31 julho, 2019

E, a propósito, "Eles têm medo de que não tenhamos medo"


Ouve o que eu te digo,
Vou-te contar um segredo,
É muito lucrativo que o mundo tenha medo,
Medo da gripe,
São mais uns medicamentos,
Vem outra estirpe reforçar os dividendos,
Medo da crise e do crime como já vimos no filme,
Medo de ti e de mim,
Medo dos tempos,
Medo que seja tarde,
medo que seja cedo e medo de assustar-me se me apontares o dedo,
Medo de cães e de insectos,
Medo da multidão,
Medo do chão e do tecto,
Medo da solidão,
Medo de andar de carro,
Medo do avião,
Medo de ficar gordo velho e sem um tostão,
Medo do olho da rua e do olhar do patrão e medo de morrer mais cedo do que a prestação,
Medo de não ser homem e de não ser jovem,
Medo dos que morrem e medo do não!
Medo de deus e medo da polícia,
Medo de não ir para o céu e medo da justiça,
Medo do escuro, do novo e do desconhecido,
Medo do caos e do povo e de ficar perdido,
Sozinho,
Sem guito e bem longe do ninho,
Medo do vinho,
Do grito e medo do vizinho,
Medo do fumo,
Do fogo,
Da água do mar,
Medo do fundo do poço,
Do louco e do ar,
Medo do medo,
Medo do medicamento,
Medo do raio,
Do trovão e do tormento,
Medo pelos meus e medo de acidentes,
Medo de judeus, negros, árabes, chineses,
Medo do “eu bem te disse”,
Medo de dizer tolice,
Medo da verdade, da cidade e do apocalipse,
O medo da bancarrota e o medo do abismo,
O medo de abrir a boca e do terrorismo.
Medo da doença,
Das agulhas e dos hospitais,
Medo de abusar,
De ser chato e de pedir demais,
De não sermos normais,
De sermos poucos,
Medo dos roubos dos outros e de sermos loucos,
Medo da rotina e da responsabilidade,
Medo de ficar para tia e medo da idade,
Com isto compro mais cremes e ponho um alarme,
Com isto passo mais cheques e adormeço tarde,
Se não tomar a pastilha,
Se não ligar à família,
Se não tiver um gorila à porta de vigília,
Compro uma arma,
Agarro a mala,
Fecho o condomínio,
Olho por cima do ombro,
defendo o meu domínio,
Protejo a propriedade que é privada e invade-me a vontade de por grade à volta da realidade, do país e da cidade,
Do meu corpo e identidade,
Da casa e da sociedade,
Família e cara-metade…
Eu tenho tanto medo…
Nós temos tanto medo…
Eu tenho tanto medo…

O medo paga a farmácia,
Aceita a vigilância,
O medo paga à máfia pela segurança,
O medo teme de tudo por isso paga o seguro,
Por isso constrói o muro e mantém a distância!
Eles têm medo de que não tenhamos medo.
MEDO DO MEDO, por "Capicua"

30 julho, 2019

Voam! Juro que voam!

Voam! Juro que voam!
Eu também voo
Ela sai ao pai
Ele sai ao avô
Mas não haveria voo nenhum
Se não fosse a avó
Ah!, como eu gosto de os ver voando...

29 julho, 2019

O Zeca, as palavras deixadas e a declaração de voto do PS



Aprovada a resolução, sem um não. Tentando esclarecer o "nim" pode-se ler assim:
(Eu já li. Já li quatrocentas e oitenta e sete vezes, e não entendo):
"A valorização da obra e do legado de José Afonso é fator de consenso e gerador de unanimidade entre as várias forças representadas na Assembleia da República, traduzindo um sentimento generalizado na sociedade civil e entre todos os agentes culturais perante uma figura marcante do século XX português, no... plano artístico e musical e em particular na resistência à Ditadura.
Perante a apreciação da concreta iniciativa do Partido Comunista Português em análise, o Grupo Parlamentar do Partido Socialista entende não ser a mesma capaz de gerar o consenso jurídico quanto às opções a tomar para a realização deste desiderato em relação a todas as medidas propostas.
Por um lado, sendo rigoroso na aplicabilidade da legislação sobre a matéria, só é possível enquadrar alguns dos bens referidos no texto como património material (nunca património imaterial), visto que se tratam de bens móveis, cujo respetivo paradeiro cumpre apurar com segurança, o que tem dificultado a definição de uma estratégia segura, que produza resultados. A situação jurídica de outros bens gera igualmente dificuldades que uma opção pela classificação à cabeça, sem a prévia e detalhada operação e inventariação poderia até prejudicar, conduzindo a um resultado contraproducente.
Finalmente, nos trabalhos a desenvolver importará igualmente assegurar o respeito pela vontade do artista, expressamente manifestada ou tutelada pelos seus herdeiros, algo que o texto sob votação não acautela de forma tão adequada como seria entendimento deste Grupo Parlamentar.
Cientes de que decorre trabalho especializado e atento por parte do Governo e das instituições na área ministerial da Cultura, o Grupo Parlamentar do PS espera que as mesmas decorram com sucesso e que permitam, com certeza adicional, cumprir o objetivo por todos partilhado, de proteção, divulgação e valorização da obra de José Afonso."
DECLARAÇÃO DE VOTO DA ABSTENÇÃO DO PS 
NA VOTAÇÃO DO PROJETO DE RESOLUÇÃO N.º 2262/XIII,
 QUE RECOMENDA A CLASSIFICAÇÃO DA
 OBRA DE JOSÉ AFONSO 
COMO DE INTERESSE NACIONAL

28 julho, 2019

Dominical liturgia [citando Sophia] - 27


Naquele dia descobri um sitio onde alguém se aventurou a avançar com as "Dez das melhores frases de Sophia de Mello Breyner Andersen". Disse então não saber se seriam ou não, mas de pronto avancei inspirado e produzi os melhores mandamentos que jamais produziria se não fossem as frases de Sophia. Desses, já dei conta do primeiro, este segundo transforma em mandamento o que Sophia tomava por regra.

2º Mandamento: Produza beleza, a fealdade custa os olhos da cara
“A regra a seguir é esta: uma casa para todos e beleza para todos. E a beleza não é cara. É geralmente menos cara do que a fealdade que quase sempre se chama luxo, monumentalismo, pretensão. A beleza é simplicidade, verdade, proporção. Coisas que dependem muito mais da cultura e da dignidade do que do dinheiro.” (disse Sophia)
Exemplo de "simplicidade, verdade, proporção"? Logo me veio à ideia esta obra da Olívia Marques.


... e também esta, que embora não assinado é também dela!



27 julho, 2019

O (im)previsível Marcelo - II


Marcelo é tudo menos um catavento. Se olharem bem, embora não pareça, ele está sempre virado para o mesmo lado. O seu percurso explica tudo. Por isso não se espere surpresas. 
A CGTP fez o que devia ser feito. Marcelo decidirá como lhe der mais jeito, sem consultar irmandades
Marcelo é previsível na sua aparente imprevisibilidade.

26 julho, 2019

TVI: O protesto e a resposta dada agora...


A propósito de um muito badalado programa de Ana Leal, na TVI, escrevia-se aqui que
«A mentira leva sempre dianteira relativamente a quem desmente e é mais eficaz a mentira que o desmentido. Não só porque a mentira chega primeiro, como também foi preparada cuidadosamente para entrar na mente.
Gobbels sabia da poda e a sua cartilha não só está disponível como pode ser seguida e melhorada. A tecnologia o permite e permite-o também a segurança e impunidade a quem promove violações grosseiras de critérios e princípios deontológicos a que os jornalistas estão (deviam estar) obrigados.»
Vinha isto a propósito do protesto enviado pelo PCP à ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social) do qual surge agora a resposta, em termos de deliberação. O texto da ERC já foi referido por um jornal (AbrilAbril), do qual não perco pitada e quem me lê também não deve perder. O titulo é sugestivo:

ERC: «É notório o enviesamento e a falta de isenção da TVI»

Sobre a questão central - o procedimento por ajuste direto - teve a Assembleia Municipal de Loures que deliberar sobre um relatório que acabaria de ser votado por unanimidade. O vídeo tem também a virtude de tornar clara a posição das várias forças políticas. A do PSD, não espanta. A do Bloco, é chocante pois vai buscar... argumentos da tal Ana Leal.

24 julho, 2019

Celebrando Caxias (antes, as bandeiras estavam inteiras)

Mais uma vez não confirmei se estaria e fui. Julguei dever estar pois tenho defendido que Caxias devia continuar a merecer ser o que já fora, uma freguesia com identidade. Contudo, a data comemora a elevação de Caxias a Vila que ocorreu em 24 de Julho de 1997 o que, não sendo o mesmo, se presta a que eu assinale, mesmo desconhecendo o protocolo do hastear das bandeiras, que a Bandeira Nacional figura em primeiro lugar relativamente à que ostenta estrelas. Tal facto atenua o outro impacto, o do pano roto que por seu turno retrata a situação das freguesias e o "Estado do Município" como tão bem o retratou, este outro eleito 

23 julho, 2019

Europa: daqui a nada anda tudo à porrada (p´ra variar)

________
  • O José Goulão diz que "Duas mulheres foram escolhidas para cargos de grande destaque no gigantesco aparelho burocrático neoliberal que é a União Europeia. Ao cabo de um opaco processo de tráfico de influências, a alemã Ursula von der Leyen emergiu como escolha final para a presidência da Comissão Europeia; e a directora-geral do FMI, Christine Lagarde, foi designada presidente do Banco Central Europeu."
  • Eu digo que Um gajo despenteado vai, no Reino Unido, resolver o que ainda não foi resolvido... e toda Europa se apronta para que não se resolva...
  • Toda a gente diz que A Espanha anda, desandando, a braços com uma situação que ninguém percebe porque não quer perceber...
Para variar, não tarda nada, anda tudo à porrada!

22 julho, 2019

Venezuela e o que (não) se diz dela! - XI

«A Declaração de Caracas foi assinada por representantes dos 120 países que participaram, este fim-de-semana, na reunião ministerial do Gabinete de Coordenação do MPNA, preparatória da XVIII Cimeira do Movimento, que deve ter lugar em Outubro no Azerbaijão, altura em que a Venezuela deixa a presidência da organização.»
120 países? MPNA? Qué qué isso? Quem disto ouviu falar, ponha o dedo no ar!

21 julho, 2019

Dominical liturgia [citando Sophia] - 26

Na passada liturgia produzi os melhores mandamentos que jamais produziria se não fossem as frases de Sophia. Reproduzo o primeiro: Escreva um poema, salve o que julgue ser sua alma
“A poesia é das raras actividades humanas que, no tempo actual, tentam salvar uma certa espiritualidade. A poesia não é uma espécie de religião, mas não há poeta, crente ou descrente, que não escreva para a salvação da sua alma – quer a essa alma se chame amor, liberdade, dignidade ou beleza”. (disse Sophia)
E a Maria João como se respondesse a Sophia assim escrevia:
(I)LIMITES & PARADOXOS

Entre vivos e mortos levantamos
Montanhas de aço vivo e de vontade
Contra as quais esbarrarão os grandes amos
Dos medos, quais torpedos de ansiedade,

Mas se no espanto imenso em que nos damos
Abstrusa, a novilíngua nos invade,
À nossa antiga concha retornamos,
Pela libertação da liberdade.

E mudamos. Ó céus!, como mudamos
Quer queiramos mudar, quer não queiramos,
Sem dúvida em excessiva velocidade,

Ultrapassando mesmo a ubiquidade...
Porém, na rapidez com que avançamos,
Quem mede o estado ao estado a que chegamos?

Maria João Brito de Sousa – 06.01.2019

18 julho, 2019

Estamos em 2019, a caminho de eleições


«Quando, a 4 de Outubro de 2015, contrariámos o ambiente geral de resignação que dava como inevitável a continuação do governo PSD/CDS, demos a primeira de tantas contribuições para cada avanço, cada conquista, cada reversão de medidas negativas, para a defesa de cada direito, não desperdiçando nenhuma oportunidade para defender, repor e conquistar direitos. 
Hoje podemos dizer que não há nenhuma medida positiva para os trabalhadores e para o povo que não tenha tido a intervenção ou o voto decisivo do Partido Comunista Português.»
Jerónimo de Sousa, 
na apresentação do Programa Eleitoral do PCP
Os sete compromissos assumidos pelo PCP:

17 julho, 2019

"Estávamos em 2015 a caminho de eleições."


Ontem foi mesmo um lufa-lufa, uma corrida. Contudo cheguei sempre a tempo e neste caso a pontualidade foi premiada por abraços e sorrisos prévios. Depois começou. Agostinho Lopes antecedeu o que me fez correr. Ah, o que eu perderia se o tivesse perdido. E a sua intervenção começou com a frase que destaco em título.

16 julho, 2019

Uffa! Que ganda lufa, lufa!


Esse aí não é Minha Alma, nem Meu Contrário. Sou Eu, na missão polivalente de militante-repórter-com-partido. Sendo isso tudo, não espanta que não tenha descansado  um segundo. Hoje estive num sítio onde não fui preciso. Estavam lá todos, os nossos e os outros.
Entretanto, eu tinha de promover o que era compromisso ter de ser promovido... trabalho simples... divertido.
Sobre o outro, a luta, fica o mote. Falarei disso. Agora, passo ao "interregno para coisas belas" e o convite a uma visita...

14 julho, 2019

Dominical liturgia [citando Sophia] - 25


Descobri um sitio onde alguém se aventurou a avançar com as "Dez das melhores frases de Sophia de Mello Breyner Andersen". Não sei se são ou não, mas não tenho dúvida que me inspiraram a produzir os melhores mandamentos que jamais produziria se não fossem as frases de Sophia.

1º Mandamento: Escreva um poema, salve o que julgue ser sua alma
“A poesia é das raras actividades humanas que, no tempo actual, tentam salvar uma certa espiritualidade. A poesia não é uma espécie de religião, mas não há poeta, crente ou descrente, que não escreva para a salvação da sua alma – quer a essa alma se chame amor, liberdade, dignidade ou beleza”. (disse Sophia)
2º Mandamento: Produza beleza, a fealdade custa os olhos da cara
“A regra a seguir é esta: uma casa para todos e beleza para todos. E a beleza não é cara. É geralmente menos cara do que a fealdade que quase sempre se chama luxo, monumentalismo, pretensão. A beleza é simplicidade, verdade, proporção. Coisas que dependem muito mais da cultura e da dignidade do que do dinheiro.” (disse Sophia)
3º Mandamento: Não seja pato bravo
“Penso que a Cultura da nossa época tende muito a ser uma espécie de reserva cultural. Faz-se um Centro Cultural, chama-se um bom arquitecto, põe-se lá quadros bonitos e coisas bonitas… Depois, à roda, é a construção do pato bravo: é uma caricatura cultural. A Cultura é uma coisa que, ou está na mentalidade e na vida, ou não está em parte nenhuma. Não é um objecto de museu, é qualquer coisa de estrutural na vida humana.” (disse Sophia)
4º Mandamento: Use o ócio, nunca seja um ser ocioso
“O ócio é o atelier em que se escreve. Escrever sem silêncio, sem tempo, sem disponibilidade… não é possível.” (disse Sophia)
5º Mandamento: Nunca despreze uma palavra. Se sobrar, guarde-a
“Recordo-me de descobrir que num poema era preciso que cada palavra fosse necessária, as palavras não podiam ser decorativas, não podiam servir só para ganhar tempo até ao fim do decassílabo, as palavras tinham que estar ali porque eram absolutamente indispensáveis. Isso foi uma descoberta.” (disse Sophia)
6º Mandamento: Ensine uma criança a dizer um poema, antes que cresça  
“Se as crianças aprendessem poemas de cor em pequenas, se fosse uma parte integrante do ensino e até, se elas tivessem de dizer um poema de cor para serem admitidas a qualquer universidade, as pessoas passavam a falar melhor. Porque falar é próprio de todas as pessoas, não é só do médico, do engenheiro e onde se aprende a falar realmente é na poesia.” (disse Sophia)
7º Mandamento: Aceite-se sempre, mesmo se em perda
“Com o tempo perdem-se as coisas. Eu acho que isso acontece às mulheres e aos homens. Depois vamo-nos perdendo a nós próprios, já não se tem a mesma imagem, já não se tem a mesma ligeireza, já não se tem a mesma leveza, já não se tem…” (disse Sophia)
8º Mandamento: Ponha sempre alguma racionalidade na sua crença
“Sou muito angustiada com as coisas: a criança que se queima, que cai à piscina, que é atropelada, nas outras coisas tenho uma certa entrega, acho que Deus se justificará a si próprio, eu não consegui justificá-lo. Não consigo perceber porque razão há morte, sofrimento, o mal, as tentações, mas tenho consciência que talvez não tenha capacidade para isso. Eu também não tenho capacidade para compreender matemática, quanto mais… os desígnios de Deus.” (disse Sophia)
9º Mandamento: Lembre-se sempre que sem prática a teoria vale nada
“Eu penso que há uma diferença entre o homem e a mulher, e os feminismos não podem… Para mim o machismo não é considerar que há uma diferença entre o homem e a mulher, o machismo é tentar fazer um negócio dessa diferença… Os feminismos são teorias. Eu acho que a teoria na nossa época tem desempenhado um papel terrível na política, tem desempenhado um papel terrível na arte, e também na vida… A vida tem sido muito sacrificada à teoria…” (disse Sophia)
10º Mandamento: Nunca se esqueça da existência do universo
“Penso que nós procuramos sobretudo o que nos dá felicidade, não acha? Procuramos o que nos cria uma certa libertação íntima que é necessária à liberdade. Procuramos ser um com o universo.” (disse Sophia)

13 julho, 2019

SNS salvo, "por uma unha negra"?...


"Por uma unha negra" é uma expressão que significa qualquer coisa próxima de "à última hora". Mas atenção, está em interrogação (embora a notícia seja positiva).
«Deverá ter chegado ao fim o processo negocial em torno da nova Lei de Bases da Saúde, após a solução encontrada no decurso das últimas negociações entre o PCP e o Governo e que, por um lado, permitirá inscrever na nova Lei o princípio da gestão pública dos estabelecimentos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e, por outro, revoga a legislação sobre o regime de parcerias público privadas (PPP).
Nesse sentido, a nova Lei de Bases da Saúde deverá consagrar o carácter público, universal e geral do SNS e a gestão pública dos respectivos serviços e estabelecimentos, uma questão que para o PCP era essencial.
Recorde-se que, face à oposição do PSD e do CDS, a posição do PCP era decisiva para viabilizar a nova Lei.
Com a solução a que chegaram, os comunistas garantem também a fixação do princípio de que o Estado só deverá recorrer aos sectores privado e social de forma supletiva e temporária, enquanto o SNS não tiver capacidade de resposta.»

12 julho, 2019

"na televisão, a direita vence a esquerda" e o PCP é fruto de um apagão...

 
« (...) Um estudo recente, aqui já escalpelizado por Nuno Serra, confirmou que o comentário político televisivo está enviesado para a política de direita no nosso país. Para lá disso, confirma-se o que já tínhamos aqui defendido: comunista praticamente não entra, não comenta. De facto, o PCP é o partido mais discriminado no comentário político televisivo. Eu já ouvi gente do meio dizer que é porque os comunistas são previsíveis, dizem sempre as mesmas coisas anacrónicas e tal. E eu digo que previsível é o preconceito anti-comunista.

Os comunistas são a força onde é mais acentuada a discrepância entre o acerto de muitas posições, tantas vezes bem argumentadas, e a forma como essas posições são televisivamente desconsideradas. Para lá das eventuais questões de comunicação, há aqui um evidente preconceito ideológico, de classe. E nem vou falar desta vez das questões europeias, onde acertaram bem mais do que os europeísmos mais ou menos insanos que nos levaram aqui e que são absolutamente dominantes na televisão.

Dou um exemplo mais circunscrito, mas igualmente importante para uma sociedade civilizada: a ferrovia. Se há partido que tem cabalmente denunciado os resultados da política de desinvestimento na, e de desmantelamento da, CP é o PCP, como se atesta lendo uma análise sobre este assunto. Por isso, o PCP está agora em boa posição para avaliar o significado de um primeiro gesto governamental que vai ao encontro do que sempre defendeu: a reintegração da EMEF na CP.

É claro que no comentário político ninguém falará sobre isto a milhões na televisão. Afinal de contas, comunista não entra mesmo. Creio que nenhum leninista ficará surpreendido. A situação está tão má, dentro e fora da televisão, que esta grelha marxista tem hoje uma capacidade explicativa relativamente superior ao que passa por sabedoria convencional na televisão e até fora dela.»
João Rodrigues, in "Ladrão de Bicicletas"

11 julho, 2019

Paulo Henrique Amorim: 1942-2019 (in memoriam)



Triste notícia. Não é novidade que ele, para mim, foi (e continuará a ser) uma referência pois foram tantas as vezes que o trouxe a este meu "Conversa Avinagrada". Deixo-vos a minha comoção. Deixo-vos as homenagens expressas pelos movimentos sociais do Brasil e deixo-vos este apontamento sobre uma intervenção sua sobre o que mais tarde ou mais cedo acontecerá à nossa imprensa (se é que não está já acontecendo)

Até sempre, caro Paulo Henrique Amorim!



10 julho, 2019

Estado da Nação: que País temos entre os que discutem e os que lutam?


O Estado da Nação esteve em discussão.  Faço link para algo que deve ser lido e de onde transcrevo apenas a parte final:
«Os instrumentos de que o País precisa para se desenvolver de uma forma soberana continuam, no entanto, nas mãos de privados, apesar da actual solução ter travado ou revertido a privatização de algumas empresas.
Pese embora as limitações evidenciadas, sobressai a intervenção das forças à esquerda do PS, que desde o dia 5 de Outubro de 2015 colocaram a tónica na necessidade de travar a política de direita, sendo este o elemento novo da legislatura. Evidenciando-se que é o número de deputados de cada grupo parlamentar que determina a política nacional, ao contrário da tão propalada ideia de que se vota em «candidatos a primeiros-ministros».
Na rua, a luta continua, e foi (é) assim!

08 julho, 2019

O Syriza, que chegou a ser cunhado como «esquerda radical» e andou anos a servir o capital como melhor pôde, deixa o governo.

______

Em 2015, o Syriza ganhou as eleições com um programa eleitoral que viria a não aplicar. E quando, em referendo, o povo grego disse maioritariamente «não» ao terceiro resgate, o seu líder, Alexis Tsipras, acabou por assiná-lo.

Por isso, a PAME (Frente Militante de Todos os Trabalhadores) lançou fortes críticas ao Syriza, que «faz melhor o trabalho de liquidador dos direitos d os trabalhadores que a Nova Democracia [direita]».

Não só as questões do trabalho afastaram o Syrisa do seu discurso de promessas. Um ano depois, em 2016, na remodelação do governo grego não é por acaso que o responsável pela privatização de várias empresas públicas é nomeado  secretário de Estado da Economia. Para ministro entra um economista que era presidente de um centro de estudos económicos norte-americano, o Levy Economics Institute.

Hoje, a Grécia tem um governo e uma maioria absoluta de direita.

«Esta manhã não faltavam comentários sobre o regresso da «direita de sempre» ao governo na Grécia, a lembrar a «estrondosa derrota» de Alexis Tsipras ou as ilusões que a vitória do seu partido, em 2015, gerou – na Grécia e fora dela.
O engano, para alguns, durou pouco. Às vitórias de tal «esquerda» em Janeiro e Setembro de 2015, seguiram-se greves gerais sucessivas e manifestações com dezenas de milhares nas ruas de Atenas e Salónica. É que as infra-estruturas (portos, aeroportos) estavam a ser privatizadas e as reformas legislativas que afectaram, trabalhadores, pensionistas e a população grega em geral seguiam-se ao ritmo das exigências da troika do capital.»
Ler em AbrilAbril
Como nota final, fica o apontamento de como partidos que se consideravam irmãos e se envolveram em campanhas eleitorais e , tinham (e mantém) linguagem igual…

07 julho, 2019

Dominical liturgia [citando Sophia] - 24

 

Assumi o compromisso de, depois de passar pelo "Vivenciar a Vida", trazer aqui o que ainda não sabia o que aqui trazer. Aquele blog publicava "Lagos", poema de Sophia, que eu não conhecia. Relido e voltado a ler, permaneceu a dúvida sobre a ponta por onde pegar: se a guerra colonial, se Senghor que Sophia referia. Sobre os poemas de Sophia em que se refere à guerra, tinha várias hipóteses, da mais directa e clara àquela outra mais indirecta e subliminar. Por outro lado, falar de Senghor era ter de falar de alguém menos conhecido. Optei por este, exactamente por isso:
Poema para meu irmão branco

Meu irmão branco...
Quando eu nasci, eu era negro
Quando eu cresci, eu era negro
Quando eu vou ao sol, eu sou negro
Quando eu estou com frio, eu sou negro
Quando eu estou com medo, eu sou negro
Quando eu estou doente, eu sou negro
Quando eu morrer, eu serei negro

E Você Homem Branco...
Quando você nasceu, era rosa
Quando você cresceu, era branco.
Quando você vai ao sol, fica vermelho.
Quando você fica com frio, fica roxo.
Quando você está com medo, fica branco.
Quando você fica doente, fica verde.
Quando você morrer, ficará cinza.
Depois de tudo isso Homem Branco, você ainda tem o topete de me chamar de homem de cor?
Léopold Sédar Senghor

05 julho, 2019

45 anos depois do 25 de Abril, um dia histórico


45 anos depois de Abril...
«Quarenta e três anos após a aprovação da Constituição da República, que consagra o direito à habitação, foi aprovada esta sexta-feira em votação final global, na Assembleia da República, a primeira Lei de Bases da Habitação, com os votos a favor de PS, PCP, BE, PEV e PAN, e os votos contra de PSD e CDS-PP.
«O Estado é o garante do direito à habitação», lê-se no diploma da Lei de Bases, indicando que «todos têm direito, para si e para a sua família, a uma habitação de dimensão adequada, em condições de higiene e conforto e que preserve a intimidade pessoal e a privacidade familiar».
Além da «efectiva garantia desse direito a todos os cidadãos», o diploma estabelece a função social da habitação, em que «os imóveis ou fracções habitacionais detidos por entidades públicas ou privadas participam, de acordo com a lei, na prossecução do objectivo nacional de garantir a todos o direito a uma habitação condigna».
Entre as medidas que compõem a Lei de Bases destaca-se a criação do Programa Nacional de Habitação e da Carta Municipal de Habitação, permitindo mobilizar solos para programas habitacionais públicos e privados de custos controlados. »
Ler em "AbrilAbril"
 Um dia Histórico
«Senhor presidente, senhoras deputadas, senhores deputados, cidadãos que nos acompanham. Acabamos de assistir a uma votação histórica. Pela primeira vez em Portugal vamos ter uma Lei de Bases da Habitação. Ficam assim criadas as condições para que o direito à habitação, consagrado na Constituição da República Portuguesa, seja uma realidade para todas as pessoas que vivem em Portugal. Depois das iniciativas do Partido Socialista, do Partido Comunista Português e do Bloco de Esquerda, fizemos dezenas de audições, visitas, recebemos inúmeros contributos da sociedade civil e de cidadãos individuais. Todos pudemos melhorar as propostas iniciais. Fizemos 304 votações sobre o articulado, 178 propostas mereceram aprovação, das quais 26% - algumas nucleares - foram aprovadas por unanimidade. A lei que hoje aprovámos já não é património de nenhum partido. É uma lei que concretiza em Portugal um pilar fundamental do Estado Social de direito.
A Lei de Bases da Habitação não vai dar casa a ninguém, mas representa um enorme passo em frente no direito a uma habitação condigna para todos, com mecanismos e instrumentos concretos de defesa e promoção desse direito. Esta lei é também um caderno de encargos para o futuro.

Helena Roseta, citada em "Ladrões  de Bicicletas"

04 julho, 2019

No ataque ao Serviço Nacional de Saúde - O "Linha de Frente" foi eficiente...


Depois de ver isto, de fio a pavio, se a Lei de Bases de Saúde passar, mantendo as PPP, adeus (definitivamente) meu caro António Arnaut, adeus Serviço Nacional de Saúde, adeus Constituição, pois nem esta lhe valerá:
(...) Eu sou o autor da lei que criou o Serviço Nacional de Saúde, mas se a lei tem progenitor, tem sobretudo a mãe. A mãe é que conta e a mãe é a Constituição. Se ela só tivesse o pai há muito tempo que tinha sido revogada e o Serviço Nacional de Saúde destruído. O que lhe tem valido, o que a tem amparado neste percurso acidentado de quase 40 anos é a Constituição da República.(...)
António Arnaut
O que para aí vai, trai mãe e pai.  

03 julho, 2019

Em defesa do Serviço Nacional de Saúde

«Em declarações aos jornalistas, João Proença, presidente da FNAM, responsabiliza as políticas aplicadas ao longo de décadas e que considera urgente reverter. «Ou a política de saúde muda ou acabam os serviços de saúde públicos», frisa.
O dirigente alerta para o perigo de deixar a Saúde nas mãos dos privados, que «têm em vista o lucro», sublinhando que «tudo o que não dá lucro, como a Oncologia ou a Infecciologia, os privados não querem».
Ler tudo em AbrilAbril
Já escrevi um monte de coisas sobre o tema, a uma delas, com mais de cinco anos, dei o seguinte título:
Do SNS restará apenas o que for residual, 
ou o que o sector privado não queira...

02 julho, 2019

Somos "Desenhadores de Sonhos"...


A reportagem acima dá testemunho de mais uma iniciativa da Associação de Reformados, Pensionistas e Idosos da Freguesia de Oeiras. Esta iniciativa, como tantas outras, junta idosos, jovens e até crianças colocando os valores do relacionamento intergeracional como um valor fundamental para a coesão social e para o desenvolvimento da solidariedade entre gerações. Recordamos o périplo realizado pelas escolas, levando aos jovens a memória que temos...

«Partilhar a memória é uma forma de evitar que o passado se repita»

Este é o caminho.
A excursão foi apenas um interregno... para coisas belas. 
E que belo foi o convívio.

01 julho, 2019

António Hespanha, 1945-2019 (in memoriam)

Quem frequenta este meu espaço sabe que nunca passei ao lado de gente impoluta, que sempre se bateu na vida por valores e por eles pagou preço imerecido. Faleceu hoje. Passo a republicar, como memória de uma sentida perda. Não minha, mas nossa.


O Professor tinha tudo preparado... 
mas não vai ser como esperava que fosse
"Para os meus alunos e colegas da Universidade Autónoma de Lisboa (UAL)
Deixei de ser professor da UA. Inesperadamente e pela calada das férias, a direção mandou-me dizer, por carta de entreposta pessoa, que punha fim à minha colaboração. As justificações apresentadas são fantasiosas e vazias, pelo que é seguro que há outras, porventura relacionadas com uma brevíssima crítica que formulei, num “Prós e contras” em que se comparava a qualidade dos setores público e privado. A propósito, referi a falta de uma política de investimento científico e académico do ensino superior privado em geral (nem sequer referi a UAL) e a consequente dependência em que isso o coloca perante o ensino público. Esta opinião é, de resto, favorável à real autonomia e a um desenvolvimento correto e sustentado das universidades privadas, como hoje está patente, pela positiva – veja-se o caso da Universidade Católica - e pela negativa. De há muito que legitimamente a tenho e a exprimo. E, nos anos em que trabalhei na UAL (mais de dez), muitos esforços fiz: para trazer à Universidade pessoas que a prestigiassem; para dar ao meu ensino a melhor qualidade possível, para o inovar; para me ocupar pessoalmente (e não por intermédio de assistentes ou de colaboradores) das tarefas de ensino e de avaliação; para promover um contacto direto com os alunos, por meio de blogues ((http://amh-hespanhol.blogspot.pt/; para o ano que vem, já tinha on line, há mais de um mês, blogs relativos às novas disciplinas, com programas e calendários: http://ua-hi-2013.blogspot.pt/, http://ua-2013-te.blogspot.pt/). De modo a que nunca se pudesse dizer que fazia ali um ensino de segunda, em relação ao que fazia na Universidade pública. Colegas e alunos reconheceram isso e disso me deram testemunhos frequentes.
Enfim, nada disto contou, perante a vontade de quem – por razões que ignoro ou prefiro ignorar – não me queria na UAL. Sei que este desfecho foi promovido apenas por alguns, que conseguiram levar avante a sua decisão. Não envolvo, por isso, nele, nem toda a direção, nem os restantes órgãos da Universidade, nem os meus Colegas de Departamentos, nem os funcionários, nem os estudantes. Creio bem que muitos destes se sentirão muito incómodos por isto acontecer, ainda que – por razões que se compreenderão – se mantenham discretos. Em algumas instituições da nossa vida pública e privada, vai sendo muito penalizador dizer-se o que se pensa, mesmo em instituições em que a verdade e a liberdade deviam estar antes de tudo, como é o caso das Universidades.
Pode ser que nos encontremos em outros lugares e que possamos retomar diálogos proveitosos e de boa memória.
Abraços amigos.
António Manuel António Hespanha"