28 fevereiro, 2022

CHORANDO, RELEMBRANDO LÁGRIMAS CHORADAS

 

CRISTO NÃO VÊ TELEVISÃO

A morte e o sofrimento
passam em directo
em canal aberto
a todo o momento

Choro, chorando
relembrando
lágrimas choradas
ao ritmo de cada rebentamento
ao ritmo
de cada grito
soado no Kosovo
soado na Sérvia
soado no Iraque
soado na Líbia
gritos gritados

soando ainda
no Afeganistão e na Síria

Deus não acorda a tais gritos

Cristo
distraído
anda, há muito
afastado deste Mundo

Rogério Pereira



27 fevereiro, 2022

HOMILIAS DOMINICAIS (citando Saramago) - 120 [a paz é possível]

Em tempos, José Saramago e Eduardo Galeano  estiveram juntos numa iniciativa histórica que em data próxima irei lembrar. Hoje, num tema em desuso (que tão necessário se torna voltar a ser bandeira) volto a juntá-los:


HOMILIA DE HOJE 

 É certo que há uma terrível desigualdade entre as forças materiais que proclamam a necessidade da guerra e as forças morais que defendem o direito à paz, mas é também certo que nada, em toda a História, pôde vencer a vontade dos homens, excepto a vontade doutros homens. Não é com forças de transcendência que temos de confrontar-nos, mas sim, e apenas, com outros homens. Trata-se, então, de tornar mais forte a vontade de paz que a vontade de guerra. Trata-se de entrar em mobilização geral para a luta pela paz: é a vida da Humanidade que estaremos defendendo, esta de hoje, e a de amanhã, que talvez se perca se não começarmos a defendê-la agora mesmo. A Humanidade não é uma abstracção retórica, é carne sofredora e espírito ansioso, e é também uma esperança inesgotável. A paz é possível. Mobilizemo-nos para ela.

26 fevereiro, 2022

"ATÉ QUANDO A PAZ MUNDIAL ESTARÁ NAS MÃOS DAQUELES QUE FAZEM O NEGÓCIO DA GUERRA?*"

“Os líderes ocidentais sobretudo, aqueles que incentivaram este governo ucraniano, que lhes venderam 600 milhões de dólares de armamento … demos armas, demos treino, agora vocês aguentem-se contra a Rússia, por amor de Deus! A NATO, o presidente dos EUA, Boris Johnson e a UE tiveram um comportamento nas bordas do criminoso, tão mau como o do Putin. Estão todos muito bem uns para os outros.” (...) “Eu não acredito que seja intenção da Rússia reconstituir o império soviético. O plano final é impor na Ucrânia um governo que lhe seja simpático.”

Major General Raul Cunha (RTP 3 - RTP Play)

* O título foi extraído
de um outro lado
que editarei mais tarde

25 fevereiro, 2022

FALOU-SE DA UCRÂNIA NO MEU JANTAR DE ANIVERSÁRIO? CLARO!

Como sempre acontece quando a família se reúne, houve de tudo. Houve lembranças vividas, houve um pouco de tertúlia e houve, a inevitável, conversa séria. Antes de tudo, a comezaina da saborosa lasanha, obra da Minha MaiNova, momento em que se passou o canal, onde ele estava, para aquele em que só passa (boa) música. 

Nesse momento, saudei-lhe o gesto "Boa, filha. Ouvir tanto dislate cansa... é que em tanta verborreia, não há uma única notícia e o que abunda é a desinformação". Nesse preciso momento, meu genro, avança no tema e defende tese. O outro genro, nada acrescenta e eu, sempre naquela ironia fui discorrendo sobre o que agora retomo, mas em tom sério:

"(...) o agravamento da situação é indissociável da perigosa estratégia de tensão e confrontação promovida pelos EUA, a NATO e a UE contra a Rússia, que passa pelo contínuo alargamento da NATO e o reforço do seu dispositivo militar ofensivo junto às fronteiras daquele país, e em que insere a instrumentalização da Ucrânia, desde o golpe de estado de 2014 (...)

"a Rússia é um país capitalista, cujo posicionamento é determinado, no essencial, pelos interesses das suas elites e detentores dos seus grupos económicos"

Do desfecho, só tenho uma certeza e coincide com o que acabo de ler

«Mas de longe o maior perdedor é a Europa que tem sido vergonhosamente vendida pela sua cobarde classe política. Primeiro, a Europa perdeu a oportunidade económica de uma parceria pacífica com a Rússia. Em vez disso, irá perder mercados importantes e pagará muito mais pela energia.»

FESTEJAR ANIVERSÁRIOS FAZ BEM À SAÚDE

 O bolo estava um espanto!

24 fevereiro, 2022

SETENTA E SETE

Vou sorrir à primeira pessoa que passar!
Já são setenta e sete vezes
que isto me acontece
Das primeiras vezes,
crescia-me um corpo
e uma alma
aprendendo
a falar um com o outro
de forma serena, calma.

 

Mas tarde,
cabiam já alma e corpo no mesmo espaço,
começaram os conflitos e o embaraço
de ir amadurecendo a servir de juiz
num por vezes doloroso desaguisado
exercício de manter o equilíbrio
entre Minha Alma e Meu Contrário 
Foram tempos de tudo
De raiva, de luta, de ausência, de regresso
que não esqueço 
Vieram então tempos de esperança,
e de poupada alegria
(pois que desta nunca há abastança
e se dela gastasse a esmo por certo já não haveria) 
Chegado agora, ao dia de hoje
os três olhamos este meu rosto
Contamos-lhe as rugas,
umas leves outras fundas...
Estas aqui, na fronte, que tantas são,
são as dos desgostos, das incertezas e da apreensão
Estas, outras, na face, que muitas se atropelam
São as do sorriso, e é a alegria que revelam 
Minha mão as tacteia e afaga
ao mesmo tempo que as vai contando
E que coincidência, e que espanto
umas e outras somam o mesmo e tanto. 
Para as desempatar
Vou sair
E sorrir
À primeira pessoa que passar

23 fevereiro, 2022

JOSÉ AFONSO MORREU? QUEM DISSE?


Não se separa um homem inteiro, das partes e facetas que lhe dão a dimensão. 
Não se separa o andarilho, dos trilhos percorridos. 
Não se separa o professor, dos seres a quem deu saberes. 
Não se separa o cantor, dos seus cantos. 
Não se separa o poeta, dos poemas que nós dizemos.
Não se separa o criador, da obra criada. 
Não se separa o resistente, da luta travada. 
Não se separa o sonhador, da utopia sonhada. 
Não se separa a razão, da alma. 
E quando tal se separa, o homem parte. E fica-nos a memória de um homem digno, de um homem inteiro.



.
Fica uma canção, talvez a primeira que cantei,
mesmo antes de o ter ouvido e que hoje recupera actualidade

Foto do Público 

22 fevereiro, 2022

HOJE, NO "SUL SERENO" NÃO ACONTECEU POEMA

«Depois de mais um dia longo de secura e Sol, de preocupações diversas e momentos de breve felicidade, repenso como uma pandemia tantas vezes se prolonga em caminhadas assassinas de lagartas de colunas militares...lições da História - cada vez menos estudada nos bancos do nosso sistema educativo.

Há dias assisti a um documentário sobre a Eritreia e percebi que nem uma só vacina para a covid-19, nessa parte do mundo, fora administrada - um horror sobre todos os que, ali, vi.

Como pode o ser humano não respeitar a vida e a paz de outro ser humano? 

Agora, quando procuro descortinar pelo meio das ondas de propaganda e de medo legítimos, o meu computador devolve-me o mapa dos territórios disputados pelo planeta que, juntos, habitamos. 

(Deixo, aos mais curiosos, um link na legenda)

http://metrocosm.com/disputed-territories-map.html

Hoje não acontece o poema. Mesmo que empenhado, ele seria fútil. Mesmo que com as palavras exactas, ele seria o verniz balofo de uma desumanidade anunciada. Não me apetece a Poesia, quando a Humanidade teima em desperdiçar o planeta que pisa e o sopro de vida a que um de nós é dado o direito de possuir.

Eu já pisei territórios disputados, ouvi rajadas e vi destroços. Não içarei, por aqui, nenhumas bandeiras, pois elas são, tantas vezes, a mortalha dos homens!»

cópia integral do texto publicado no "Sul Sereno"

21 fevereiro, 2022

RIO TEJO COMO HÁ MUITO O NÃO VEJO

"Tejo que levas as águas
Correndo de par em par
Lava a cidade de mágoas
Leva as mágoas para o mar."
FRACAS E PARCAS AS ÁGUAS
PARA CUMPRIR A CANÇÃO


imagens recolhidas no passado sábado

20 fevereiro, 2022

HOMILIAS DOMINICAIS (citando Saramago) - 119 [outros tempos, semelhantes tormentos, diferentes vítimas]

Noutros tempos, aqueles que dão cenário e contexto ao livro "Levantado do Chão" o Alentejo era tido e referido como "celeiro da Nação". Como tudo muda, o Alentejo já não é o mesmo. Acabo de ler que “É inconcebível que importemos 95 por cento do trigo mole para fazer pão. Andamos a comer açordas com pão feito com cereais da Ucrânia e do Azerbaijão”
 
Serve esta introdução para evidenciar que não foi por se dar primazia a culturas mais rentáveis que ceifeiras, camponeses e outros trabalhadores rurais terão melhorado as suas condições de vida. Pioraram e procuraram outras vidas. Já não há nem ceifeiras, nem camponeses alentejanos. Foram, como se dá testemunho, substituídos por outros "Oriundos, em particular, de África e Ásia" (...) "estas pessoas constituem a mão-de-obra escrava do Alentejo”
 
Que falta nos faz Saramago, para nos falar desta nova realidade que dispensa os verdugos de outros tempos para continuar a saga da exploração do homem pelo homem, como era então e no livro se conta.

HOJE A HOMILIA É DITA

 

19 fevereiro, 2022

MARIA JOÃO, CURTO DIÁLOGO SEGUIDO DE UM AUSPICIOSO BOLETIM CLÍNICO

Depois de meses de espera, na quinta-feira passada ocorreu a esperada operação à catarata. Ontem, ligou-me ela. Hoje, ao fim da manhã, liguei-lhe eu. Conversas somadas, entre o que foi dito e ouvido, nas duas chamadas, faço público o seguinte boletim clínico, depois de em curto diálogo ela o ter consentido com um "Sim, faz isso!":

A cirurgia - correu muito bem, nada aconteceu como na outra, feita ao outro olho.
Riscos já prevenidos - herpes, tratamento em curso e penso posto. Mantém acompanhamento médico até o risco ter passado
Ânimo - queixosamente elevado, há sempre uma ou outra dor que a atrapalha. Mas que depois passa...

Fiz as recomendações do costume, que entrasse em contenção de escrita... para que seu regresso seja pleno!

 

18 fevereiro, 2022

DIÁLOGOS POÉTICOS, COM GISA - I


Deixou-me Gisa este comentário num post em que era inesperado que lá fosse colocado. Acontece. E acontece, neste mundo conturbado, até ter passado ao esquecimento o que aqui (honra me seja feita) venho recordar. E aqui vai:
«Nos comentários ao post "PRISMA", publicado no dia 02 deste mês (de junho/2011), meu amigo Rogério do "Conversa Avinagrada" escreveu o seguinte:
"A refração da luz solar
quando natural
é sempre bela,
espetacular

Sentou-se no chão para a admirar
por pura e mera distração
sem qualquer outra preocupação
particular

Eis senão quando
algo de inusitado apareceu
cruzando o céu
qual meteorito colorido
harmonioso, meio veloz, meio brincalhão
após descrever um arco
se veio enfiar pelo chão

Chão tão próximo, que ali estava
que quase a coisa linda ele pegava
Não pegou,
nenhuma pedra a agarrou
partiu terra adentro
sem ruido, impacto ou eco
apesar de ter aberto
uma larga galeria

Reforçou a curiosidade
e entrou por aquela entrada
levando consigo a impressão
de lhe ir acontecer coisa sagrada "
O post de hoje (3 de junho de 2011) foi motivado por este comentário como uma retribuição do carinho sempre a mim dispensado e como uma brincadeira de continuação de histórias postas, que já está se tornando um gostoso exercício entre nós.»

17 fevereiro, 2022

A UCRÂNIA E O AMBIENTE DE GUERRA QUE POR AÍ PROLIFERA

Ontem, trouxe o Solnado à berra para dar a perspectiva do que seria ridículo se não fosse trágico. Partindo de uma informação muito básica, imagine quantas serão as fronteiras onde, em permanência, ocorrem manobras militares. E arrepie-se!


16 fevereiro, 2022

UCRÂNIA, A CONVERSA QUE FALTAVA...

Queixaram-se, por aí, de não ter eu escrito uma linha sobre a grande ameaça.
Resolvi-me, primeiro com a ironia de sempre e depois citando algo mais sério.

A ironia (para não dizer gargalhada) resulta do facto patético de ser uma parte do conflito a agendar a data em que a outra parte o iria desencadear. Ocorreu-me o Raul Solnado. Como podia não me ocorrer?

Sobre a parte séria, cito parte do que vi escrito:

(...) são os EUA, a NATO e a UE que desencadearam guerras contra a Jugoslávia (1999), o Afeganistão (2001) ou a Líbia (2011), sendo responsáveis pelo seu brutal legado de morte, sofrimento e destruição. São os EUA, a NATO e a UE que fomentam a corrida armamentista e são responsáveis por mais de 60% dos gastos militares em todo o mundo, superando em mais de 10 vezes as despesas militares da Rússia. São os EUA que, com a instrumentalização da NATO, promovem alianças e parcerias belicistas, possuem uma densa rede de bases militares espalhada por todo o mundo e incrementam a instalação de meios bélicos, incluindo nucleares, cada vez mais próximo das fronteiras de países que pretendem submeter aos seus interesses. São os EUA, com o apoio da NATO, que romperam de forma unilateral importantes acordos de desarmamento, como os tratados de defesa antimíssil e de forças nucleares de curto e médio alcance. São os EUA e a NATO que cinicamente apresentam como uma ameaça exercícios militares que a Rússia realiza no seu próprio território, quando são eles que desenvolvem sistematicamente exercícios militares a milhares de quilómetros das suas fronteiras e levam a cabo constantes acções de pressão, de ingerência e de agressão contra países soberanos. São os EUA, a NATO e a UE que banalizam a ameaça e a chantagem e que impõem sanções e bloqueios, afrontando abertamente a Carta das Nações Unidas e o direito internacional. É a NATO que se confirma como o único bloco político-militar de carácter ofensivo e agressivo, ao serviço de uma estratégia de hegemonização política e económica e de subjugação da vontade soberana e dos direitos de países e povos.(...)

15 fevereiro, 2022

O QUE VALEM OS MEUS DIÁLOGOS COM O MEU CORPO?


Todos diálogos são uma necessidade. A um nível mais corrente, falar com o outro é, por si só, um acto emérito. Fazer tertúlia é colocar o diálogo a um nível tão mais superior quanto maior for o número de elementos a dialogar. Por vezes o diálogo acontece entre espécies e esse é sempre belo, até porque demonstra inteligência no uso de linguagens diferentes...

Por falar em linguagens diferentes, nem sei que dizer da que tenho vindo a empregar quando me dirijo à minha próstata e ela me responde, ou quando faço apelo ao meu ânimo e ele cumpre o papel de me animar. 

Há quem desenvolva teses e leve a questão para a abordagem científica. Soube disso por via da Drª  Ana Vilar, a farmacêutica que me faz aviamento das receitas passadas pelo meu urologista. Por ela fiquei a saber como a Epigenética aplica a ciência à  biologia pessoal e melhora não apenas o bem-estar físico, mas também a qualidade e o carácter da vida diária.

Deu-me a pista e hoje estou no percurso do entendimento do poder da mente sobre o nosso corpo. Claro que não vou aprofundar este conhecimento. Vou limitar-me a usá-lo! E não por entretenimento ou curiosidade intelectual, mas porque preciso!

ler aqui todos o "Diálogos"

14 fevereiro, 2022

DIÁLOGOS COM A MINHA PRÓSTATA - VIII (EM DIA DOS NAMORADOS)

Eu (dirigindo-me a ela, em tom sofrido) - Então que andas para aí a tecer? Ontem mijei-me todo e ainda agora tive que ir a correr, mal tive tempo de desapertar a braguilha...

Ela (a próstata, reagindo de imediato) - Ia falar-te nisso. Por aqui anda grande reboliço. O teu cancro anda a namoriscar a tua bexiga. E a tua bexiga anda, toda emproada, de braço dado com o teu intestino. Quando uma mija o outro caga. Deves sentir o incómodo deste romântico desatino...

Eu (em tom afirmativo) - Acontece mesmo isso. Só que o intestino continua a funcionar dentro do ciclo normal. Mas tens razão, quando mijo tenho de defecar. Ainda agora me passou pela cabeça...

Ela (a próstata) - Não venhas cá com pensamentos criativos. Mas diz lá

Eu (como que pensando em voz alta) - Ando a receber mensagens em barda de uma academia que me diz que há centenas de investigadores que têm vindo a referir o meu nome, citando-me em trabalhos científicos. O ultimo dos quais terá sido na unidade de investigação em saúde da Universidade Nacional de San Cristobal de Huamanga. Acho que vou entrar em contacto. 

Meu Ânimo (interrompendo, nesse preciso momento) - Não vais fazer nada disso. Deixa que a braquiterapia progrida e que o cancro vá à vida... verás que os namoros acabam todos! 

___________

CONTINUAR A LER

13 fevereiro, 2022

HOMILIAS DOMINICAIS (citando Saramago) - 118 [a seca... que não seca o "cante"]

À hora que escrevo, está chovendo. Pouco, mas chove. E ocorrem-me imagens publicadas nas últimas semanas com reportagens desoladoras da seca, com imagens expressivas de como o cultivo intensivo sorve a pouca água que resta. 

Alentejo terra que já foi do latifúndio, posse dos grandes agrários passou para outra posse, ainda mais sem rosto nem rasto. De uma a outra posse, se ouviu a terra a quem a trabalha. Sonho de pouca dura... o pesadelo parece ter vindo para ficar e as formigas se quedam, de cabeça baixa (se é que ainda há malmequeres).

HOMILIA DE HOJE

 «(...) E então num sítio qualquer do latifúndio, a história lembrar-se-á de dizer qual, os trabalhadores ocuparam uma terra. Para terem trabalho, nada mais, cubra-se de lepra a minha mão direita se não é verdade. E depois numa outra herdade os trabalhadores entraram e disseram, Vimos trabalhar. E isto que aconteceu aqui, aconteceu além, é como na Primavera, abre-se um malmequer do campo, e se não vai logo Maria Adelaide colhê-lo, milhares de seus iguais nascem em um dia só, onde estará o primeiro, todos brancos e voltados ao sol, é assim como o noivado desta terra. Porém, estas brancuras não são, é gente escura, formigueiro que se espalha pelo latifúndio, a terra está cheia de açúcar, nunca se viu tanta formiga de cabeça levantada (...)»

da parte final de "Levantado do Chão"

O vídeo? Dá testemunho de que, seja qual for o futuro, o "cante" ficará na nossa memória, tal como Saramago!

 


12 fevereiro, 2022

OLÁ ROGÉRIO, PARECE QUE ALGUÉM NOS OUVIU A FALAR ONTEM...

 Ontem, cruzando-me com o meu vizinho do lado, que é exactamente o pai do seu filho que me adoptou como seu avô adoptivo e que acumula com a profissão de marinheiro, proprietário de uma pequena frota, desabafei meu desgosto pela novidade que, sendo eu próprio a dá-la, a mim próprio me tinha surpreendido.

Eu - Ó Pedro, nem acredito que os estaleiros estão todos no estaleiro, a construção e reparação naval que já foi bandeira, está condenada...

Ele, o Pedro - Como assim?

Eu - Ó pá, o sector que fez crescer o meu Partido, passou de mais de vinte e seis mil trabalhadores a pouco mais de oitocentos...

Ele, o Pedro - Rogério, perdemos saberes, competências... tínhamos quadros e operários, que na sua maior parte foram para outras paragens... tudo que há para fazer mandamos fazer fora. Olhe, o Creoula, um navio "jóia da coroa" jaz encostado, apodrecendo o casco. Ninguém garante que possa ser salvo...

Há pouco, mandou-me a notícia. Sabendo, embora, que tal não altera nada... mas... pode ser sinal (será que pode?)


 

11 fevereiro, 2022

A EDIÇÃO DO MEU LIVRO? VAI INDO!


Assumido, não há muito, o compromisso de editar o livro, a coisa vai indo. A Lídia Borges, uma querida amiga, do Seara de Versos, aceitou a tarefa de rever os cinco textos dos cinco contos já aqui contados

Aceitaram de bom grado, e até com entusiasmo, todas as escolas contactadas para o livro vir a incluir desenhos de jovens alunos, alusivos a cada tema que cada conto conta. Agora é dar tempo ao tempo, já que a meta para a apresentação pública da obra, aponta para Junho, numa data bem a propósito.

Entretanto, já decidi integrar na edição este texto...

10 fevereiro, 2022

QUANDO A INDÚSTRIA É FRACA, PODE A CLASSE OPERÁRIA SER FORTE?

Ontem, na minha homenagem a Jaime Serra, prometi o que hoje aqui vos trago. Não é uma tese é uma mera reflexão que achei oportuno trazer logo a partir das palavras iniciais do militante e lutador comunista. Refere ele, que iniciando a actividade na construção civil, cedo ingressou indústria, primeiro na Construtora  Moderna e depois nos Estaleiros Navais do Alfeite. Logo aí, ingressou no Partido. 

Nesses tempos era relativamente fácil assumir consciência de classe e desenvolver laços de relação solidárias. Tal facilidade resultava tanto da percepção de haver uma enorme (e injusta) distância entre o valor do trabalho e o do produto,  como dos próprios laços de relação impostos pelo modo operatório, em que um posto de trabalho depende do anterior e condiciona o que se lhe segue.

Com a desindustrialização tudo isso se vai reduzindo... Com o desaparecimento da Construtura Moderna, foram à vida, para além da Siderurgia, as jóias da coroa da metalomecânica pesada: a Cometna; a Mague; a Sepsa; a Equimetal; a Sorefame; a Fundição de Oeiras e, ainda agora, a EFACEC luta pela sobrevivência. 

Nada disto é novidade por razões já ditas. A minha surpresa foi constatar que a industria de construção e reparação naval, por onde Jaime Serra andou lutando, jamais será aquilo que já foi. Dê-se ao trabalho de analisar o quadro. Dele apenas destaco que o sector, em três décadas, passou de mais de 26 mil trabalhadores para cerca de 900...


Quadro retirado daqui

09 fevereiro, 2022

JAIME SERRA MORREU? QUEM DISSE?

Não se trata de uma frase batida, sem sentido.
Os nossos mortos não morrem.
Não, não morrem mesmo!

(voltarei, mais tarde, a este testemunho para vos dizer quem efectivamente morreu)


08 fevereiro, 2022

O MELRO DEU-LHE A MORADA ERRADA

Queixava-se o pardal do seu fraco canto, quando o melro lhe faz um inesperado conselho. 

"Olha voa naquele sentido, quando vires uma árvore velha e em frente uma janela, poisa nela e faz o melhor que puderes. Virá quem que, contigo chilreando, te apurará o canto. Faz como te digo, pois tal aconteceu comigo !"

O pardal fez tal como ouviu, e partiu. Encontrou a árvore velha perto de uma pequena janela... e, esperançoso, insistiu, insistiu... como aqui se ilustra:

Desalentado, desistiu. O melro tinha-lhe dado a morada errada*

________ 

* o vídeo foi recolhido pela minha-mai-velha,
na sua quintinha em Alvega


07 fevereiro, 2022

ESTOU A COLABORAR COM INVESTIGADORES DE UNIVERSIDADES DE REPUTAÇÃO MUNDIAL! QUE TAL?


 A insistência com que na minha caixa de email me apareciam mensagens da ACADEMIA levou-me a abrir a última (de sábado passado). Quando vi a imagem que lá estava, exclamei para Minha Alma:

"Estás a ver? E ainda dizes que Meu Juízo "não dá uma p´ra caixa!"

Depois, ia a tentar saber o que os académicos dizem a meu respeito e como vem crescendo a minha reputação, mas parei. Tal tentativa iria custar-me dinheiro e prefiro imaginar que a comunidade cientifica anda comigo ao colo!

06 fevereiro, 2022

HOJE, MAIS UMA VEZ, NÃO VAI HAVER O QUE SEMPRE HOUVE

Logo, ao jantar,
não haverá o que sempre houve,
não haverá à volta da mesa:
a alegria costumada
não rirás
não rirei
não rirão
não riremos
Não haverá velas num bolo,
troca de olhares
e flashes 
Não cantaremos
(os miúdos não vão poder apagar
as velas, nem cantar também)
Depois,
depois não fará sentido voltar a dizer
Ah, quanto te quero bem...
Ou, saudoso, talvez ainda diga
aquela frase batida
assim
Se não fosses tu
não sei o que seria de mim 
Lhe disse um dia
"O melhor de mim, somos nós"
...e assim será, para o resto
que me resta

Rogério Pereira/6Fev2022

05 fevereiro, 2022

LÁGRIMAS, MESMO SE MUITO CHORADAS, NÃO REFORÇAM ÁGUAS...


Chegámos ao limite. O drama já vem de longe, como recentemente tenho documentado. E as lágrimas, mesmo se muito choradas, não reforçam os rios, lagos, barragens, bacias hidrográficas. 

Mais recentemente, exactamente a 24 de Setembro de 2020, foi apresentado na Assembleia da República um "Plano Nacional para prevenir e combater os efeitos da Seca" votado em Plenário no dia seguinte. Do chumbo, então registado, dá-se nos dias que correm os efeitos dramáticos consequentes. 

Podeis chorar de angústia. Meu choro é de raiva. Chorem comigo!

04 fevereiro, 2022

QUE SERIA DOS RIOS, COM UMA SÓ GOTA


 UNIÃO*

Que seria dos rios
com uma só gota.

Que seria dos aplausos
com uma só mão.

Que seria do arco-íris
com uma só cor.

Que seria da árvore
com um só ramo.

Que seria da sementeira
com uma só semente.

Que seria da terra
com um só ser.

Que seria da luta
com uma só voz.

Que seria da força
sem a união.

Fátima Galia Mohamed Salem

______________________

*Poema roubado ao Rei dos Leittões

03 fevereiro, 2022

QUEM SECOU O MEU ALENTEJO? QUEM ESTOIROU COM O MEU SONHO? - II [sobre os culpados]


Ontem, deixei duas perguntas: Quem, depois de alguém, veio estoirar de vez com o meu sonho? Quem semeou o pesadelo? Eis uma insuspeita resposta:
«Um artigo publicado na Der Spiegel, a mais prestigiada revista de informação alemã, sobre a desastrosa situação ambiental, social e económica que se vive no Sudoeste português à mercê da agricultura intensiva...
O texto sugere que a pobreza e desertificação do Alentejo torna a região um alvo fácil da atenção de empresas cujos escrúpulos ambientais e sociais são inversamente proporcionais aos números de facturação do sector, organizando-se em redes complexas «de corporações agrícolas multinacionais, grandes proprietários de terras locais e empresas comerciais europeias», operando à margem da inexistente fiscalização portuguesa...
(...)
Ao diagnóstico da Der Spiegel, o Juntos pelo Sudoeste acrescenta que «este ímpeto agrícola só é possível porque o Estado português abdicou de cuidar e vigiar partes muito significativas do seu território... 
Por fim, remata que este trabalho de investigação é «mais um passo na divulgação da situação insustentável dos concelhos de Odemira e Aljezur, como consequência do avanço imparável da agricultura intensiva focada na exportação, que compromete um Parque Natural, fractura o maior concelho do país, usa e abusa da água, factura 250 milhões de euros anuais, recebe benefícios fiscais, paga impostos não se sabe bem onde mas certamente não em Odemira, remunera a sua força laboral pelo mínimo, desresponsabiliza-se das suas condições miseráveis de vida e ainda acena a bandeira do “desenvolvimento económico”, quando o que de facto deixa no Sudoeste é a degradação ambiental e social que se vê a olho nu».
Ler tudo aqui

02 fevereiro, 2022

QUEM SECOU O MEU ALENTEJO? QUEM ESTOIROU COM O MEU SONHO?

 

Sim, apesar da promoção ser o que estava sendo, eu acalentava o sonho. Sonhava, há dez anos atrás, ver o meu Alentejo de "celeiro da nação" passar a ser a região onde tudo se desse. Sonhava com a autonomia alimentar e com tudo aquilo que agora a realidade nega. E tenho o pesadelo como certo, o da fome. É que a terra, desnutrida e cansada não dará nada...

Quem, depois de alguém, veio estoirar de vez com o meu sonho? Quem semeou o pesadelo?