30 abril, 2012
29 abril, 2012
Homilias dominicais (citando Saramago) - 80
HOMILIA DE HOJE
"Tive um sonho aos sete ou oito anos, que consigo recordar como o sonhos mais belo de toda a minha vida. Era um riacho, uma corrente de água, muito transparente, muito límpida; no fundo, umas pedrinhas pequenas, muito brancas; de um lado, numa margem, um campo, um campo de erva; do outro lado, outro campo de erva; e, ao fundo, bosques. Eu, nu, dentro de água, corria em direcção à fonte. Era uma viagem linda. Gostaria de voltar a sonhá-lo..."
José Saramago (retirado daqui)
28 abril, 2012
Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de livraria - Jorge Luís Borges (2)
Enquanto investigo o que as escolas de hoje andam fazendo, reedito o que há muito foi escrito... É tão bom ter quem nos leia e nos induza os livros e os seus sentidos...
Tinha 11 anos e passava as minhas férias na pequena quintinha dos meus avós, lá na margem esquerda do Tejo. Foram férias de alvoroço diferente. Não subi a nenhuma árvore, não nadei no tanque de rega, não apanhei lagartixas nem corri atrás dos gansos. A ansiedade fazia-me distrair da bicharada e do calor, naquele verão que antecipou o meu ingresso numa nova etapa escolar. Minha avó deu conta. “Que estás aqui a fazer? Vai brincar. Vá!” . Dever-me-á ter dito isso ou algo parecido. Não me lembro bem.
Recordo mais o meu avô, contando-me histórias sem fim. Rosário de contos, bem ligados e onde, fazendo ora de narrador ora de figurante, passava dos ambiente soltos e de riso para os mais densos e medonhos com monstros do fim do mundo a serem vencidos pelos destemidos navegadores. Isto entre duas quadras ou algo que rimava. Só mais tarde identifiquei algumas daquelas narrativas e poemas. Foi nesse ano que meu avô me deu a conhecer Suassuna, Mark Twain, António Aleixo, Fernando Pessoa, Gil Vicente e até Camões, sem disso me dar conta. Passei o resto das férias entremeando os meus tempos de atenção ao meu avô com tentativas de imaginar mostrengos e padres Cíceros e outros personagens daqueles mundos para onde ele sabiamente me transportava.
Um dia minha mãe me dissera: “Sabes, o avozinho era muito considerado lá na aldeia. Todos o respeitavam. O professor procurava-o sempre, levavam tempos e tempos na conversa em passeios quase diários…” À distancia dos anos, acho que aquelas férias reforçaram o meu afecto àquele meu velho e prepararam-me para a escola. Compreendi que poderia confiar em todos os professores pois eles também sabiam as histórias que o meu avô contava...
Recordo mais o meu avô, contando-me histórias sem fim. Rosário de contos, bem ligados e onde, fazendo ora de narrador ora de figurante, passava dos ambiente soltos e de riso para os mais densos e medonhos com monstros do fim do mundo a serem vencidos pelos destemidos navegadores. Isto entre duas quadras ou algo que rimava. Só mais tarde identifiquei algumas daquelas narrativas e poemas. Foi nesse ano que meu avô me deu a conhecer Suassuna, Mark Twain, António Aleixo, Fernando Pessoa, Gil Vicente e até Camões, sem disso me dar conta. Passei o resto das férias entremeando os meus tempos de atenção ao meu avô com tentativas de imaginar mostrengos e padres Cíceros e outros personagens daqueles mundos para onde ele sabiamente me transportava.
Um dia minha mãe me dissera: “Sabes, o avozinho era muito considerado lá na aldeia. Todos o respeitavam. O professor procurava-o sempre, levavam tempos e tempos na conversa em passeios quase diários…” À distancia dos anos, acho que aquelas férias reforçaram o meu afecto àquele meu velho e prepararam-me para a escola. Compreendi que poderia confiar em todos os professores pois eles também sabiam as histórias que o meu avô contava...
Foi assim que semanas depois entrei na Nuno Gonçalves, na esperança dos meus novos professores me irem explicar algumas coisas que eu, para não quebrar o encanto da narrativa, nunca cheguei a perguntar ao meu avô.
Hoje, e depois dos comentários de ontem, dedico este post aos professores que cumprem tão nobre missão. Aos outros, não.
Hoje, e depois dos comentários de ontem, dedico este post aos professores que cumprem tão nobre missão. Aos outros, não.
27 abril, 2012
Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de livraria - Jorge Luís Borges (1)
Isto não são livros: São trechos e passagens de livros, destinados a divulgar a obra, o autor
e outras coisas que os professores consideraram ser de interesse maior.
Mas será que nossos netos e filhos se apaixonarão
pelos livros, se lhes derem bocados dos ditos? Isto faz-me lembrar as antigas "cábulas"...
Hoje vou-me meter, mais uma vez, numa "camisa de onze varas" falando de coisas que mal conheço e sobre as quais não reúno outra informação que não seja o (quase generalizado) insucesso de pôr, as crianças e jovens, a ler livros. Tenho impressões, o que à partida não será suficiente para retirar conclusões acertadas.
A primeira impressão é que Bill Gates só foi parcialmente escutado quando disse "Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever - inclusive a sua própria história." A parte em que o milionário foi escutado foi, certamente, a relativa aos computadores, pois estou certo que (quase) todos os terão ou a eles acedem mais ou menos fácilmente. Quanto a livros? Que casa portuguesa os terá, daqueles que valem a pena serem lidos? A primeira conclusão para explicar o insucesso quanto à criação de amor à leitura é que a leitura não é coisa amada pelos adultos e, assim, é muito mais difícil fazer com que tal aconteça com os miúdos.
A segunda impressão é que a escola, tendo esse objectivo, se espalha ao comprido. Mas nesta impressão, para ser mais rigoroso, vou tentar saber o que se passa. Vou fazer trabalho de casa. Depois virei dar conta das conclusões que tirei... Se, entretanto, quiserem ajudar...
26 abril, 2012
25 abril, 2012
Esta é a madrugada que eu esperava / O dia inicial inteiro e limpo / Onde emergimos da noite e do silêncio / E livres habitamos a substância do tempo (Sophia de Mello Breyner Andresen)
... hoje, no 38º aniversário do 25 de Abril de 1974... reproduzir é criar!
--------------------------------- ------------------ Surripiado de "A Nossa Candeia"
--------------------------------- ------------------ Surripiado de "A Nossa Candeia"
24 abril, 2012
Desculpa, não é minha a culpa...
Tens razão
Desculpa
Desculpa
Desculpa
Tem paciência
por esta longa ausência,
embora não seja minha
a culpa
É este miúdo aqui ao lado,
pedindo pão
É esta sofrida canção
É aquele vizinho,
que o perdeu o emprego
e mo diz em segredo
É esta, outra mulher,
que está chorando
porque é reduzida
a renda que lhe vão pagando
É aquela flor que perdeu a cor
É a ave que se perdeu da árvore
É o sol que se esconde sabe lá Deus onde
É a Primavera
que se enganou na data de regressar
e demora a chegar
É a lama, cheia de gente
que nela entrou de repente
É o senhor de pasta e gravata
que arrota e quer mais
Não sei para me onde virar
tenho muito que fazer
para meu cravo defender...
Tens razão
Desculpa
Desculpa
Desculpa,
embora não seja minha
a culpa
Deixado num comentário à Gisa (revisto)
23 abril, 2012
Ainda o papel do intelectuais...
Pensando bem, não se sabe quem faz propaganda a quê e a quem
Num comentário a um dos últimos posts, um amigo escrevia algo que merece o realce que hoje lhe dou:
"Que eu saiba os intelectuais nunca fizeram uma revolução (1). Podem, quando muito, através da análise, aperceber-se das razões por que ela não é feita. Outros nem isso fazem. Limitam-se a louvar a pinga (e a publicidade pinga sempre, dado que há um "mercado" de publicidade) que o Pingo Doce lhes oferece. Não vou citar nomes, por escusado. Estando vivos fisicamente, e gostando da pingoleta (palavra muito expressiva, utilizada por Camilo Castelo Branco no “Amor de Perdição” a propósito de uma freira…) morreram ideologicamente inebriados antes da morte física de Saramago, que continua a "viver" para muitos de nós. Mas basta de chorar sobre os intelectuais, sejam escritores ou não. Choremos sobre nós. Consignar unicamente aos intelectuais o dever de elucidar pode esconder várias coisas, entre elas o complexo de o não ser, o medo de errar na apreciação, a falta da prática. Pensar a realidade é o dever de todo e qualquer cidadão. Mas há muitas maneiras de pensar. Desde seguir acriticamente todos os conteúdos que nos são inculcados por diversos órgãos de informação ou até, frente ao próprio erro de apreciação, a falta de autocrítica. Por que terão surgido tantos blogues de esquerda na informação diária disponível? Que eu saiba nenhuma “operadora de caixa” (expressão bonita que esconde a realidade “operária”) terá tido a benesse de promover uma qualquer marca de vinho. Alguém me poderá apontar a razão? Intelectual foi Adolfo Hitler, com as consequências que todos nós conhecemos. Mas o Chico sapateiro (Francisco Miguel), operário, ele reflectiu sobre a sua condição e a dos outros e agiu. E até já houve quem, sendo um intelectual, se considerasse “filho adoptivo da classe operária”. Dos que morreram e continuam “vivos”. Leia-se, a propósito, de Miguel Urbano Rodrigues, "Da utopia à revolta, da indignação à revolução"
(1) Aceite-se a afirmação. Contudo, veja-se que não há revolução que não tenha tido seus precursores
22 abril, 2012
Homilias dominicais (citando Saramago) - 79
Um amigo, contou-me que um dia, na paróquia da sua freguesia - pequena vila alentejana - se ergueu, em plena homilia, e levantou a mão chamando para si a atenção: "Desculpe a interrupção, posso falar?". O padre, escondendo a custo a surpresa e o embaraço do inusitado, disse entre a surpresa dos crentes e alguns sorrisos coniventes com o pedido do intruso: "Não meu filho, este acto litúrgico é sagrado", e prosseguiu com a missa. Lembro a propósito que a igreja, ouve seus crentes, individualmente. Ouve-os em confissão. Fora disso, mal os escuta e não é de querer que quando os escuta ouve o que dizem. A igreja anda ausente, salvo para atenuar os efeitos da ganancia instalada e da ideologia do pensamento único. Entretanto a igreja não deserta da preocupação de ser bem atendida entre os fieis e de capta-los para o seu rebanho, às vezes com algum exagero e com duvidosos resultados, como nos mostra uma amiga nossa, Graça Sampaio (Picos da Roseira Brava)
Saramago parece embaraçar Umberto Eco, encostá-lo à parede (foto Reuters - 1998).
Mera aparência, o filosofo italiano prefaciou, com agrado, um Caderno de Saramago
Fui buscar Umberto Eco, por duas razões: Uma porque tendo prefaciado Saramago, como o fez, merecia nesta homilia esse destaque (o seu texto merecia uma homilia); a outra, bem mais importante, pala ilustrar o que referi nos posts anteriores sobre o papel dos intelectuais e a sua importância para os povos. "Em recente artigo da Revista Época (no. 246) de fevereiro de 2003, Umberto Eco discorreu sobre a função dos intelectuais e, ressaltou três modelos destes, a saber, o de Ulisses que na Ilíada, assume a função do intelectual orgânico que mais tarde entraria em crise, não antes de inventar o "cavalo de Tróia".
O segundo modelo é o de Platão que nomeia os intelectuais como os que possuem ideias próprias como também acredita ser os filósofos capazes de ensinar como governar bem.
O último modelo de intelectual é o de Aristóteles que foi tutor de Alexandre , o Grande, e lhe ensinou o que é política, ética, e muitas coisas capazes a habilita-los para o exercício do poder.
E acrescentou que o verdadeiro intelectual deve expressar idéias inovadoras por escrito, é como um pedreiro que dedica seu tempo livre a ajudar na reforma da sede do partido." (texto retirado do artigo "A finalidade dos intelectuais na sociedade contemporânea")
Para os meus amigos que, bem hajam, põem o dedo no ar nas minhas homilias (e nelas falam, sem estorvar o meu acto litúrgico, que reclamo ser tão sagrado como o de um humano padre, junto ao seu altar), deixo estas reflexões prévias, como esclarecimento adicional ao post em que falei de Lobo Antunes e das frustrações da dona Esmeralda, que esperava ver um dia esse escritor convocar uma conferência de imprensa e dizer sobre estas coisas o que realmente pensa.
Agora... agora passo a palavra ao meu pedreiro:
HOMILIA DE HOJE
"Abro com duas citações de Aristóteles, ambas extraídas de Política. A primeira delas, curta, sintética, diz-nos que «em democracia, os pobres são soberanos, com exclusão dos ricos, porque são eles o maior número, e porque a vontade da maioria é lei». A segunda, que, começando por anunciar uma restrição ao alcance da primeira, não só, afinal de contas, a alarga e completa, como a si própria praticamente se alcandora à altura de um axioma, esse princípio que, por evidente, não requer, para convencer, o esforço de uma demonstração. Eis o que nos diz a citação segunda: «A igualdade (no Estado) pede que os pobres não tenham mais poder que os ricos, que não sejam eles os únicos soberanos, mas que o sejam todos na proporção do número existente de uns e outros. Este parece ser o meio de garantir ao Estado, eficazmente, a igualdade e a liberdade.» Se não estou demasiado equivocado na interpretação desta passagem, o que Aristóteles nos está a dizer aqui é que os cidadãos ricos, embora participando, com toda a legitimidade democrática, no governo da polis, sempre estariam em minoria nele, pelo simples efeito de uma proporcionalidade imperativa e incontestável. Em algo Aristóteles acertava: que se saiba, ao longo de toda a História, jamais os ricos foram em maior número que os pobres. Mas esse aceno do filósofo de Estagira, pura obviedade aritmética, estilhaça-se contra a dura muralha dos factos: os ricos foram sempre aqueles que governaram o mundo ou que sempre tiveram quem por eles governasse. E hoje, provavelmente, mais do que nunca. Não resisto a recordar-vos, sofrendo com a minha própria ironia, que, para o discípulo de Platão, o Estado era a forma superior da moralidade... Qualquer manual elementar de Direito Político nos informaria que a democracia é «uma organização interna do Estado em que cabe ao povo a origem e o exercício do poder político, uma organização em que o povo governado governa por intermédio dos seus representantes», ficando assim asseguradas, acrescentaria o dito manual, «a intercomunicação e a simbiose entre governantes e governados, no quadro de um Estado de direito». Em minha modesta opinião, aceitar acriticamente definições como esta, sem dúvida de uma pertinência e de um rigor formal que quase tocam a fronteira das ciências exactas, corresponderia, se nos transportássemos ao quadro pessoal da nossa quotidianidade biológica, a não dar atenção à gradação infinita de estados mórbidos, patológicos ou degenerativos de diversa gravidade que é possível, em cada momento, perceber no nosso próprio corpo."
(continue a ler, Um caderno para Saramago)
21 abril, 2012
20 abril, 2012
António Lobo Antunes, os nossos intelectuais, a sua missão perante a situação e as expectativas da dona Esmeralda, coitada
É mais que natural que eu, tal como a dona Esmeralda, me inquiete com a actual situação do país. Mais que inquietação, começam a pairar por aqui, no meu prédio, o que paira por (quase) todo o lado: as consequências e as subsistências. Estranho eu, a dona Esmeralda e o Baptista Bastos, pelo silêncio dos intelectuais. Não que se calem, porque de sua escrita lhes vai o ganho. Eles escrevem e... recebem pelo que escrevem. Sobre as minha inquietações e as da dona Esmeralda, podia adiantar mais qualquer coisa, mas não acrescentaria muito ao aqui escrito. Vejamos então o que diz Baptista Bastos, para depois falar do resto. Escreve ele:
Bom, o meu citado escreve nesta crónica sobre a atitude da igreja e os seus tímidos protestos, o que não me vem ao caso, pois eu hoje quero limitar-me à tal ausência de sobressalto cívico por parte dos intelectuais e à deserção sobre um papel que lhe poderia caber e não cabe. Razões? Vão se lá saber, pois não se sabem. Não sabem, mas se adivinham. Vamos lá supor que, por exemplo, António Lobo Antunes se atrevia em discorrer sobre desagregação da democracia, sobre inevitabilidades, sobre os valores que estão em causa, sobre posições politicas conhecidas, sobre ideologia, sobre soluções e outras opiniões alternativas... Era uma chatice. Não que não fale da situação actual. Mal seria. Seria tomado por defunto e o homem escreve, e muito. Claro que escreve e esgrime a palavra como ninguém. Claro que, nesses escritos, dá baile aos governantes e os trata por tratantes. Mas se tivermos em conta o que se espera dos intelectuais (elites, escritores, pensadores, artistas), diria que o que este brilhante (que o é) homem de letras faz é aguentar firme seu público, que é o seu mercado - Ah, sempre os mercados, esses danados, aqui na versão comezinha do comprem-me qualquer coisinha. Não, não me pensem com ódio de estimação ao senhor. Não pensem isso, por favor.
A questão é quase geral, com poucas e honrosas excepções. Os novos escritores viram-se para a escrita intimista e muitos (quase todos) levam a sério a afirmação de Zita Seabra, que vaticina que com a morte de Saramago morreu o último intelectual marxista (ou com ideologia, ou comprometido, tem esse sentido). Ela fala pelas editoras o que lhe reforça a voz e produz aviso. É como quem diz: não se metam nisso. Nem nisso nem próximo disso, tenham juízo. E os nossos intelectuais não se metem. Resta a dona Esmeralda (sem escrita nem tempo de antena) e mais uns quantos. Felizmente, tantos. Mas ainda poucos.
Hoje, o pensamento único não precisa de qualquer tipo de censura. Os nossos intelectuais conhecem bem os limites por que se devem pautar as obras que ousam criar.
Hoje, o pensamento único não precisa de qualquer tipo de censura. Os nossos intelectuais conhecem bem os limites por que se devem pautar as obras que ousam criar.
19 abril, 2012
Reflexões (2)
a Dimitris Christoulas, em Atenas, Abril de 2012
de súbito
insustentável
na praça Syntagma a relva surgiu vermelha
junto do tronco impassível da árvore abandonada
e toda a Grécia estremece com o espanto de um grito
um grito só e aflito que cruzou a Terra toda
como se fora pequena
como se valesse a pena despertar ainda a aurora
e jaz num corpo vazio que nos perturba a cidade
(...)
Poema de Jorge Castro (continuar a ler aqui)
18 abril, 2012
Antero, preferia lembrá-lo como poeta... (mas talvez seja esta forma, a mais certa)
"Um dos piores sintomas de desorganização social, que num povo livre se pode manifestar, é a indiferença da parte dos governados para o que diz respeito aos homens e às cousas do governo, porque, num povo livre, esses homens e essas cousas são os símbolos da actividade, das energias, da vida social, são os depositários da vontade e da soberania nacional.
Que um povo de escravos folgue indiferente ou durma o sono solto enquanto em cima se forjam as algemas servis, enquanto sobre o seu mesmo peito, como em bigorna insensível se bate a espada que lho há-de trespassar, é triste, mas compreende-se porque esse sono é o da abjecção e da ignomínia (...)"
Antero de Quental, in 'Prosas da Época de Coimbra'
"Um Dia na Terra" no Dia da Terra
TOTALMENTE COPIADO DE: Sustentabilidade é Acção
No dia 22 de Abril, Dia da Terra, será a estreia e exibição gratuita global do filme "Um Dia na Terra". Filmado em 10 de Outubro de 2010 com o contributo de milhares de pessoas em todo o mundo, foi produzido por Brandon Litman, foi montado (104 min) a partir de mais de 3000 horas de filmagens. Em Portugal, o filme poderá ser visto, nesse dia, em Lisboa e Coimbra:
Plataforma Portuguesa das ONGD - Lisboa - Às 17 horas no auditório do Diário de Notícias na Av. da Liberdade, nº 266, Lisboa e será seguido de um debate. A entrada é gratuita (mediante inscrição para o endereço de e-mail: conferencias@controlinveste.pt)
Livraria Barata - Lisboa (de acordo com a página oficial) - Às 13 horas na Av. de Roma, 11-A. Contacto: Bruno Silva (bruno_b_silva@hotmail.com)
Tarrafo, Associação Cultural - Coimbra - Às 18 horas, no Auditório do Hospital Pediátrico de Coimbra, Av. Afonso Romão. Contactos: http://tarrafo.pt/odoe.html
A não perder.
17 abril, 2012
A Dª Esmeralda e a vizinha do 4º andar, a conversar (9)..
Dona Esmeralda, que é "doméstica", dá lições de economia. Esta, nem eu sabia
Dizia, um dia destes, a dona Esmeralda à vizinha do quarto andar que o país que estava à venda e a ver sair a renda. Fiquei surpreendido com ela nesse dia e do seu diálogo de hoje. Dona Esmeralda não é mulher, nem distraída nem mal informada. Mal informado estava eu, que fui a correr saber o que ela queria dizer. Fiquei abismado. A Dona Esmeralda sabia o significado do que era o Rendimento Nacional. E mais: sabia (sabe) que tal rendimento estava mal e que ia (vai) piorar com as privatizações; sabia (sabe) que essa ideia de se dar prioridade à compra de produtos nacionais pode é estar (está) a enganar o pessoal e o que está a acontecer é estar-se a colocar (mais) dinheiro daqui para fora .
- Em 2007, as saídas de rendimentos para o estrangeiro resultantes das aplicações feitas em Portugal atingiram o gigantesco valor de 20 mil milhões de euros (...) Desta forma, Portugal está a perder uma parte crescente da riqueza que produz. (ver aqui)- Rendimento Nacional caiu mais que o PIB em 2011. (ver aqui)- "... o que sai do País em lucros e dividendos - a mostrar o carácter altamente lesivo das privatizações - é já praticamente igual a tudo o o que entra no País dos diversos Fundos da União Europeia..." - Carlos Carvalhas in Seara Nova - Primavera.2012
As coisas que a dona Esmeralda sabe...
16 abril, 2012
Acção colectiva europeia contra o MEE
Enquanto carregamos com a nossa cruz, não param as ameaças e, pior, a concretização das antes feitas. Não há dia que não haja novidades dentro do caminho para o buraco, expressivamente colocado aí ao lado, com o titulo "Podemos parar?". Até há pouco, o que se ia maquinando era reservado e bem guardado. Perderam-se as máscaras. Passou tudo a fazer-se às claras, com os governos a assinarem e os parlamentos a ratificarem. (Portugal assinou em Julho de 2011). O povo eleitor não se interroga, apenas espera. A parte do povo que não pratica o acto, estará por tudo. De ambos esses lados reparte-se a convicção: uns acham que vai ficar pior, outros que não. O video abaixo é esclarecedor:
15 abril, 2012
Homilias dominicais (citando Saramago) - 78
----------------------------------------------------------------------------------- Foto de "A Bola"
Foram referidos valores tidos. Abraço, meu caro!
(que te sigam o exemplo, enquanto é tempo!)
HOMILIA DE HOJE
"Temos razão, a razão que assiste a quem propõe que se construa um mundo melhor antes que seja demasiado tarde, porém, ou não sabemos transmitir às pessoas o que é substantivo nas nossas ideias, ou chocamos com um muro de desconfianças, de preconceitos ideológicos ou de classe que, se não conseguem paralisar-nos completamente, acabam, no pior dos casos, por suscitar em muitos de nós dúvidas, perplexidades, essas sim paralisadoras. Se o mundo alguma vez conseguir ser melhor, só o terá sido por nós e connosco. Sejamos mais conscientes e orgulhemo-nos do nosso papel na História. Há casos em que a humildade não é boa conselheira. Que se pronuncie bem alto a palavra Esquerda. Para que se ouça e para que conste.
Escrevi estas reflexões para um folheto eleitoral de Esquerda Unida de Euzkadi, mas escrevi-as pensando também na esquerda do meu país, na esquerda em geral. Que, apesar do que está passando no mundo, continua sem levantar a cabeça. Como se não tivesse razão."
Saramago in "Outros Cadernos..." - Fevereiro.2009
14 abril, 2012
Metamorfose - XI (... e o homem se tornou gigante)
... e o Homem se tornou gigante
Desenvolveu
corpo
lentamente
até se parecer gente
A mão
construiu a razão
à medida que ia manipulando
A voz fez a linguagem
à medida que ia falando
até chegar ao canto
Só depois surgiu a alma
para harmonizar o todo
se encantar com o belo
e torna-lo eterno
A sua natureza?
Ser capaz de tudo
------------------------------ Rogério Pereira
A palavra, a voz, o canto, a alma, a harmonia, tudo em conjunto. Perfeito.
O Homem é capaz do melhor e do pior... destaco o melhor.
13 abril, 2012
Qualquer ligação entre o aqui escrito e o comportamento de um povo subserviente, é uma coincidência indecente. (ou talvez não)
Retirado da primeira página do DN
Conheci hoje (só hoje, o que pode ser significativo de mo terem escondido) Pierre Bourdieu. Claro que me surpreendeu encontrar meu pensamento tão bem estruturado em alguém que nem conheci, que nunca ouvi nem li. Duas das suas cinco abordagens me fizeram pensar. A primeira delas é o conceito de “violência simbólica” como forma de controlo de um estrato social sobre outro, legitimando tal domínio por meio dos estilos de vida. Isto é, não é necessária a violência efectiva e real para fazer prevalecer valores da classe dominante. Bastam os valores assumidos na vida quotidiana e os difundidos, na escola, nos media... A segunda abordagem, é suportada pelo conceito “capital cultural”. Sobre este, encontro evidentes pontes entre o que se aborda no vídeo e a recente decisão de, no nosso ensino, se terem separados turmas na base nos níveis de dificuldade de aprendizagem dos alunos. Mas há algo que liga ambos, quanto a esta medida: Não será ela, só por si, uma forma de “violência simbólica”, segundo a formulação de Bourdieu?
Isto dura, desde que me conheço... e, ao que parece, agora se reforça.
Talvez porque passei a ser autor...
"... O autor é o criador de um símbolo heróico: a sua própria vida. Mas, quando cria esse símbolo, está a elaborar um sistema sensível e sensibilizador, convicto e convincente, de sinais e apelos destinados a colocar o símbolo à altura de uma presença ainda mais viva que aquela matéria desordenada onde teve origem. O valor da escrita reside no facto de, em si mesma, tecer-se ela como símbolo, urdir ela própria a sua dignidade de símbolo. A escrita representa-se a si, e a sua razão está em que dá razão às inspirações reais que evoca. E produz uma tensão muito mais fundamental do que a realidade. É nessa tensão real criada em escrita que a realidade se faz. O ofuscante poder da escrita é que ela possui uma capacidade de persuasão e violentação de que a coisa real se encontra subtraída. O talento de saber tornar verdadeira a verdade."
Herberto Helder, in 'Photomaton & Vox"
'Escrita' - curta metragem from Luís Costa on Vimeo.
Post (quase) integralmente copiado do Vox Nostra
12 abril, 2012
Os donos de Portugal?
11 abril, 2012
Águia
Minha alma Celta se inquietaMeu coração Luso pulsa, de repulsaMeu sangue Mouro despertaenquanto uma águia cruza, alta, a planície desertaNão me limito à geografia de estarNão sou estas fronteirasEuropa? Não sou de um só lugare para viver que se procure outras maneirasSomos de todos os ignorados ladosSomos de mares antes navegados
Rogério Pereira
10 abril, 2012
09 abril, 2012
Adriano, a rigidez necessária (a falta que ela nos faz...)
Escrevo um livro. Onde começou a ser escrito, não faltou a ligação ao poema e à canção. Editado, esqueci o pormenor que um texto sobre papel não tem links que nos remetam para trinados e vozes. Foi pena. Na página 15, na introdução, enquanto ia dizendo que “eu nem sequer fui ouvido no acto de que nasci” nem se lê o poema, "A Fala do Homem Nascido", nem se ouve a voz de Adriano. Falha minha, nem deixar indicativa nota. Eu que queria ligar meu livro (também) à sua memória.
Adriano Correia de Oliveira, faria hoje 70 anos.
A voz que está sempre presente, nas entrelinhas do meu escrito
A garantia de vozes e vontades para continuar Adriano
No próximo sábado, tenho almoço marcado...
Não restam apenas memórias, ficaram valores, convicções, lutas e nomes. Alguns, pois a memória, sendo selectiva, não se desperdiça a alojar tudo. Há coisas que ficam. Dos nomes que sempre me ficaram, figura o de José Manuel Tengarrinha. Vi-o pela primeira vez, talvez em 1966 (ou mesmo antes), aquando de uma conferência impedida pela policia, marcada para a Sociedade de Belas Artes, e onde ele iria falar sobre "Os primórdios do Socialismo em Portugal" (se bem me lembro, seria mesmo esse o tema). Depois da proibição, ele descia a Rua Alexandre Herculano e eu seguia-o à distancia, olhando-o com o respeito de quem olha um homem inteiro. Ia calmo, não intimidado pelo aparato policial, seguido por pequenos grupos que trocavam sinais coniventes e que os encaminhariam para uma outra sessão, privada, em sua própria casa. Perdi-me pelo caminho e soube pormenores por um amigo que esteve presente. Só o viria a voltar a ver, anos mais tarde, no II Congresso Republicano, em Aveiro.
Naquela manhã tomara a decisão de ir. Era então revisor supranumerário do "Diário de Lisboa" o que me proporcionava o contacto e a facilidade em me fazer aceitar como pendura na carrinha que sairia para a distribuição dos vespertinos em direcção ao Norte. Mal instalado, a um canto da pequena viatura, com as pernas encolhidas para não danificar os jornais, lá ia me acomodando à medida que o percurso ia sendo cumprido e os jornais sendo entregues. Em cada local, o funcionário disso encarregado, abria as portas traseiras e ia, ao mesmo tempo que a marcha abrandava, atirando maços entrelaçados dos jornais, para os pontos que a rotina diária determinava. Diário de Lisboa, Diário Popular e Republica iam sendo distribuídos, distraindo-me, aquela habilidade certeira, do mal estar da viagem. "Nunca erro o alvo", dizia-me, orgulhoso, o dono desse feito. Chegámos a Aveiro, a meio da tarde, mais cedo do que a rotina normal. Recordo que me reparti entre o interior do cine-teatro, ouvindo comunicações, o átrio e o que se passava na rua, onde pequenos grupos comentavam ou discutiam vivamente a situação de pré-anunciada cisão sectores da oposição democrática. De quando em quando a minha atenção era distraída pela passagem de uma figura conhecida. Destacaria muitos, mas hoje falo de Tengarrinha. Ele ficou do lado certo, dos que alinharam por ser o momento de denunciar a politica colonial. Eu, partiria para a guerra meses depois (em Julho de 1969). Nunca o esquecerei.
Por isso tudo isto, e pela sua empenhada luta antifascista, estarei no próximo sábado ao seu lado: José Tengarrinha é o homenageado.
(Na foto: José Tengarrinha, Helena Pato, Alberto Pedroso e João Sarabando (retirada daqui),
08 abril, 2012
Domingo de Páscoa, com homilia mas sem Saramago (citado)
Hoje o dia será como o do ano passado, sem homilia citando Saramago. Tinha escrito outro texto e confesso ter hesitado (muito) em o pôr de lado. Não, não cedi, apenas acho que o que tem de ser dito necessita de se afastar do ruído, do pré-estabelecido, do hábito adquirido, da ténue e longínqua memória da celebração...
HOMILIA DE HOJE.
Estaremos reunidos. Todos. Almoçaremos juntos. E falaremos muito, de todos os assuntos. Falaremos, com certeza, à mesa, da mesa, dos pratos, dos doces, do colesterol, da tensão arterial, das notas dos netos, das últimas traquinices dos mais novos, das primeiras palavritas da Maria, do que se passa em Angola, do meu livro e se vou ao não escrever outro a seguir. Responderei a isso. Uns vão rir, outros esboçar um sorriso. E continuará a conversa por aquilo que nos apeteça, pelo que pensamos que a cada um espera e pela incerteza dessa espera. Certo estará reservado um minuto, para delinearmos a salvação do mundo. Será assim, porque sim. Porque isso nos une. E talvez alguém se lembre da ressurreição. Talvez sim, talvez não. Podia ser eu a falar nisso, mas não quero ter esse protagonismo. Cabe-me a mim, como sempre, apontar o dedo à culpada do que se vai passar. Ela, por ter 92 anos, não irá ouvir à primeira. Do que se passará, darei conta. Para que conste.
Enquanto isso se passar, deixo isso aqui. Pode tirar:
07 abril, 2012
Sábado Santo, na esplanada, com a música de fundo no tom adequado
A manhã começou instável, mas o sol ia espreitando de quando em quando e o vento amainara. O casal vestido de claro chegara primeiro e procurou, na explanada, a mesa mais perto do rio, que ali se alargando, já parecia o mar. Sentaram-se. Calados, esperaram. Passou um cargueiro ao largo e um veleiro em sentido contrário. Ambos olhavam vagamente, até que o casal, vestido de tom levemente mais escuro, chegou. Pareciam terem todos a mesma idade, bem no meio da vida. Cumprimentaram-se. Eles efusivamente, elas com cumplicidade, e os cumprimentos restantes, dos casais trocados, com sorrisos e beijos formais. Pediram de beber. Um deles traçou a perna e o outro também. Uma delas tirou um cigarro e a outra também. Eles começaram a conversa, com o tema do costume, lamentando as baixas do clube, as arbitragens desastradas, e ambos concordaram estarem compradas. A do casal que vestia claro comentou o design da mala da outra e falaram de malas, de sapatos, dos saldos e da dureza da vida que lhes tinha limitado os gastos. O sol abriu-se totalmente, a manhã ficou quente e estava no tom certo a música ambiente. Todos comentaram como o sol, meigo, os bafejava. A conversa ia animada e o tempo passava. Já não se avistava o cargueiro nem o veleiro. O Tejo, tendo no meio o Bugio, parecia vazio. Tão vazio como as conversas e as almas que conversavam horas a fio. Podiam, se pudessem ou quisessem, falar da cruz que cada um levava. Mas não falaram disso. Ou porque não quisessem, ou porque desaprenderam a falar de si ou ainda para não puxarem temas desagradáveis, numa manhã tão tranquila, numa esplanada estendida ao sol, em vésperas de mais um domingo de Páscoa. A musica ambiente fazia-se ouvir numa versão de "Always Look On The Bright Side Of Life", no tom adequado. Ao longe, aparecia um barco.
06 abril, 2012
Sexta-feira santa: "Eli, Eli, lama azavtani?" (Meu Deus, Meu Deus, por que me abandonaste?)
É sem dúvida a Biblia um manual de maus costumes, como me lembram as palavras de Saramago (e que eu oiço aqui). A Biblia diz que Jesus terá dito "Perdoai-lhes Pai, pois não sabem o que fazem". Tal não é expressão de cristão digna de um cristo que com seu gesto violento expulsa os vendilhões do templo. Eles sabem sempre o que fazem...
Contradições? Sim, daquelas que levam os povos à resignação. Bem fizeram os escravos e plebeus que não ligaram ao então dito, mas ao feito, ao se terem revoltado e três séculos depois terem imposto o fim do esclavagismo e a queda do Império Romano. De Cristo, prefiro recordar as últimas palavras, as humanas: "Meu Deus, porque me abandonaste?", sabendo que eu, enquanto parte do meu povo, não tenho perdão se aceitar os vendilhões do templo...
(reeditado, do ano passado, com a devida actualização)Agora, que nos crucificam o país, teremos que esperar também séculos até à libertação? Talvez mais de três, pois estes sabem o que fazem enquanto nos entretemos com uma doce amêndoa... Não temos emenda.
05 abril, 2012
Quinta-feira santa. Quinta carta, do Santos...
REMBRANDT - 1606-1669 - "Expulsão dos vendilhões do Templo" - gravura sobre papel
Quinta-feira Santa - Podia ter outras seleccionado imagens, que as há muito belas, sobre o que se enquadra mais na data e no seu significado litúrgico. A última ceia ou Jesus lavando os pés aos apóstolos, seriam as indicadas para o dia que hoje se celebra. Pelas razões que já me levaram o ano passado a escolher a cena que está (agora) na gravura de Rembrandt, escolho a "Expulsão dos vendilhões do Templo" e repito a pergunta que fiz então: "Se fosse hoje, Jesus iria ao Templo?"
Quinta carta, feita pelo Santos - Refiro-me ao texto que Boaventura Sousa Santos dá hoje a ler na Visão. É uma carta bem escrita e, por ser a quinta, percebo que já terão existido quatro. Confesso que não li nenhuma e esta li a correr, à diagonal, a bem dizer. Parece-me que tem matéria para pôr as esquerdas a reflectir. A minha reflexão é curta e grossa: a carta tem erro grosseiro de endereço. Esquerdas? Um saco, onde cabem diversos com algo em comum? Mas de comum, o quê, se cada vez se vê uma esquerda mais isolada em matéria votada, na mesma matéria em que aquela outra esquerda vota colada à direita. Hoje mesmo, quinta-feira santa, uma esquerda apresenta uma proposta, vejamos como a outra esquerda se comporta. Para já oferece-me dizer: ou o Santos reformula o endereço da carta ou ela não servirá para nada. Todos sabem disso, menos os leitores da Visão e os que gostam de filosófica confusão...
04 abril, 2012
Existe, sim. Seu nome? - Alvega. Se estou de acordo com o que lá se está a passar? - Não, não posso estar!
Ver mapa maior
Ontem editei um lugar, tem alcaide que sabe para onde vai. Hoje edito este outro, onde me encontro. Já teve outra vida. Teve gente. Teve farmácia. Médico. Escola. Perdeu tudo isso em menos de cinco anos. Talvez, como muitas outras vilas e lugares do nosso país, não tenha outra opção do que esperar que definhe...Comentou-me ontem, sabiamente, muita gente. Alguém escreveu a propósito da população de Marinaleda: "Voltar as costas ao mundo é uma tentação. Até que ponto possível, hoje, é que eu não sei." Julgo que são pertinentes as duvidas quanto a ser possível ou não. O "sistema" prefere ser ele a ter a iniciativa, no que se refere ao voltar de costas... Por cá, se estas pequenas povoações não voltarem as costas ao mundo, elas irão ver, como eu estou agora vendo, o "mundo" fazer-lhes isso.Que pena nos faltarem presidentes de junta copiando alcaides....
03 abril, 2012
Existe, sim. Seu nome? - Marinaleda. Se estou de acordo? - Não é esse o ponto...
Existe sim, nem importa se estou ou não de acordo. É mais importante conhecer o que acontece, não apenas lá, mas também aí onde está. Se é possível e sustentável a vida que você leva. Se ela leva a algum lado ou... se leva a nada.
Para saber mais desse outro lugar, pode ouvir o seu eleito alcaide ou navegar (aqui.). Pode ver os vídeos e outras informações...
Se tiver um pouco de mais tempo, pode ver o que passou na SIC
02 abril, 2012
Metamorfose - X (Saudação aos umbigos da nação)
Saudação aos umbigos da nação
Passa-lhe tudo ao lado
Nada tem a ver consigo
Está louco e encantado
Com o seu próprio umbigo
Tornou-me assexuado
Basta-lhe o amor recebido
Está louco e encantado
Com o seu próprio umbigo
Canta, declama, fala e é escutado
Pelo seu mais velho amigo
Está louco e encantado
Com o meu próprio umbigo
Desdenha ou comenta com enfado
Os porquês dos caminhos que sigo
Está louco e encantado
Com o seu próprio umbigo
Faz poemas e num verso bem alinhado
Com ele próprio parecido
Ficou mais que enfeitiçado
Com o seu próprio umbigo
Um dia, depois de por momentos se ter perdido
Reencontro-se. Era ele. O próprio umbigo
Rogério Pereira
01 abril, 2012
Homilias dominicais (citando Saramago) - 77
"...Os caprichos ou os crimes ou os delitos dos responsáveis por esta crise, que são os grandes financeiros, que são os directores das grande empresas e dos grandes bancos, vai-se-lhes acudir com o dinheiro de todos. Esse dinheiro, que parece que deveria ter outros destinos, agora destina-se a salvar os bancos e o grande argumento é este: sem bancos isto não funciona. Marx nunca teve tanta razão como hoje"
"...As consequências piores ainda não chegaram. Essa ideia de que se pensava pôr o mercado no altar e rezar todos os dias, finalmente nem era auto-regulador nem autodisciplinador, era simplesmente um instrumento de saque das riquezas..."
José Saramago, sobre a crise financeira
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