16 maio, 2018

Fossem outras vozes assim, claras, como as de Saramago

«Do ponto de vista dos judeus, Israel não poderá nunca ser submetido a julgamento, uma vez que foi torturado e queimado em Auschwitz. Pergunto-me se esses judeus que morreram nos campos de concentração nazistas, esses que foram perseguidos ao longo da História, esses que foram trucidados nos progrons, esses que apodreceram nos guetos, pergunto-me se essa imensa multidão de infelizes não sentiria vergonha pelos atos infames que os seus descendentes vêm cometendo.

Pergunto-me se o fato de terem sofrido tanto não seria a melhor causa para não fazerem sofrer os outros.

As pedras de Davi mudaram de mãos, agora são os palestinos que as atiram. Golias está do outro lado, armado e equipado como nunca se viu soldado algum na história das guerras, salvo, claro está, o amigo americano.

Ah, sim, as horrendas matanças de civis causadas pelos chamados terroristas suicidas... Horrendas, sim, sem dúvida, condenáveis, sim, sem dúvida. Mas Israel ainda terá muito que aprender se não é capaz de compreender as razões que podem levar um ser humano a transformar-se numa bomba.»

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«Acha que a sua opinião sobre a situação palestiniana vale a perda de milhares de leitores israelitas dos seus livros?
Ai de mim se quando vou dizer ou escrever alguma coisa começasse por pensar se com isso irei vender mais ou vender menos livros... Em Março venderam-se em Israel 3000 exemplares de "Todos os Nomes", em Abril, depois das minhas declarações em Ramallah, apenas 280. A conclusão é fácil: 2720 leitores andavam equivocados a meu respeito, 280 sabiam quem eu era. Estes são os que me importam.

Não o impressiona o argumento daqueles que lembraram que os seus leitores se encontram em Israel e não na Palestina?
É um argumento estúpido e mesquinho, que denuncia uma mentalidade de avaro. A Israel não falta dinheiro para comprar livros, mas eu não me vendo a quem compre os meus, seja quem for e onde quer que esteja. Em todo o caso, que não se preocupem, estou traduzido ao árabe e alguns dos livros que escrevi circularão certamente na Palestina. É mesmo muito possível que um exemplar desses se encontre soterrado sob os escombros de Jenin...» 

José Saramago, entrevista ao "Público"*
* Citado por um amigo

11 comentários:

  1. Posso levar, Rogério?

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  2. Andei por aqui pondo a leitura em dia.
    Porque ontem não deu. Em assuntos diversos, José Esteves, e Saramago têm razão. E digo têm, e não tinham, porque as suas palavras são tão atuais que poderiam ter sido proferidas hoje.
    Abraço

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    1. É isso, Elvira
      os nossos mortos não morrem
      por mais que os queiram silenciar

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  3. Mais um texto muito interessante. Bom dia :))

    Hoje:- Não sofras por não me teres, não é verdade.

    Bjos
    Votos de uma óptima Quinta - Feira

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  4. "o amigo" não é americano, é uma "espécie" antiga, sem nacionalidade nem "Partido"... Saramago acabou por perceber o Sistema, o funcionamento da "Quinta" e seus donos.

    Um texto traduzido para português de 2007 e, este, além de perceber, como muitos outros que tentam explicar o que se passou durante séculos, cada um à sua maneira, alguns especializados em apenas partes mas, uma tarefa quase impossível por causa do tempo que demorou, a formatar tudo o que agora pensamos.
    O filósofo grego Sócrates foi condenado a beber a cicuta, simplesmente por andar a ensinar "aquilo que não devia".

    http://www.alanwattsentientsentinel.eu/portuguese/transcripts/PORTUGUESE_2007Jul13_Alan_Watt_Blurb_MenOfManyMasks.html

    Olhando a Bíblia apenas como documento antigo e, antes deste, existiram muitos outros, há uma fase onde o Conhecimento foi manipulado e, muito resumidamente, a pior fase da mudança deu-se no tal Primeiro Concílio de Niceia onde Constantino reuniu, não bispos cristãos mas, os líderes espirituais da época (que tinham o conhecimento esotérico, ou seja, o conhecimento essencial e mais profundo das várias doutrinas e religiões antigas) e, não foi como reza a "História", foram todos fechados numa sala, à força, guardados por centuriões, de onde só sairiam mortos ou se fizessem uma "Religião Legal", mais adequada às massas (controlar acções e pensamentos não é um trabalhinho recente).
    Nada mais, nada menos do que Censurar e sonegar partes do verdadeiro Conhecimento, acumulado muito antes desta alteração, onde o verdadeiro Conhecimento foi "embrulhado" num conhecimento exotérico, a nova roupagem para ludibriar e manipular as massas.
    Chamar-lhe Jesus, se existiu como pessoa ou mero personagem para transmitir Conhecimento, nem interessa porque o que, realmente, importa é descobrir, muito daquilo que continua a ser Verdade e a receita para a evolução humana e que, como qualquer Verdade, é sempre imutável, em qualquer tempo, época ou local do Universo.
    Substituir Verdades por Leis feitas por homens, o resultado está à vista e, o pior, feitas precisamente para que, no final, apenas beneficie uma minoria que, com o passar do tempo, consegue controlar sem sequer passar por muitos dos sítios que controla. Titereiros que foram passando a sua profissão aos descendentes e, como num simples espectáculo de marionetes, só precisam controlar cordéis e cruzetas.

    "Desgraçados sejam os fariseus e os peritos da lei.
    Ai de vós, fariseus, porque amais os assentos mais importantes nas sinagogas e as saudações respeitosas nos mercados.
    E vocês especialistas na lei, ai de vocês, porque sobrecarregam as pessoas com cargas que dificilmente podem carregar, e vocês mesmos não levantam um dedo para ajudá-las.
    Ai de vós, peritos em direito, porque retiraram a chave do conhecimento.
    Vocês mesmos não entraram e obstruíram aqueles que estavam entrando.
    Quando Jesus saiu, os fariseus e os mestres da lei começaram a se opor a ele ferozmente e a sitiá-lo com perguntas, esperando poder culpá-lo por algo que ele pudesse dizer." - Lucas 11:37-54

    Até ver, a ignorância prevalece e os Titereiros vencem em todas as frentes porque, tal como ficou escrito:
    "Eu enviarei apóstolos e profetas, alguns dos quais eles matarão e outros perseguirão"

    Mafalda

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  5. Concordo! Pelos vistos não aprenderam a lição.

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    1. Bem vinda

      Sobre o comentário, se me permite a correcção
      diria que todos aprenderam a lição

      uns usam-na, outros não

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