoalmente extraio do admirável acontecimento (mais do que uma lição será um voto) é que, a partir de agora, nenhum muro mais seja levantado antes de se buscarem, incansavelmente, as soluções que o possam evitar. Isto é, que se trabalhe e eduque para a paz e não para a guerra. Só espero que as mesmas multidões que derrubaram o Muro de Berlim não se lembrem um dia de voltar à rua para aplaudir, num contexto político diferente, outros muros e outras fortalezas: como sabemos, a espécie humana não é muito de fiar...»
José Saramago, numa Homilia minha

«Eu cresci na década de 1980, vi o muro de Berlim cair. É frustrante ver como está Portugal agora, percebe-se que tudo regrediu.»
Valter Hugo Mãe, entrevista à Veja

Entre uma bátega de água e uma aberta, em que o sol espreita, o rafeiro do senhor engenheiro corre divertido atrás do pombo. Nesse corre e esvoaça, o pombo parece, quando pousa, fazer-lhe pirraça, num desafio para que o "corre e esvoaça" continue. Eu e o velho engenheiro abrigámo-nos da chuva mas não regressámos à esplanada quando voltou o sol. O espaço está alagado. Estávamos assim, resguardados, silenciosos e sem comentar o tempo, quando ele pega no tema: - "Muros, muros... sabe o que eu acho?, é que depois da queda do outro, a cada um foi construído outro muro à sua volta, pouco alto, de pouco mais de um palmo, mas onde faltam coragem e discernimento para levantar um pé e passar para o outro lado".  Primeiro fiquei calado, depois ocorreu-me dizer "Às galinhas, meu amigo, basta um circulo. Um circulo desenhado no chão, e comportam-se como se estivessem sitiadas!" Foi a vez de ele se calar, e ficámos assim a olhar o jogo do "corre e esvoaça" num momento em que o pombo quase se deixava apanhar e a pensar em muros, o caído e os que desde então se ergueram...

08 novembro, 2014

"Lisboa Games Week": E quem diz que a droga (pesada) não está legalizada?

Quando há dias afirmava que «A cultura de guerra desenvolve-se sem que "ninguém" se dê conta...» e depois perguntava «Ó Paul onde deixaste o nosso "All You Need Is Love" ?» estava longe de pensar estar em vésperas do «Lisboa Games Week» e das ligações entre tudo isso e uma "nova" epidemia...

Ébola? Legionela? Sim, são perigos evidentes. Os outros perigos soam (ainda) baixo e sem (ainda) qualquer relação com o tal "Admiravel Mundo Novo":

«... As histórias repetem-se, porém, e soam familiares aos pais. Alguns adolescentes deixam para trás um percurso académico de bom nível para se fecharem no quarto a jogar computador dia e noite. Há amizades de infância que são postas de lado em detrimento do contacto online. O isolamento em relação à família, as mudanças de comportamento, os casos de violência inexplicável face ao insucesso num jogo digital ou à proibição de continuar ligado são outros comportamentos comuns.
(...) Os números a que chegou a equipa de Ivone Patrão no ISPA dão uma outra camada de leitura desta realidade. Há quase três quartos (73,3%) dos jovens que apresentam sintomas de viciação na Internet. Destes, 13% exibem níveis severos de dependência, que se manifestam através dos comportamentos mais extremos descritos pelos pais e referidos pelos investigadores. Os próprios jovens parecem ter noção disto, uma vez que mais de metade (52,1%) dos inquiridos se percepciona como “dependentes da Internet”.»
in Jornal Público 
Vá!, consuma, o desígnio é de delírio lúdico e (dizem) educativo...

07 novembro, 2014

Um fim de tarde entre amigos... e seus livros

«Presa ao sopro, eu, que nada posso contra a força invisível das palavras sublevadas da superfície das coisas que não importam, descobri um dia que existia um mar arável, uma transparência macia a consubstanciar-se em ecos poéticos, liquidez onde descansar de tantos dias cheios de ramos secos e mortos a tornarem difícil o caminho térreo da nossa alegria (...)» Virginia do Carmo, "Em jeito de prefácio" ao "Presos a um sopro de vento" - Poética Edições

Licínia Quitério iniciou suas palavras citando as de Virginia do Carmo e, embalada por elas, apresentou os autores. Primeiro, Eufrázio Filipe, cujo livro estava a ser lançado - Presos a um sopro de vento - e disse poemas dele, como só ela sabe dizer. Depois, Manuel Veiga, cujo livro estava a ser apresentado - Poemas Cativos - já há tempos lançado

Belos momentos (e descontraídos, também).

  
Chamei-te mar
No mais íntimo da pele
desgrenhei o vento
para te desassossegar os cabelos
escrevi na água
da chuva
para ver
como as palavras
se desmoronam

No mais íntimo da pele
lá estavas azul
tão azul tão azul
que te chamei mar

e já é tanto

Eufrázio Filipe, em "Presos a um sopro de vento", 
Poética Edições, Novembro de 2014

06 novembro, 2014

5 de Novembro, Dia Nacional da Língua Portuguesa, porque “A degeneração de um povo, de uma nação ou raça, começa pelo disvirtuamento da própria língua.”



Tem um dia de atraso, mas não o faço ao acaso (é que hoje comemora-se o dia do nascimento de Sophia).
Ontem foi o dia em que se comemorou, no Brasil, o Dia Nacional da Língua Portuguesa. Se estranho não ser a 5 de Maio ou a 10 de Junho? Não, depois de saber quem foi Ruy Barbosa (e conhecer um pouco da sua prosa):
"...Para o coração, pois, não há passado, nem futuro, nem ausência. Ausência, pretérito e porvir, tudo lhe é atualidade, tudo presença. Mas presença animada e vivente, palpitante e criadora, neste regaço interior, onde os mortos renascem, prenascem os vindoiros, e os distanciados se ajuntam, ao influxo de um talismã, pelo qual, nesse mágico microcosmo de maravilhas, encerrado na breve arca de um peito humano, cabe, em evocações de cada instante, a humanidade toda e a mesma eternidade..."
Por mim, e por tudo o que é dito aqui, que haja tantas datas quantas as Pátrias em que o português tenha sido a língua escolhida por lhes ser a mais querida. E que a bem tratem. E como escrevia Ruy Barbosa: “A degeneração de um povo, de uma nação ou raça, começa pelo disvirtuamento da própria língua.”
Ah, o tanto que havia a dizer sobre o malfadado "acordo ortográfico", sobre o tratamento dado a Sophia e outras tantas e tristes coisas...

"O Desafio da Educação" - II


Quanto à autonomia das escolas, quando a FENPROF cita o CONSELHO NACIONAL DA EDUCAÇÃO significa que são da mesma opinião:
 «...enquanto a administração educativa se mantiver fortemente centralizada, a autonomia das escolas não passará de uma intenção recorrentemente anunciada, mas sistematicamente contrariada.
Aliás, este alargamento da contratualização dá-se, paradoxalmente, num contexto de recentralização, favorecido quer pelas plataformas informáticas, quer pela constituição de mega-agrupamentos, tal como o Conselho Nacional de Educação (CNE) recentemente denunciou, ao afirmar que a criação de agrupamentos de grande dimensão tem vindo a criar problemas novos onde eles não existiam alertando, também, para a recentralização do poder na administração central, agora reforçada na sua capacidade de controlo de tudo e todos, pelas novas tecnologias (Recomendação nº 7/2012, CNE). »
 ... e quando eu cito o Bolimundo, num comentário lá deixado, quero dizer que comungo do seu escrever (ainda que ele transcreva um trecho de um livro há muito lido):
«– Observem – disse o Diretor, triunfante. – Observem. Os livros e o barulho intenso, as flores e os choques elétricos – na mente infantil essas parelhas já estavam ligadas de forma comprometedora; e, ao cabo de duzentas repetições da mesma lição, ou de outra parecida, estariam casadas indissoluvelmente. O que o homem uniu, a natureza é incapaz de separar. – Eles crescerão com o que os psicólogos chamavam de um ódio “instintivo” aos livros e às flores. Reflexos inalteravelmente condicionados. Ficarão protegidas contra os livros e a botânica por toda a vida. – O Diretor voltou-se para as enfermeiras. – Podem levá-las.»
in "Admirável Mundo Novo", Aldous Huxley
Só não chegaremos a este estado, se não tivermos cuidado...


04 novembro, 2014

"O Desafio da Educação" - I


Peço desculpa se o que vou escrever não tenha com o título nada a ver. O titulo refere-se a um programa ontem visto, o escrito espraia mais as espectativas que tinha, à partida, antes de o ver e sobre o que me fica depois de o ter visto. 
Parto da imagem e desse "nós" destacado, empunhado por um rosto triste, sem que o tal programa visto me tenha dado explicação sobre a razão de tal tristeza.(*)
Naquele cartaz, aquele "Nós" também sou eu, e também é quem me lê. Como não sei falar de si, falarei de mim, assim:
Depois de dar umas lições, sobre números e sobre cores, convoquei-me para uma distribuição de tarefas sobre saberes. A Minha Alma ficou incumbida de ministrar o saber-saber; Ao Meu Contrário calhou-lhe o saber-estar; Ao meu Eu, o saber-fazer. Aos três, em conjunto, o saber-sonhar,  pois foi considerada a mais difícil tarefa. Como consigo reunir tudo isso em mim, procuro não falhar. 
Esse o meu desafio pessoal que venho desenvolvendo sem parar...

(*) Solicitei à Professora Luisa Moreira que falasse sobre a autonomia da escola. Ela já me prometeu que o faria.

03 novembro, 2014

Há vozes que, sendo diferentes, dizem coisas semelhantes às ditas pelas minhas gentes... e isso é, não só sintoma de que não estamos sós, como um ânimo para podermos continuar a lutar! [Ah, e quanto ao socialismo, deixem-no lá, pois a qualquer momento vai ser preciso...!]

para ver clicar em "jugular"
«Não acha que ia sendo tempo de fazer uma nova revisão constitucional?
As únicas questões realmente controversas da Constituição estão no preâmbulo: passagens que não têm força normativa, como a passagem para o socialismo. Mas não é necessário para a vida política normal, para o cumprimento dos objectivos que o Governo quer alcançar. É perfeitamente possível alterar o sistema político sem mexer na Constituição.  Eu acho que é positiva a estabilidade constitucional. Nós já vivemos muito tempo numa situação de revisão constitucional permanente. Agora felizmente vivemos em estabilidade constitucional.  Se houver bloqueios, deve alterar-se, mas sabendo exactamente para quê.
Tem-se falado muito na necessidade de revisão do sistema eleitoral.  Não é um bloqueio?
O que é que funciona mal no nosso sistema eleitoral? Ele permite a representação de todos os partidos políticos, mesmo os mais pequenos; não bloqueia a entrada no Parlamento de novos partidos, faz uma representação de todas as correntes, tem permitido a alternância democrática, tem permitido a formação de governos maioritários. O que é funciona mal?»
Jorge Reis Novais, hoje, ao Público

02 novembro, 2014

Jorge de Sena (faria hoje 95 anos)



AUTODEFINIÇÃO
“Sou pessoalmente contra qualquer igreja organizada ou qualquer partido organizado, mas reconheço o direito de qualquer pessoa a ser um membro seja do que for, desde que a minha liberdade pessoal não seja com isso afectada. Religiosamente falando, posso dizer que sou católico mas não um cristão – o que apenas significa que respeito na Igreja Católica todo o velho paganismo que ela conservou nos rituais, nos dogmas, etc., sob vários disfarces, tal como a Reforma protestante não soube fazer. Acredito que os deuses existem abaixo do Uno, mas neste Uno não acredito porque sou ateu. Contudo, um ateu que, de uma maneira de certo modo hegeliana, pôs a sua vida e o seu destino nas mãos desse Deus cuja existência ou não-existência são a mesma coisa sem sentido. Filosoficamente, sou um marxista para quem a ciência moderna apagou qualquer antinomia entre os antiquados conceitos de matéria e espírito. Mas, politicamente, sou contra qualquer espécie de ditadura (quer das maiorias, quer de minorias), e em favor da democracia representativa. Não tenho quaisquer ilusões acerca desta – pode ser uma máscara para o mais impiedoso dos imperialismos. Mas isso também o podem ser outros sistemas. Sou a favor da paz e do entendimento entre as nações, e espero que o socialismo prevalecerá em toda a parte, mantendo todas as liberdades e a democracia representativa.

Não subscrevo a divisão do mundo em Bons e Maus, entre Deus e o Diabo (estejam de qual lado estiverem). Apesar de minha formação hegeliana e marxista, ou também por causa dela, os contrários são para mim mais complexos do que a aceitação oportunista de maniqueísmos simplistas. Moralmente falando, sou um homem casado e pai de nove filhos, que nunca teve vocação para patriarca, e sempre foi a favor de a mais completa liberdade ser garantida a todas as formas de amor e de contacto sexual. Nenhuma liberdade estará jamais segura, em qualquer parte, enquanto uma igreja, um partido, ou um grupo de cidadãos hiper-sensíveis, possa ter o direito de governar a vida privada de alguém. Do mesmo modo, não devemos nunca pactuar com a ideia de que qualquer reforma vale o preço de uma vida humana. Mais do que nunca, num mundo onde as vidas humanas se tornaram tão baratas que podem ser gastas por milhões, aos escritores cumpre resistir. Poderemos ter revoluções: mas tenhamos esperança de que nelas as pessoas podem morrer por acidente, mas nunca assassinadas”. E por agora basta, quando Portugal – a quem a minha obra primordialmente pertence – tem de aprender a praticar as ironias democráticas, para sobreviver e ocupar, no mundo, o lugar que lhe cabe de antiquíssima nação gloriosa: por uma vez, nesse país, que haja, na garantia da liberdade e da justiça, lugar para todos, como tão raras vezes houve. Do país subitamente falei. De lugares na literatura é melhor não dizer mais nada.
                                                                                                     

Júdice, judicia...

"Com a cabeça entre as orelhas", Júdice, judicia, como há muito não fazia.
Disse ele ao i (como pode ler aqui):

"A maior parte dos problemas do Grupo Espírito Santo resulta de a família não ter sido devidamente paga depois de expropriada"
 "Não há uma crise de lideranças(...)em Portugal."
"Nunca votaremos em alguém que nos diga a verdade, mas sempre em quem nos minta."
"O Nuno Crato é talvez o melhor ministro da Educação na história da democracia portuguesa." e "O António Costa é o político mais dotado da sua geração. Por esta razão é a pessoa mais indicada para liderar o país nesta conjuntura."
"A ministra Paula Teixeira da Cruz foi reformista e considero que foi uma das melhores governantes do sector, em conjunto com António Costa."
O Fernando Campos é que o topa!