31 agosto, 2018

Não, não se passa nada... só estou a fazer a mala

Um estudo da "Lusa" dizia em Julho:
"Férias dos portugueses são na praia e custam cerca de 700 euros" 
Enquanto outro estudo não chega, parto. Uma semanita p´ra ficar dentro do gasto. É que, depois das jornadas na Atalaia, fica bem um pouco de praia e depois volto, para entrar ao serviço...

Para onde vou? Já aqui disse:
"A praia onde minha primeira filha disse a primeira palavra, a segunda teve a primeira doença e a terceira fez como a primeira. A praia onde os meus quatro netos, com diferenças de quinze anos, foram por lá passando. Ano a ano, fazendo crescer os talheres na mesa, diferentemente posta num qualquer quintal, debaixo de tantas árvores conhecidas, mas sempre diferentes..." 
E o que mais gosto nessa praia? Das pedras. 


29 agosto, 2018

Brincando, brincando... até quando?


O cartoon descobri-o agora que ele foi embora. Foi mas volta. Descobri-o num sítio que frequento e que recomendo. O bem apanhado boneco mostra dois garotos brincando.
E a pergunta é: até quando?

A próxima etapa da brincadeira irá ter data marcada, como de seguida se dá conta:
«A conferência de líderes deverá reunir na próxima semana com o objectivo de discutir um requerimento do CDS-PP que pretende antecipar a reunião da Comissão Permanente da Assembleia da República.

O partido de Cristas quer debater a situação da ferrovia e surfar na crista da onda do descontentamento contra o funcionamento da CP, uma empresa pública que anda nas bocas do mundo pelos piores motivos: o mau serviço serviço prestado que, perigosamente, tende a tornar-se uma imagem de marca. Por outro lado, o CDS-PP procura também tirar partido das dificuldades de vária ordem que assolam o PSD.

Voltando à CP, nomeadamente aos cortes nos horários dos comboios e ao encerramento de estações e bilheteiras, importa sublinhar que, só nos últimos 30 anos, e estamos a falar de 30 mas podíamos falar dos últimos 40, a responsabilidade da gestão desta empresa pública esteve entregue, em 80% daquele período a gestores do PSD, PS e CDS-PP e, desses, 60% são da responsabilidade dos partidos da direita.

É público que a despesa operacional da CP está em queda desde 2009, em resultado sobretudo das medidas impostas pelo segundo governo de José Sócrates e pelo governo do PSD e do CDS-PP que se lhe seguiu.
Aliás, as comissões de trabalhadores das várias empresas do sector ainda recentemente denunciaram, num documento enviado à Assembleia da Republica, o crónico desinvestimento na ferrovia e a consequente degradação da capacidade de manutenção e reparação e da própria infra-estrutura.

No caso do material circulante, dão como exemplo o facto de as composições da Linha de Cascais terem 60 anos sem que estejam a ser feitas as necessárias diligências para a sua substituição.
Pena que esta súbita preocupação com a ferrovia que atormenta o CDS-PP não se tenha dado no início da década quando Assunção Cristas e Adolfo Mesquita Nunes estavam no governo e o seu correligionário, Manuel Queiró, era presidente da CP.

Porventura, teriam contribuído para evitar o descarrilamento da empresa, coisa que não fizeram!»

28 agosto, 2018

"Quinta das Palmeiras" ou a ironia de manter o nome II


Em tempos, escreveu a Maria João um poema sobre o(s) anacronismo(s). Eu citei-o no meu espaço e falei do bicho devastador  em resposta ao comentário da Olívia .
Dizia ela, a Olívia: Ficou bem pior sem as palmeiras. A doença do escaravelho ou a incúria das autarquias? Ou uma coisa e outra... 
Resposta minha: Em Oeiras, Olívia, há centenas de cientistas Por cá, a menos de 500 metros o Instituto Gulbenkian de Ciência, o Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB)e o INIAVE, Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, se apostassem nisto, "era uma palhinha"... Adeus escaravelho resistente... Adeus Rhynchophorus ferrugineus... Adeus Picudo Rojo... Assim, adeus Palmeiras.
 Depois de anteriores lamentos (ou poéticos protestos)... 

DUAS DÉCIMAS ÀS MINHAS/NOSSAS PALMEIRAS
Copas viçosas, erguidas
Quais cascatas verdejantes,
São hoje tristes gigantes,
Sem copas, palmas caídas,
Agonizando despidas,
Meros troncos vacilantes
Lembrando os tempos distantes
Em que, abrigando outras vidas,
Alegravam avenidas
Dando sombra aos caminhantes.


E, afinal... havendo cura,
Não sendo um caso perdido,
Porque haverão decidido
Dar-lhes sentença tão dura?
Sua morte prematura,
Será crime a ser punido,
Pois não faz qualquer sentido,
Nem vai trazer-nos fartura
E que imensa desventura
Ver-se um bairro assim... despido!


Maria João Brito de Sousa – 20.12.2014
a Poeta voltou ontem à carga com outro veemente lamento (ou poético protesto)
AS QUATRO TORRES DA ALAMEDA

Adeus, minha alameda sem palmeiras
Onde tanto edifício vi nascer...
Adeus, adeus, que o tempo é de beber
As ondas do meu Tejo sem fronteiras.

Assombrando o meu prédio, sobranceiras,
Erguem-se quatro torres. Que fazer
Se desde a prima-pedra as vi crescer
Até se me tornarem companheiras?

Adeus, pedras pisadas, repisadas,
E mais que desgastadas por meus pés.
Agora estais-me vós a ser pesadas,

Porque já vos não piso e estou rés-vés
Com a terra onde fostes calcetadas
Em chão roubado à concha das marés.

Maria João Brito de Sousa -17.07.2018

26 agosto, 2018

AVANTE!

Para quem pensa que a FESTA cai do céu...

«Mas isto não é fácil!», isto dito em pouco mais de um minuto.
Aqui pode assistir a tudo...

25 agosto, 2018

Junte "O Lado Oculto" à sua leitura obrigatória

http://oladooculto.com é o endereço do novo semanário digital de informação internacional que irá dar informação que mais ninguém dá. Será (já é) um “Antídoto para a propaganda global”

É mesmo isso que um colectivo de jornalistas seniores de muitas nacionalidades fará: trazer-vos, uma informação alternativa à desinformação dominante.  Já lá está online o Número 0

Nessa edição experimental estão igualmente disponíveis as informações para proceder à assinatura.

A partir de agora “O Lado Oculto” está nas nossas mãos!

23 agosto, 2018

No Panteão? O Zeca? Nem na FESTA!

José Afonso, Festa do Avante 12/7/1980
«O nosso José Afonso foi sempre um Homem livre.
No panteão não seria.
Haja respeito pela sua vontade. Divulgue-se a sua obra.»
MAR ARÁVEL, aqui
Ao meu querido camarada respondi de forma precipitada que agora corrijo, assim: 
Zeca nem na Festa terá o seu  panteão!
O mesmo não direi da sua obra. Na FESTA, onde ele sempre foi um não-ausente, será mais uma vez lembrado na sua liberdade com a dignidade com que se celebra a obra de um homem inteiro. 
Será na sexta-feira, sê-lo-á no sábado e no domingo, um pouco por todo o lado!

Meu Sangue Mouro, Meu Coração Luso e Minha Alma Celta, gostam desta

Sábado, 8

21 agosto, 2018

Centeno, a verdadeira alface do Lidl


Centeno, como presidente do Eurogrupo, diz que a Grécia chegou à normalidade, num seu (nada) surpreendente discurso.
Como Ministro das Finanças de Portugal, país que antes da Grécia chegou  àquela mesma normalidade, terá feito o que pode para atrair investimento alemão. Não sabemos se teve papel relevante a traçar o retrato das "vantagens competitivas", se terá falado da permissividade quanto a se poder atropelar os Planos Directores Municipais para os devidos licenciamentos, se terá dissertado sobre a prática encapotada de uso de trabalho precário, sobre a recém-aprovada lei do trabalho...

Uma coisa é certa, vem aí, em força, o Lidl...
E o pequeno comércio que se lixe...

20 agosto, 2018

Explicação para a fiabilidade de uma relacção

Cinquenta e dois? Ah, pois!

«...faço profundas reflexões em torno das atracções entre almas. Nos meus laboratórios das almas e da física tenho pesquisado e encontrado o mesmo tipo de resultado: Almas de sinal diferente é que se atraem. Um, sem muito procurar, encontra no outro coisas de espantar. A surpresa e o pequeno segredo revelado são de mútuo agrado. O que uma alma não faz, faz a outra e vice-versa. Completam-se. A atracção é permanente e a relação duradoira, pela vida fora. Discutem, discutem, discutem. Quase sempre não há acordo mas aceitam-se um ao outro (respeitam-se, sendo o respeito uma regra básica e exterior à própria física das almas)»
Escrito em Abril de 2011 e repetido, não há muito, neste espaço

19 agosto, 2018

AVANTE, e a influência da FESTA


Alice quer saber quando actua o Sérgio Godinho e de pronto fico eu comprometido. A foto é minha e, por estar ali, de pronto assumo. Percorro a Atalaia e impressiona a jornada. Alheios ao calor abrasador ou sob a sombra amiga, centenas de militantes desdobram-se em mil e uma tarefas. 

Há pouco, após cumprido o assumido, passo em revista o portal da FESTA e mais demoradamente o "Programa" e não deixo de pensar no tanto que o Partido contribuiu para influenciar o panorama cultural do País e de como, a partir da primeira edição em 1976, começaram a proliferar os Festivais de Verão... 

Só para citar alguns: o Rock in Rio foi o primeiro a arrancar, em 1985. Veio depois o Super Bock Super Rock, realizado desde 1995. Dois anos depois, em 1997, nasceu o Festival da Zambujeira do Mar. O Noz Alive, apareceu, então com outro nome, em 2007. Não foi em 2013 que O Sol da Caparica deu pela primeira vez à costa, como aqui se diz, foi um ano depois, como aqui se prova… 
(texto actualizado dia 20, às 16h00)

18 agosto, 2018

A Poeta, a coluna dela, a gata, a bengala. A sua alma (ou a força dela)


O corpo feito num caco. Um colete a abraça-lo. "É minha coluna, Rogério". A gata afaga-me o braço. Roí-me o sapato. Com a bengala, ela enxota-a. Comentamos a magreza do seu RSI. Deixo-lhe um sobrescrito e um sorriso. Ela dá-me um braçado de poemas. Digo-lhe que começo por aquele que ela publicou aquando falava eu da força da língua portuguesa e ela da sua perda de visão. "Faz como achares melhor!..." Disse-me.
E eu assim fiz:
VELADA VISTA, VEDA-ME A VISÃO
Velada vista, veda-me a visão.
Vagas vogais vou vendo vagamente.
Voejam, vertem, vagam... voarão
Vigas e várzeas, verdadeiramente?

Vejo verde/vermelho. Vejo em vão?
Vestígios, viscos, velas e videntes...
Víboras voam vindas do vulcão,
Vermes vomitam vergonhosamente.

Vou vendo, vou... vi vadiar o Verão,
Voluptuoso, válido varão...
Vê-lo-ei vicejar vibrantemente?

Viçoso o vi dos vidros das varandas;
Vivas vergônteas, velhas, venerandas,
Viraram vultos. Verga-se-me o ventre.

À saída, já à porta, pedi-lhe que me fizesse uma pequena nota. E ela assim fez:
«A poesia experimental, no nosso país, parece-me ter explorado mais o campo visual do que o sonoro, embora me seja ainda difícil dar-te uma opinião muito segura sobre este assunto. É muito longo o tempo que me separa do que aprendi sobre ela na minha primeira juventude e muito, muito curto o tempo de aprendizagem mais recente, constantemente interrompido por compulsões criativas, pela demorada execução das minhas necessidades básicas do dia a dia e por algumas leituras noutras áreas do conhecimento.

Resumindo; o tempo voa-me tão mais depressa quão menos os olhos vêem e o corpo se consegue movimentar.

De qualquer forma, estes meus sonetos que exploram os sons consonânticos e também os vocálicos, visam muito mais uma experimentação sonora/auditiva do que visual, sendo que a pauta do soneto entra no experimentalismo sem fazer a menor cedência à composição melódica do soneto.

Quase todos os que compus, até agora, são em decassílabo heróico, com excepção deste (...)

Esse, publico depois...

17 agosto, 2018

Desse jeito, Lula será eleito

«Na data de hoje (17/08/2018) o Comité de Direitos Humanos da ONU acolheu pedido liminar que formulamos na condição de advogados do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 25/07/2018, juntamente com Geoffrey Robertson QC, e determinou ao Estado Brasileiro que “tome todas as medidas necessárias para que para permitir que o autor [Lula] desfrute e exercite seus direitos políticos da prisão como candidato nas eleições presidenciais de 2018, incluindo acesso apropriado à imprensa e a membros de seu partido politico” e, também, para “não impedir que o autor [Lula] concorra nas eleições presidenciais de 2018 até que todos os recursos pendentes de revisão contra sua condenação sejam completados em um procedimento justo e que a condenação seja final” (tradução livre).

A decisão reconhece a existência de violação ao art. 25 do Pacto de Direitos Civis da ONU e a ocorrência de danos irreparáveis a Lula na tentativa de impedi-lo de concorrer nas eleições presidenciais ou de negar-lhe acesso irrestrito à imprensa ou a membros de sua coligação política durante a campanha.

Por meio do Decreto Legislativo nº 311/2009 o Brasil incorporou ao ordenamento jurídico pátrio o Protocolo Facultativo que reconhece a jurisdição do Comitê de Direitos Humanos da ONU e a obrigatoriedade de suas decisões.

Diante dessa nova decisão, nenhum órgão do Estado Brasileiro poderá apresentar qualquer obstáculo para que o ex-Presidente Lula possa concorrer nas eleições presidenciais de 2018 até a existência de decisão transitada em julgado em um processo justo, assim como será necessário franquear a ele acesso irrestrito à imprensa e aos membros de sua coligação política durante a campanha.

Valeska Teixeira Zanin Martins
Cristiano Zanin Martins»
A notícia, retirada do "Conversa Afiada" e à qual alguma imprensa já fez referência, irá pôr ordem na anárquica e manipulada justiça brasileira ou, se não, irá acentuar a tendência para a subida da popularidade da candidatura de Lula.
Desse jeito, Lula será eleito... 

Pesquisa realizada pelo Ipespe entre 13 e 15 de agosto, por telefone, com 1 mil pessoas. A margem de erro é de 3,2 pontos percentuais para cima ou para baixo. O nível de abrangência é nacional. O nível de confiança é 95,45%. O registro no TSE é BR-02075/2018

16 agosto, 2018

Aretha, e o que eu penso ser a verdadeira perda


Vai-se dizendo por aí que se perdeu uma diva, que partiu a rainha da soul. Rainha e diva. Perdeu-se, isso sim, uma mulher de causas. Perdeu-se, sobretudo, o voltar a ter um dueto assim...

15 agosto, 2018

Serviço Militar Obrigatório, a outra face da mesma questão!

Diz o meu Partido
«A política de Defesa Nacional e as Forças Armadas mantém as amarras ao projecto de militarização da UE e aos interesses estratégicos da NATO, subalternizando a missão constitucional das Forças Armadas, de defesa da soberania e da independência nacionais, privilegiando as missões internacionais e de participação em forças multinacionais, num processo em que o aumento da nossa inserção e participação externa aumenta o nível de degradação das capacidades e condições no plano nacional, nomeadamente ao nível do pessoal, do armamento e equipamento, e da resultante operacional.
No fundo, trata-se de uma inversão de prioridades, em que as necessidades de financiamento decorrentes do envolvimento externo do País e das Forças Armadas têm prioridade face à necessidade de investimento na capacidade militar nacional, ao nível dos meios humanos e materiais, para o exercício da soberania em todo o território nacional.»

14 agosto, 2018

Serviço Militar Obrigatório? Só o PCP? Vejamos porquê!


Nos últimos tempos, o ministro da Defesa, Azeredo Lopes, segundo li aqui, tem lançado para debate uma possível reintrodução do serviço militar obrigatório (SMO), mas nenhum partido com assento parlamentar parece estar disposto a apoiar a iniciativa – a não ser o PCP. Vejamos porquê:
Miguel Tiago* - Por vezes não se trata de escolher o que julgamos perfeito. O que está em causa não é "queremos smo ou nada militar nem obrigatório", o que está em causa é se queremos smo ou um regime de "voluntariado" pago. O que está em causa é se queremos que a tarefa de defesa nacional seja de todos ou se queremos que seja apenas uma tarefa dos que, por falta de opções ou por vocação, escolheram a via militar.
Queremos que pobres, ricos, rapazes, raparigas, brancos e pretos tenham a tarefa ou preferimos deixar a guerra para os pobres que procuraram emprego nas ffaa ou para os que sentem vocação militar? Eu quero que as ffaa sejam o povo. Não mercenários com vocação nem pobres sem opção.
O único caminho para a desmilitarização é pôr as armas na mão do povo. Exigir forças armadas profissionais, mercenárias ou similares, é abdicar do direito à defesa e do direito à revolta. Se o 25A tivesse sido tentado num contexto de serviço militar pago e profissionalizado, não apenas não teríamos as ffaa na vanguarda como as teríamos tido a matar o povo que se rebelou.
*retirado do FaceBook

13 agosto, 2018

Há quem pense que a FESTA cai do céu...

Domingo. Pela manhã, antes da hora aprazada, paro no sítio onde costumo, para beber um cafezinho e peço, a pessoa amiga, para me sentar.  Os cumprimentos do costume e depois, entre um sorvo e outro, falamos do tempo e de mais algo de que não me lembro, até que interrompo.
- "Desculpe lá, mas tenho de ir!"
- "Já?"
- "Sim, vou até à Atalaia!"
- "Mas a Festa não é só lá para Setembro!"
- "É se a formos, jornada a jornada, construindo!
Vi-lhe espelhada no rosto a surpresa, não por eu ir, mas por a FESTA não cair do céu...


"Rogério, estás enganado!
A serralharia mecânica é ali ao lado "

12 agosto, 2018

Um conto ao Domingo - XXI ("UMA NOVA HUMANIDADE")



 O primeiro sintoma – Levantou-se mais cedo de que era seu costume e sentiu-se como há muito não se sentia, sem contudo se dar bem conta de como de facto era o seu sentir. 
Lavou-se, barbeou-se e, como sempre, encaminhou-se para a cozinha onde preparou o frugal pequeno-almoço. Bebeu a caneca de leite olhando através da janela. Deu um primeiro olhar em volta e depois um outro, detendo-se em todos os pormenores do que se avistava dela: a praceta, os logradouros, o carro do vizinho da frente que saía, a rua transversal onde o trânsito ainda era raro. 
Fixou-se nos pombos que sempre por ali esvoaçavam e depois no Tejo, ao fundo. Encheu os pulmões do ar fresco da manhã. Ia estar um maravilhoso dia de fins de Junho, pensou. Bebeu o resto do leite e foi-se vestir. 
A mãe, que se cruzou com ele no corredor, deu-lhe o sorriso matinal, “tão cedo?”, comentou como quem cumprimenta. Respondeu com uma piada a que ele próprio achou graça e sorriu, por dois motivos, pela própria graça dita e como resposta ao cumprimento. Poucos minutos depois saía. 
No caminho cruzou-se com o vizinho, que vivia no terceiro andar do prédio ao lado do seu. Cumprimentou-o sorridente com “bom dia, passou bem” que nunca antes acontecera, em tantos anos de vizinhança indiferente. Mal pronunciou um “Bom dia, tudo bem?” e continuou o caminho com destino à esplanada, onde contava ler o jornal e planear como preencher o dia. 
Ao passar junto ao logradouro, o da palmeira grande, no canteiro que lhe desenhava o limite com o empedrado, deu-se conta daquilo que, se antes existia, lhe passara totalmente despercebido. As plantas, não muitas, mas todas as que havia e que rodeavam os agapantos roxos e brancos, apresentavam hastes novas e viçosas. Hastes novas, viçosas e de cores diferenciadas das hastes velhas ou se não velhas, das que já existiam antes destas e que pareciam ser rebentos novos. Novos e estranhamente mais belos. Pareciam enxertos a partir dos quais a planta primitiva deixaria ser o que até ali tinha sido. Calhando a natureza era assim que procedia sempre que qualquer planta crescia. Ele é que estaria diferente e hoje, por qualquer inexplicável razão, é que de tal se dera conta. Curvou-se e estendendo a mão, partiu uma das hastes novas. A seiva projetou-se como se dentro dela uma força inusitada a expelisse em jorro. Estranhou, sem ter a certeza de ter razão em estranhar.
Tirou um cigarro e prosseguiu, esquecendo aquele pequeno reparo mas culpando-se de nunca reparar nas coisas belas e de nem sempre saber desfrutar delas. Ia a meio do seu primeiro cigarro e sentiu-se ligeiramente agoniado como se o seu organismo pela primeira vez, em já muitos anos de vício, invertesse o sentido do apelo, quase exigência, de tão longa dependência. Deitou fora o meio cigarro, pensado que lhe saberia melhor o que fumaria depois de bebido o café. 
Entrou no centro comercial e comprou o jornal. Desceu ao piso de baixo, onde ficava a cafetaria e no balcão, fez o cumprimento habitual e o habitual pedido: “Pago dois e levo um”. A empregada, mil vezes o ouvira pedir assim o seu primeiro café, antecipando o pagamento de outro que beberia cerca de uma hora depois, mas comentava sempre aquilo que considerava ser um pedido com espírito engraçado. Saiu com a chávena na mão. A saída naquele piso dava acesso a uma pequena esplanada. Pousou o café e o jornal e sentou-se no seu canto. Antes mesmo de passar os olhos pelos títulos do dia, tomou a decisão de passar à procura mais ativa de emprego. Desacreditara que o envio do curriculum poderia dar qualquer resultado prático. Nem bebeu o costumado segundo café, que ficara pago, fez-se à vida. Tudo indicava que aquele dia ia ser diferente, e foi com essa certeza que dali partiu

Mais sintomas – Contrariamente ao sentimento que nela se tinha instalado, de medo e insegurança, naquela manhã sentia-se diferente. Não, não era o retorno da confiança nem o instalar de qualquer ideia nova quanto ao futuro. Não sabia explicar. Não havia razões para ter outro sentimento do que aquele que há mais de um mês a tomara. Da sede já tinham chegado ordens para antecipar o fecho dos projetos de investigação em curso, e os dois estagiários tinham sido já dispensados e cortadas as bolsas para financiar mais ocupações de recém-licenciados.
Tinha falado com o namorado há minutos e ambos tinham comentado esse bem-estar inexplicável. “Vem da alma”, disse ele e ambos riram. Tinham em comum a certeza de que compete às almas tarefas menores na procura da sobrevivência do corpo, entregue às vicissitudes de um tempo pouco favorável ao que todos designam por futuro. Combinaram encontrarem-se ao fim da tarde e desligaram com a brincadeira do costume: “Desliga tu”, “Não, tu primeiro”, para de seguida desligarem ambos ao mesmo tempo.  
De momento estava a redigir o parecer da instituição sobre o último relatório referindo alterações quanto às previsões do aumento de mais uns centímetros do nível da água do mar. Fazia-o com o desagrado de quem pratica uma rotina que nada tem a ver com trabalho científico. Até os jornais do dia já referiam, em antecipação, a notícia sobre aquilo a que pomposamente chamavam parecer. Importante seria, isso sim, dar continuidade aos estudos de impacto sobre os ecossistemas marítimos e sobre a fauna costeira, quer do aumento desse nível, quer em consequência do aquecimento dos mares.
A Marília, funcionária administrativa, veio interromper-lhe os pensamentos e o trabalho. “Doutora, o professor pede, para quando puder, passar lá no gabinete”. Não tinha mais dúvidas, era chegada a temida mas esperada altura. Por educação e espírito metódico tinha aprendido e desenvolvido a espontaneidade de associar às observações sistemáticas de uma tendência os efeitos inevitáveis sobre a forma de consequência: o professor iria anunciar-lhe que o seu trabalho ali tinha terminado. Que iria deixar de ter verba para poder ser continuado. 
Alisou o cabelo com ambas as mãos. Tinha o consolo daquele inexplicável bem-estar interior e quis colocar na apresentação alguns retoques para que o seu parecer estivesse ao nível do seu sentir. Ensaiou algumas palavras de circunstância e que seriam de manifestar compreensão. Rejeitou liminarmente a ideia, que chegou a passar-lhe pela mente, de se insurgir contra a atual situação. De resto não saberia exatamente que palavras usar nesse cenário de reação.
“Posso?”, perguntou ao entrar no amplo gabinete do professor. “Senta-te aí, e espera só um pouco.” Sentou-se e esperou, procurando não pensar em nada. Não pensado não corria o risco de se afastar do discurso de resignação que tinha preparado. Enquanto esperava olhou em redor para perceber a possível origem daquele odor ligeiramente florado, embora ténue, que sentira até mesmo antes de entrar. O professor não usava flores no gabinete e nem tinha por hábito usar qualquer perfume. Suspendeu a procura percebendo que o professor a olhava fixamente.
O ar dele era carregado, a testa ligeiramente franzida e enquanto reconduzia os óculos à posição certa, num tique comum a todos os que usam óculos, iniciou a conversa com uma voz pouco condizente com o seu ar sério, pois era como se estivesse na sala de aula, a transmitir em tom didático uma teoria. “Doutora, temos aqui matéria de elevada preocupação”. Pareceram-lhe aquelas palavras um tanto deslocadas para iniciar o discurso esperado, mas admitia que o professor estaria a passar, tal como ela, por uma experiência nova e que, para ele também dolorosa, carecia de rodeios. 
“Desde ontem que estão a chegar, por via diplomática e com classificação de reservado, relatórios que têm origem em vários centros da comunidade científica.” 
Estendeu-lhe uma pasta “Tem tudo aí, leia e prepare-se para uma reunião que está a ser coordenada pelo Porto, mas que se vai realizar aqui com gente de todo o lado. A ministra da tutela já está inteirada e virá assistir ao final da reunião para participar nas conclusões. Os diretores das diferentes instituições e centros estão já a trabalhar sobre esta mesma informação” à medida que o professor ia falando as feições iam-se descontraindo como se aquela simples transmissão lhe aliviasse a tensão provocada pelo segredo que estava a ser partilhado. 
O mesmo se passava com ela que, à medida que o ia ouvindo, se iam dissipando os receios para no lugar deles se instalar a curiosidade e a perceção de estar perante questão de grande gravidade: “E de que se trata, professor?”, “Todos esses documentos, oriundos das mais diversas partes do mundo, referem baixas impressionantes na salinidade da água do mar. Há dados, como os do golfo de Omã, onde a água é praticamente a de um rio… e nem uma única espécie marinha a ser atingida a ponto de essa alteração lhe causar a morte. Há no meio dessa papelada relatórios de especialistas de biologia genética e biologistas moleculares que dão conta de mudanças inexplicáveis em todas as espécies analisadas. Por enquanto apenas foram detetadas modificações morfológicas visíveis em dois pontos muito distantes, um no Chile outro na África do Sul… a comunidade piscatória desses países ainda não reagiu e a imprensa até há duas horas atrás não sabia de nada.” 
Interrompeu e olhou o relógio para depois propor “Vá doutora, já passa um pouco das 11, se achar bem mandamos vir alguma coisa para comer e ficamos por aqui. Acha que 2 horas lhe bastam para ler tudo isso e falarmos de seguida? “ A resposta foi um sorriso, ambos sabiam bem quanto gostavam, uma e outro, trabalhar sob pressão…

Como se fosse a primeira noite – Ele e ela encontraram-se à nova hora aprazada, depois de ela lhe ter ligado a dizer que iria chegar só à hora do jantar e que jantariam no mesmo restaurante onde dois anos antes o fizeram juntos pela primeira vez. Durante a espera do que escolheram para comer e durante o tempo em que comiam não falaram de outra coisa para além do que tinha mudado as suas vidas. Ela falou, vagamente, do projeto e da reunião convocada de emergência. Ele falou, sem detalhes, do conteúdo do seu novo trabalho. Falaram deles e dos planos de vida que imaginaram passar a poder ter. Saíram da cidade. 
Para onde foram prolongaram a noite, trocando gestos de afetos, alongando beijos e caricias até os corpos se darem uma e outra vez, sob o olhar conivente das flores cujas pétalas se ruborizavam contrastando com as cores daquele leito de erva refrescada pela brisa da noite e pelo humos de uma terra que se agitava, ela também, sob a volúpia dos amantes. Amaram-se como se fosse a sua primeira noite.  

Três meses depois – A médica ia dando pequenas instruções e olhava atentamente o monitor por onde ia seguindo os pequenos movimentos do feto, sempre que premia a barriga. Parecia não estar tudo bem mas como não conseguia interpretar o que via, para além do que considerava normal, comentou “está aqui um rapagão” e ia pensando se iria recomendar ou não a antecipação da próxima ecografia.
Ele olhava embevecido ora o rosto dela ora o monitor, onde se percebia que a médica ia fazendo pequenas operações e registos. Depois fez uma impressão cuidada e guardou o máximo de imagens em arquivo, muito para além do recomendado pela direção clínica.
Passou receita de exames ao sangue, sem explicar o motivo, nem ser questionada por isso e despediu-se entregando as receitas, papeis e a cópia da ecografia. “Daqui a um mês, quero voltar a vê-la.” O casal olhava com o olhar com que olham os casais que tomam a consciência de irem ser pais. As mãos entrelaçaram-se e saíram conversando, felizes e se questionando sobre o nome a dar ao menino. Fechada a porta, a médica mandou avisar que não estava em condições de ver as duas grávidas que aguardavam a consulta, alegando razões da sua própria saúde. Passados curtos minutos entrou no gabinete a diretora clínica, que entretanto chamara. “Então, que se passa?”, “Veja isto, é de uma parturiente com 11 semanas e meia e que acaba de sair…” Passaram as duas a ver, repetida e demoradamente a sequência de imagens sem chegar a qualquer conclusão. “Parece normal e nesta primeira “eco” nem sempre, para todos os casos, é possível ter a mesma nitidez”. A doutora apenas questionava: “Mas os olhos? Os olhos?” A resposta obtida manteve-se inconclusiva.

Quatro meses depois – As notícias sucediam-se vertiginosamente. A cada novo alarme ou simples referência a mais um fenómeno inexplicável, correspondiam quase sempre notícias credíveis e tranquilizadoras asseguradas por instituições competentes e oficiais que sustentavam não estar em risco a saúde pública, nem os equilíbrios ecológicos e outros. Nem sequer havia a registar que a extinção de elementos considerados fundamentais não tivessem sido substituídos por outros, alternativos, para a sustentabilidade dos sistemas necessários à vida. Foi assim com a mudança radical ocorrida nos mares, em que se contavam apenas alguns raros locais onde subsistia a água salgada. A maior parte de todos os oceanos passara a ser constituída por água doce sem que as espécies marinhas, peixes, crustáceos, bivalves, algas e corais não se tivessem adaptado com a mesma rapidez com que a mutação evoluía.
Em todo o mundo a comunidade científica mantinha-se em atividade, 24 horas por dia, e em ligação permanente, com milhares de fóruns ocorrendo em simultâneo, na sua maior parte com recurso à vídeo-conferência. Se dias antes o mundo científico tinha sido abalado pela confirmação de estarem a aparecer diariamente mais elementos químicos antes não conhecidos e em risco de conflituar com a lógica da tabela de Mendeleev, vinha agora a União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC) dar conta de se estar a encontrar uma nova harmonia para todos os elementos da natureza. Sobre o que se passava com a cadeia alimentar tinha a Organização Mundial de Saúde dado extensa lista de alimentos que podiam ser consumidos apesar de se verificar a existência, em todos eles, de mudanças em consequência da deteção de novos ingredientes na sua composição organológica.
Em anexo, informava estarem em curso investigações aturadas sobre a composição da estranha erva rasteira, semelhante a beldroegas, e que começara há cerca de dois meses a aparecer em certas zonas de diferentes desertos, dos existentes em todos os continentes. Os primeiros testes, uns conduzidos por cientistas, outros resultantes da observação posterior às consequências de comportamentos incontrolados de animais e populações locais que ingeriam aquela estranha erva, apontavam para a quase certa possibilidade de, sem qualquer risco, poder ser comestível sem qualquer efeito de toxicidade ou outro, adverso. Parecia, e cada nova descoberta confirmava o que parecia, que um ser sobrenatural corrigia a natureza. Dando-lhe um odor, um dispor e novos equilíbrios no mundo. Em poucos meses a água deixou de ser um bem escasso, o ar passou a revitalizar os organismos e a alimentar sem reservas todos os seres vivos, passou a haver sustento onde a mingua há muito se instalara.
Tudo isto, ele ia pensando, passando ao lado da notícia do dia: “As reservas de petróleo na Arábia Saudita foram consideradas ineptas para todo e qualquer uso. O rei saudita, contudo, resiste em autorizar a paragem dos trabalhos de extração, esperando que um milagre altere esta nova realidade. Entretanto os países da OPEP reuniram de emergência, para analisar a situação. ”

Sete meses depois – Ela ainda não tinha chegado. Solicitada a todo o momento e porque a gravidez evoluía sem quase se dar conta que portava no ventre um novo ser, ela aceitava todas as pequenas e grandes tarefas, desde as de laboratório às de discussão ou divulgação dos processos de investigação dos projetos que liderava. Ele, para encurtar a espera, ligou a televisão num canal de cabo, para as últimas notícias. Parte das que iam dando não lhes ligava e o pensamento ia-se dispersando por outras coisas. Não lhe saía do sentido a consulta de semanas atrás nem a imagem a três dimensões da última ecografia do filho, dos comentários e recomendações da equipa clinica e dos relatórios que lhe tinham apresentado…
Para desviar a atenção desses pensamentos esforçou-se por recordar os impactos dos últimos acontecimentos e a desordem que ia pelo mundo: o colapso do sistema financeiro, a suspensão de toda a atividade bolsista em todas as praças e as primeiras reações dos governos dos países ricos, céleres a imputar a responsabilidade de alterações tão profundas a nível planetário associando-as a atos terroristas e ao pretenso uso de armas químicas. Lembrou como tais explicações se voltaram contra os países que as deram, pois o mundo assim se encaminhava para ser perfeito.
Suspendeu os pensamentos para fixar a atenção numa reportagem: grandes nomes de reputados políticos, grandes empresários, banqueiros e titulares de grandes fortunas, mais de cem personalidades conhecidas por pertencerem ao Clube Bilderberg, permaneciam reunidos pelo quinto dia consecutivo. Os donos do mundo não sabiam que fazer dele.

Nove meses depois - Entraram no hospital sob escolta e elevado número de agentes afastavam a multidão de repórteres de agências internacionais, jornais e cadeias de televisão de todo o mundo. Lisboa tinha atraído mais de dois milhões de pessoas não sabendo elas próprias ao que iam.
Estava acordado com todas as autoridades, que nada passaria para o exterior. Até a conferência de imprensa da equipa médica não estava confirmada. Dentro do hospital universitário, na ala que tinha sido a escolhida para o esperado parto, tudo parecia seguir um guião pré-estabelecido dada a certeza e calma com que os preparativos decorriam. Não fossem as quatro câmaras de filmar e os múltiplos cabos espalhados e tudo estaria como costumava estar uma sala de partos. Nos dois anfiteatros, situados no piso inferior, repletos de médicos e outros especialistas, conversava-se em várias línguas, como se sussurrassem orações a um deus que todos consideravam ter reconhecido que se enganara ao ter produzido o primitivo universo. Outros, poucos, davam-lhe o protagonismo dos milagres ocorridos, depois de terem inicialmente apontado que o que estava a acontecer ao mundo era obra do diabo. Sustentaram essa ideia até se perceber que as profundas e radicais mutações vinham em auxílio da humanidade e de novos equilíbrios no mundo.
Ela, que sempre fora bela, tinha, na serenidade do rosto, confirmada essa beleza que a gravidez acentuara. Ele segurava-lhe a mão com o carinho de sempre. O chefe da equipa clínica veio avisá-los que tinham mais uns minutos e depois teria início o parto, a que ele não podia assistir. Quase em simultâneo, os altifalantes dos dois anfiteatros faziam o mesmo aviso. Assim, poucos minutos decorridos, era-lhe aplicada a epidural e uma ténue sedação. O protocolo dos procedimentos cirúrgicos da cesariana foi seguido meticulosamente pela equipa experiente. O que ia acontecer era, de todos, conhecido. Naquele momento, para aquela equipa não se tratava de enfrentar surpresas mas de usufruírem o privilégio de serem os primeiros a contactar com um novo ser. Um ser diferente de toda a gente. O primeiro de uma geração que deixaria para trás a forma conhecida até então como normal.
O bebé chorou, mas os olhitos pequenos pestanudos e bem desenhados permaneciam fechados. Pela primeira vez aconteceria que quando eles se abrissem para o mundo, o mundo se espantaria por estar a ver assim: Dois olhos iguais aos demais e, dentro de cada um, duas pupilas brilhantes e pequeninas, para alcançarem mais do que se lhe quisesse mostrar.

Um ano depois - Dos mais de 17 milhões de nascimentos registados, nem um só registava os olhos como os tinham os pais dos novos nascidos. Estudo realizado dava a evidência científica, podendo-se ler no relatório distribuído à imprensa: «Das duas pupilas dos novos seres, a mais pequenina, apresenta uma espécie de nervo óptico que liga o olho ao coração. Assim, é provável que estejamos em presença de uma nova humanidade, e esta possa estar mais apetrechada para lidar com adversidade ou até a anular. Só nos resta esperar».
Ele e ela sorriram orgulhosos, tinham sido os primeiros pais de um Novo Mundo

______________________ 
Nota final - Na versão original publicada o conto não termina exactamente assim, alterei depois de ter lido isto

11 agosto, 2018

Lula e o cavalo de pau à beira do precipício

Por cá, 4 273 748 de concidadãos não sabem quem foram os candidatos às últimas legislativas, ou melhor, nem quiseram saber. Serão muitos mais os que não sabem quem são os candidatos nas próximas eleições no Brasil, ou melhor, nem querem saber. Por lá, grassa a confusão semeada. Por cá semeia-se a omissão, o que vai dar no mesmo. Há diferenças entre lá e cá? Há! Mas não tantas. Assim, não se despreze o que se passa lá, para perceber (um pouco) o que por cá se irá passar. É que a realidade é outra, mas os processos são idênticos...

Então, vamos lá ao que lá se passa:

Debate na Band foi para calar Ciro e Lula

«O Debate foi na Band: ou seja, não terá a menor importância.
A Band e seus três (sic) jornalistas conseguiram esconder o Lula e o Ciro.
Até as 23h27, Ciro só apareceu três vezes.
Depois disso, quando nem o Fernando Mitre estava acordado, o Ciro apareceu mais sete.
Lula foi citado uma única vez.
Um cabo patriota e o patético embotoxado Alvaro Dias apareceram mais.
Alckmin Golpista e Centrista repetiu a ladainha neolibelês e defendeu com aquela ênfase de chá de erva-cidreira a abolição da Lei Áurea, com a "reforma trabalhista".
A Bláblárina blablarinou.
Ler no "Conversa Afiada
Não percebeu nada? Então veja o vídeo talvez fique a perceber um bocadinho

10 agosto, 2018

Última hora: Bruce Springsteen vai estar na Atalaia!

Acabo de confirmar, vai lá estar. Isso mesmo, o Bruce estará na Atalaia. A "The E Street Band" vai estar em formato "Bug". E se não gosta de amaricanices, pode-se alentejanar...até a Festa acabar!

09 agosto, 2018

Construíndo a Festa (aquela que não há outra como esta)

DOMINGO, BORA LÁ

Continua a haver
mil coisas que podes fazer
Se não podes subir escadotes, transportar tubos ou paletes
podes fazer coisas leves
separar parafusos das porcas
escolher cavilhas direitas, separando-as das tortas
regar a relva ou as flores
se lá fores


Podes ainda, se és capaz
Limpar fogões,
esquentadores e outros aparelhos de gás
Podes cravar anilhas em panos
Tudo isto, são coisas de fazer todos os anos

Aos 73, como já nada posso
serei fotógrafo

Se também não podes fazer nada disso
Participa no convívio
Pois isso
também é preciso
Bora lá, e traz um amigo
É já no próximo domingo

08 agosto, 2018

Os comboios e a já longa viagem para a privatização

O PSD responsabilizou o Governo pelo estado 
de “falência operacional” da CP.
(...) Em declarações à Lusa, o deputado 
social-democrata Carlos Silva sustentou que 
“o Governo deve uma explicação aos portugueses"
Esquece  o PSD que é todo o "Centrão"
que deve tal explicação


O rápido Oeiras-Cais do Sodré 
( Publicado em Abril de 2014 )

Naquele dia, mal ela sabia, decidira ir de comboio. Apesar da distancia se vencer em menos de meia hora, deu para tudo: olhar a paisagem, fixar-se nos rostos tristes e fechados dos passageiros apinhados e dar uma leitura, rápida, no jornal gratuito pejado de anúncios e parco de assuntos. Ia concentrada em pensamentos, quando o andamento da composição se tornou mais e mais vagaroso, lento, muito lento, até parar. E porque no inicio do dia todos os minutos são contados, começaram os suspiros e de seguida os comentários: "passámos a pagar mais, perdemos regalias e o serviço piora"; "o material está gasto e não é mantido"; "há tempos, houve um descarrilamento e só não aconteceu o pior, sabe lá Deus como..." E as conversas iam evoluindo conforme o prejuízo sentido e o conhecimento que cada um tinha da realidade da linha: "Esta degradação tem a ver com a privatização"; "vai acontecer aqui o que se passa com o comboios que atravessam o Tejo: operador privado, preço dobrado". 
Ela, de si para si dizia, lamentando-se, porque raio se tinha lembrado de naquele dia não ter levado o carro. Olhou o relógio. Tinha tempo. De trás de si uma voz, que se tinha mantido calada, fez-se ouvir sobrepondo-se a todas as outras: 

«É preciso levar tudo à penúria para que o investimento estrangeiro apareça e seja querido. Não sabem que vão ser gastos milhões e milhões na ferrovia? E vejam: precisamos de renovar carril  ou meter novo, anos depois de a Siderurgia Nacional fechar. Não faz mal, vem de fora; precisamos de renovar carruagens e adquirir mais material de transporte de pessoal e de carga, anos depois da Sorefame e da Metalsines fechar. Não faz mal, mandamos vir de fora; precisamos de substituir rodados e adquirir outros, anos depois de fecharem as principais fundições. Não faz mal, mandamos vir de fora. Há uns anos, não muitos, a incorporação de componentes nacionais num projecto ferroviário tinha um impacto extraordinário. E hoje? Fala o governo que a ferrovia é um projecto estratégico para a economia... Para a economia de quem?»

Ficou tudo calado. Ela encheu-se de energia e repetiu a pergunta. Não foi pelo facto de o comboio ter retomado a marcha que a pergunta ficou sem resposta...

TGV ou o que o Expresso não Vê 
(Publicado em Janeiro de 2010)

As omissões, outra forma de avinagrar temas

Jorge Fiel, jornalista do DN, assina hoje uma crónica cujo título me dispenso de aqui reproduzir. Do que ele aí escreve quero apenas sublinhar a passagem onde ele diz "Como todos os mentirosos incompetentes, desenvolvi uma técnica de protecção que consiste em usar a omissão da verdade como sucedâneo da mentira". Tenho-o debaixo de olho para o fazer ingressar no meu rol de testemunhas de que, de facto, existe uma imprensa golpista. Ainda não é desta. Ele afirma que é um “mentiroso incompetente”. Falemos das omissões do Expresso, onde os mentirosos me parecem mais competentes.

As omissões do Expresso de 7 de Novembro de 2009

O título do artigo “100 Mil empregos Criados até 2013”, publicado no suplemento Economia (pág. 3) destacava a importância do TGV pelo volume de emprego criado. Contudo, não associava esse volume à incorporação nacional que o projecto potencia. O autor artigo omite qualquer referência a essa incorporação. Isto é, se forem 100 mil empregos, quantas as empresas nacionais se garantem como empregadoras? Dos custos incorridos pelo projecto quais as estimativas para a parte retida na economia nacional?
O autor, que omite que o projecto pode ser entendido como o desenvolvimento do cluster de Alta Velocidade (ver estudo da Refer ), também não discorre sobre as exigências dos concursos para serem asseguradas as estimativas para a incorporação nacional que os futuros Cadernos de Encargos deveriam salvaguardar.

As omissões do Expresso de 21 de Novembro de 2009

Trata-se de uma entrevista a Ângelo Ramalho, presidente da Alstom Portugal que o suplemento Economia titulou “A estratégia para Portugal é investir em massa cinzenta”. É um texto editado poucos dias depois (12 de Novembro) a se ter publicado, no site da Agência Financeira, uma boa notícia. Diz o título dessa notícia: “Alstom cria rede nacional de empresas para concorrer ao TGV”, o subtítulo é “Fornecedores da indústria ferroviária juntam-se” e a notícia termina “A iniciativa, que conta com o apoio da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), vai reunir cerca de 50 empresas e instituições, como a Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário (EMEF) e a EFACEC, segundo um comunicado da Alstom Portugal”.

Regresso à leitura do Expresso, e percorro todo o texto da entrevista dada por Ângelo Ramalho, presidente da Alstom Portugal ao suplemento, na expectativa de encontrar desenvolvimentos da notícia anterior e… nada, népia, zero.

Fui-me ao Google pesquisar. Encontrei vários sites fazendo referência à iniciativa da Alstom. Encontrei até o texto do Press Release e encontrei ainda um fórum de discussão no Comboios.org. Aqui é mais explicita a ideia da Alstom, transcrevo: “Apesar da iniciativa ter um âmbito local, a Alstom pretende que os seus resultados venham a ter um cariz internacional, de modo a que as soluções apresentadas pelas empresas portuguesas possam um dia vir a integrar os produtos e soluções ferroviárias da Alstom. «Esta é uma forma de dinamizarmos a indústria nacional», revelou Ângelo Ramalho, adiantando que «a integração de parceiros nacionais nas nossas ofertas» é uma componente bastante importante nas políticas empresariais da Alstom.”Voltei novamente ao texto da notícia do Expresso e a mesma pessoa responde desta maneira à pergunta”Qual vai ser a vossa presença na Alta Velocidade em Portugal” Resposta: “Temos competência para…bla… bla…bla”. É que o gajo não disse nada. Ou melhor, disse. Disse que ainda é cedo para pensar nisso (Alta Velocidade).
Nessa altura tirei uma conclusão: Um bom jornalista (bom para o PiG) não deve questionar uma multinacional sobre o porquê desta silenciar o que noticiou dias antes. A bota não bate com a perdigota, de facto existem razões para pensar que a Alstom tenha alterado o eixo do seu discurso: Vejamos, ainda que especulativamente, possíveis razões:
1. O presidente da Alstom poderá ter fortes sintomas da doença de Alzheimer e por isso esqueceu tudo o que tinha dito e feito antes
2. O presidente levou um puxão de orelhas da casa-mãe por ter antecipado a estratégia;
3. Sendo uma multinacional, as estratégias mudam. Ponto final;
4. A estratégia não mudou, só que os cadernos de encargos não incluem cláusulas de exigência de garantias para a incorporação nacional e, sendo assim, não vale a pena oferecer algo que não será valorizado nos futuros concursos.
As omissões do Expresso online de 12 de Dezembro
Com esta data, existem vários textos sobre o TGV mas detenho-me no título “ Ernâni Lopes: TGV não deve arrancar no quadro actual”. Este senhor argumenta "Quanto ao TGV, devo dizer que não consigo explicar dentro da minha cabeça uma opção para arrancar no futuro próximo. (...) Essa ideia de que as obras públicas são o sustentáculo da vida política portuguesa, eu não a aceito. As obras públicas são obras para efeitos públicos. Pagas pelos contribuintes ainda por cima. Temos de ter respeito por isso"…

O jornal regista isto e cala-se. Omite-se a ele próprio como tem vindo a fazer ao longo do tempo. Quanto a mim, agora que se aproxima a discussão do Orçamento, as omissões vão continuar. Omissões que são uma forma de mentira. Lembro a crónica do Jorge Fiel.

07 agosto, 2018

Monchique, os fogos e os incentivos aos pirómanos


A imagem acima é de um pinheiro, não de um eucalipto. Apesar do jornal desviar a atenção quanto à actuação dos "pirómanos" que viabilizam a plantação massiva de tal rastilho, escolho a imagem pois ela não dá o espectáculo das chamas. Mostrar fogos, incentiva pirómanos.

Mas o texto, que acompanha a imagem, não dando propriamente um incentivo, dá uma segurança aos "loucos semeadores de fogos". Sob o título "Crimes de fogo posto quase não dão cadeia" a jornalista deixa justificada e subliminar recomendação para segura actuação: «Quase todos (97%) os inquéritos abertos pelo crime de incêndio florestal acabam arquivados. (...)  A dificuldade em chegar à autoria dos fogos e o facto de os incendiários atuarem sozinhos são algumas das razões que, segundo a Polícia Judiciária (PJ), explicam o número elevado de arquivamentos.»

Por isso, se quer atear um fogo, segundo a jornalista, actue sozinho e procure um sítio esconso. A recomendação é de Setembro do ano passado, e está a ser agora usado.

Sobre sítios esconsos a SIC exemplifica numa zona ainda poupada,  a Serra da Arrábida. E filma «sítios recônditos insuscetíveis de serem atingidos por viaturas de bombeiros».

Cito um texto que, além de denunciar  a SIC, aponta Rui Rio como instigador de incendiários. Não admira que a esta hora, militantes do PSD procurem tochas, rastilhos, mechas, drones e paraquedas... É preciso que o país arda e o Governo caia. 

E mais, alguém sabia muito antecipadamente que iria chegar a vez de Monchique... 

05 agosto, 2018

Um conto ao Domingo - XX ("Construíndo a visão")

Se Brecht fosse vivo
faria deste conto um teatrinho


Parte I (15.Jan.2013)

- Que está a pensar com esse olhar tão fixo?
- Espero que a abelha saia dali e me liberte o material para eu poder pensar no que está a acontecer...
- Não percebo!, diga-me isso de outra maneira para que eu possa perceber!
- Estou à espera de poder usar o arame e reconstruir este momento que estamos vivendo...
- Com o arame constrói o pensamento para poder ter a visão do momento?... Olhe, a abelha já voou... Não se importa de eu ficar a ver como constrói a realidade trabalhando o arame?
- Fique. Veja só: pega-se assim, firmemente. Depois vai-se fazendo um pequeno arco, lentamente... mas com força. Repete-se o procedimento e surge aqui à frente outro arco quase igual. Repete-se, e assim sucessivamente, vamos desenvolvendo ciclos e ciclos com o arame...
- Faz muita força de dedos nessa manipulação?
- Neste ponto, já não... e é isso mesmo o que queria perceber... ao principio, para fazer cada ciclo, foi preciso, agora o próprio arame vai-se pondo a jeito... parece estar viciado e isso favorece a forma que lhe vou dando...
- Percebo! A partir de um dado momento os ciclos desenvolvem-se com o vício da forma inicial que foi dando...
- Isso mesmo! O arame, depois de bem manipulado, quase que automaticamente assume a forma pretendida... é uma espiral... parece uma mola, só que não impulsiona nada. Fica como a vê aqui, parada.
- Olhe, está-se a acabar o arame!...
- Vou passar a fazer círculos de diâmetro mais reduzido. Acho que chegámos ao ponto em que estamos agora...
- Mas... está a voltar atrás?
- Passámos os ciclos viciosos e, à falta de arame... digamos que temos que voltar atrás e reduzir os ciclos que tinham sido maiores. Passo a fazer ciclos recessivos... e, à frente, a fazer ciclos mais reduzidos...
- ...que vão parar?
- Quando não houver mais arame!
- O fim está à vista... foi excelente este exercício! Mas como é que saímos disto?
- Neste momento vamos a tempo... É sair destes ciclos e endireitar o arame... mas com o vício...
- Com o vício?... 
- Só à martelada!
- Acho que é uma boa solução. Procuremos o martelo, então.
(saíram os dois, procurando o martelo)

Parte II (17.Jan.2013)

- Olhe ela voltou!, mas pousou neste outro lado... vai esperar que ela vá embora e voltar a trabalhar no arame?
- Trabalhar no arame naquele momento foi uma decisão errada. Uma metáfora para resultar tem que ser bem trabalhada e usar-se nela o material adequado...
- Escolher o arame foi uma opção errada?
- Não!, errado foi ter metido lá o martelo... em vez de se ter entendido que ele era usado para desfazer os círculos viciosos, todos leram que o que era preciso era desatar à martelada...
-  Os sinais dos tempos sobrepõem-se às intenções edificantes... então e agora?... noto que está a olhar para o belo insecto com o mesmo olhar fixo...
- Estou a tentar discernir se o insecto é abelha ou vespa... Há uma grande confusão à vista desarmada... o que mais se parece com uma vespa é uma abelha, o que mais se parece com uma abelha é uma vespa...
- Tem razão, eu próprio as confundo. Dizem das abelhas que são trabalhadoras e calmas e que as vespas são carnívoras e bravas...
- As abelhas têm uma organização social invejável mas vulnerável... as vespas atacam as abelhas, invadem-lhes os favos e devoram-lhes as larvas. As vespas maiores, mais vorazes, até as comem... 
- Não sabia... agora reconheço a importância de ficar aqui a olhar... mas... como vamos perceber a diferença?
- Primeiro olhamos para reter a imagem, a forma das patas, o abdómen, o tórax... Depois aproximamo-nos. Se nos atacarem, são vespas..
- Aproximemo-nos então!... Olhe, voou e pousou naquela flor...
- Era abelha!
- Era abelha! Podemos recapitular o observado ainda agora?
- Não consigo, tenho um problema de memória...
- E eu de observação... estamos então condenados à confusão... a só perceber quando nos vierem morder...
- Nem mais! O nosso drama é continuarmos sem memória!
- E de observação! Há um vespeiro reunido e muitos ainda julgam tratar-se de uma colmeia!!!
(Saem como se tivessem receio de estarem a ser escutados)

 Parte III (18.Jan.2013)

Os Zzzz´s próprios dos vespeiros eram inteiros e os olhares dos vespas se perdiam pela ornamentação dourada da bela sala, olhando as abóbadas do tecto, como que a inquirir a resposta: "e como fazer, sem que as abelhas acordem e se revoltem?Do lado direito, da fila primeira, logo da primeira cadeira, se levantou um vespa. Levava na mão uma pen que inseriu para mostrar um vídeo para ilustrar a palestra. Elevando a voz para que fosse ouvido de modo entendido, disse antes das imagens passarem: 
"Evitemos esta imagem voraz. Evitemos mostrar o que não deve ser mostrado, como hoje soubemos não deixar escutar o que foi dito. Alimente-mo-nos das abelhas de forma menos evasiva, mais...persuasiva. Não esqueçam que temos a vantagem de sermos confundidos e tomados por salvadores e amigos... de estar a cumprir um desígnio...  de este sacrifício ser um imperativo e desse imperativo ter um único sentido: o do extermínio!"
 (findo o vídeo, o orador foi muito aplaudido e depois disso os vespas foram saindo)

Parte IV (22.Jan.2013)


- Ferreira Fernandes, internacionalizou-te a metáfora depois de te ler até aqui. Escreveu que para a Europa não há vespas más...
- Não acredito que ele o tenha escrito...
- Escreveu, escreveu, e acho que até espreitou o teu vídeo, e falou na voracidade consentida... e com a mordacidade que lhe é conhecida, titulou a sua crónica assim "Não há vespas más"...
- E não disse mais nada? Não falou nos enganos dos eleitores que votam nas vespas que se fazem passar por abelhas?
- Não, disso ele não falou! O que ele descreveu foi a técnica dos japões em defender as colmeias do ataque das vespas... e da displicência dos cientistas franceses...
- Tens a certeza que o Ferreira Fernandes não escreveu mesmo nada?, nem sequer coisa insinuada?
- Nada, internacionalizou-te a metáfora e com algum sentido! Acho até que lhe devias estar agradecido...
- Agradecido?, se ao menos ele denunciasse a metamorfose que por aí tem andado e que agora requer ainda maior cuidado... 
- Metamorfose? Estás a falar de quê?
- Das "abelhespas", abelhas que deixaram de o ser sem que sejam vespas. Falam como se fossem abelhas mas procedem como as vespas!
- E são vorazes?
- Sim, também, mas disfarçam bem... 
- Ah!
(saem do palco, conversando, sem que se oiça o que dizem)
Parte V (16.Fev.2018)

O favo era amplo, largo. No centro uma mesa igual a tantas existentes no ninho-colmeia, que também pode ser considerado vespeiro. Pousados frente a frente dois abelhespas sorriam-se reciprocamente perante o ar neutro de um outro indistinto insecto. Pareciam ambos pacíficos até deixarem de o ser e a cada um o sorriso desaparecer. Sobre os golpes desferidos não importa a descrição sendo certo e sabido que um vai ser comido.
Começou a voragem dos abelhespas por eles próprios.
Cá fora, ouvem-se comentários das abelhas: "Que se devorem uns aos outros. Será a salvação da colmeia."

CAI O PANO