«Já eu
tinha 13 ou 14 anos quando passámos,
enfim, a viver numa casa
(pequeníssima) só para nós:
até aí sempre tínhamos habitado em partes de
casa,
com outras famílias.»
A casa
Nos finais da década de 50, em Lisboa, vários eram os bairros e muitas eram as ruas onde famílias inteiras viviam em quartos alugados ou ocupando partes de casa. Aquela era ampla e muitos eram os quartos, cada um com uma família diferente em regra pouco numerosa e oriunda da província que procuravam na capital vida menos penosa, pão mais garantido e educação para os que tinham filhos. Por isso era uma casa povoada de crianças, ao todo cinco. A harmonia da casa era devida ao respeito mutuo pela privacidade e ao respeito por regras simples e consentidas, em particular no uso de espaços comuns. O segredo disso era devido ao cuidado posto à entrada de quem procurava a casa. A Dona Mimi, nunca se gabava de ser certeira na escolha nem de saber através dos rostos adivinhar a natureza da alma, mas bem se podia gabar disso. Quando havia uma vaga, e poucas vezes isso acontecia, o aluguer era fechado depois de uma curta conversa, meia dúzia de perguntas e a exigência de referências, que quase sempre eram dispensadas, pois a Dona Mimi tinha o tempo contado e este não era nem largo nem comportável com prazos alongados (sem cobrança de renda) com a procura da melhor escolha.

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