27 fevereiro, 2015

A bomba de "eurões", a guerra, a Grécia e o perdão da dívida.



Diz-se que o perdão da (parte) da dívida à Grécia não se aplica pois os gregos não emergiram de uma guerra. À Alemanha sim, por isso mesmo e porque sim.
Quanto à Grécia não ter emergido de uma guerra, não tenho essa mesma certeza. Por lá terá detonado uma bomba de "eurões". Isso!, "eurões", que é uma evolução requintada e muito mais sabida que a dita bomba antecessora, de "neutrões". Enquanto, a de "neutrões" mata a vida, a aniquila, e mantém disponível para o uso e abuso todo o património edificado, a outra, injectando euros sobre a forma de subsídios, produz um mix mais difícil de avaliar sobre os impactos da vida humana, a futura e a quotidiana. A dificuldade está indexada à selectividade: a uns mata, a outros farta. Aos que mata, não nos são patentes, imediatamente, os corpos. Aos que farta, não é imediatamente mensurável a fartura, pelos emaranhados dos procedimentos contabilísticos e pela solidez do nevoeiro que escondem as contas enfartadas em "offshores"...
Independentemente, do tipo de guerra, a outra ou esta, é válida a conclusão tirada:
a história confirmará que não há milagre económico sem perdão da dívida

26 fevereiro, 2015

25 fevereiro, 2015

Bilderberg, Bilderberg, para que é que serve?


Antes da resposta à pergunta em título que (aparentemente) nada tem a ver com a foto exposta, nem o que o terá dito o Costa (dito que deixou muita gente com os olhos em bico) deixem-me que vos lembre uma frase batida: "Hoje é o primeiro dia do resto da minha vida".
Pronto, agora vamos ao ponto.
E é assim (ou tudo leva a crer que assim seja): 

24 fevereiro, 2015

23 fevereiro, 2015

O que ganha a Mafalda em sem contestatária!










A Mafalda ganha em ser contestatária, 
e até teve chamada de primeira página

Quase quatro meses depois, o PCP, que foi o partido que propôs o inquérito parlamentar ao BES, considera que o trabalho da comissão tem sido "bastante útil". Miguel Tiago vê, ainda, que existem linhas de "consenso" entre todos os partidos, no sentido de dificultar que um banco construa à sua volta, como fez Ricardo Salgado, um império não financeiro. Mas isso, afirma, pode "não ser suficiente" para impedir novos casos.
Para o deputado comunista, um passo necessário é "o controlo público da banca". E aqui a conversa deriva para outro tema, fora das fronteiras de Portugal. Miguel Tiago considera que a União Europeia faz parte do problema, não da solução: "Não se trata de aprofundar o federalismo ou a união política ou monetária. Pelo contrário. A solução passa por desconstruí-la e devolver a soberania aos Estados." E preparar uma "saída ordenada" do euro pode ser um "instrumento" inevitável, garante.
Esta comissão de inquérito está a cumprir as expectativas do PCP, que foi quem a propôs?
Como partido proponente, julgo que temos particular legitimidade para afirmar que a comissão tem sido bastante útil para compreender como funcionava aquele grupo económico, quer a componente financeira, quer a não financeira. Tem mostrado, com grande clareza, a forma como as suas práticas passavam completamente despercebidas. E quando eram detectadas ficavam imunes à supervisão. Ao mesmo tempo tem-se desvendado, ainda que não totalmente, até agora, uma certa relação estabelecida há várias décadas entre o grupo e o poder político. E entre o grupo e outros sectores do poder económico.
Que relações eram essas?
Relações de predação, de cooperação, de controlo. Em alguns casos levando essas empresas à falência.
Está a falar da PT?
Da PT, sim. Mas também foi tentado com a Semapa. Havia uma relação entre o GES e outros grupos económicos, que era de absorção de recursos, extracção de mais-valias. Isso tornava o GES um grupo claramente monopolista no tecido económico português. Temos vindo também a perceber, mais do que antes desta comissão, como funcionava um grupo monopolista, ou um conglomerado misto, como agora se diz. De facto, a supervisão não tem meios, nem se adivinha que venha a ter.
Porquê?
Enquanto se permitir que bancos e empresas não financeiras partilhem o mesmo grupo económico, isso vai sempre gerar vários fluxos de capitais que escapam à supervisão.
Na sua opinião, já existe uma história clara para contar acerca do BES? Foi um problema sobretudo de gestão, ou de supervisão, ou de relações entre o poder económico e o poder político?
Julgo que seria um erro tentarmos circunscrever a história a um desses problemas. É evidente que houve má gestão. Para isso não seria preciso uma comissão de inquérito. A questão é saber como é que num sistema que se diz tão regulado, tão supervisionado, tão regulamentado, isto acontece. O Ministério das Finanças é o garante da estabilidade financeira, o Banco de Portugal é o supervisor do sector, a CMVM fiscaliza e regula o mercado de capitais. Estas entidades como que dão um carimbo, inclusivamente a União Europeia, a dizer: "É seguro porem ali o vosso dinheiro." Quando há má gestão, e ela provoca um rombo daquele tamanho do banco, significa que afinal não é seguro. Logo, o problema não é só a má gestão. Este é um sector no qual a má gestão não pode ser desculpa para o Estado acorrer. Nos outros sectores, quando há má gestão, os próprios assumem as perdas. Num banco, as perdas são o dinheiro dos depositantes. Estávamos todos convencidos de que o dinheiro estava seguro e, afinal, o dinheiro não estava lá. Não só não estava como faltava, e muito.
Porque a área não financeira estava a perder dinheiro?
Principalmente a ESI. Neste contexto, o Estado foi obrigado a acorrer. A forma em concreto é questionável. Podia ser a resolução, como foi, podia ter sido uma recapitalização.
Qual é a sua opinião?
Para já, com o que sabemos até agora, o Governo devia logo na altura ter congelado todos os bens do grupo, e até alguns bens da família Espírito Santo, devia ter impedido todas as vendas e reorganizações, e assumido o controlo público até se aperceber da real situação.
Quando diz "na altura", está a falar de finais de 2013?
Exactamente. Assim que o Estado teve conhecimento da dimensão do problema. E também é estranho que só se tenha apercebido nessa altura.
Sabe-se que Pedro Queiroz Pereira e José Maria Ricciardi fizeram chegar ao Governo e ao Banco de Portugal informação detalhada sobre os problemas do grupo antes disso.
Sabemos que vários lançaram apelos. O próprio Ricardo Salgado lançou apelos à ministra das Finanças, a Paulo Portas, a Passos Coelho, ao Presidente da República. Estamos convencidos de que esses titulares de órgãos de soberania vieram a público tranquilizar o mercado e os depositantes para não perturbar o banco ainda mais. Se fizeram o suficiente para garantir a estabilidade e o interesse nacional, estamos convencidos de que não. O que não quer dizer que deviam ter feito o que Salgado queria. O banco estava a sofrer com a área não financeira.
Uma drenagem?
Exactamente. Por isso, nesses termos, uma recapitalização seria perversa. Mas o que se passou não nos parece ter sido a melhor solução, por vários motivos: o Estado teve de colocar capital no Fundo de Resolução, 3,9 mil milhões, que não sabemos quando vão ser pagos, e podem não vir a ser; em segundo lugar, porque vamos entregar novamente o banco a privados, quando já se provou que isso foi a maior asneira, quando em 1990 se entregou o BES de mão beijada à família Espírito Santo, juntamente com a Tranquilidade. Foi para isto. O banco era sólido e foi entregue de mão beijada. A privatização foi criminosa.
Esta resolução é uma forma nova, quase experimental, de lidar com um problema destes?
Praticamente. O Estado não assegurou os direitos de alguns tomadores de produtos, como os do papel comercial.
Aí há muitas informações oficiais contraditórias. O Novo Banco já disse que se responsabilizaria por esses clientes, mas agora diz que não tem essa obrigação.
Aquele produto é claramente tóxico, era claramente um mau investimento, mas a questão é saber se o tomador do produto estava consciente disso, ou se era o banco que lhe colocava nas mãos um produto tóxico. É evidente que houve informações contraditórias, que ora vai ser pago ora não vai, mas o problema tem uma dimensão relativamente pequena. Entretanto, estão a vender-se os activos importantes: a Espírito Santo Saúde, o BESI, e todos os activos, como os hotéis, que poderiam vir a ser utilizados pelo Estado para compensar a injecção de dinheiro, estão a ser vendidos e entregues, alguns deles a capital estrangeiro. Não está sequer garantido o retorno pela venda do banco. E anda não se percebeu se o Estado teve de pagar pelas imparidades de Angola.
Um dos temas que mais tem aprofundado na comissão é a mistura do negócio da banca com as áreas não financeiras. Já existe um consenso político para mudar as regras?
Julgo que existe um patamar de consenso, que na minha opinião é insuficiente. Parece-me que já toda a gente percebeu que o conglomerado misto levanta problemas que não estavam desvendados, mas para os quais o PCP há muito alertava. Quando a Constituição da República diz que o Estado deve intervir para impedir as concentrações monopolistas, é porque já na altura se sabia o que estes grupos representam para a economia. Quando se funde a área financeira com a não financeira, um grupo destes pode substituir capital por crédito. Não tem capitais, mas tem crédito.
Os bancos podem criar dinheiro do nada, concedendo crédito.
A partir daí cria-se uma desigualdade entre esse grupo que tem um banco e todos os outros. As pequenas e médias empresas e o sector produtivo são afectados. Esse consenso já perpassa todos os grupos parlamentares, no sentido de haver regras próprias. Mas o PCP vai um pouco mais longe: os grupos mistos que existem devem ser gradualmente diluídos, devem ser restringidos os fluxos de crédito dentro do mesmo grupo, deve ser proibida a venda de papel comercial das empresas do grupo no banco do grupo. Mas, em última análise, até isso pode ser insuficiente. Pode gerar uma circulação entre os bancos: "Tu emprestas ao meu grupo, eu empresto ao teu." O que já se passa, em Portugal. Quando um atinge o limite de crédito, das duas, uma: ou cria outra empresa, ou vai buscar crédito a outro banco.
Isso cria uma interdependência entre os bancos que faz com que uma crise isolada, num só banco, acabe por afectar todos?
Como um castelo de cartas. Há bancos expostos à dívida do GES. O risco é sempre sistémico. Na perspectiva do PCP, os conglomerados mistos privados não deviam sequer existir. Propomos que, de forma planificada, o Estado ganhe controlo público sobre a banca, e que isso possa conduzir, depois de identificados os problemas da banca, a nacionalizações.
Esta comissão tem sido seguida com atenção pela opinião pública, mas há descrença quanto à possibilidade de haver novas práticas que limitem a possibilidade de haver, no futuro, novos casos BES. Concorda?
Há uma expectativa criada em torno das comissões de inquérito que foi falsamente criada, não percebo porquê, talvez pela palavra "inquérito", de que haverá apuramento de responsáveis e prisões. Essa é uma expectativa que não se pode ter. Muitas vezes as pessoas perguntam-me: "Quem é que vai preso?" É bom arredar essa expectativa, porque isso não é a função da comissão de inquérito. Eu sei que a sua pergunta não era essa. A comissão tem todas as condições para apresentar ao Parlamento um relatório com todas as conclusões para que isto nunca mais se repita. A questão é saber se quer. A comissão condicionará as suas conclusões à vontade da maioria, que, na avaliação do sistema capitalista, se conjuga com o PS. Têm a mesma visão do sistema, independentemente das diferenças. A seguir ao BPN disseram-nos que tomariam medidas para que isto não se repetisse, depois o BPP, depois o Estado entrou no Banif, no BCP. Andamos de falência em falência com o Estado a acudir à banca. A solução maior é o controlo público, com vista a uma futura nacionalização. Os alemães têm grande parte do sector financeiro sob controlo público, e do não financeiro também. São sistemas capitalistas, mas que têm outra visão da soberania.
É por isso que não acredita numa solução europeia?
O problema é muito complexo, mas para o PCP não se trata de aprofundar o federalismo ou a união política ou monetária. Pelo contrário. A solução passa por desconstruí-la e devolver a soberania aos Estados. Quando discutimos eurobonds ou o financiamento do BCE aos Estados, estamos sempre na óptica do funcionamento actual da União. E esta União é controlada por países poderosos que penalizam os restantes. É uma ilusão pensarmos que pode haver uma política alternativa nesta Europa.
Como é que se pode mudar alguma coisa, então?
A transformação faz-se de baixo para cima. Não é a cúpula europeia, têm de ser os povos, nos Estados. Tem de haver uma libertação de Portugal para haver uma mudança na Europa. Tal como na Grécia.
Como tem visto a mudança de Governo na Grécia?
É no seu território que os povos têm de colocar entraves à construção do projecto europeu. Há quem diga que se está a trair o projecto europeu, mas não, é o contrário: a Europa está a cumprir o seu projecto. Sempre foi um projecto centralista, de concentração. Como é que estamos a olhar para Grécia? Em primeiro lugar com a alegria de ver que há um povo que rejeitou o círculo vicioso PS/PSD, no caso PASOK/Nova Democracia. Isso, em si, é um factor de esperança. Apesar de não conhecermos ainda muito bem a consistência do programa do Governo. Não sabemos como isto vai desenvolver-se, mas pessoalmente estou confiante de que os trabalhadores gregos, no terreno, vão decidir se o Governo vai ter condições para romper com a austeridade.
Qual é o cenário mais provável? Vai haver acordo? A Grécia pode sair do euro?
Enquanto comunista, esta União Europeia e aquele programa não são conciliáveis.
Está a dizer o mesmo que a Alemanha tem dito.
É um facto... Parar as privatizações, intervenção em sectores estratégicos da economia, devolver salários e pensões? Isso não é conciliável com a União. Aquele projecto é inconciliável. Em última instância, ou a Grécia altera o seu programa e se conforma, ou a União teria de se conformar com a Grécia, o que não me parece viável.
Está céptico?
Estou. A única forma para isso acontecer seria a Grécia sair do Euro, o que pode ser catastrófico para o povo grego, se não estiver preparado para isso, numa circunstância quase de expulsão. A Grécia, não estando preparada para isso, o que devia fazer era planear essa saída, negociar a saída. Mas isto é especulação.
Na sua opinião, Portugal devia fazer o mesmo?
Portugal devia estar a preparar, há muito tempo, a saída ordenada do euro. Tendo em conta a drenagem de recursos nacionais e a estagnação económica que a união monetária representou. Não deve ser uma saída por expulsão, nem por impulso.
Acha que essa é a solução para os problemas do país?
A renegociação da dívida e a saída ordenada do euro e, eventualmente, a alteração do nosso posicionamento face à União não são soluções, são instrumentos. Podem vir a demonstrar-se necessários. São passos que podem vir a ter de ser dados, mas a solução é outra. É o controlo das alavancas da economia, é a garantia de direitos na Saúde e na Educação e uma qualidade de vida, acabar com o desemprego, o controlo da banca. Isso é que são as soluções. A saída do euro não é, para os comunistas, um sinal de vitória. Pode é ser um instrumento, e teria de ser negociada. O povo português não pode sentir-se limitado perante escolhas futuras.

Geração sentada, conversando na esplanada - 84 («Esta classe média é uma merda!»)

«O que é isso de bater numa miúda à frente dos amigos? E na televisão?
O que leva um fedelho de 20 anos, que mal segura as calças nos ilíacos, a dar uma tareia na namorada, com instintos de macho alfa, entesuado por exemplos domésticos, quiçá inocentes, permitidos socialmente através das televisões e comentários na internet?...»
Perguntava a Uva-Passa

A Teresa nem se levantou da mesa, inclinou a cadeira e toda inclinada debruçou-se sobre o meu ombro com o iPad estendido: "Foi você quem escreveu isto?" E eu li o que tinha escrito "Nem é amor, nem é violência/É inaptidão para a relação/É incompetência/Tudo começa na construção do edifício que eles são/Quem os constrói, quem?" respondi-lhe ter sido eu quem o escreveu e ela disparou-me que se eu tinha sido célere a colocar a pergunta é porque tinha alguma ideia da resposta. Ao principio não tinha percebido e confirmei:
- "Quer mesmo saber quem edifica a adolescência que bate na namorada?"
- "Isso mesmo!"
- "Sabe? A cultura dominante e os comportamentos são determinados pela classe média, e esta é uma merda!"
Indignada, menos pelo vernáculo usado mas pelo que considerava uma não resposta, lançou-me um "Como assim?" desafiador. Eu peguei-lhe no iPad com um "Posso?" e procurei o estudo que não há muito tinha lido. Procurei a página 113 e apontei-lhe o que ela devia ler e ela leu "A grande maioria
dos adolescentes (79,7%) refere não se ter magoado a si próprio
", donde mais de 20% atentam contra si mesmo, concluí. "E agora leia aqui na página 121", e ela leu "61% dos adolescentes não gosta ou é-lhes indiferente as aulas e 46,1% não gosta ou é-lhes indiferente os professores" de seguida apontei a página 157, e ela continuou a ler "48,4% sentem que o ambiente da escola tem problemas e 40,2% têm a percepção que isso acontece às vezes" e, para finalizar, li-lhe eu que apenas 11,3% dos alunos do 10º ano consideram que os conteúdos têm interesse, donde mais de 80% acham que a matéria é uma "seca". 
A Teresa olhou para mim, destroçada "Posso ficar com esse estudo guardado?"
"Claro! Tem aqui o link, mas, já agora um quadro que lhe vai ficar gravado, ora veja":


- "E isso, explica que um adolescente bata na namorada?"
- "Na verdade não sei, mas juntando tudo o que é referido no estudo, o que é que acha?"

20 fevereiro, 2015

Poesia (uma por dia) - 75

SONETO SEM SAÍDA
(Em decassílabo heróico)
Há sempre um beco escuro e sem saída
Na estrada em que esta vida se percorre,
Um espaço onde mais nada se descobre
E aonde, finalmente, é revivida

Essa que, então, foi sendo percorrida,
Mas que, em chegando ali, onde não sobre
Nem sombra desse mais que nos socorre
Antes de a descobrirmos tão traída

Que mais nenhum poema nos ocorre
Pois, diante de nós, tudo é tão pobre
E tão dura a parcela percorrida

Que sabemos, então; “Nada é mais nobre
Do que acabarmos já, sem que nos dobre
Ninguém, nem coisa alguma, a própria vida...”

Maria João Brito de Sousa – in "Pequenas Utopias"

18 fevereiro, 2015

O PS há muito que se pasokizou... só falta o povo dar por isso. Só isso!


 (ver tudo ou a partir do 42º minuto)
Enchi-me daquela genica de que falava Zacharoula e fui ter com o Ricardo Paes Mamede (que também a ouviu, e até lá esteve). Fui lá dizendo-lhe que gostava dele, que ele tem vindo a ter um discurso que faz todo o sentido, que ele pega no bisturi e vai por aí, cortando a direito. Que do ponto de vista técnico, parece ser perfeito. Mas disse-lhe também que "tropeça naquilo a que lhe falta o jeito, ou formação, ou incapacidade de análise, ou porque já tenha assimilado os conceitos básicos da teoria do arco da governação. Ele, nos comentários, disse-me uma data de coisas certas, mas uma que revela que não aprendeu nada com a grega. Diz ele, assim: "se estamos à espera da Pasokização do PS para convencermos os nossos concidadãos que é possível governar de outra forma, bem podemos esperar sentados."
O Ricardo não percebe que isso já aconteceu a este PS e que só falta ao povo aquilo que a médica disse que lhe faltava: orgulho e genica e estas são coisas que se cultivam e exercitam. Ou acontece quando o povo acorda.

(O PASOK passou, em 5 anos, de mais de 3 milhões de votos para pouco mais de 250 mil)

17 fevereiro, 2015

A dona Esmeralda e a vizinha do 4º andar, a conversar - (24) [O orgulho e a genica com que conta o Syriza]



Vizinha do 4º andar (como quem não queria acreditar) - Ó dona Esmeralda, se não ouvisse e visse e se me contassem, nem acreditava. A mulher não se calava, porque os gregos assim porque assado... se eles tivessem trabalhado...
Dona Esmeralda (calma) - Também ouvi e depois repeti, é ao quadragésimo minuto. E gostei muito! O povo grego é teso!
Vizinha do 4º andar (alterando o argumento) - Os gregos têm é lá o Syriza. Aqui, quem tem? Os mesmos de sempre, e os outros que só sabem ser do contra e nem querem assumir o poder e as responsabilidades de governar...
Dona Esmeralda (já um pouco virada) - A grega e a senhora são louras, mas a cabeça é bem diferente como é diferente a consciência dos povos. Quando o PCP não quis sequer falar com a tróica, "toda a gente" se insurgiu como nunca se viu. Quando o Syriza, há pouco fez o mesmo, pois assim é que é, um partido a bater o pé!... e 70% dos gregos estiveram de acordo. Entende isto?
Rogérito (interrompendo naquele momento preciso) - Vizinhas venham cá acima ver isto!

(lá subiram as escadas, sem parar de tagarelar, para irem ver o que o miúdo lhes queria mostrar)

16 fevereiro, 2015

Provocação



Provocação*
É Carnaval
Tens de te mascarar
A máscara de humano
Ficava-te mesmo a matar

E, talvez aconteça o milagre
Por osmose
A humanidade lá te ficar
Rogério Pereira, na brincadeira
*Actualizado, às 12,30h

15 fevereiro, 2015

Geração sentada, conversando na esplanada - 83 (The Tide Is Turning)

(ler conversa anterior) 
«Quem é o mais forte? Quem é o melhor?
Quem segura os ases? o leste ou o oeste? 
Esta é a merda que nossas crianças estão aprendendo 
Mas...
Oh, oh, oh, a maré está virando 
Oh, oh, oh, a maré está virando»
Roger Waters, "The Tide is Turning"
«As reuniões de Modi, à margem da cúpula de julho de 2014 dos BRICS em Fortaleza, Brasil, com o Presidente Putin da Rússia e com o Presidente Xi Jinping da China, segundo todos os noticiários, foram notavelmente calorosas e cordiais. Ali, Modi aprovou entusiasticamente a ideia de o Banco de Desenvolvimento dos BRICS terem sede em Xangai, com um indiano na presidência. Modi também se recusou a seguir Washington, nas sanções contra a Rússia; disse que sanções econômicas são assunto que têm de ser decididos no Conselho de Segurança da ONU – ideia que Washington absolutamente não gostou de ouvir. E Modi também melhorou dramaticamente as relações há muito tempo tensas com o Paquistão, aliado muito íntimo da China.»
«aumenta diariamente» o círculo de parceiros e instituições com quem são mantidas consultas, garantindo que o governo «permanece firme na sua meta de aplicar o programa de salvação social, aprovado pelo voto do povo grego».
in Jornal Avante, "Grécia recusa chantagem

A música soava baixinho e eu ia cantarolando enquanto ia lendo o jornal. Inadvertidamente, talvez por impulso de Minha Alma, a voz elevou-se na esplanada "Óh, Óh, The Tide is Turning".
As professoras pararam para dar atenção àquele "Óh". O velho engenheiro não conteve um comentário,
"O seu óh, está como o mundo, completamente desafinado!"
"The Tide is Turning, meu caro, mesmo que ainda um pouco desafinado"

14 fevereiro, 2015

Em Dia dos Namorados, a premonição do coração

Levantou-se cedo como há muito não fazia com uma sensação estranha de outra presença, de outra companhia. O espaço ao seu lado estava vazio e, na tabela dos afectos que lhe restava inscrita na alma, espaço vazio tinha o número último da longa tabela e referenciava "ausência". Inscrevera-o ela própria há muito, para registar o sentir e as ânsias das pequenas ausências. Antes de sair do quarto passou os dedos pelos lugares antes ocupados pelos objectos dele e recordava como era desmazelado deixando tudo por todo o lado. Recordou o dia em que a abandonou e o bilhete deixado, tinha na memória todas as palavras escritas, com aquelas letras  redondas, quase desenhadas: "Não posso, não posso continuar" foram as palavras que mais a magoaram e magoavam ainda, passados três anos sobre a data que hoje era celebrada e lhe parecia tão mal escolhida para a inusitada partida. Nunca lhe passou pela ideia aquela desistência e um primeiro impulso foi o de jurar jamais o perdoar. Manteve a jura durante muito tempo até que o tempo lhe fez esbater tal sentimento. Tentou libertar-se da memória e reiniciar uma vida nova e quase conseguia embora fugindo, por medo, de nova relação. Aconteceu então o despedimento colectivo, e retomou o ponto de onde tinha partido. Percebeu a impotência de responder aos compromissos. Empenhou-se e sacrificou objectos amados. Aí, começou a desculpá-lo e voltaram à lembrança as promessas deixadas na vã e inconfessada esperança de serem cumpridas.  Voltou às palavras do bilhete deixado: Um dia volto. Levo a nossa tabela de afectos e teus desenhos. Não te deixo mais nada que não seja a promessa do meu regresso. Amo-te muito mais que a mim próprio pois o amor que tenho a mim próprio deixou de pesar. Um dia hei-de regressar. Sempre teu" .  
À sensação de presença seguiu-se um sentimento de certeza. E a premonição instalou-se no coração, sem resistência. Ele sempre cumpria o que prometia. E com essa quase certeza, fez-se ao dia...

 

O dia de trabalho foi pesado como acontece sempre ao sábado, na caixa do supermercado. Com a premonição quase doentia a dar-lhe energia e a conduzir-lhe os gestos, pôs a mesa, as velas, as flores e foi preparar o jantar com a receita 108, que  antes tantas vezes fizera e que ele tanto gostava. A mesa estava bela e foi experimentar as luzes e a música a tocar, regulando o som à altura do falar. Findo tudo, esperou... estava na hora que o catálogo do tempo, em tempos indicava, para o seu chegar. 
Passou essa hora, e outra e outra e nem o coração nem a alma desistiam...

Ouviu-lhe os passos. A chave a rodar. Levantou-se, segundo o gesto 52 ainda lembrado e que constava na rotina das chegadas. A porta se abriu, mas ele não entrou. Com os olhos pousados no chão, disse: "Anda, vamos ali, temos que falar". Sem pensar em nada, atordoada, saiu como estava. No percurso que ambos há muito tinham percorrido para aquele lugar, ele lhe contou por tudo o que passara. Depois não mais falaram. Sentaram-se no paredão com o olhar a ressuscitar no mar. Deram-se as mãos, numa ternura de perdão e de gestos, sem numeração na tabela dos afectos...

NOTA: este conto piegas é a continuação de um ciclo de vida que começou assim e tem estes antecedentes.

12 fevereiro, 2015

Poesia (uma por dia) - 74

Ao desconcerto do Mundo

Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos;
E pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só pera mim,
Anda o Mundo concertado.

Luís de Camões
 editado em "voar fora da asa"

11 fevereiro, 2015

A Municipalização do ensino, a carta do Rogérito e o que os professores pensam de tudo isto...

Não julguem que o miúdo escreveu aquela carta só pelo prazer de escrever ou para se entreter. Nem pensem. Quando ele escreve uma redação ou vai à luta ou anda por lá ou já lá esteve e pensa lá voltar. Volta e meia diz que mudar o mundo não custa muito, leva é tempo. Ele quer encurtá-lo, barrando o que considera injustiça, fazendo com que se discuta para se evitar coisas parvas ou com intenções de fazer acabar com o que de bom ainda resta neste nosso triste país. Falemos então das coisas da educação, agora pela escrita de um stôr que não tem papas na língua...

 Imagem retirada daqui

 ... e cá vai o texto todo:

Municipalização da educação: quietinhos, não respirem, já está!

É caso para citar Steve Jobs: “Porquê alistarmo-nos na marinha, se podemos ser piratas?”

Nuno Crato, Poiares Maduro e os autarcas experimentalistas trataram a Educação como se fosse uma grande rotunda e os professores como pacientes sujeitos a raio X: quietinhos, não respirem, já está!
É o mais generoso que se pode dizer quando se analisa o processo e a proposta de Contrato Interadministrativo de Delegação de Competências, com que pretendem pôr em prática o que é comummente designado por municipalização da Educação. O processo teve a clareza de um pântano. O documento são 28 páginas de verbo magro e matreirice gorda. Deplorável, para qualquer administração pública decente. Adequado a um Governo a que só falta privatizar o Galo de Barcelos. Passemos a alguns factos ilustrativos da mediocridade, que todos não cabem.

Várias cláusulas da proposta de contrato são ilegais, porque desrespeitam o regime de autonomia, administração e gestão das escolas públicas, fixado em três diplomas (DL n.º 75/2008, de 22 de Abril, DL n.º 224/2009, de 11 de Setembro, e DL n.º 137/2012, de 2 de Julho). É o caso concreto da alteração das competências dos conselhos gerais e dos directores, que só um decreto-lei poderia derrogar. O choque entre a lei e o contrato é mais gritante no caso das escolas com contratos de autonomia. Aqui, são duas portarias (a n.º 265/2012 e a n.º 44/2014) implodidas pela autocracia dos contratantes.
Pelo escândalo que gerou, caiu o convite escabroso para que as câmaras cortassem professores, até ao limite máximo de 5% do número considerado necessário, a troco de 12.500 euros por docente abatido. Mas porque os agiotas não dormem em serviço, a Cláusula 40.ª ampliou o cinismo da poupança a todos os recursos educativos e regulamenta a partilha de 50% dos despojos. Chamam-lhe “incentivos à eficiência”.

O pessoal não docente passa a ser gerido pelas autarquias (Cláusula 19.ª), abrindo-se a porta à utilização do mesmo em qualquer serviço camarário. A Cláusula 21.ª torna ainda mais fácil a contratação de privados para o funcionamento das AEC. A Cláusula 25.ª congela todos os gastos por quatro anos. A Cláusula 39.ª favorece a desvirtuação do trabalho pedagógico sério em benefício dos resultados nos exames. A definição dos critérios para a organização e gestão da rede escolar fica pelouro da autarquia, via verde para a privatização que se pretende. E o empreendedorismo voluntarista que as autarquias podem iniciar com a decisão sobre 25% dos curricula já esboçou os primeiros sinais com o presidente da Câmara de Óbidos a anunciar Filosofia para os alunos do 1.º ciclo do básico, yoga para os do jardim-de-infância e golfe e eco design para os do secundário.
Serão poucos os que guardarão memória do Guião para a Reforma do Estado, apresentado pelo vice-primeiro-ministro e objecto de reunião magna do Governo na Sala do Capítulo do vetusto Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça. Redigido em corpo 16 e com espaçamento pródigo para suprir em espaço o que lhe faltava em ideias, o documento teve o mérito de fixar em escrita uma agenda de entrega ao mercado das mais importantes funções sociais do Estado, sendo as propostas para a Educação o paradigma claro da intenção de utilizar fundos públicos para financiar negócios privados: criação de escolas concessionadas, instituição do cheque-ensino e reforço dos contratos de associação.

Por ironia do destino, a pompa do acto foi servida por circunstância curiosa, que os monges de Cister não protegeram: a imprensa, nacional e internacional, com a prestigiada The Economist à cabeça, dava-nos na mesma altura conta da falência completa da alma mater das escolas concessionadas. A reforma inspiradora, a sueca, iniciada há 20 anos, falhara em toda a linha: a diferença de qualidade entre escolas tornou-se um problema nacional; a segregação social, que antes não existia, cresceu preocupantemente; os resultados dos alunos suecos, medidos pelo PISA, desceram exponencialmente; os gastos públicos não diminuíram; e o ministro sueco da educação anunciava o fim da festa e o retorno das escolas à tutela directa do Estado, reconhecendo que a reforma não poupou, não melhorou e segregou, em nome de uma liberdade de escolha que não funcionou.
Os pressupostos fixados na proposta de delegação de competências em apreço, cruzados com as intenções que já foram anunciadas quanto ao cheque-ensino, poderão repetir no país o que se verificou na Suécia, com a criatividade activa dos grupos económicos a explorarem o negócio até que, anos volvidos, se reconheça a sua falência. Com esta municipalização, os autarcas acabam promovendo políticas a que se oporiam se a iniciativa partisse do Governo central, e o Governo central subtrai-se, maquiavelicamente, aos protestos que as suas políticas originariam. É caso para citar Steve Jobs: “Porquê alistarmo-nos na marinha, se podemos ser piratas?”

09 fevereiro, 2015

Redacções do Rogérito 22 - "Carta a uma stôra para ela me dar uma explicação sobre a municipalização da educação"

Tema da redacção: "Redigir uma carta"

Excelentíssima senhora stôra 
sei que a senhora  por ter dado bue de aulas e por ter sido já directora e por ter uma cara que embora só a tenha visto agora me diz que é de pessoa de não andar por aí a dizer o que não pensa e porque diz sempre o seu pensar venho-a consultar sobre o que se está a passar com a escola e com o estado dos outros stôres que estão quase à beira de andar a pedir esmola e a terem muitos dissabores mas que mesmo assim tocam cornetas pianos violinos e tambores a cantar cantigas de acordar.
Aquele senhor lá do ministério mais o outro que é maduro depois da outra senhora que também foi ministra andaram a preparar uma coisa sinistra e que é de empurrar as coisas da educação para uma vereação lá minha câmara municipal que até se queixa que está muito mal pois diz não ter sequer dinheiro para mandar cantar um cego mas que acham que se é para não pagar a educação tanto faz quem é  que não paga pois isso de não pagar parece que é o que está a dar e até deixa alguns stôres contentes como hoje foi feita uma demonstração  naquela manifestação onde nem sequer faltou maestro que foi assim muito diferente daquela outra em mortágua onde não se cantou nada e só houve mágoa. 
Na volta do correio diga-me lá stôra se não será melhor correr todos eles com uma valente vassoura pois senão a educação volta aos tempos da outra senhora.

Com um beijito
  Rogérito

08 fevereiro, 2015

Geração sentada, conversando na esplanada - 82 (...e se a Jangada de Pedra for a Grécia?)

(ler conversa anterior)
«Ou seja, para além de deter enormes reservas de petróleo e gás, a Grécia possui todos os outros atributos para operar como um nó logístico estratégico no transporte e distribuição dos hidrocarbonetos do Levante: portos para GNL e localização geográfica para a instalação de um gasoduto.» in "Expresso, Fevereiro de 2013"
«BRICS alteram a Ordem Mundial, mas ninguém fala em tal.» Eu, "aqui, em Julho passado"
«Durante a recente visita a Moscovo do dirigente chinês Li Keqiang, chefe do Conselho de Estado da China, as partes confirmaram o desejo mútuo de aumentar ao máximo o pagamentos de suas contas em rublos e yuans, referente as trocas comerciais entre os dois países.» in "Rússia e China abandonam dólar americano", Nov. 2014

Desdobrei o pequeno papel e coloquei-o sobre a mesa. Peguei na chávena, dei um pequeno sorvo e enquanto a pousava ia lendo as pequenas notas que tinha alinhado. O velho engenheiro, ouvia-me atento. Quando achou que eu tinha acabado, comentou, "A única surpresa não é surpreendente, porque será que a imprensa se cala?" Achei que aquele comentário era um estímulo. Meti a mão no bolso e tirei um papel papel maior, este impresso, e estendi-lho e ele leu atentamente. No fim, comentou assim "Neste Mundo feito de mudança, não me admirarei se a Jangada de Pedra vier a ser a Grécia. Posso guardar este escrito?"
(se o meu leitor o quiser guardar também, aqui o tem)

05 fevereiro, 2015

Diário de um eleito - 15 (O PS não nos ajuda nem pouco nem muito a mudar o Mundo)



Disse no outro dia ao miúdo que mudar o Mundo não custa muito e com tal dito não o enganava pois acrescentava que o problema era o tempo que levava. Era um incentivo. Digo hoje que o tempo necessário para mudar tende para infinito. É que o PS não ajuda nem pouco muito nem muito a mudar o Mundo. Eu explico. Na escala de um município podemos representar o todo nacional. Falemos de Oeiras. Por cá, no Poder Local, vão estando os partidos do tal "arco do poder", por cá estão os "independentes" umbilicalmente ligados ao "isaltínico" caudilho, por cá estão os processos embrulhados e as trapalhadas, por cá estão as parceria público privadas.
Isto é, por cá está tudo o que se passa no resto do Mundo. Embora sabendo isso, não desisto.
Em Assembleia recente (Dezembro do ano passado), perante uma proposta de deliberação apresentada pela bancada socialista, eu carrego no botão da aparelhagem que me amplia a voz e anuncio: "a CDU sobrescreve a proposta do PS". A discussão foi acalorada mas a proposta não passou, foi chumbada. O texto rezava, entre outros pontos:
1.Lamentar a falta de confiança que o município de Oeiras tem nas freguesias e nos eleitos das freguesias do concelho;
...
4.Recomendar à Assembleia Municipal de Oeiras que exija da Câmara Municipal o cumprimento da lei e o consequente aprofundamento do quadro de Delegação de Competências e de Contratos Interadministrativos propostos, fazendo-o acompanhar dos recursos humanos e financeiros necessários à assunção das competências a transferir;
Entretanto e porque esta coisa da delegação de competências é mesmo coisa que mexe com o bemestar de quem nos elege, fez a CDU contas que ninguém contesta. Algumas estão no quadro aí ao lado. Compara Oeiras com outros lados e ilustra razões da concordância anterior. A Câmara transfere para as freguesias valores que as deveriam envergonhar se vergonha tivessem as maiorias que as gerem.
Ontem, do outro lado, no extremo do concelho, numa Assembleia (em Algés) a bancada do PS agarrou-se ao quadro e despendeu argumentos de  porque assim, de porque assado, e que a verba a transferir era um enxovalho. Chegado o momento da votação, pimba, PS vota abstenção!!! 
Em telefonema esta manhã, um camarada e amigo desabafaria: "Outra abstenção violenta, tanta incoerência não se aguenta!"

03 fevereiro, 2015

Mundar o Mundo não custa muito, leva é tempo...


"Vó, o avô ainda hoje não foi para o computador!" 
Interrompi o que estava a fazer não por estar surpreendido com a observação mas por me lembrar que estava em falta com todos os que se habituaram à minha presença. Mas o Diogo merecia resposta: 
"O avô está a ler, a estudar a melhor forma de mudar o Mundo!"
"E custa muito?"
"Custar não custa leva é tempo! Quando cresceres até podes ajudar!"
"Mas já tenho 5 anos... queres ver o que eu já sei fazer?"
E eu fiquei a ver.

02 fevereiro, 2015

Poesia (uma por dia) - 73

Biografia

Sonho, mas não parece.
Nem quero que pareça.
É por dentro que eu gosto que aconteça
A minha vida.
Íntima, funda, como um sentimento
De que se tem pudor.
Vulcão de exterior
Tão apagado,
Que um pastor
Possa sobre ele apascentar o gado.
Mas os versos, depois,
Frutos do sonho e dessa mesma vida,
É quase à queima-roupa que os atiro
Contra a serenidade de quem passa.
Então, já não sou eu que testemunho
A graça
Da poesia:
É ela, prisioneira,
Que, vendo a porta da prisão aberta,
Como chispa que salta da fogueira,
Numa agressiva fúria se liberta.


Miguel Torga, in "Antologia Poética", D.Quixote