27 setembro, 2023
26 setembro, 2023
FOI-SE A GATA E POR TROCA VEIO O MELRO... OU SERÁ QUE SE VÃO REVESANDO?
Há dois dias que a gata não aparece. Há dois dias que o melro se fica por ali... como não é possível que gato se transforme em pássaro, nem é possível que coabitem no mesmo espaço, espero que uma visita não impeça a outra e que se vão revesando...
Perdi-me então, olhando o alegre pássaro, em histórias antigas*:
"Parecia fácil a brincadeira proposta pelo menino, não fosse o ficar fatigado e ofegante pouco depois de a ter iniciado. O menino, o cão e eu, por esta ordem, corremos atrás dos pássaros. O menino ria, o rafeiro ladrava e eu arfava. O primeiro a desistir foi o pombo, que depois de andar por ali a esvoaçar rumou para o beiral do telhado e por lá ficou, sem regressar. O esquivo melro, ia e vinha chegando a ter, de nós, uma proximidade surpreendente. Parecia ter o propósito de nos distrair e entreter. A seguir ao pombo, desisti eu. Sentei-me na relva. O menino não ficou contrariado por eu ter parado e sentou-se ao meu lado, imitando-me a posição. O cão olhava-nos desafiante, talvez o mais frustrado pela brincadeira se ter ficado por ali. A mãe do menino, continuava, na esplanada, na conversa e esquecida de que o filho também a ignorava trocando a sua companhia pela minha, um desconhecido. "Eu corro muito" disse o miúdo orgulhoso do prazer lúdico do seu correr. - "Também corres atrás dos pássaros com o teu filho?"- "Já tenho filhas muito crescidas... corro e brinco é com os filhos delas, com os meus netos..." - "Então porque não estás a brincar com eles agora?" E lá expliquei que aquela era a semana, intervalada, em que o meu neto ficava com a outra avó e que os outros moravam longe." - "O meu pai também brinca muito comigo", disse o menino sem me olhar. Pressentindo que estava mentindo, desviei a conversa e apontei o melro - "Olha, já reparaste que o negro melro não se tira daqui?" E, para continuar, fiz um esforço para me lembrar do pouco que sabia sobre estas pequenas aves, "sabes que o passarito, que sempre andou por aqui e nem fugiu, deve ter definido este espaço como um espaço seu?..." O miúdo interessou-se e mais se interessou quando de seguida me levantei e olhei a árvore próxima - "Se calhar há ninho e crias por aqui...". Havia. Numa pernada da pequena árvore, sob uma densa folhagem, lá estava um ninho. Dentro, quatro crias e perto a mãe. À nossa aproximação o melro cantou um cantar enrolado, belo mas agitado, como que a dar o alarme. "Vês?" - O miúdo abanou a cabeça afirmativamente "Sim!... pega neles e leva para minha casa. Minha mãe tem lá uma gaiola, de outro pássaro que morreu..." - "Nem todos os pássaros aguentam o cativeiro, nem todos os pássaros suportam perder os filhos. Sabes? Os pais dos melros nunca abandonam os filhos, são estes que quando são mais crescidos, decidem quando vão embora?" - O menino olhou-me atentamente e, de seguida, longamente olhou a cena da mãe a dar de comer aos pequenos melros que se agitam dentro do reduzido espaço do ninho. Depois, iniciou uma corrida, direitinho à esplanada onde estava a mãe. Pensei que tinha feito um disparate e que o menino iria convencer a mãe a levar o ninho. Enganei-me. Quando ele chegou, limitou-se a abraçar a mulher e ela, surpreendida pela chegada, lhe correspondeu ao abraço, distraidamente. Ainda bem que a nossa conversa acabara desta maneira. Não saberia como contar-lhe tudo o que sei sobre melros e a natureza humana e que um dia uma boa amiga (a Janita) me contara..."
* (junho/ 2012 - lições de vida, olhando a natureza)
25 setembro, 2023
NORMALMENTE LEVANTO-ME TARDE...
OS PROMOTORES DO FAMIGERADO PROJECTO
JULGAM QUE EU SOU POUCO ESPERTO...
Levanto-me tarde... mas hoje acordei cedo e às 9h, já fora da hora de ponta, dei comigo a contar carros que saiam da Medrosa e da Estação para se fazerem à marginal...
... mas como é que aquela gente tem a lata de dizer/escrever que mais 600 fogos a preços de endinheirados não fará crescer o tráfego em carro pois tem perto o caminho de ferro?
Amanhã, vou-me levantar à hora de ponta! Pois às 9h foi assim...
24 setembro, 2023
UM CONTO AO DOMINGO - I ( o meu Vale Escuro)
Nasci no Vale Escuro
Brinquei entre latas
Pulei o alão
Andei à pedrada
Escorreguei no muro
Caí no jará
Ganhei no pião.
A jogar à bola
Perdi a sacola
Mais o que trazia
A fugir ao guarda
Que nos perseguia.
Mas que bem sabia
Faltarmos à escola!
Manuel da Fonseca, aqui
Os poetas nascem onde menos se espera e eu não esperava o poema. Ele me remete para a minha infância, para o meu Vale Escuro, ali perto da escola da minha vida, daquela de que vos falei um dia.
À saída das aulas, ou aproveitando um horário não preenchido, chegávamos e quase sempre éramos muitos, 15 ou mais, para jogar à bola. Os lideres, aqueles que há muito se destacavam ou aqueles que eram ali mesmo consentidos como tais, procediam à disputa para decidir qual deveria ser o primeiro a escolher os elementos da equipa, das duas que se iriam enfrentar.
A disputa compreendia um ritual, desde sempre seguido no Vale Escuro e que consistia em cada líder se colocar frente a frente. Cada um à sua vez, ia colocando um pé à frente do outro, calcanhar do pé direito, batendo na biqueira do esquerdo, sincopadamente, estreitando lentamente a distancia entre os dois. O primeiro que conseguisse fazer com que o seu pé não permitisse a entrada do pé adversário, tinha ganho e assim, a ele, lhe competia a primeira escolha, o vencido escolhia o segundo, e cada um ia fazendo a escolha interpoladamente. Nos grupos, cada um esperava com ansiedade a altura de ser escolhido.
Nunca eu era dos eleitos em primeiras escolhas, e raramente era dos últimos e todos eram escolhidos, pois uma regra seguida, nunca discutida (e sempre cumprida) era dar lugar a todos os que por ali aparecessem manifestando interesse em jogar. Ninguém ficava de fora. Nem os meninos, poucos, das barracas que não iam à escola, ficavam de fora.
(Conto reeditado, este foi o primeiro da série)
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