31 dezembro, 2014

Ah!, e não esqueçam: em 2015 façam o favor de nos fazer felizes


"Poema do Fim do Ano“

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Mora uma louca chamada Esperança:
E quando todas as buzinas fonfonam
quando todos os reco-recos matracam
quando tudo berra quando tudo grita quando tudo apita
A louca tapa os ouvidos
                                         e
                                                  atira-se
e – ó miraculoso voo! –

Acorda outra vez menina, lá em baixo, na calçada.
O povo aproxima-se, aflito
E o mais velhinho curva-se e pergunta:
– Como é teu nome, menininha dos olhos verdes?
E ela então sorri a todos eles
E lhes diz, bem devagarinho para que não esqueçam nunca:

– O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...
Mário Quintana in Poesias para a infância

28 dezembro, 2014

Geração sentada, conversando na esplanada - 79 ( "Mata-me com os mesmos ferros/Com que a Lira morreu")

(ler conversa anterior)
“o recluso pode receber, através do correio, uma encomenda por mês remetida pelas pessoas que estejam registadas como seus visitantes, com o peso máximo de 5 kg cada”
- artigo 127, n.º1 do Regulamento Geral dos Serviços Prisionais, Governo de José Sócrates
«Se esse regulamento existe, ele é absolutamente contra natura, não tem qualquer senso. Isso é uma violação dos direitos fundamentais. Eles não podem condicionar o recebimento de uma correspondência ou de uma encomenda. Por isso, se esse regulamento existe, ele é arbitrário, é inconstitucional e tem de ser revogado porque foi elaborado por uma pessoa que não tem o mínimo de senso comum. Isso não se faz!»
- António Arnaut à TSF.

A Gaby ia comentando o que ia lendo, mesmo se as outras a não estivessem ouvido. "Lindo". O rafeiro olhava-a com aquele olhar com que os cães olham as pessoas de quem gostam.
O engenheiro, tirou os olhos do jornal para me perguntar se eu já tinha preparado o meu balanço do ano. Respondi-lhe que nada havia que se tivesse passado que merecesse ser assinalado.
"Não me diga... nem as lutas por que luta?, nem o BES, nem o descalabro?, nem os zigue-zagues  do Costa?, nem a detenção do Sócrates? Nem..."
Interrompi-lhe a longa enumeração para lhe fazer sentir que eram coisas antigas, que já aconteciam antes deste ano e que terão continuação.
"A detenção do Sócrates, não!"
"Jamais falarei disso, como já em tempos disse, citando o Jerónimo!"
"Mas começou o post a falar no assunto!..."
"Se ler bem, reparará que é das suas leis parvas o que de facto falo!"
"Quem com ferros mata, com ferros morre?"
"Ocorreu-me a canção, esse ditado não!"

27 dezembro, 2014

Os "Rhynchophorus Ferrugineus" e a metáfora que faltava

Os "Rhynchophorus Ferrugineus" vão-se desenvolvendo num ciclo maligno. São os Rhynchophorus Ferrugineus-óvulo, são os Rhynchophorus Ferrugineus-larva, são os Rhynchophorus Ferrugineus-pupa e também os em fase já adulta. Estes, aos milhares, são esbeltos, bem falantes e espertos. Em datas certas usam cravos ao peito. A palmeira ignora aquilo e mostra-se frondosa, vistosa, como se não passasse nada. Na escala do tempo em que se expressam as metáforas, o fenómeno dura pouco. Na escala dos países, tal significa anos, por vezes décadas. É tarde quando  a primeira palma descai apodrecida e já sem vida. Na escala do tempo da metáfora, esse é o indício que, depressa, toda a copa perecerá. Na  outra escala, a nossa, é maior a demora. Dura muitos ciclos de óvulos, larvas, pupas e adultos. Dizem que nada há a fazer para os deter. A prova, dizem, é que se for encontrado um predador da praga, ninguém assegura que o predador não seja mais devorador. E o medo detém qualquer gesto salvador.

Só se nos apercebermos a tempo é que impediremos que a Palmeira morra. 
Morra de pé, como as árvores. Ou como as nações.

23 dezembro, 2014

Contagem final: só falta um dia para a Noite de Natal

Há perguntas que permanecem no tempo porque como resposta só lhes demos o silêncio. Um velho amigo, com quem partilho aos domingos prolongadas conversas, deixou-me o ano passado uma pergunta dessas, referindo-se ao seu presépio:
Há perguntas assim que continuam a pairar no ar. Não porque não saibamos que resposta lhes dar, mas porque a humanidade não as consegue impor

Cartão de Natal, Banksy (já editado no ano passado)

22 dezembro, 2014

Contagem final: a dois dias deste Natal

«Sonhar de humana vida um mundo que não há». Os poetas não escolhem as palavras ao acaso, "sonhar" foi a escolhida, podia ter sido "mentira". Mas nesse caso o poema não seria este meu cartão de Natal, nem Jorge de Sena o poeta escolhido.
(poema tirado daqui)

21 dezembro, 2014

Contagem final: a três dias deste Natal


Depois de um veio outro, e outro, e outro. Todos diferentes, todos iguais e o que se apronta só aparenta ser diferente na manha com que manipula e engana. É sem dúvida o chefe certo, o bem escolhido e o guardado para prosseguir o reinado:
«Mesmo um exame superficial da história revela que nós, seres humanos, temos uma triste tendência para cometer os mesmos erros repetidas vezes. Temos medo dos desconhecidos ou de qualquer pessoa que seja um pouco diferente de nós.»  
Cito o mesmo, do que já se encontra citado

20 dezembro, 2014

É Natal, façam o favor de nos fazer felizes!

Uns chegaram. Outros partiram e vão voltar, outros nem pensarão nisso... Guardo palavras, caras, sorrisos, máscaras, comentários. Guardo-os a todos e tenho-os no registo de terem passado. 
Muito obrigado. 
Eu sei que às vezes me "espalho", me excedo. Se pensam que me arrependo, esqueçam. Neste espaço nenhuma ofensa é deliberada, pensada e dirigida. 
Se erro?... É a vida.
Façam o favor de nos fazer felizes! 
Nota: Se faltar aí alguém, considere-se um não-ausente

19 dezembro, 2014

Contagem final: a cinco dias deste Natal

Entre a alegria e o desespero, meço o que escrevo. Meço a dimensão da palavra e do verso e da alma. E se valesse a pena o poema, não teria pena, por muitas penas que contivesse, de o lançar sobre o teu olhar.
Escrevo e, de seguida, apago tudo. O que queria escrever já está escrito, a cinco dias deste Natal, num outro postal.

18 dezembro, 2014

Só quero lembrar que o futebol é a coisa mais importante de entre as coisas pouco importantes com que nos devemos preocupar!


«Saindo da lição aos netos, fico pensando noutra que retiro para mim próprio: a alienação para ser eficaz precisa de ser praticada por gente capaz, pois só assim produz efeito. Mesmo que à custa de muito dinheiro. A imprensa, bem oleada, trata do resto.»
 Me assino, O Mouro 
(não confundir com o Mourinho)

17 dezembro, 2014

Redacções do Rogérito 21 - "Quando Um Homem Quiser"

Tema de redacção: "O NATAL"

A minha redacção bem podia ser uma carta mas estou confuso à farta por não saber a quem a dirigir se ao Menino de Belém se ao tal a quem chamam Pai Natal e esta dúvida que me inquieta também é por não saber qual a morada certa pois se soubesse a morada dos dois o assunto ficava arrumado e eu ficava muito mais descansado. 
Para quem não tenha compreendido porque tenho andado confundido eu digo que quando usava lacinho me diziam e juravam a pés juntos que quem nos ama punha os presentinhos debaixo da cama e imitavam assim os reis magos que traziam ouro incenso e mirra e eu achava a isso graça mas pouca piada aos presentes pois aquilo com que gostava mais de brincar era com coisas de imaginar cavalgar ou voar e não de presentes que de tão antigos e raros lhes perdemos o sentido e do uso o tino.
Depois veio o tal Pai que dizem que não é "de Natal" porque então seria igual a qualquer pai nem é "do Natal" pois não consta que o velho tenha tido qualquer filho mas eu bem sei que o Pai Natal é que tem um pai do qual ninguém fala para não desfazer aquele encanto que senhores da publicidade sabem tão bem fabricar que até se passou a vender em tempos mais água mineral e coca-cola e que agora se vende de tudo e até se dá mais esmola.
Para este trabalho de casa recomendou-me a sôtora para eu não me esquecer de dizer que esta é uma quadra santa onde a gente pede paz e não guerra nem faz maldades nem diz asneiras feias nem vê a casa dos segredos nem deve haver violência doméstica e deve-se sorrir ao pobrezinhos e dar-lhes saquinhos de massa grão arroz conservas e outras coisas para essa pobre gente compradas no Pingo e no Continente que são quase lugares santos que devemos santificar e que se escrever assim até os senhores do governo ficam a gostar mais de mim. 
Pensando bem e esperando que mereça mais que um suficiente nesta minha redacção se ela fosse mesmo a tal carta pedia ao Menino e ao Pai Natal que mandasse à mesma hora todos os do governo embora e que pusessem os senhores da publicidade a dizer que Natal é "Quando Um Homem Quiser". 
Rogérito
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16 dezembro, 2014

O Caso BES - II


«Ricardo Salgado falou verdade (...). O problema não teria rebentado se a ESI (holding de topo do BES) não fosse a crise. O que quis dizer foi que, não fossem os prejuízos resultantes dos resultados da área não financeira do GES, ainda hoje, o Governo, o Banco de Portugal, a CMVM, o ISP estariam calados, como sempre estiveram, a ver o banco desviar depósitos dos clientes para financiar o "empreendedorismo" da família Espírito Santo. Isso demonstra bem que todos consideram isso normal. Ou seja, o problema não está no facto de terem existido ao longo de décadas desvios de dinheiro que ascendem a muitos milhares de milhões de euros, o problema está no facto de ter corrido mal.»
Extrato do melhor que li, até aqui

14 dezembro, 2014

Contos de Natal - IV (Por não ter conseguido comprar um sorriso?)

(Conto inspirado por uma noticia antiga 
hoje cada vez mais repetida)


Há muito que abandonara o ter de estar a tempo para fazer o quer que fosse, ou estar com quem quer que seja. Contudo, se controlasse o tempo constataria que cumpria rigorosamente, à hora certa, a rotina que a ele próprio há muito se impusera. Só raramente sabia o dia, semana, mês em que fazia o que ia fazendo. Deixara, também, de se importar com essa escala do tempo. Ninguém lhe perguntava há quanto a filha partira. Se o fizessem não saberia responder. Nem há quanto lhe deixara ela de lhe escrever, ou telefonar. Ao principio sofrera com a partida como sofrera com a inesperada viuvez. Quando? Há cinco, há dez anos? Quase ao mesmo tempo em que deixou de medir o tempo, deixou de se importar com as ausências. Ao certo, ao certo, nem se dava pela sua própria presença. Era como se não existisse há cinco, há dez ou talvez mais anos. Era como se ele próprio tivesse partido. Já não ligava à Sua Alma nem mantinha aquele diálogo acalorado com o Seu Contrário, que a pouco e pouco se afastou do seu juízo. Estava só, até de si.

Naquele dia acordou sobressaltado. Na cama, tateou ao seu lado a procurá-la pois parecia ter sentido o seu calor, o respirar manso e o seu cheiro doce. Pronunciou o seu nome como num chamamento. Depois repetiu, e repetiu, enquanto se levantava e percorria toda a casa. Percorreu-a três vezes até confirmar que ali estava apenas ele.

Lavou-se e escanhou-se. Vestiu-se escolhendo, demoradamente, a roupa. Foi à gaveta e recolheu todas as moedas e uma nota pequena, tudo o que lhe restava da pensão magra. Guardou tudo sem contar nem se lembrar de quando vociferava contra ministros e políticos a quem acusava, a esmo, pelo seu empobrecimento. Saiu. Entrou no café ao fim da rua. Pediu um café. A empregada trouxe-o. Ele pagou com um generosa gorjeta, disse, "fique com o troco", e ficou à espera que se lhe alterasse o rosto. E nada, como resposta um seco "obrigada" e mais nada. Deixou passar algum tempo e pediu outro. Na altura de pagar colocou sobre a mesa tudo o que tinha. A empregada transfigurou o rosto, não no sorriso em que tanto tinha investido, mas num ar de surpresa com um misto de submisso agradecimento e uma exclamação "tanto?". Depois foi-se com um sumido "obrigada". 

Nos dias seguintes não comeu, a esperança de obter um sorriso amigo dava-me a energia necessária para cada caminhada. E andava, e andava. Sentou-se num banco, por baixo de uma arvore imensa de tronco desnudado. Apercebeu-se quanto o seu corpo estava frio de um frio que não sentiu. À sua frente apareceu então o sorriso, aquele que não procurava. A Morte estendeu-lhe a mão e disse "Anda". E ele foi.
Se controlasse o tempo, teria dado conta ter sido quase à hora e no mesmo dia em que o Menino nascia.

13 dezembro, 2014

NATAL, como se tivessemos nós presenciado tal nascimento...


"E agora?" ia ele perguntado à medida que ia fazendo. A avó lá ia dizendo, como se tivesse ela própria presenciado tal nascimento, ou fosse até o anjo. Todos os anos, desde sempre, as mesmas figuras, a cabana, o musgo e algo que possa fazer de lago, com os reis ainda do outro lado. E o presépio tomava forma. Depois foi a árvore. Bolas e fitas, fitas e estrelas, estrelas e luzinhas. 
"Bonito, isto!" disse. "Quando a Maria vir, vai gostar!" 
Já falta pouco para toda a família ver, e é essa a nossa mística: a família.
 (um dia contarei, ao Diogo e à Maria, como e quando o Menino passou de Jesus a Cristo)

10 dezembro, 2014

Caso BES


Contam-se por não sei quantos os convocados. Entre os que se vão sentar e os que irão ser referidos, serão muito mais que uma centena. Rostos que conhecíamos e outros que vamos conhecendo. A sala não tem o ar pesado dos interrogatórios e as caras, treinadas em iludir sentimentos, escondem corações e almas, que também são protegidos por hábeis falas. Por isso não os ficamos a conhecer melhor, apenas ficamos a poder ligar nomes aos fulanos a quem os nomes se reportam. Apenas os olhamos e sabemos todos os seus nomes. Apenas os olhamos.

09 dezembro, 2014

"O que a televisão não mostra não aconteceu" - tivesse Marcelo a força de Goebbels e essa seria uma verdade a pré-anunciar um futuro trágico. Mas aconteceu, e eu mostro...

Realizou-se, na sexta-feira passada, «o último dos debates temáticos inseridos na acção nacional do PCP a que demos o lema “Uma Política Patriótica e de Esquerda. A força do povo por um Portugal com futuro”
(...)Uma acção que não se limitou a fazer o diagnóstico da situação, nem se refugiou em estudos e estratégias tão difusas como distendidas no tempo para fugir ao compromisso político, mas que, pelo contrário, visou apresentar soluções, discutir políticas concretas e reflectir sobre uma verdadeira estratégia, politicamente comprometida, patriótica e de esquerda, para o desenvolvimento de Portugal.»

A - João Ferreira do Amaral, Professor, Lisboa - "Uma das maiores ameaças à independência nacional é o processo de integração europeia"

B - João Ferreira, membro do Comité Central e deputado do PCP ao Parlamento Europeu -Não é possível uma política alternativa sem a ruptura com os eixos centrais da integração europeia

C - Guilherme da Fonseca, Juiz Conselheiro -A Constituição e a soberania e independência nacionais

E - Pezarat Correia, General e Militar de Abril -"A soberania é o exercício da independência nacional"

08 dezembro, 2014

O aniversário do Mário e a desvalorização do discurso de António Costa


As palavras muitas vezes repetidas não se gastam. Não tenho a certeza se Mário Soares terá sido o primeiro a fazer escrever, em 1983, no texto do programa do IX Governo, a frase lapidar de o povo viver acima das suas possibilidades (página 4).  A certeza é que ela possuí uma longevidade transversal a todos os governos e presidentes da República. Cavaco Silva repetiu-a tal e qual quando, quase trinta anos depois, em Maio de 2011, discursava justificando a crise e a necessidade do tratado assinado com a troika. 
E como a longevidade das palavras ultrapassa a das caras, Costa não deixará de vir a ser influenciado por esse discurso quase permanente. O seu, o da viragem à esquerda, está mais que desvalorizado, pela presença de tanto convidado. Eles lhe lembrarão, em 2015, a ilicitude de que falava Mário, em 1983.

07 dezembro, 2014

Geração sentada, conversando na esplanada - 78 (90 anos de um homem que ficará na história, não pelo que fez mas pelos resultados dos seus feitos)

(ler conversa anterior)
«A televisão mente porque quem vê não decide a direcção que o olho toma em relação aos acontecimentos. Essa decisão está já tomada por outros - e é essa a decisão que é colocada à nossa frente. Ver televisão não é ver o acontecimento, é ver uma visão (uma outra visão, uma visão de outro).»
Gonçalo M. Tavares, hoje, no Notícias Magazine
«A Europa e o mar em frente
mapa de desdém e ranço,
olha para as mãos terrosas
deste povo que já não chora lágrimas de nuvens no céu,
bicho cálido
semeador de pátrias
que trava em fim sua batalha
num desafio
de querer dar terra a quem trabalha
para destruir o frio.

Entretanto
a Europa, na indiferença lilás
das civilizações melindrosas
- que faz?

Espera
que o terror do inverno disfarçado de rosas
atraiçoe a primavera»
José Gomes Ferreira, "Entretanto"
in Seara Nova/Outono 2014

A ponta de sol deu para aliviar a roupa. Se estava frio só um ou outro o sentiu. O velho engenheiro mexia vagarosamente o café, tão vagarosamente que até se esqueceu de o beber, certamente perdido em mil pensamentos. Levantou a cabeça para olhar o rafeiro mas foi a mim que se dirigiu - «Sabe? Só a má história se perde em todos os detalhes. Na História séria, o que ela regista são os resultados considerados marcos. Só eles interessam aos povos e aos vindouros. Os pormenores dos feitos, os discursos ditos, os livros escritos, são meras ilustrações a documentar o caminho trilhado para cada resultado... Hoje é aniversário desse homem e, para já, é esta Europa que nos deixará como legado, e esta democracia apodrecida, quando partir». Eu, que tinha interrompido a leitura do poema que estava a ler a ele regressei e bem alto li a parte final:
«Entretanto
a Europa, na indiferença lilás
das civilizações melindrosas
- que faz?

Espera
que o terror do inverno disfarçado de rosas
atraiçoe a primavera»

06 dezembro, 2014

O que me choca é desvalorização do reforço da esquerda parlamentar em nome de uma eleição inexistente. "Candidato a primeiro ministro"? Sinisto, isto!


Na imprensa, o que me choca não é o chavão, o soundbite, a frase feita. O que me choca é a frase curta, recém adoptada e que, se tivesse o povo o devido cuidado, a desdenharia por falta de significado. O que me choca é a ilusão da óptica. "Candidato a primeiro ministro". Sinistro, isto. Sinistro porque mistifica e desvaloriza o modelo constitucional, sinistro porque desvaloriza a composição parlamentar e induz a crença que todo o poder legitimamente se concentra numa só cabeça e esta só pode ser encontrada de entre os "partidos do arco do poder", essa outra frase sinistra.

04 dezembro, 2014

Olhemos para além dos rostos


Ah, se tudo se pudesse reduzir a uma questão de caras... olhemos, então, para além delas.
Para um, o congresso é um enorme colectivo que discute e assume ideias, compromissos, destinos, sob a forma de orientações e de programa. Para outro, o congresso é uma prova, que aglutina, funde, entrona, e onde as crenças substituem as ideias, dispensam  programas, omitem os compromissos. 
Os rituais, aos olhares menos atentos, quase se assemelham, mas na realidade são muito mais diferentes que as diferenças ostentadas nos sorrisos.
De um, dizem ser "a esquerda radical", do outro "ser do arco do poder". São dizeres que, de tanto repetidos, entram no ouvido e subjacente fica o medo e a ideia subliminarmente inculcada de que ao primeiro corresponde "um partido de protesto", como se o seu congresso se limitasse a um acto de luta e resistência. Para o outro, ser "do arco da governabilidade" é um estatuto independente de valores, pois outros, de valores supostamente inversos, também o são. A imprensa vende a expressão como marca, como garantia da qualidade afiançada e manutenção do paradigma, não como estigma, não como denúncia de continuação da ruína.
Podiam entender-se? Olhando-os, até parece meter raiva que o não tenham feito já. Mas tal é impossível. Pelos interesses que defendem, pelo funcionamento das suas "máquinas partidárias", pela coerência entre os discursos e as práticas. 
Resta ao povo a sabedoria das escolhas...

03 dezembro, 2014

A Municipalização da Educação, o PS de Oeiras e as orientações de António Costa

Marcados para a mesma data, ontem, dois eventos que relacionei, o do PS Oeiras, por iniciativa da organismo local para a educação, com um outro, convocado pelo sindicato dos professores, e que reuniu numa escola em Paço de Arcos. A relação que estabeleci parecia-me inevitável e lógica, estando Oeiras na calha para ser cobaia, natural seria que os professores do PS tratassem o tema, o colocasse à discussão e emitissem opinião. Ledo engano. Caladinhos que nem ratos, que isto de se guardar segredo é mesmo para levar a sério.
Mas passo a alguns detalhes:
Quando uma cara conhecida me viu, comentou admirada: "O Rogério aqui? Mas isto é uma iniciativa do PS!...", lá lhe disse o que me ocorreu dizer, pensando que podia ter sido pouco simpático confrontá-la com as orientações de António Costa e que a surpresa deveria ser minha ao saber que David Justino, consultor de Cavaco, era a estrela da noite. Mas como antes do que vai acontecer toda a esperança não é vã, calei-me. Quem sabe se a Odete João, ou a frugal Joana ou a Luísa Carrilho questionasse Justino?... Ledo engano, apenas a deputada, quadro da FAUL, confrontou Justino com uma afirmação sua - "Se é verdade que um professor nunca deve desistir de um mau aluno, dever-se-ia exigir que isso mesmo começasse pelo Estado". Ao ouvir, disse para Minha Alma, "boa malha!" e aplaudi. Verdade, eu um comunista "ortodoxo" a aplaudir uma socialista... quem diria? E se é verdade que, forçado por uma pergunta oportuna vinda da plateia, ficámos a saber o que Justino pensava da nomeação de professores por parte da autarquia, do PS nem uma palavra sobre tão momentoso tema. Talvez por pressão aconteça mais tarde. Quem sabe? E dizia um socialista desencantado por ver goradas as suas expectativas na conferência: "Vim, à espera de se gerarem conclusões de forma a contrariar o paradigma neoliberal imposto pelo actual ministro. Infelizmente não foi isso que aconteceu!"
O mesmo digo eu, que esperava que me fossem respondidas todas as questões!
Ai se não forem os professores...


Extrato da moção aprovada no plenário do Sindicato doa Professores da Grande Lisboa

NOTA: Todas as citações são de memória

01 dezembro, 2014

Restauração? Qual Restauração?



No 1º de Dezembro de 2009 entrou em vigor o Tratado de Lisboa. Depois de um propalado "porreiro pá", foi o que se viu e sentiu e o que se continua a ver e a sentir. Num futuro próximo (e que seja já amanhã) quero dois feriados, um para cada Restauração.
(acho que António Costa não se referiu a nada disto, o que é um mau indício).