30 setembro, 2016

E a nossa memória, pá?

 Sobre o Programa de concessão a privados de um conjunto de imóveis históricos que são património cultural

Notícia em 29-09-2016 

O governo anunciou ontem a intenção de concessionar a privados trinta imóveis históricos, cujo uso se destina à actividade hoteleira e turística. Trata-se de entregar, por um período que pode ir até 50 anos, um conjunto de monumentos, património cultural decorrente da nossa história colectiva, a grupos privados para montarem o seu negócio, em detrimento da plena fruição pública. (ler tudo aqui)

Notícia em 09-05-2016

A ASSEMBLEIA DA UNIÃO DAS FREGUESIAS DE OEIRAS E S. JULIÃO DA BARRA, PAÇO DE ARCOS E CAXIAS aprova por unanimidade moção sobre o PAÇO E QUINTA REAL DE CAXIAS sob proposta apresentada pela bancada da CDU. Os termos iniciais da moção, que resultaram da visita dias antes realizada pelos eleitos CDU ao local, vieram a ser ajustados consensualizando-se o texto final a remeter à Câmara Municipal de Oeiras.
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MOÇÃO (texto integral)
PAÇO E QUINTA REAL DE CAXIAS
Tem vindo, ao longo do tempo, a população de Caxias a reclamar a recuperação da Quinta Real de Caxias e a sua abertura ao público.

Já neste mandado, a Assembleia de Freguesia, na sessão de 29 de Setembro, no período de intervenção do público tomou conhecimento, quer das preocupações suscitadas pelo estado daquele valioso património histórico, quer da denúncia da vandalização de estátuas do escultor Machado de Castro.

Em 4 de janeiro do corrente ano, o Grupo Parlamentar do “Partido Ecologista “Os Verdes” apresentou na Assembleia da República, duas perguntas relacionadas com a recuperação e destino a ser dado ao Paço Real de Caxias.

O termos da resposta, em 3 de Fevereiro, dada por Sua Excelência o Ministro da Defesa Nacional deixa-nos as maiores preocupações quanto ao destino a dar a este valioso património e importante memória histórica local.
Com efeito, perante a pergunta: “Depois de recuperado, que utilização pondera o Ministério que venha a ser dada a este edifício?”, a resposta não poderia ser mais difusa e ambígua: “A futura utilização do Paço e Quinta de Caxias dependerá do seu futuro proprietário” e embora refira que a autarquia tenha intenção de utilizar aquele espaço não dá qualquer indicação quanto a considerar tal ensejo como legitimo.

Estivemos na passada sexta-feira, dia 21 de Abril, de visita à Quinta Real e, para além de percebermos o seu estado de degradação, observámos também o trabalho e investimento realizado pela autarquia tendo registado testemunhos de que esse esforço tem sido continuado, persistente e a não ter acontecido, hoje nada restaria.
Assim, propomos que a Assembleia de Freguesia, reunida em sessão, dia 28 de Abril delibere
1. Recomendar ao Município de Oeiras que reclame a figura de interesse publico para assumir a posse e usufruto do Paço e da Quinta Real de Caxias.
2. Que a autarquia, após a reabilitação/recuperação integral daquele património histórico, o integre num projecto mais vasto e abrangente, ligando-o a outro edificado, designadamente ao Forte de S. Bruno, dando a Caxias condições de figurar no percurso dos estudiosos, dos turistas e da população em geral, como um lugar com história.
Pela CDU
Rogério Vidal Pereira
Rui Capão Andrade

29 setembro, 2016

A degradação da mensagem, as contas superiores a 50 mil euros e a tal evasão fiscal

Resultado de imagem para contas bancárias evasão fiscal

Degradação da mensagem começa frequentemente na origem, quando se sopra, se redige ou se dá a noticia pelos canais televisivos. Servem-se as noticias importantes suportadas por doutos comentadores. Não é coisa rara e a questão da necessidade da administração fiscal conhecer os saldos das contas bancárias já fez correr rios de tinta, paletes de noticiários e himalaias de comentários.
Os incautos leitores de jornais, ouvintes radiofónicos e os assistentes de telejornais entram em parafuso e correm para onde podem levantar o dinheiro a que não têm dado uso.
Poupanças. Umas irrisórias, outras, poucas, um pouco mais gordas, outras ainda superiores a 50 mil euros.
A campanha é generalizada... mas... vamos lá a ver 
 

28 setembro, 2016

25 setembro, 2016

Dos Yuppies aos Novos Bimbos Urbanos e a forma em como constrói a moda


Yuppie" é uma derivação da sigla "YUP", expressão inglesa que significa "Young Urban Profissional", ou seja, Jovem Bimbo Urbano.


Era usado, na década de 80, para referir-se a jovens profissionais entre os 20 e os 40 anos de idade, geralmente de situação financeira intermediária entre a classe média e a classe alta. Os yuppies em geral possuíam formação universitária, trabalhavam em profissões anunciadas como de futuro, bem qualificadas e seguiam as últimas tendências da moda de então.
Mas como toda a moda muda, agora entrou-se noutra:

os Novos Bimbos Urbanos. 

E como a moda não nasce de geração espontânea, a Goldman Sachs, as redes sociais e as televisões nacionais, bem servidas pelas novas tecnologias, vieram a impor outros comportamentos e aí estão os NBU.
Para conhecer estes novos bimbos pode ler (aqui) todas as modas, umas adoptadas outras impostas

Desse texto, destaco a moda mais generalizada e de certo modo herança dos yuppies. Escreve assim o autor:
Para o fim, a moda mais parva de todas. A moda das empresas que acham que ter trabalho de borla é bom. Aquelas empresas que contratam estagiários e que já sabem que não vão ficar com eles. Que sabem que eles vão dar o máximo e trazer ideias frescas para a empresa, mas que são dispensáveis a partir do momento em que tenham que lhes dar ordenado.
"Procura-se colaborador, recém-licenciado, que saiba falar cinco línguas, saiba fazer mortais encarpados à rectaguarda, saiba cozinhar comida asiática e mediterrânica, tirar cafés, com conhecimentos sólidos das ferramentas office e grande capacidade de sacrifício, de lidar com o stress e que tenha um espírito de equipa fantástico, para se juntar à nossa, já fantástica, equipa. Oportunidade imperdível para aprender e crescer profissionalmente. Salário fixo de 0€. Não é negociável."

24 setembro, 2016

Surpresas de Outono

Foto de Benvinda Neves
A surpresa veio da Teresa. Ela jura que fui eu quem escreveu isto, num comentário por mim deixado, em Setembro de 2010. Surpreendido, agradeci por ela me ter lembrado ter sido eu a produzir tal escrito. Este:
Que seria de nós sem o Outono? 

Pergunto-me em inquietas especulações 
Coitado do Vivaldi
Reduzido a 3 estações
Coitadas das árvores
onde meteriam elas 
as suas folhas amarelas?
Coitados dos poetas e pintores
privados da melancolia
do cinzento e de outras cores
Coitado de mim
sem uma estação assim.
Rogério Pereira

23 setembro, 2016

Se fosse professor, nunca o seria por paixão...

Está agendada a sessão. Vamos ver quem, da comunidade educativa, aparece. E desses, quantos terão um verdadeiro amor à Escola. Sim, amor. É que, se eu fosse professor, nunca o seria por paixão. A paixão passa, o amor não.
Depois conto!

21 setembro, 2016

Há famílias assim, onde o "conselho de família" é virtual e compromete o jantar

 

Distracção ao jantar 
O avô anda entretido sabe lá Deus com o quê
Sabe lá Deus com que se entretém
a avó e a mãe
O namorado
com a namorada ao lado
adiciona mais uma amiga
e põe-lhe um "gosto" de seguida

A mais  nova manda um sms à tia
"Que merda é esta!? Eu já comia!"

Chamam o empregado
e este anuncia com voz sentida
"já passou o prazo
está arrumada a cozinha" 
 Outras distracções

18 setembro, 2016

Antes de apagar as velas e enquanto se preparava a mesa, esteve reunido o "conselho de família"


Na quintinha em Alvega, a sensação dada seria de desolação se não soubéssemos que o calor sentido não tem permitido antecipar as culturas de outono. Assim, os campos apresentavam o que é normal apresentar: tomateiros, pimenteiros e hastes de feijão verde jazem secos a par com o restolho das outras culturas de verão. Não tarda aí trabalho, com a chegada do tempo mais frio...

Dentro da casa, em ambiente um tudo ou nada mais fresco, havia quem preparasse a mesa, enquanto os miúdos iam entretendo a espera, alterando entre eles o protagonismo da brincadeira...

Lá fora, debaixo do telheiro, a conversa continuava. 
Quando a família se reúne acontece invariavelmente que, mesmo sem agenda antecipada, a discussão se faça em volta de qualquer tema sem que no fim alguém assuma a tarefa de rascunhar uma acta. Foi o que aconteceu. Ninguém se lembra como, nem quem, começou o que eu chamo "conselho de família", mas após algumas tentativas de inicio de conversa, logo ela "pegou" em torno dos jovens e dos tempos e problemas de hoje. 
Estava a pensar escrever sobre o que foi dito, quando hoje ao abrir o jornal encontrei lá (grande parte) num resumo escrito. Transcrevo de uma entrevista em que quase me senti eu a ser o entrevistado:
Tem netos?
Tenho. Três netas.

Adolescentes?
Têm 14, 15 e 18 anos.

Vem daí essa sua preocupação?
Confio nos pais delas. E elas parecem-me ser raparigas muito bem formadas, devo dizer. Creio que têm o aconselhamento correcto por parte dos pais. Se houver raparigas a conseguir sobreviver neste ambiente sexual, julgo que serão elas. São extremamente inteligentes e muito tranquilas.


À parte o sexo, como é que vê a geração das suas netas, em termos de preparação e de curiosidade intelectual?
Em termos geracionais, todos os jovens de hoje se deparam com o problema de encontrar um emprego que esteja de acordo com as suas capacidades. A informatização reduziu a quantidade de empregos disponíveis, a economia não está brilhante e há muita gente a sair da universidade com cursos e a ter de ir para os chamados McEmpregos, o que é verdadeiramente chocante. Na minha geração, se tivéssemos um bom curso, tínhamos a certeza de encontrar um bom emprego.

quem diga que esta é primeira geração cujas perspectivas de vida são piores do que as dos pais.
Sim. Continuando, frequentemente, a viver com os pais, mesmo depois de terem estado na universidade. Chamam-lhes os “filhos boomerang”, que vão e voltam. Isso cria problemas complicados. Ainda há dias estive a ler sobre esses casos em que jovens adultos não têm dinheiro para ter uma casa própria, uma vida própria, a começar por uma vida sexual sem embaraços.
Claro que no "conselho de família" falou-se de mais coisas, mas a toada foi essa...
Quanto ao Diogo e à Maria, ando a fazer com que isto mude qualquer dia.

12 setembro, 2016

Com as aulas à porta, vamos ao que importa! - IV (fim, por que amanhã começam elas)


É verdade, amanhã, com abertura das portas das escolas esta série de textos chega ao fim. Fecho respondendo a um pedido expresso. Pedido, da "minha-mai-nova", mãe do Diogo (que me espreitou sempre): «Pai, achas que deva encaminhar aquele vídeo lá detrás para a comissão de pais lá da escola?" A resposta dada foi negativa, por isto e mais aquilo, mas sobretudo porque a Finlândia é longe e sobre os nórdicos existem mitos...
Mas não esqueci o pedido.
Filha, manda-lhes este vídeo. E se quiserem saber mais que digitem na caixa de pesquisa "José Pacheco - Escola da Ponte" que o google, célere, lhes responde:


NOTA: Não é a primeira vez que refiro este sistema de ensino. Quando o fiz, entre outros, comentaram dois amigos queridos, assim:
Há quem embirre com as utopias. O que é um pouco como achar que os sonhos são inúteis. Aí estão duas escolas em que o sonho está já transformado em vida.
Das vezes que falei deste assunto, da educação e destas duas experiências portuguesas da Voz do Operário e da Ponte, foi como tentar explicar o que é um oceano a quem só viu um charco de água. Falar deste assunto sempre foi muito complicado, excepto quando tive oportunidade de mostrar previamente alguns desses links e vídeos postados.

 Ah!... Quando o "manual" privilegiado é a Vida, os teóricos estremecem.

11 setembro, 2016

Os 11´s de Setembro e a "guerra interminável"

imagem editada aqui
Os onze de Setembro são datas para serem lembradas. Embora não pareça, uma (1973) será precursora da outra (2001). Mas a mais funesta foi outra data da qual muito pouca gente fala. Foi nessa em que começou a "guerra interminável":
«...No dia 14 [de Setembro] vão completar-se 15 anos da aprovação, no Congresso dos Estados Unidos, de uma resolução conhecida como Autorização para o Uso da Força Militar (AUMF, em inglês), que dá ao Presidente que estiver sentado na Casa Branca autoridade para “usar toda a força necessária e apropriada contra as nações, organizações ou pessoas que determinar terem planeado, autorizado, cometido ou auxiliado ataques terroristas”, assim como contra os que “abrigaram estas organizações ou pessoas”.
Sim, a AUMF ainda está em vigor e continuará a ser legal quando o sucessor de Barack Obama for eleito. Se o Presidente George W. Bush usou a resolução para bombardear o Afeganistão, declarar “guerra ao terrorismo” e ao “eixo do mal”, invadir o Iraque (houve debate e uma votação específica a autorizar a invasão, mas a AUMF – e a “guerra preventiva” – como única forma de derrotar quem conspira contra os EUA antes do país sofrer novos ataques esteve entre as justificações) e lançar drones no Iémen; Obama ainda hoje a usa para bombardear alvos na Síria, Iraque, Líbia, Somália, Afeganistão, Paquistão, Iémen, ou para mobilizar forças especiais em qualquer país...»

10 setembro, 2016

E só o Kim é que é o cromo, o louco, o paranóico e o perigoso? Cadê os outros?
























O mundo assim não se recomenda, nem tem emenda. Podia a imprensa aproveitar mais um ensaio nuclear para pôr os dedos nas feridas todas, mas não o fez.
Como não consta que Desmond Tutu seja um defensor do regime Norte Coreano socorro-me das suas palavras, não vá cair-me em cima "o Carmo e a Trindade"...
 «Não podemos tolerar um sistema de apartheid nuclear em que se considera legítimo alguns Estados possuírem armas nucleares mas evidentemente inaceitável que outros tentem obtê-las. Essa moral dupla não serve de base para a paz e segurança mundial. O TNP [ Tratado de Não Proliferação] não é uma licença para as cinco potências nucleares originais se aferrarem a essa armas nucleares indefinidamente… É claro que não se pode voltar atrás na invenção das armas nucleares, mas isso não significa que o desarmamento nuclear é um sonho impossível. Meu próprio país, a África do Sul, abriu mão de seu arsenal nuclear nos anos 90, ao perceber que estaria melhor sem essas armas. Por volta da mesma época, os novos estados independentes da Bielorrússia, Cazaquistão e Ucrânia abriram mão voluntariamente de suas armas nucleares e se juntaram ao TNP. Outros países abandonaram seus programas nucleares, reconhecendo que nada de positivo poderia sair dali. O arsenal mundial caiu de 68 mil ogivas no auge da Guerra Fria para 20 mil hoje.»
Em adenda, há quem pense que o abandono unilateral da corrida nuclear é passar a ter grande vulnerabilidade apontando, como exemplo, «o facto de que países como o Iraque e a Líbia, que suprimiram os seus programas nucleares militares à força ou voluntariamente, foram alvos de intervenções militares externas, que dificilmente ocorreriam se contassem com a deterrência nuclear.» 

ler tudo em «Um novo “Átomos para a Paz” como vetor tecnológico»
 

09 setembro, 2016

Com as aulas à porta, vamos ao que importa! - III

Ler folheto aqui
Esta medida, hoje (re)confirmada pelo Ministro, ilustra que não estaremos a anos-luz de um sistema de ensino que muitos acham inatingível. 
Sim, é possível! Desde que se resolva o que falta resolver...
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A propósito do post inicial, escrevia-me uma amiga:
«Meu querido, temos de deixar passar muito tempo até chegarmos a ter esse tipo de abordagem ao processo de ensino-aprendizagem no nosso país. Países como a Finlândia tinham zero por cento de analfabetos há cem anos - isto dá-lhe uma ideia do nosso atraso?! Nós, por aqui, ainda acreditamos que os exames é que são o motor do sucesso...»
Resposta minha: 
Minha querida, os exames de que fala já foram à vida.  Quanto à Finlândia, há cem anos atrás pertencia ao Czar da Rússia e só se tornou independente após a Revolução de Outubro e com o reconhecimento da sua independência por parte de Lenine.  O salto na educação ocorre em finais dos anos sessenta. Esta parte da História o vídeo a reporta. Boa?

08 setembro, 2016

Com as aulas à porta, vamos ao que importa! - II


Sobre o ensino, não sei se há muitos estudos em curso a juntar aos muitos já publicados. Trabalhos escusados, pois já está tudo dito, escrito e reescrito. Só falta dar atenção à razão e ter vontade política.
Quanto ao dar atenção à razão, basta ler este testemunho (e enquanto houverem professores assim a esperança num novo ensino nasce todos os dias...)
«Vivia em Castelo Branco, em 1976, e só havia duas saídas para continuar a estudar: enfermagem ou o magistério primário. Entrei para o magistério. Comecei a leccionar em 1979, fui dar Telescola numa terrinha no concelho de Santiago do Cacém. Nem os bombeiros de Santiago do Cacém sabiam como lá chegar. Não tinha estrada, nem água, nem luz, nem geradores. E por isso não tinha televisão. Não podíamos prejudicar os alunos. Demos Telescola sem televisão, com as fichas que nos enviavam (com todos os esforços lá conseguimos que aparecessem uns geradores no final do ano lectivo e inaugurámos a televisão em Junho). Depois fui para Sacavém, também para a Telescola. Era para onde iam os meninos que não eram aceites no 2.º ciclo da Portela de Sacavém.
Fui mudando de escola todos os anos e ainda não estava muito convencida em ser professora. Mas no 5.º ano de trabalho apanhei uma turma de 4.º ano, em Lisboa, e os miúdos eram espectaculares. Era um grupo misturado, de meninos de diferentes classes sociais, aprenderam tanto, tinham tanto interesse, gostei tanto de os ver aprender que decidi que ia continuar.
Sou professora há 37 anos. Alguns dos meios em que trabalhei já nem existem, felizmente, porque havia naquela altura crianças em condições deploráveis. Fizemos uma evolução muito grande.
Hoje os miúdos são diferentes, claro. Mas continuam com muita vontade de aprender. São é menos focados. Há 30 anos eram muito focados na aprendizagem académica, sabiam que aquilo lhes ia dar possibilidades de ter uma profissão. Sabiam que estudando podiam ter mobilidade social, mesmo os pequeninos sabiam isso. Hoje verifica-se que muita gente licenciada não consegue emprego, nem pôr em prática os conhecimentos que adquiriu, não consegue sair da precariedade. Sim, os meus alunos são pequeninos mas absorvem tudo à sua volta.
Acompanho as crianças do 1.º ao 4.º ano. Chegam sem saber ler, escrever ou fazer cálculos e quando saem  alguns vão com uma bagagem incrível, são capazes de argumentar, de escrever o que pensam... é  uma coisa espectacular.
Vou pegar num 1.º ano este ano. Estou muito entusiasmada! O primeiro dia em que nos encontramos com os novos alunos é sempre um dia especial. Tenho muita curiosidade. Eles chegam ansiosos. Os pais também vêm muito ansiosos. E há necessidade de tirar todas estas ansiedades.
Os alunos passam cinco horas comigo, diariamente. Já escolhi as histórias que quero que sejam essenciais para estruturar a relação da turma neste ano lectivo. Também já sei onde quero chegar até ao Natal, a planificação dos objectivos está feita. Claro que depois depende sempre do grupo. Leva tempo conhecer as crianças. E tem de se pensar de modo a que nenhuma fique para trás. O trabalho do professor é um trabalho que nunca acaba. Um professor pode estar quase a dormir, na cama, muito descansadinho, e de repente ocorre-lhe: ‘E se eu fizesse aquilo com aquele menino?’
Os pais valorizam coisas diferentes das que valorizamos. Dizem: “Trabalho muito”... mas bastam dez minutos para mostrar atenção ao que o filho faz, para valorizar o que ele faz, para saber o que ele faz. Tenho pais aqui que trabalham imensas horas e percebe-se que sabem o que se passa com os miúdos. E há pais que passam o dia em casa, e nem por isso.
Sim sentem-se outras mudanças, por exemplo: o primeiro grupo que tive nesta escola há 13 anos tinha quatro ou cinco meninas que se acompanhavam umas às outras para irem e virem da escola para casa, teriam 6 ou 7 anos. Ensinei-lhes cedo que não deviam deslocar-se sozinhas e elas andavam em grupo. Nos grupos de meninos seguintes nunca mais tive ninguém que andasse a pé. Mesmo que morem perto. Os meninos vêm de carro, com os pais. Na minha opinião isto é mau. Mas percebo que os pais digam que não deixam os miúdos andar sozinhos. Em Portugal, o espaço público não está devidamente organizado para responder às crianças — se entra um grupo de miúdos pequenos num autocarro as pessoas começam todas a reclamar, a dizer que são barulhentos e que não respeitam ninguém, e a maior parte deles não são assim...
Os meninos têm hoje conhecimentos muito limitados do meio em que vivem. Pergunto-lhes no início do ano qual é o número que está escrito na porta da casa deles; a maior parte não sabe, nem nunca reparou que havia lá um número. Há muitos miúdos que não sabem o nome próprio do pai e da mãe, muito menos o nome completo. E onde é que os avós vivem? É já ali. Onde? Em Castro Daire. Para o menino que entra no carro, adormece e acorda em Castro Daire, a casa do avô é já ali. Não há uma noção das distâncias, é sempre preciso trabalhar muito com eles os percursos e as distâncias, mesmo da zona aqui à volta onde vivem. Não andam a pé, não sabem onde se compram as coisas, onde fica a loja disto ou daquilo, mesmo o Colombo, é aqui ao lado e há alunos nesta escola que nunca lá foram. Os meninos estão muito na sua “gaiola”. Mas não se aprende tudo no iPad.
A imagem do professor? Mudou muito. Mas foi intencional, da parte da classe dirigente houve um certo discurso... É que isto envolve dinheiro, sabe?

Conseguimos um Estatuto da Carreira Docente, ao fim de muita luta, um estatuto que nos reconhecia numa profissão, que dizia que tínhamos que ser licenciados, que definia uma carreira única... e de há dez anos a esta parte, além de congelarem as progressões na carreira, o estatuto começou a ser ameaçado. Estou no último escalão da carreira desde 2004, porque fiz uma licenciatura e um mestrado, mas a partir de 2006/2007 ninguém mais subiu e há professores neste momento que têm a idade que eu tinha quando cheguei ao topo e continuam no primeiro escalão.
E tivemos um colega aqui, com mais de 40 anos, que vinha de longe e levava 900 e poucos euros para casa... Não devia acontecer.»

Um trabalho da jornalista Andreia Sanches, que daqui saúdo 

07 setembro, 2016

Com as aulas à porta, vamos ao que importa!

«As crianças merecem ter tempo para serem crianças, para brincarem, conviverem, descobrirem, merecem aprender a pensar pelas suas cabeças e serem críticos com o que lhe estão a ensinar, merecem aprender a respeitar os outros e a si próprios,  e sobretudo, merecem ser felizes!»
As palavras citadas foram escritas num espaço recomendado - "Sustentabilidade é Acção" - e são oportunas agora, a uma semana do inicio da escola.
Na foto: o Duarte, a Maria e o Diogo. Eles jogam um jogo e o Duarte explica, provavelmente, as regras de um cessar fogo, pois os exércitos estão apartados e os tanques virados para outros lados. É impossível evitar que joguem jogos de guerra, pois a violência está generalizada, na realidade e em tudo a que acessam.
Perdi há muito a ligação com os conteúdos do ensino, mas julgo que fotografei uma lição que devia ser repetida em sala de aula. Como se negoceia a paz, é um bom tema. Se não se fala disso é pena. Como começa a guerra, é outro bom tema. Pode-se até pegar numa zaragata para se fazer entender que uma guerra pode se iniciar num pequeno nada, dentro de um enquadramento mais complexo que, mais tarde, noutro programa mais avançado, poderá (poderia) ser explicado.
Partir das regras de um jogo para o ensino poderia (poderá) ser o caminho. Pegar na sala de aula e despejá-la no recreio podia ser o mesmo caminho, em sentido inverso. Pôr a brincadeira no centro seria (será) de bom-senso.
É o que parece acontecer num um ensino centrado na criança, num país avançado...

06 setembro, 2016

A Festa, o poder imenso da Imprensa e a surpresa de Pacheco Pereira

Foto de Eduardo Baptista
«O crime em si é já uma imperfeição. Esta tirada filosófica, vem a propósito, e uma vez mais, da censura canalha da RTP1 paga por todos nós.
4 de setembro de 2016. Recuperei o início do jornal da manhã e, às seis e meia (6.30 da manhã) tive a grata surpresa de ver uma peça muito correta sobre a ‘Festa do Avante’. Com a ingenuidade natural a quem está sempre disposto a acreditar na regeneração de gente menos sã, exclamei para os que me rodeavam: Já não era sem tempo!
No noticiário das nove dessa mesma manhã a notícia tinha sido castrada e a ‘peça’ insossa e reduzida aos banais vinte e poucos segundos.»
José Pacheco Pereira, aqui
Só pode ser ironia do acima citado pois se há quem saiba, até à medula, as teias que a nossa imprensa tece, esse é ele.
Por ventura não é o único a ter tal saber. Hoje sabe-se que os media terão a sua própria agenda. Quanto ao poder que detém, ele pode fazer eleger um presidente ou até fazê-lo destituir. Esconder a Festa é pois tão só e apenas a forma de ir adiando o ponto em que usará todo o poder de que dispõe. Por enquanto basta ir omitindo, manipulando.

O vídeo abaixo não trata a realidade nacional, mas quem diz que haja diferença nos processos? 

05 setembro, 2016

Entre os discursos de Jerónimo e de Joseph escolha... (embora no essencial digam a mesma coisa)


Do discurso de Jerónimo de Sousa, ontem, na Atalaia:
«Duas ameaças – a que resulta da insidiosa acção dos partidos do revanchismo, PSD e CDS, apostados que estão desestabilização do País a todo o custo, a pensar no seu rápido regresso ao poder e a ameaça que se desenvolve a partir da União Europeia com o mesmo objectivo de fazer implodir qualquer solução que ponha em causa a orientação da política dominante.
E a ilusão, tão perigosa quanto as ameaças, de que é possível avançar de forma decidida na solução dos problemas de fundo do País com simples ajustamentos ao modelo imposto pelo processo de integração capitalista da União Europeia e sem o libertar das amarras da política que o conduziu à crise e à ruína.
As opções do PS e a sua assumida atitude de não romper com os constrangimentos externos – sejam as imposições da União Europeia, a submissão ao Euro ou a renegociação da dívida - seja a não ruptura com os interesses do capital monopolista, são um grave bloqueio à resposta aos problemas do País. Mas também uma forma de favorecer as forças que querem impor o regresso ao passado e continuar a levar o País pelo caminho da crise e ao declínio. »
Da entrevista do Nobel de Economia, hoje, à Antena 1:
«Acho que é cada vez mais claro que ficar [no euro] é mais custoso ficar do que sair. A ideia de ficar tem sido defendida com base na esperança de que haverá uma posição mais suave na Alemanha, que as políticas de austeridade prescritas pelos alemães vão funcionar, mesmo que a teoria económica e até o FMI mostrem claramente que a austeridade nunca irá funcionar! Mas o que acontece é o oposto do que os visionários criadores do euro esperaram: esperaram que o euro levaria a prosperidade, logo a solidariedade política. Mas o que está realmente a acontecer é que o euro levou a estagnação, a uma falta de solidariedade e discriminações.»
Quanto à Festa?
Não há mesmo outra como esta!



01 setembro, 2016

Amanhã... até do outro lado do Atlântico sabem do que estou falando


Quando, por esta mesma altura do ano, eu escrevia sobre uma Festa passada ("E se vivêssemos nessa harmonia? Sei que muita gente não gostaria... e é pena!") alguém que muito estimo vem-me comentar esse texto. Dizia ela assim:
«Sei exactamente o que descreve. É bom sentir-se assim. Vou te contar um caso. Quando meu filho começou a estudar na escola onde está até hoje, há uma moça que vende pães caseiros. Ela deixa os pães sobre a mesa. Vc passa, pegava o pão e deixa o dinheiro. Se vc não tiver dinheiro, pode levar o pão e pagar depois. Ela não fica ali. Deixa apenas o pão e nunca é roubada. Só por isso já me apaixonei por essa escola.»
 Obrigado Malu Machado, tal escola é uma representação da nossa, um país como deve ser. E será!