31 março, 2018

A dignidade que dou à Páscoa

 túmulo de Cristo

A dignidade que dou à Pascoa inibe-me de dar e receber coelhinhos e até mesmo de desejar que seja feliz.  Fico-me pelos desejos, sinceros, de Boa Pascoa e, assim, respeito a forma como cada um a sente e celebra. Refiro, com frequência ser ateu sempre com aquela ironia avinagrada que sublinha sê-lo, graças a Deus.

Mas vamos ao que me trouxe:

Quando um homem morre, mesmo que tenha tido projeção por palavras e obras e por isso tenha sido temido pelos poderes da sua época, pode acontecer não ser esquecido e perdure na memória.
Mas se o mesmo homem vier a ser um mártir por proclamar a igualdade e por resistir ao poder, mesmo que Pilatos lave daí as suas mãos, pode acontecer o que veio a acontecer: uma mudança no curso da História, com o fim do esclavagismo e a queda do Império Romano. É essa a dignidade que dou à Páscoa, o que não me inibe de gostar... de amêndoas.

30 março, 2018

Sexta-feira Santa e aquela frase cínica...



Tenho, desde sempre e hoje mais uma vez, assinalado este dia pela parte que a muitos esquece. Mas tal insistência, embora já canse, não desisto dela.Cá vai:
Se Israel condiciona a população de Gaza a visitar Jerusalém durante as comemorações da Páscoa, e até mata, não ligue a nada.
always look on the bright side of life
Se agora, tal como já aconteceu, a NATO está em vias de «melhorar a rapidez e a capacidade letal das forças norte-americanas na Europa» e isso significa ter a guerra à porta, que importa? 
always look on the bright side of life
Se este mês, tal como no passado, recebeu magro salário, e ainda assim vai ser chamado, deixá-lo. 
always look on the bright side of life
Se ontem, tal como no outro dia, soube de gente faminta, siga.
always look on the bright side of life
Se neste ano, tal como no ano passado, centenas de bombas terão rebentado, passe ao lado.
always look on the bright side of life
Se Trump foi eleito e se barimba no Direito Internacional, qual o mal?
always look on the bright side of life
Se há povos que elegem e são governados por não eleitos, que há de errado em tais preceitos?
always look on the bright side of life

Se há milhões de crucificados neste dia...
Diga aquela frase cínica "É a vida"...
... e olhe sempre pelo lado bom que ela tem ainda.

29 março, 2018

Quinta-feira santa - Serviço é serviço e beijos são beijos... a propósito de trinta dinheiros

 

Ao longo da nossa existência racional, que como sabemos é inferior à nossa idade biológica, sempre me interroguei sobre o porquê de uma traição ser apresentada sobre a forma e a expressão de um afecto. Judas beija Jesus, como sinal de que o traiu e de que traiu um colectivo. Nem mais, nem menos: um beijo. Nada de mais afectuoso.

Tivesse a história (e as escrituras) colocado o focos do odioso na transacção, nos trinta dinheiros e talvez o Mundo fosse diferente...
“Atrás de Judas estavam os que lhe deram dinheiro, para que Jesus fosse preso e atrás deste gesto estão os que fabricam e traficam armas, que querem o sangue e não a paz, querem a guerra e não a fraternidade”
“Aquele que comanda, para ser um bom chefe, esteja onde estiver, deve servir.”
Papa Francisco, durante esta quinta-feira santa

28 março, 2018

A propósito daquele teatrinho... o Eufrázio lembrou-me isto

A SENHORA DA LIMPEZA 

Antes de chegar às galerias identificaram-me com um sorriso.
Subi no magnífico elevador, conduzido por um delicado polícia.
Sentei-me nas galerias e olhei para baixo. Lá estavam os representantes da nação. Os eleitos da república. As palavras cruzadas, as ideias esgrimidas, as bandeiras nas lapelas, os passos perdidos, os aparelhos políticos. Os credos e os farsantes. Desiguais.

Inocente segredei a um jovem cabisbaixo, companheiro de galeria
- Coisa linda esta democracia.

Lá em baixo também estavam os meus, pouco numerosos ainda mas a combater pela maioria que vive nos subúrbios de tudo.
Lá em baixo quase todos esquecidos de subir os olhos para as galerias, tricotavam a verve, gesticulavam poses de verniz.
De quando em vez disparavam blasfémias, partilhavam impropérios para mais tarde se abraçarem à hora do repasto.

Inocente o jovem cabisbaixo, segredou-me
- Comigo um dia isto será diferente.

Terminada a sessão plenária os deputados saíram como estava previsto. O amplo salão ficou vazio, soberbo e solene. De tantas memórias.
O salão ficou vazio mas eu deixei-me ficar até ser convidado a sair pelo mesmo delicado polícia. Foi um dia que resolvi festejar em silêncio.

Procurei um restaurante no belo bairro de São Bento e sentei-me à mesa.
Serviram-me o intragável discurso do primeiro ministro, em diferido.
Os àcidos bem convergiram, mas não foram eficazes para digerir o falacioso paraíso.
Fechei os olhos, abri os olhos e pedi o livro de reclamações, onde escrevi - " O que me serviram está fora do prazo. Quando chega a nossa vez ? "

Levantei-me da mesa sem pagar. Os empregados ficaram a ler o meu protesto.

Lá fora ouvi alguns aplausos mas fiquei na dúvida quanto ao seu voto.

Dei uma volta ao quarteirão e na passagem ainda olhei para a fachada do restaurante, Larguei um viva à República, à liberdade e ao 25 de Abril.
Para meu espanto a porta rangeu. Começou a abrir-se lentamente.

Era a senhora da limpeza.
Eufrázio Filipe, 

27 março, 2018

Teatrinho - encenação de uma obra de ficção (ou talvez não) -II

1º Acto 
Cenário - O palco está às escuras, o pano está levantado e a cena passa-se na sala das sessões do Palácio de São Bento, onde apenas emerge da penumbra a silhueta da República. À frente do hemiciclo, desarrumadas, algumas cadeiras e várias mesas. Ouvem-se as  pancadas conhecidas e o cenário passa a ficar tenuemente iluminado. Entra uma mulher, com passada enérgica. Leva um balde, uma vassoura, uma esfregona e um rodo.  Vai vociferando sem que se perceba uma única palavra até que vai à boca de cena e diz de forma clara. 
Mulher - Esta sala está um horror. Se respeitassem a República faziam como se faz num certo sitio, quando acabassem deixavam tudo arrumado, pois para limpar estaria cá eu. Isto, é, desde que não emporcalhassem tudo. Já não não basta a javardiçe das decisões...
Voz - Disseste falta de respeito? Foi isso?
Mulher - Foi mesmo isso! Mas... quem fala?
Voz - Sou eu, a República!
Mulher - A República? Onde?
Voz - Aqui onde me vês  (um foco ilumina a estátua)
Mulher - Ah!, ingrata. Levas já com a esfregona na cara!
Cai o Pano lentamente, 
enquanto a mulher ensaboa energicamente a estátua

2º Acto
Cenário - Levanta-se o pano, o hemiciclo está deserto, a República jaz ensaboada e nas bancadas dos deputados, do lado esquerdo do hemiciclo e nos lugares do líderes, três focos iluminam um rodo, uma vassoura e uma esfregona. Entra um homem, em passada larga e vem a assobiar uma marcha. Na mão trás uma mala de ferramentas. Chega ao centro e olha para o lado esquerdo.
Homem - Que distração... aquela mulher... olha que preparo!... 
Voz - E já viste o meu estado?
Homem - Quem me fala?
Voz - Sou eu, a República!
Homem - A República, onde?
Voz - Aqui onde me vês  (um foco ilumina a estátua)
Homem - Ah!, ingrata. Com este escopro e este martelo vou-te dar o devido restauro! 
Cai o Pano lentamente, 
enquanto a República sai em fuga. Entra o narrador

Estimado público a República está em fuga (aponta a vassoura), mas volta. 
Não esta, mas outra... por ventura mais limpa (aponta a esfregona) e deixa lá atrás o lixo todo (e aponta, por fim, o rodo!)

26 março, 2018

A "Esquerda Unida" (IU) e a situação na Catalunha

Saiu hoje, 26 de Março, um comunicado da Esquerda Unida (IU) tomando posição sobre  situação na Catalunha. É um comunicado claro, sobre a posição que aquela organização partidária assume sobre a evolução dos acontecimentos.

O que aqui cito não deve afastar um único leitor da leitura atenta do documento (ler aqui). Apenas quero sublinhar a correção da posição da IU perante as questões de fundo, muito para além do dramático momento que vem ocupando o destaque noticioso.
«Como es sabido, en Izquierda Unida somos contrarios a la independencia de Catalunya y defendemos una salida democrática, vía referéndum, que ofrezca una respuesta política a un problema político. Creemos que un Estado federal, conformado democráticamente, daría salida a un problema territorial en el que todos los pueblos de España sean parte de un mismo proyecto colectivo plenamente democrático y solidario.
Hemos rechazado la unilateralidad del procés y hemos advertido que tanto las fuerzas políticas independentistas como el Partido Popular y Ciudadanos han antepuesto respectivamente la nilateralidad o la confrontación política como estrategias para eludir los debates políticos sobre la crisis política, económica y social que padece España , tapando así sus respectivas e innumerables responsabilidades en la ejecución de las políticas neoliberales que han causado pobreza, pérdida de derechos políticos y sociales, y una corrupción ya estructural tanto en Catalunya como en el resto del Estado.»
Como noticiava o Jornal "Avante!", as massivas manifestações, em cerca de uma centena de localidades de Espanha, do passado dia 17 comprovam a justeza da posição da IU...



25 março, 2018

Um conto ao Domingo - VIII (A Revolução dos Deprimidos*)

«O que víamos nos filmes de ficção científica, não passaram assim tantos anos, está aí.
As máquinas ocupam o lugar do homem no desempenho das mais diversas tarefas. E que papel caberá a nós, humanos? Os mais otimistas, claro, apenas verão vantagens. Assim esta realidade foi apresentada quando era apenas ficção: ficaríamos livres para o lazer, para fazer aquilo de que gostamos, que nos dá verdadeiro prazer. A realidade, como de costume, mostra a outra face da moeda.»


Miguel não estava atrasado. Tinha todo o tempo se o soubesse bem planear. Pegou no seu TelLog e verificou onde se  situava a maior fila de espera, se no supermercado se nos postos de carregamento ali à volta. Tinha o seu veículo eléctrico com pouca carga e as tomadas existentes no condomínio não lhe mereciam confiança...
Enquanto bebia uma chávena de leite morno, programou-se, iria primeiro ao posto de carregamento 48, tinha aí disponibilidade dentro de meia hora. Reservou 15 minutos de carga. Reservou também uma maço de cigarros e um café, no quiosque local.
Enquanto bebia o leite, olhava a praceta deserta e em redor, nos prédios à volta, ninguém se assomava à janela. Um preocupação lhe tomou por momentos os pensamentos "E se o bairro atingir o nível limite de habitantes deprimidos?"

24 março, 2018

Poemas sujos...


No mesmo dia, da água e da poesia, um meu amigo homenageava Bocage, nós dávamos a conhecer Arménio Vieira. À coincidência da data, juntam-se outras a tal ponto que, se me dessem a ler Bocage e Arménio, em poemas anónimos, eu diria serem do mesmo autor.

Sobre o poeta cabo-verdiano, prémio Camões (que ele próprio refere não lhe ter acrescentado nem fama nem pecúlio) leu Domingos Lobo um texto de um estudo seu (que deve ser lido, aqui) e do qual extraio este naco:
«Ainda de O Brumário, encontramos o mais transgressor dos poemas de Arménio Vieira, recolhidos nesta antologia: Poema Sujo em Jeito de Rap. O poeta alerta-nos para o peso das palavras, para o medo que ainda continuamos a ter delas, mas são apenas palavras mesmo quando se referem e definem os actos mais íntimos da nossa condição. O poeta, tal como os nossos trovadores das cantigas de escárnio e maldizer, dos séculos XII e XIII, ou os nossos pré-românticos do século XVIII – Bocage é um dos poetas eleitos de Vieira -, cultores de poemas eróticos e satíricos, não desdenhariam subscrever. Neste poema em forma de Rap – e essa circunstância formal é já uma transgressão do poeta, investindo nessa particularidade, também ela rebelde, da cultura popular urbana. Não tenhamos, portanto, medo das palavras, quem tem medo das palavras, interroga o poeta?, perante esta variante anti-lírica da sua poesia.»

21 março, 2018

Poesia, como há muito não acontecia


Coube à professora Luísa Esmeralda apresentar a nossa presidente e, de seguida, apresentar-me  a mim, para depois apresentar e o Davoud e o prof. Jorge Rodrigues.

Coube-me a mim apresentar os  nossos convidados, Domingos Lobo (que, por seu turno, apresentaria o poeta Arménio Vieira) e o Manuel Diogo, que diria seus poemas.

Depois dos ditos, em versos muito aplaudidos, o iraniano Davoud apresentaria quem ali se prestava a declamar Saramago, exibindo o livro e dando notícia de o ter integralmente traduzido e dizendo-os, ele também, em persa.

Arménio e Saramago, foram quem mais nos ocupou o sonho, a nós todos, "Desenhadores de Sonhos", após apelo feito e que conduziria a sala cheia (cheia duas vezes, pois foram duas as sessões)


Ficam as imagens, que são outros tantos vídeos a exigirem trabalhos redobrados, na produção e no enaltecer da participação de gente em processo de multiculturalidade... e foram gregos, costa-marfinenses, franceses, angolanos, são-tomenses, chineses, sírios, outros árabes, alemães e muitos africanos, que pretender dizê-los todos  falta-me o apontamento...

Foi um fim de tarde bonito e uma noite promissora, neste dia dedicado à poesia...

Mudar o Mundo não custa muito, leva é tempo!



Esta reportagem refere-se a uma iniciativa bonita

20 março, 2018

Mia Couto, a sua Carta e uma Moção de Censura a lembrar a data


Invasão do Iraque pelos EUA completa hoje 15 anos de assinalável impunidade. Lembro eu uma carta de Mia Couto, da qual extraio esta parte, logo no inicio: 
Senhor Presidente:

Sou um escritor de uma nação pobre, um país que já esteve na vossa lista negra. Milhões de moçambicanos desconheciam que mal vos tínhamos feito. Éramos pequenos e pobres: que ameaça poderíamos constituir ? A nossa arma de destruição massiva estava, afinal, virada contra nós: era a fome e a miséria...
(...) Pois eu, pobre escritor de um pobre país, tive um sonho. Como Martin Luther King certa vez sonhou que a América era uma nação de todos os americanos. Pois sonhei que eu era não um homem mas um país. Sim, um país que não conseguia dormir. Porque vivia sobressaltado por terríveis factos. E esse temor fez com que proclamasse uma exigência. Uma exigência que tinha a ver consigo, Caro Presidente. E eu exigia que os Estados Unidos da América procedessem à eliminação do seu armamento de destruição massiva.
Por razão desses terríveis perigos eu exigia mais: que inspectores das Nações Unidas fossem enviados para o vosso país. Que terríveis perigos me alertavam? Que receios o vosso país me inspiravam? Não eram produtos de sonho, infelizmente. Eram factos que alimentavam a minha desconfiança. A lista é tão grande que escolherei apenas alguns:

- Os Estados Unidos foram a única nação do mundo que lançou bombas atómicas sobre outras nações;- O seu país foi a única nação a ser condenada por "uso ilegítimo da força" pelo Tribunal Internacional de Justiça;

- Forças americanas treinaram e armaram fundamentalistas islâmicos mais extremistas (incluindo o terrorista Bin Laden) a pretexto de derrubarem os invasores russos no Afeganistão;

- O regime de Saddam Hussein foi apoiado pelos EUA enquanto praticava as piores atrocidades contra os iraquianos (incluindo o gaseamento dos curdos em 1998);- Como tantos outros dirigentes legítimos, o africano Patrice Lumumba foi assassinado com ajuda da CIA. Depois de preso e torturado e baleado na cabeça o seu corpo foi dissolvido em ácido clorídrico;

- Como tantos outros fantoches, Mobutu Seseseko foi por vossos agentes conduzido ao poder e concedeu facilidades especiais à espionagem americana: o quartel-general da CIA no Zaire tornou-se o maior em África. A ditadura brutal deste zairense não mereceu nenhum reparo dos EUA até que ele deixou de ser conveniente, em 1992;- A invasão de Timor Leste pelos militares indonésios mereceu o apoio dos EUA. Quando as atrocidades foram conhecidas, a resposta da Administração Clinton foi "o assunto é da responsabilidade do governo indonésio e não queremos retirar-lhe essa responsabilidade";

- O vosso país albergou criminosos como Emmanuel Constant um dos líderes mais sanguinários do Taiti cujas forças para-militares massacraram milhares de inocentes. Constant foi julgado à revelia e as novas autoridades solicitaram a sua extradição. O governo americano recusou o pedido.

- Em Agosto de 1998, a força aérea dos EUA bombardeou no Sudão uma fábrica de medicamentos, designada Al-Shifa. Um engano? Não, tratava-se de uma retaliação dos atentados bombistas de Nairobi e Dar-es-Saalam. - Em Dezembro de 1987, os Estados Unidos foi o único país (junto com Israel) a votar contra uma moção de condenação ao terrorismo internacional. Mesmo assim, a moção foi aprovada pelo voto de cento e cinquenta e três países.
- Em 1953, a CIA ajudou a preparar o golpe de Estado contra o Irão na sequência do qual milhares de comunistas do Tudeh foram massacrados. A lista de golpes preparados pela CIA é bem longa.- Desde a Segunda Guerra Mundial, os EUA bombardearam: a China (1945-46), a Coreia e a China (1950-53), a Guatemala (1954), a Indonésia (1958), Cuba (1959-1961), a Guatemala (1960), o Congo (1964), o Peru (1965), o Laos (1961-1973), o Vietename (1961-1973), o Camboja (1969-1970), a Guatemala (1967-1973), Granada (1983), Líbano (1983-1984), a Líbia (1986), Salvador (1980), a Nicarágua (1980), o Irão(1987), o Panamá (1989), o Iraque (1990-2001), o Kuwait (1991), a Somália (1993), a Bósnia (1994-95), o Sudão (1998), o Afeganistão (1998), a Jugoslávia (1999).
- Acções de terrorismo biológico e químico foram postas em prática pelos EUA: o agente laranja e os desfolhantes no Vietname, o vírus da peste contra Cuba que durante anos devastou a produção suína naquele país.

- O Wall Street Journal publicou um relatório que anunciava que 500 000 crianças vietnamitas nasceram deformadas em consequência da guerra química das forças norte-americanas.

A 17 de Março de 2003 o PCP avança com uma moção de censura

1. O PCP regista a atitude digna e responsável do Conselho de Segurança da ONU (já conhecida através de declarações do Embaixador inglês da ONU) de não ajoelhar face ao ultimatum e à chantagem dos EUA e dos seus acólitos europeus que, de forma clara e iniludível, ao longo dos últimos meses sempre apenas reservaram para a ONU o papel de submisso notário dos projectos de agressão e dos planos de guerra há muito concebidos e decididos pela Administração Bush. 
O crime não só continua impune como desencadeou uma série de outros...

18 março, 2018

Um conto ao Domingo - VII (tirado de "Histórias com mar ao fundo")

Troco o meu pano azul por um chá de menta, disse o viajante. Sacudiu a água das sandálias, passou os dedos pelos cabelos e sentou-se no primeiro degrau da escada. Era um ser pequenino, talvez uns doze centímetros de altura, moreno do sol, o véu azul e a túnica branca. Eu andava por ali a apanhar chuva e apesar de não ser muito habitual uma proposta destas, não estranhei. Na minha rua, os cães conhecem-nos pelo nome, os gaios roubam-nos os frutos e os melros conversam connosco de manhã. O carteiro não entrega as cartas, os jardineiros conduzem comboios pela noite dentro e aparecem estremunhados quando faz sol. O mar sobe uns metros a cada maré alta, mas desertos nunca vi.

Tens os pés molhados, disse eu estupidamente e acrescentei, posso fazer-te um chá preto ou de limão ou de erva-príncipe. Ele olhou-me de baixo para cima e eu senti-me envergonhada e alta, que é um sentimento que me acompanha quase todos os dias. Peguei nele, meti-o no bolso com a cabeça e os braços de fora e andei pelos canteiros até encontrar os pés de hortelã.

Convidei-o a entrar. Na cozinha fervemos água e por esta ordem, ele exigiu um bule de prata com um bico longo, açúcar mascavado em abundância, um copo de vidro e dez folhas de menta. Admirei-lhe a perícia e enquanto ele bebia o seu chá, eu bebia o meu, preto e sem açúcar. Coloquei mais lenha na lareira e ele sentou-se no chão sobre o tapete, as sandálias e o pano azul a secar e assim aquecido e confortável, soltou-se e começou a falar. Dos ventos quentes do deserto, das tempestades de areia, do azul-índigo dos panos e de como, sem ele saber porquê, uma corrente contrária o tinha envolvido, enrolado e feito perder.

E saberás regressar? perguntei. Claro, respondeu, logo que tiver os pés quentes e a roupa seca, encontro o caminho de volta. Deixo-te o pano azul, acrescentou.
Não quero o teu pano azul, faz-te falta para tapar o rosto, respondi. Porque és tão pequeno? acrescentei. Porque és tão grande? respondeu.
E deitando a cabeça sobre o braço direito, adormeceu. Silenciosamente fui buscar um lápis e um bloco e esbocei o viajante, o pano, as sandálias e a túnica. A monotonia da chuva, o calor da lareira e o ligeiro roncar daquele ser magnífico fizeram-me adormecer também.

Uns minutos ou muitas horas depois, acordei, e ele tinha partido. Sobre as folhas de hortelã, um anel de prata.
Nunca mais o vi e lembro-me dele quando chove e quando faz vento, quando sacudo a areia das botas e quando o céu se azula ao amanhecer. Não lamento não o ter fotografado, porque qualquer imagem não lhe faria justiça, como as linhas que tracei dele.

E nos dias cinzentos, ponho o anel de prata no dedo médio da mão esquerda para que os deuses não me abandonem.
Manuela Baptista 

666.666


17 março, 2018

Quem matou Marielle sabia atirar




Já depois de ter publicado, dou conta de outros se terem juntado. Este aqui, este outro, e outro ainda. A quem pergunta porquê, talvez a resposta esteja no aproveitamento da morte para desígnios planeados...

16 março, 2018

Vitor Bento, eu, Jesus Cristo e o mais que adiante poderá ver escrito

"O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca…"
Fernando Pessoa
Há coisas que não enjeito e uma delas é comparar-me com os maiores. Tal como refere o poeta, Cristo nada sabia de finanças, eu também nada sei, e não constando que ele tivesse biblioteca, não posso afirmar que eu a tenha... mas cá vou fazendo as leituras possíveis... e quando entendo, reajo.

Reagindo ao hoje escrito pelo Bento, percebo que ele, douto em finanças e certamente possuidor de imensos livros, regressa agora à tristemente célebre estirada do viver-se acima das nossas possibilidades considerando, escreve ele, "a endémica e secular tendência na nossa sociedade para gastar mais do que produz, sobreendividando-se e descurando a criação de riqueza, reproduzindo ciclos de crescimento com dívida, crise e resgate, que desembocam em dependência externa e/ou regimes autoritários." e o extenso artigo termina com esta frase lapidar, como se inventasse a roda, "querer assentar o crescimento na procura interna é como acumular lenha à volta da casa."

Respondo, conforme posso:
Sobre o endividamento, recorro mais uma vez a Marx -"Os donos do capital incentivarão a classe trabalhadora a adquirir, cada vez mais, bens caros, casas e tecnologia, impulsionando-a cada vez mais ao caro endividamento, até que sua dívida se torne insuportável."

Sobre o crescimento, recorro a leituras, que nunca dispenso - "A inversão do actual rumo é justa e é possível. Mas colide com as imposições da União Europeia para quem Portugal está condenado a ser destino dos excedentes das grandes potências, e confronta-se também com os interesses do grande capital. Veja-se o papel dos grupos monopolistas da grande distribuição no esmagamento dos preços à produção ou na importação de mercadorias estrangeiras, o papel da banca privada na falta de financiamento às PME, o papel que o domínio monopolista sobre a energia, as comunicações ou os transportes teve no estrangulamento das potencialidades produtivas do País.
A defesa da produção nacional é uma questão estratégica para o presente e para o futuro. A valorização da da indústria, da agricultura e das pescas reclama uma política substancialmente diferente. Garantir a soberania alimentar, a soberania energética, a produção de bens e equipamentos de elevado valor acrescentado que diminuam as importações de mercadorias e potenciem e diversifiquem as nossas exportações requer uma outra política e um governo capaz de a concretizar. A batalha pela produção nacional, aí está, para ser travada pelos trabalhadores e pelo povo português.

15 março, 2018

A Quinta Agricola do Marquês e os pesadelos dos "Desenhadores de Sonhos"...


Quem desce a Estrada de Oeiras, antes de entrar na Rua Junção do Bem, à sua direita, ergue-se uma arquitetura, de traços que lembram a chinesa. Dos muitos que por ai passam, poucos são os que sabem tratar-se de um pombal, mandado construir pelo Pombal, o marquês.
Sebastião de Carvalho e Melo, de seu nome.

É uma das peças históricas que, no conjunto de outras peças valiosas da variada arquitetura do período pombalino, integram a Quinta Agrícola (também conhecida por Quinta de Cima).

Andam os poderes instituídos preocupados em entregar a privados, para uso (entre outros) de hotelaria, tão rico património. Não precisam ter tanta preocupação. No caso do pombal, está à vista o uso, com hospedes e tudo. Andam por lá, muitos sem-abrigo. Quantos? Saber lá? O INIAVE não faz reservas nem, ao que consta, tem serviço de "quartos"...

Para quem não tem acesso ao sítio onde explico tudo isso (com imagens de pesadelo), pode ler o texto que se segue. 

14 março, 2018

Suicidem-nos... nas urnas!


Curiosamente (?) é a imprensa de direita quem mais agita o tema depois de ter agitado outro. Cá por mim, acho que é mais um a juntar ao farelo do mesmo saco...

Suicidem-nos... nas urnas!

12 março, 2018

Cristas, Rio e o suicídio


Assunção Cristas, à qual chegaria a arte do meu amigo "Maceta", terá já decidido gamar a imagem e inspirar-se nela para o lançamento do primeiro outdoor a usar na campanha para as próximas legislativas, com aquilo que virá a ser, considera ela, um slogan vitorioso
Entretanto, assumindo as dores de Rio, um colunista encartado vem à liça e, documentada_mente, prova que Cristas terá cometido suicídio. 

Que se matem!

11 março, 2018

Um conto ao Domingo - VI ("Conto da Ilha Desconhecida ")

Ilustração Manuel Estrada pª edição espanhola do Conto da Ilha Desconhecida
Quero encontrar a ilha desconhecida, 
quero saber quem sou quando nela estiver.
José Saramago

Um homem foi bater à porta do rei e disse-lhe, Dá-me um barco.
A casa do rei tinha muitas mais portas, mas aquela era a das petições. Como o rei passava todo o tempo sentado à porta dos obséquios (entenda-se, os obséquios que lhe faziam a ele), de cada vez que ouvia alguém a chamar à porta das petições fingia-se desentendido, e só quando o ressoar contínuo da aldraba de bronze se tornava, mais do que notório, escandaloso, tirando o sossego à vizinhança (as pessoas começavam a murmurar, Que rei temos nós, que não atende), é que dava ordem ao primeiro-secretário para ir saber o que queria o impetrante, que não havia maneira de se calar.

Então, o primeiro-secretário chamava o segundo-secretário, este chamava o terceiro, que mandava o primeiro-ajudante, que por sua vez mandava o segundo, e assim por aí fora até chegar à mulher da limpeza, a qual, não tendo ninguém em quem mandar, entreabria a porta das petições e perguntava pela frincha, Que é que tu queres.

10 março, 2018

Num dia assim, não é só a mim a quem lembra Catarina Eufémia

NÓS MÃES DO SONHO ABSOLUTO

Sem ter provado o tal fruto,
Sem ter aberto a caixinha,
Sem sequer qu`rer ser rainha
Senão deste meu reduto,
Vi-me coberta de luto,
Chamaram-me erva daninha,
Mentirosa, vil, mesquinha
E outras coisas que refuto
Ante um mundo em estado bruto
Contra a força que em mim tinha,

Mas sou mil, não estou sozinha,
E hei-de ser sempre o produto
Daquilo por que hoje luto
Numa luta também minha
Que é humana e que acarinha
Todo o ser que entendo e escuto...
Em tudo quanto executo,
Minha paixão se adivinha;
Raízes da mesma vinha,
Nós, mães do sonho absoluto!
Maria João Brito de Sousa –AQUI
PCP Catarina.jpg

09 março, 2018

Esta imagem refere-se a...

"As vítimas (oito mulheres e duas crianças) seguiam num carro, em direção a um casamento, quando foram atingidas por três bombardeamentos perpetrados por (...)"
Por quem?, pergunto eu.
E foi onde?

A resposta está logo abaixo, mas será batota espreitar

08 março, 2018

Dia Internacional da Mulher

Bóra lá, contra tudo e o resto!

________
Mandou, pois o Senhor Deus um profundo sono a Adão; e, enquanto ele estava dormindo, tirou uma das suas costelas, e pôs carne no lugar dela. 22 – E da costela, que tinha tirado de Adão, formou o Senhor Deus uma Mulher; e a levou a Adão. 23 - E Adão disse: Eis aqui agora o osso de meus ossos e a carne da minha carne; ela se chamará Virago, porque do varão foi tomada. 24 – Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa só carne. 25 - Ora um e outro, isto é, Adão e sua mulher, estavam nus; e não se envergonhavam (porque ainda eram inocentes)."
GÊNESIS 2: 21-25.

07 março, 2018

Como já vos tinha dito, também sou um Desenhador de Sonhos


Já vos tinha falado deste meu interregno para me dedicar a coisas belas...
A imagem vale menos que aquela que se obteria de outros ângulos da sala ou se fosse tirada uns minutos mais tarde, com ela, a sala, repleta... mas para o efeito serve.
Dá testemunho do que afirmo, enquanto desenhador de sonhos...
... e apresentei à assistência, maioritariamente jovem, quanto é importante pôr os seu velhos, pais e avós, a lutar pelos seus sonhos... a desenhá-los com as mãos. 
Foi bonito. E continua!



05 março, 2018

Manu Chao é meu irmão!

printscreen duma página pouco usada

Não é a primeira vez que o "Sustentabilidade é Acção" me perturba a agenda obrigando-me a alterar o tema.

Queria escrever sobre sei lá o quê e vem ela, a Manuela, com aquela luta contra os transgénicos e em defesa das "Sementes da Liberdade", que são coisas sobre as quais a nossa Assembleia já se pronunciou... em debates (e votações) para_lamentares.
Ganhou-me para a causa, se não por outra razão,
porque Manu Chao é meu irmão

04 março, 2018

Um conto ao Domingo - V ("O trabalho produz milagres")


Compraram aquela pequena quinta com o que resultara da venda da loja lá das Ermidas e os primeiros tempos foram dispensados para fazer algumas pequenas obras na casa, tornando-a mais acolhedora. Fê-lo com a empenhada ajuda da companheira que, esquecida da malvada ciática e de como lhe pesava os anos, se ia prestando para o que fosse necessário, ficando a caiação  por conta dela.

A ele passou a competir o amanho da terra que todas as manhãs percorria, de uma ponta a outra, até descobrir aquela por onde pegar. 
Naquele dia, até porque o pomar dava mostras de morte, resolveu reabrir o sulco entre o tanque de rega e as tangerineiras, e depois entre estas e o laranjal.

Abeirou-se do poço e a braço, balde a balde, foi enchendo o tanque até ao ponto em que achou suficiente. Depois abriu a agua e esta escorreu para o sulco percorrendo-o, primeiro em grande caudal para depois este se ir reduzindo até se sumir completamente, mesmo antes de chegar ao pomar. 

A terra, que ali era fofa e arenosa, bebia a agua toda impedindo-a de chegar ao destino. Repetiu tudo sem obter resultado diferente sob o olhar do dono do terreno vizinho, que à distancia lhe seguia o esforço.
-"Ti Jaquim Bento, não adianta... As árvores estão mortas, há mais de dez anos que não são regadas... Mais vale levantá-las todas e plantar novas!" 
Ele levantou o olhar e aproximou-se do valado que separava as quintas para lhe responder com voz convicta.
- "Sabe?, o trabalho produz milagres! E não tendo a certeza de sua morte não quero eu ter o peso na consciência  de lha provocar."
Ficaram ainda um pouco por ali, a falar das estiagens prolongadas e do desleixo que o anterior proprietário tinha votado à quinta. Depois fez-se ao decidido: salvar o pomar. 

Não foi fácil arranjar cimento, mas lá conseguiu um saco na loja da Maria do Mouro, a um quilómetro dali, e de pronto o trouxe, num carro de mão que lhe fora emprestado.

Escolheu a eira, pelo espaço amplo e aí deu-se à faina, também ela nunca experimentada, de construir troços para a caleira. Construiu o molde de madeira. Preparou a argamassa. E encheu-o tantas vezes quantas aquelas para que rendeu o saco inteiro de cimento a que ia juntando pequenas porções da terra arenosa retirada de onde ela mais se parecia com areia. 
Acabou, noite dentro com mais de uma centena de peças feitas.

De manhã cedo, ainda dorido pelo esforço, foi-se a montá-las tendo o cuidado de as ir ligando com o resto de cimento que tinha guardado para tal efeito. E quando o sol já se ia pondo, confirmando a consistência da obra, iniciou a rega.
De dois em dois dias, repetia. E depois de três em três, passando à rotina de duas vezes por semana até que a primeira flor começou a irromper. Colheu-a e levou-a à companheira de uma vida inteira.
- "Toma-a Mariana, em Fevereiro teremos o milagre esperado", e parecia que o odor da pequena flor de laranjeira se espalhava pela casa inteira.

Dizia, quem as comia, não haver no concelho da Moita do Ribatejo outras laranjas com sabor assim como aquelas da quinta do Ti Jaquim Bento.
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O aqui contado surge fora da cronologia pois devia ter sido escrito antes deste outro conto

03 março, 2018

Que luz vem do farol? Que nos dizem os faroleiros?


O titulo deste post está amarrado a outro publicado em acontecidas vésperas que conduziriam, em junho de 2011, à eleição de Passos. Lá se dizia o que lá se encontra escrito. 
A luz projetada do farol era de aviso. E o que era avisado, aconteceu.
O que nos diziam os faroleiros, então, mantém hoje toda a atualidade, pois a barca em que nos encontramos todos corre o risco de voltar ao rumo antigo...

Uma metáfora é coisa nem sempre inteligível e fechada? Lá ser, é, mas não dá lá grande trabalho deslinda-la. 
Vá lá, não custa nada! E para lhe aguçar a curiosidade, ficam algumas das  palavras de aviso:
«Os recentes desenvolvimentos após o Congresso do PSD em que este partido procura recuperar a política de agravamento da exploração, empobrecimento e desastre nacional que executou, acentuam expressões de consensualidade e regista-se a assumida articulação entre PS e PSD em torno das “ reformas estruturais” – essa enganosa designação com que se envolvem as medidas de agravamento da exploração do trabalho, de retrocesso económico e de injustiça social. Nós sabemos do que falam, quando falam em “reformas estruturais”. As suas “reformas estruturais” são as do receituário monetarista e neoliberal, confeccionadas nos laboratórios do grande capital e que os governos do PS, PSD e CDS tomaram como núcleo dos seus programas de governo nos últimos anos, aqui e na União Europeia.
Não foram tão longe como pretendiam e queriam, porque a luta contou na contenção dos seus propósitos, mas levaram longe a sua acção destruidora sob o tal chapéu reformador.
Essas “reformas” que se traduziram num criminoso programa de privatizações, incluindo de serviços públicos essenciais, de desregulação económica e de liberalização financeira, abrindo caminho ao “capitalismo de casino” que deu no que deu no BES, no BPN, no BPP, no BANIF, de desprotecção social, incluindo no desemprego, na subversão da Segurança Social que tentaram, mas não conseguiram, de desmantelamento das funções sociais do Estado, de aplicação da chamada flexibilização laboral, para sacrificar salários e direitos fundamentais dos trabalhadores e o esvaziamento da contratação colectiva, bem como a utilização de sistemas fiscais para favorecer o capital e penalizar o trabalho, entre outros.
Um caminho que pretendem não só consolidar, mas relançar afivelando a máscara das “reformas estruturais” e à sombra de uma suposta inócua descentralização (mas de facto, uma transferência de encargos e desresponsabilização do Estado) e uma consensualizada política de investimentos e aplicação de fundos comunitários, vendidos como a coisa mais natural, tão natural como o ar que respiramos.
Um primeiro passo, no caminho dos consensos e de restauração de um bloco central informal para voos mais largos, em que muitos aspiram a que a Segurança Social torne a marcar lugar.»
 

02 março, 2018

E o Ferro bem podia ter dito, lá no hemiciclo: "Adeus, ó vai-te embora"

«A vertigem de elogios, dignos de evocações póstumas, sobre o legado governativo de Passos Coelho deixa antever o pior. Tementes de que as exéquias políticas fossem longe de mais e desembocassem em forçado interregno do único caminho que os interesses dominantes inscreveram em talha dourada, aí os vemos a ressuscitar não tanto o fautor mas sim a substância da política que executou. A reencarnação não tem nada de inocente.

01 março, 2018

Como Nossos Pais


Quando confiamos cegamente na tecnologia é aí, precisamente, que acontece ela falhar. Sem fotos do ritual familiar, deu para seguir a festa com outro olhar. E dei por mim a dar conta dos gestos, dos sorrisos, dos afectos repetitivos. 

Acontece assim, ano após ano e não me queixo.
É que é preciso que algo não mude, quando chegar o (desejado) dia em que tudo seja diferente.