13 maio, 2024

FUI ALÍ E JÁ VIM, DEPOIS DO POEMA VOLTO LÁ


Acordemos!
Acordai
mulheres
que dormis
embaladas
por almas
desalmadas
desenhadas
nas passarelas da vaidade
nas capas das revistas
na ausência da cidade
na omissão dos dias
na mingua dos afectos
no silêncio da fome
que nos consome

Acordai
almas de vestes finas
de fino recorte
de lânguida aparência
na transparência
dos gestos ausentes
dos gestos dormentes
dos gestos mansos e quietos
das mulheres que dormem
em teu regaço

Acordai
Filhas, esposas,
mães
avós
 
Acordai
acordemos, todos nós

Rogério Pereira

08 maio, 2024

VOU ALÍ E JÁ VENHO, DEPOIS VOLTO LÁ E, DE QUANDO EM QUANDO, ESTAREI POR AQUI...

 Claro que não há razão para abandonar este espaço. Será apenas um interregno mais prolongado do que aqueles que por vezes faço. Sem interrupções, tenho mantido uma assiduidade com o ânimo que me é dado pelas numerosas visitas. Se não fossem virtuais, mas sim presenças ao vivo e a cores numa ampla sala, teria uma média diária de 100 amig@s e camaradas para me ouvirem, para saberem o que me vai na mente e na alma.

Este "vou ali" carece de uma justificação e esclarecimento. O ali, não é um único lugar. Tanto pode ser uma reunião com o grupo de teatro que vai começar a ensaiar o meu teatrinho, como pode ser o assistir a um ensaio. Mas também pode ser o reunir com o Movimento que reune dezenas de Associações de Moradores, Movimentos Ecológicos e Administradores dos condomínios dos prédios que figuram na envolvente do disparatado Projecto de Urbanização da Fundição de Oeiras. Será, ainda, certamente a organização da representação da CDU em tarefas que irão assegurar os atos eleitorais nos dias 2 de Junho (voto antecipado) e, depois, dia 9, no ato eleitoral.

Ah, e claro, não vou ficar à margem da campanha eleitoral...

Quando regressar, tentarei manter a performance que venho registando. Ora vejam. Que tal?



06 maio, 2024

E "NUESTROS HERMANOS" ESTÃO-NOS MESMO IRMANANDO (E ASSIM ESTAVAM...)


Galiza estava connosco. E connosco estavam outras terras de Espanha. 

Numa sondagem secreta sobre o 25 de Abril, feita em tempos de ditaduracom censura e limitações à liberdade de imprensa, foram 48% aqueles que disseram saber que tinha havido uma mudança política em Portugal. Dentro destes, a maioria simpatizava com a revolução. “Havia um elemento de inquietação”, explica José Félix Tezanos, que acrescenta: “Sabia-se que a sociedade espanhola estava a evoluir, que uma parte da sociedade espanhola, alguns meios de comunicação, olhavam para Portugal com simpatia”.
(...)
“a opinião pública espanhola, de Madrid e de Barcelona, as grandes cidades”, continuava, em outubro de 1974, cinco meses após a revolução, a ver “com simpatia esse movimento de liberdade, até com inveja”.

“Penso que havia uma inveja saudável nesse momento”, diz José Félix Tezanos, nascido em Santander em 1946 e que tem boa memória dessa época, em que muitos espanhóis, como ele, viajaram para Portugal para ver no terreno “o movimento de liberdade”...

05 maio, 2024

Ó MINHA MÃE, MINHA MÃE...

 
Estou sozinho no mar largo
Sem medo à noite cerrada
O minha mãe minha mãe
O minha mãe minha amada


José Afonso

Por vezes, da alma me sai
Falando a quem quero bem
Sou mais que teu pai
Sou quase tua mãe

Rogério Pereira

«Quem estava não tinha procurado a praia e fazia o que sempre ali se fazia, conversava. Conversava, de tudo e de nada até que, pela frequência com que passavam flores, o velho engenheiro, comentou o dia e o negócio que proporciona, dissertando pelo consumismo. Depois falámos de mães e de mulheres, de mulheres e de mães, a seguir de nossas filhas e das mães delas. Não falámos de nós a não ser por falarmos delas e percebemos quanto as admirávamos sem lhes endereçar um só adjectivo e ficando os elogios perdidos no que cada um ao outro contava. Antes de irmos, cada um à sua vida, deixámos quase sentenças:

- "Somos a mãe que tivemos", sentenciou ele.
- "Não é boa mãe quem quer, mas quem soube e o pode ser", disse, antes de me despedir.»
reeditado com pequenos acertos, de conversas antigas


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04 maio, 2024

OS MARGINALIZADOS DA VIDA CÁ DO SÍTIO, DÃO-SE BEM COMIGO


Estava eu sentado, escrevendo e fumando, quando ele se aproxima e depois de me saudar pede-me um cigarro. Fiz o que sempre faço, dou-lhe dois. Fez um sorriso rasgado em forma de agradecimento e quando se preparava para ir lancei-lhe um "Olha lá!" e depois questionei-o sobre o facto de ele andar, como sempre andava, de estojo de guitarra a tiracolo. "Tocas isso?", e sem esperar pela resposta, lancei-lhe o desafio "Ora toca lá qualquer coisa, lá da tua terra. E vou filmar-te. Mas descansa, não te filmo a cara". O que aconteceu depois de ele ter tocado o que certamente irão ouvir, deixei-o ir dando-lhe uma solidária palmadita nas costas. 

São frequentes encontros destes. A comunidade de marginalizados da vida, os sem-abrigo, são imensos. Não parecem tantos pois estão dispersos. Um deles, um cabo-verdiano, anda por aqui há anos e não consegue regularizar a sua situação. Como resultado, não consegue o que outros imigrantes vão conseguindo... nem sequer do Banco Alimentar...

O caso mais deprimente é de um outro, também meu amigo. Nem acrescento qualquer palavra, a imagem fala por si...



03 maio, 2024

TOMA LARANJINHA, TOMA LÁ, TOMA LÁ.... TOMA LARANJINHA MAS LIMÃO AINDA HÁ!


 A Minha-do-meio tinha-me convidado para almoçar e acertámos para o dia de hoje. Foi-me buscar a casa, onde ela há muito não vinha. Ficou encantada com o meu jardim, que não conhecia ao vivo e a cores e confirmou a ideia que tinha ao ver o que, em tempos, lhe dei a mostrar. Ofereci-lhe uma laranjinha, a última que restava no pomar  e, quanto a outros frutos, colheu ela uns quantos limões directamente da árvore! 

Depois de lhe mostrar algumas novidades que introduzira em casa, levou-me no seu carro até às marinas, ao restaurante preferido da família.  Aí aguardava-me outra surpresa: a Minha-mai-nova também fora convidada. E o almoço rapidamente se converteu em tertúlia, saltando a conversa de tema para tema. A encerrar a foto a assinalar momentos que seriam de total e intensa felicidade, se um telefonema inesperado não a viesse quase estragar deixando no meu rosto um ar quase sisudo. A chamada, da Câmara Municipal, foi para me informar que o despacho do vereador tinha acabado de ocorrer sendo favorável ao financiamento de três espectáculos da minha peça, só que... tais exibições não podiam ser programadas para este ano lectivo... a situação que se vive nas escolas... 

A ausência de sorriso pouco tem a ver com o adiamento da peça. A minha quase-tristeza tem muito a ver com as razões para isso mesmo.



02 maio, 2024

ABRIL, ABRIL (CANÇÕES MIL)


Quando o tempo aperta, faço recurso a trabalho feito e divulgado e vou buscar-lo. É o caso. Sem tempo para a escrita vou buscar canções que, em tempos idos, todos andámos a cantar...

01 maio, 2024

1º DE MAIO

Existem voos que espantam, outros que estimulam, outros ainda que, parecendo desafiar, nos fazem voar. 
Não me perguntem pelo óbvio, obviamente que falo disso... mas falo também do voar colectivo, da entre-ajuda, da paciência, da persistência, da capacidade de sofrimento e de alegria e, sobretudo, do saber resistir e lutar em minoria. 
Voemos!


(Hoje não consegui estar onde tanto queria. Meu corpo não deixou...)