30 novembro, 2011

Fernando Pessoa - 30 de Novembro de de 1935.

Numa só morte se perderam tantos
e a falta que eles me fazem,,,
Suas palavras não minimizam
a ausência
de quem me olhava no olhar,
mas me atiçam, ainda, a esperança
e a lembrança
de que a certeza de ser não me irá faltar
Rogério Pereira

Sonho. Não Sei quem Sou
Sonho. Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento,
Minha alma não tem alma.
Se existo é um erro eu o saber. Se acordo
Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.
Não tenho ser nem lei.
Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações,
Coração de ninguém.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

29 novembro, 2011

O Paulo Guinote, o Pacheco e cá o rapazote....

A cada um o seu retrato, destes "fala-barato"....

O que mais me maravilha na blogosfera é este (fictício) sentimento de verdadeira democracia onde cada um se junta a "gente grande", lhes "linka" textos, os transcreve, os riposta, confronta ou complementa, conforme a razão que julga ter. E, ainda por cima, à borla (daí a referência aos "fala-barato"). Claro que, fora daqui, me remeto à insignificância de só ser um ser pensante, um "Cavaleiro Andante". Os meus parceiros são outra coisa: Paulo Guinote é um (já) ilustre "fazedor de opinião" (escreve posts à média de doze por dia, está nos comentários, dá entrevistas e escreve em jornais e revistas e... ainda lhe sobra tempo para ser professor). José Pacheco Pereira é bem mais que isso, tem outra notoriedade o que faz dele uma autoridade bem instalada...
Mas vamos ao que importa:
Paulo Guinote - Escreve que se farta sobre sindicalismo e sobre a greve. O que pensa não é pensamento isolado e é cada vez mais o porta-voz dos que já a tem. O que ele diz? Coisas assim: "...o movimento sindical demonstra uma evidente incapacidade para capitalizar o descontentamento popular (...) existe a percepção de que as organizações sindicais, cada vez mais burocráticas e estabelecidas, procuram defender, em primeiro lugar, as suas posições organizacionais.(...) Formas alternativas de actuar no sentido de aumentar a mobilização teriam que passar pelo reforço dos laços identitários de cada grupo profissional (...) - Vale mesmo a pena ler na integra
José Pacheco Pereira - Quase responde ao Guinote (e esta hein?): "Mas quem é que podia deixar de esperar que houvesse uma greve? Só quem pretendesse que subitamente a sociedade portuguesa prescindisse da conflitualidade social e que muitos milhões de portugueses que estão a empobrecer se sentassem numa sala escura, abatidos e deprimidos, à espera da salvação.(...) Depois, há os argumentos quanto ao significado da dimensão da greve, para interpretar o impacto que pode ter na sua leitura política(...), vamos admitir que todos os que não fizeram greve porque não podiam perder o salário de um dia, e só mesmo esses, em estado de necessidade, se somavam aos grevistas. Convenhamos que seriam muitos e superariam certamente os que retirámos do número geral anterior de grevistas à força. E, por último, acrescentemos todos os que desejariam manifestar o seu protesto através de uma greve, caso não sentissem que haveria qualquer consequência na sua situação laboral, não seriam prejudicados nas suas carreiras e salários, e, acima de tudo, não seriam despedidos. Então, meus amigos, garanto-vos que a greve seria muito mais próxima do "geral" que esta foi e o sector privado teria uma importante participação. O país pararia mesmo." - é, quase, obrigatório ler na integra
Pela tendência registada, daqui a pouco não há nada...
Este Rapazote (que sou eu) - Não queria ir muito além do objectivo de deixar os textos dos dois "gurús", que quase se rebatem ponto por ponto. Não quero, contudo de chamar a atenção para o escrito do José Pacheco Pereira e sugerir que ele seja cruzado com os dados do pequeno video que encima estas minhas palavras. A grande questão é, face à terciarização da economia e à pulverização da dimensão das empresas se (qualquer) organização sindical resistirá. Dito de outra forma: a questão é se, de forma mais eficaz que o Salazarismo (renitente ao desenvolvimento por temer um sindicalismo forte), o neoliberalismo e as politicas que o suportam, não conseguirão o grande feito de matar a organização sindical, pela simples razão de já não haverem empresas. Está-se numa fase de resistir, de lutar e não de rever outros  processos que não sejam os que levem à consciencialização de vamos a caminho do abismo. Tendo participado na greve, vi muita gente jovem e responsáveis sindicais a actuar. Fiquei com a certeza de que os trabalhadores saberão resistir....

28 novembro, 2011

Discutir o que somos e como nos expressamos, independentemente de se gostamos...

Há coisas que, inevitavelmente, fazem parte de nós... 
Rejeitá-las porque nos desgostam?, mas então o que é que ficaria?
I - Poucos anos depois de minha mãe ter deixado de ser uma das meninas da "loja nova" de Ermidas/Sado e de meu pai ter desistido de ser o rapaz da camioneta verde, que era fretado para tudo o que era transporte de carga, eu nascia e de pronto vínhamos para Lisboa, à procura de nosso destino. E porque o destino foi uma eterna procura dentro dos limites que o poder de então detinha, fomos andando de casa em casa e meu pai de emprego em emprego. Foram anos que não sei contar a não ser pelo que minha mãe cantava. Era de Amália o seu lamento. Se eu gostava? Pode-se lá gostar desse viver, desse cantar... 
II - Anos mais tarde, talvez uns quinze, outra a relação com a canção. No café Chaimite reunia-se, entre café e fumo, amizades feitas da proximidade de residência, à volta de livros de estudo e sebentas. Aos fins de tarde, a tertúlia era alargada a quem se chegava. No interregno da procura de um destino mais habilitado, aconteciam coisas que me alimentavam a alma. Foi nesse grupo - que também me deu janelas de compreensão do mundo - que ouvi pela primeira vez o "Embuçado". Já não me lembro o significado e o porquê de um grupo lembrar o Rei assassinado para, logo de seguida, cantarolar "Os Vampiros", tendo entretanto lido poesia dos livros idos e únicos, da instrução primária ("quem quer ver a barca bela/ que se vai deitar ao mar"). Coisas por certo ditas assim para distrair vizinhos suspeitos de poderem fazer denúncias...
III - Por essa altura, eram frequentes os encontros, os convívios e as jornadas de luta nos meios académicos por onde aparecia. Em quase todas se cantava. Sentados no chão (fosse qual fosse o chão) ouvíamos irmanados, as vozes, o trinar das guitarras, os fados, as baladas e as trovas. A pouco e pouco o fado foi sendo afastado. José Afonso diria, alguns anos mais tarde"Quando fui fazendo canções que me afastavam do fado de Coimbra nunca tive a atitude condenatória de dizer que o fado de Coimbra é uma grande merda, por isso acabou, ponto final. Naquela altura vivia-se um intenso período de actividade antifascista e tudo o que fosse tradição tinha de ser rejeitado. Foi uma atitude absolutista, de certo modo despótica, que foi necessário corrigir com o tempo e hoje está a ser corrigida."
IV - Convenci a Teresa e aquela que viria a ser minha sogra a ir ao concerto de Carlos Paredes, nas "Belas Artes". A sala estava apinhada e o concerto ia correndo como eu previa e Minha Alma esperava. Tinham sido ainda poucas as pautas tocadas, quando um coro de vozes berraram: "czardas, carzadas, czardas". As palavras gritadas eram acompanhadas por palmas. Digno, o mestre levantou-se e silencioso abandonou a sala. Num rápido momento a sala tomou-se de arrependimento e silenciosamente abandonou também o salão. Aquela que viria a ser minha sogra  ainda me perguntou o que se tinha passado. Acho que lhe terei respondido...
V - Passaram muitos anos (cerca de 40) e passei a escrever neste blogue.  A dada altura quis responder a mim próprio porque me sentia português. Encontrei várias respostas que acrescentam ao que atrás escrevi, isto, isto e ainda isto. Se gostei de escrever o que escrevi? Se gostei de viver o que vivi? Que importa gostar ou não, ficou-me na alma e hoje pertence ao mundo. (*)
VI - E o destino, pá? O destino vai sendo construído pelo poder, até isso assim deixar de ser.
 (*) Pena a exclusão do fado de Coimbra. 
A imagem foi roubada a um amigo recente 

27 novembro, 2011

Homilias dominicais (citando Saramago) - 59

A candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade é um trabalho sério, limpo e belo. O meu amigo Rodrigo (Folha Seca) sobre isso postou e é recomendável conhecer (eu não conhecia...)
HOMILIA DOMINICAL
Hoje não cito Saramago, ou não o faço directamente. Não acho abusivo falar por palavras de quem o acompanhou e amou: Pilar del Rio deu voz à Fundação José Saramago no apoio à candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade. 
Acredito profundamente que Saramago, se estivesse connosco, o faria com palavras suas. Atrevo-me a imaginar que seriam palavras de destino nosso, ligado a esse nosso cantar. Imagino (sonho) que daria à expressão do fado aquilo que lhe está destinado e para tanto estamos fadados: Novas sonoridades, novas palavras e vozes espalhadas por todas as partes que guardam o povo português no seu coração. Acho que o Mundo nos estima, mais do que nos estimamos nós
Beijo de Saudade
"Ondas sagradas do Tejo
Deixa-me beijar as tuas águas
Deixa-me dar-te um beijo
Um beijo de mágoa
Um beijo de saudade
Para levar ao mar e o mar à minha terra
Nas tuas ondas cristalinas
Deixa-me dar-te um beijo
Na tua boca de menina
Deixa-me dar-te um beijo, óh Tejo
Um beijo de mágoa
Um beijo de saudade
Para levar ao mar e o mar à minha terra..."
..............................................................Mariza/Tito Paris (ver letra)



Fado Tropical
.
“... Com avencas na caatinga, alecrins no canavial
Licores na moringa, um vinho tropical
E a linda mulata com rendas de Além-Tejo
De quem numa bravata arrebata um beijo

"..."

Guitarras e sanfonas, jasmins, coqueiros fontes
Sardinhas mandioca num suave azulejo
E o rio Amazonas que corre Trás-os-Montes
E numa pororoca desagua no Tejo
Ai esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um império colonial”

..............................................................Chico Buarque (ver letra)

24 novembro, 2011

Estive lá...

Três notas de resposta à intervenção da PSP:
  • A firmeza, calma e argumentada
  • A presença da juventude
  • De 11 carros saíram três, pelo portão do fundo, porque a vida é dura e a alma sempre fura... (não sei que pensarão aqueles motoristas e restante tripulação) 
Esta imagem, sendo real, é abusiva: Pretende fazer passar o que ficou longe de ser o dia

Para o dia depois da Greve


"Bandeiras Vermelhas" -  Maria Helena Vieira da Silva

Elogio da Dialéctica
A injustiça avança hoje a passo firme
Os tiranos fazem planos para dez mil anos
O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são
Nenhuma voz além da dos que mandam
E em todos os mercados proclama a exploração;
isto é apenas o meu começo

Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem
Aquilo que nòs queremos nunca mais o alcançaremos

Quem ainda está vivo não diga: nunca
O que é seguro não é seguro
As coisas não continuarão a ser como são
Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados
Quem pois ousa dizer: nunca
De quem depende que a opressão prossiga? De nòs
De quem depende que ela acabe? Também de nòs
O que é esmagado que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, que há aì que o retenha
E nunca será: ainda hoje
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã
 Bertold Brecht 

23 novembro, 2011

Leve um selo (ou o poema) e faça por merece-lo...

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema - e são de terra.
Com mãos se faz a guerra - e são a paz.
Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas, mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra as mãos que são o canto e são as armas.
E cravam-se no tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.
De mãos é cada flor, cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.
Manuel Alegre
Os selos são antigos, são a minha luta desde que me conheço 
(aqui e, também, aqui)

21 novembro, 2011

Ainda as mãos...

CORAÇÃO HABITADO 

Aqui estão as mãos. 
São os mais belos sinais da terra. 
Os anjos nascem aqui: 
frescos, matinais, quase de orvalho, 
de coração alegre e povoado. 

Ponho nelas a minha boca, 
respiro o sangue, o seu rumor branco, 
aqueço-as por dentro, abandonadas 
nas minhas, as pequenas mãos do mundo. 

Alguns pensam que são as mãos de deus 
— eu sei que são as mãos de um homem, 
trémulas barcaças onde a água, 
a tristeza e as quatro estações 
penetram, indiferentemente. 

Não lhes toquem: são amor e bondade. 
Mais ainda: cheiram a madressilva. 
São o primeiro homem, a primeira mulher. 
E amanhece. 
Eugénio de Andrade, in "Até Amanhã"

20 novembro, 2011

Homilias dominicais (citando Saramago) - 58

Um livro de poemas: "No Espanto das Mãos - O Verbo"...
Estive para lhe dizer que criou, hoje, a grande responsabilidade de não parar mais de escrever. Nada disse sobre isso.
Receei, que naquele momento, se apagasse o seu sorriso...  (ainda que admita que ele pudesse ainda mais se alargar, se lhe falasse das suas espantadas mãos) 

HOMILIA DE HOJE
“As mãos são dois livros abertos, não pelas razões, supostas ou autênticas, da quiromancia, com as suas linhas do coração e da vida, da vida, meus senhores, ouviram bem, da vida, mas porque falam quando se abrem ou se fecham, quando acariciam ou golpeiam, quando enxugam uma lágrima ou disfarçam um sorriso, quando se pousam sobre um ombro ou acenam um adeus, quando trabalham, quando estão quietas, quando dormem, quando despertam.”

 José Saramago, “Intermitências da Morte”
 Foto tirada por mim, hoje, na apresentação do livro da Lídia Borges

19 novembro, 2011

Estive... Vou estar.


ESTIVE...

Na quinta-feira passada estive na Moita, entre amigos do pintor dos meus lugares de menino. Assisti à comoção deles, à do anfitrião, autor do livro que foi apresentado (a capa está aí ao lado) e à minha própria. O livro fala de tudo um pouco e também de pesca. Fala da amizade e também de pesca. Fala de lugares e também de pesca. Fala dos desafios da vida pessoal e também de pesca. Um livro a ler... 
(carregue na imagem, para aumentar)

VOU ESTAR (amanhã)


Dia 20 de Novembro. Às 15 horas
Auditório do Campo Grande, 56 - Lisboa

Espero que a minha querida amiga Lídia Borges 
não se importe que desafie amigos meus a lá estar...

16 novembro, 2011

A CPLP... Porque não faz parte de um Plano B? (3)

Ontem, Evanir, deixou-me este comentário: 
"Já li muito referente ao Brasil ser dependente de Portugal também da luta pela sua independência. A muitos anos essa dependência terminou sei da grande riqueza extraida do Brasil e levada para Portugal. Mais agradeço Pedro Alvares Cabral por ter descobrido o Brasil. Tenho Portugal como Patria mãe e amo profundamente os dois Países."
Que bom ter lembrado coisas que agora vêm a propósito. Sobre a dependência de Portugal, para uma prática de potência, que então era a senhora da globalização mercantil a nível mundial. Fizemos patifarias de certo modo contidas, até porque denunciadas. "O pregão de Santo António aos Peixes" é uma peça de oratória que nos marca. 

O ouro do Brasil pagou a dívida de Portugal - Querida amiga, quanto à riqueza levada do Brasil para Portugal, veja para que serviu:
“…a dependência económica de Portugal em relação aos ingleses marca um período histórico da economia europeia. Enquanto os lusitanos perdiam o antigo posto de nação rica e desenvolvida, galgado entre os séculos XVI e XVII, a Inglaterra alcançava as condições que a transformaria na maior potência económica do mundo entre os século XVIII e XIX. Para entendermos estas situações distintas, podemos tomar a assinatura do Tratado de Methuen como um interessante exemplo histórico.

Em 1703, esse acordo firmado entre ingleses e lusitanos estabelecia a compra dos tecidos ingleses por parte de Portugal, enquanto a Inglaterra se comprometia a adquirir a produção vinícola dos lusitanos. Com isso, a especulação sobre a garantia de compra dos ingleses sobre o vinho de Portugal ampliou enormemente o número de terras cultiváveis destinadas ao plantio de uva. Por conseguinte, a demanda da economia lusitana por produtos importados aumentou bastante.
Conforme apontado por vários pesquisadores interessados no assunto, a Coroa portuguesa conseguiu montar um enorme império mercantil, mas não buscou meios eficientes e sistemáticos para dinamizar sua economia interna. As expressivas quantias obtidas com a actividade colonial eram revertidas na forma de gastos que somente mantinham o elevado padrão de vida dos nobres e membros da família real portuguesa.
A assinatura do Tratado de Methuen não pode ser considerada como a origem única de todos os males que atingiram a economia de Portugal. No entanto, ele ressalta bem as condições políticas e económicas distintas de cada uma das nações envolvidas na situação. Com o passar do tempo, a dependência económica portuguesa se agravou e o ouro encontrado em terras brasileiras serviu para tapar o grande deficit que dominava as finanças de Portugal.” - (ler aqui)
Mas tem mais que se lhe diga a história que nos une, perante os maus tratos europeus. Depois do que a Inglaterra nos fez, a França napoleónica nos invade:
“O príncipe regente apenas nos dia 23 de Novembro de 1807 recebeu a notícia da penetração de tropas francesas em território português. Convocou imediatamente o Conselho de Estado, que decidiu embarcar o quanto antes toda a Família Real e o Governo, servindo-se da esquadra que estava pronta para o Príncipe da Beira e as infantas. Nos três dias seguintes ainda se aprontaram outros navios, que viriam a transportar para o Brasil cerca de quinze mil pessoas. Em 26, foi nomeada uma Junta Governativa do Reino para permanecer em Portugal, e difundidas Instruções aos Governadores, nas quais se dizia que "quanto possível for", deviam procurar conservar em paz o Reino, recebendo bem as tropas do Imperador."
(...) Vejo que pelo interior do meu reino marcham tropas do imperador dos franceses e rei da Itália, a quem eu me havia unido no continente, na persuasão de não ser mais inquietado (...) e querendo evitar as funestas conseqüências que se podem seguir de uma defesa, que seria mais nociva que proveitosa, servindo só de derramar sangue em prejuízo da humanidade, (...) tenho resolvido, em benefício dos mesmos meus vassalos, passar com a rainha minha senhora e mãe, e com toda a real família, para os estados da América, e estabelecer-me na Cidade do Rio de Janeiro até à paz geral." (palavras do então príncipe regente e que viria a ser D. João VI).

A capital de Portugal já foi no... Rio de Janeiro. Chamava-se então: Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (ver aqui)

Outra amiga, Celina Dutra, citou-me sonho de Leonardo Boff: 
"Uma das marcas do povo brasileiro é sua capacidade de se relacionar com todo mundo, de somar, juntar, sincretizar e sintetizar. Por isso, ele não é intolerante nem dogmático. Gosta e acolhe bem os estrangeiros. Ora, esses valores são fundamentais para uma globalização de rosto humano. Estamos mostrando que ela é possível e a estamos construindo".
Isto que ele diz do seu povo, disse de nós um japonês, há muitos séculos atrás, chamando-nos nambam-jin...
.
Que se cumpra o sonho, connosco e com toda a Lusofonia. 

15 novembro, 2011

A CPLP... Porque não faz parte de um Plano B? (2)

O mito de um Portugal periférico tem de ser desfeito. Dou meros contributos...
Na Europa, Portugal ocupa um lugar periférico. Diz-se que ocupa o cu do espaço europeu e foi com esse dizer juncoso que se convenceu, entre outros argumentos "demolidores", que a nossa economia não seria competitiva com uma base industrial forte e com uma agricultura desenvolvida. Os gráficos abaixo, mostram duas realidades que resultam do facto de temos embarcado no mito de sermos um país periférico e de nos termos rendido a politicas erradas em beneficio de quem agora nos apresenta factura pesada. A situação actual resulta disso, não daquilo que nos querem fazer crer:
Clique na imagem para aumentar                                                                               (dados retirados daqui)
O gráfico da esquerda mostra que a produção agrícola (2,7%) e a indústria (22,8%), estão no limite dramático das necessidades do consumo interno que é, será, satisfeito pelas importações. Não retirar daqui conclusões sobre de que forma esta realidade está ligada ao endividamento é embarcar, paulatinamente, na manipulação da realidade. O gráfico da esquerda mostra de que forma é que as exportações estão fechadas num quase único destino: a Europa em crise e com níveis de crescimento muito próximo de zero. 
Há outra realidade, menos falada, e que tem a ver, também, com periferias e politicas erradas ou omissas: 
Com a sucessiva perda de colónias desde a independência do Brasil até à queda do império colonial, Portugal passou de uma situação de sede de um espaço económico de poder mundial reconhecido, para uma situação onde, em  contradição com esse histórico, não se assume qualquer expressão económica, nem política. Tragicamente, diria. Se olharmos o gráfico acima, o Brasil não representa menos de 1,7% (integrado no Mercosul, com a Argentina, Venezuela e Paraguai) e os outros PALOP não chegam a 7%... Há um fosso abismal entre o apelo dos afectos e as relações económicas. Negociamos mais com estranhos, do que com os povos com os quais temos afinidades históricas, linguísticas e culturais. Portugal viu-se, assim, remetido para uma outra periferia, sem qualquer influência nem beneficio.
Que interesses impedem que Portugal reveja a sua maneira de estar e se assuma como país que não só pode contrariar os mitos das periferias que tem ocupado, como, fundamentalmente se  posicionar numa nova centralidade?
 É altura de Portugal se afirmar com uma nova centralidade, voltando-se, com politicas de ruptura relativamente ao posicionamento actual, para uma inequívoca estratégia de aproximação aos Países de Língua Oficial Portuguesa.  Outras economias e regiões do mundo veriam com agrado esse nosso passo. 
Porquê não considerar a CPLP parte integrante de um Plano B? 

13 novembro, 2011

Homilias Dominicais (citando Saramago) - 57

Mais que um franzir de testa às ideologias da direita, 
as palavras de quem sabia analisar e prever...

A homilia de hoje não está de costas voltadas para a rua, onde a luta continua. Os muitos que ontem, sábado, desfilaram, segurando panos, empunhando bandeiras, dísticos e punhos erguidos, têm cada vez mais, e em simultâneo com a expressão da rejeição das medidas que só podem conduzir o país à miséria, a consciência que esta não é a Europa que ansiaram, se é que algum dia chegaram a ter tal ânsia. A homilia de hoje está virada de frente, cara a cara, com todos aqueles que ignoraram avisos e se transformaram nos parceiros ilegítimos de um sonho parvo, ignóbil, servil, injusto e que contraria toda a história do nosso povo. Agora não restam dúvidas, quanto aos desígnios do chamado "Projecto Europeu", mas há 20 anos atrás já havia alertas lúcidos para as certezas de hoje (que alguns ainda teimam, ou fingem, não compreender). Propostas? Também as houve, (à maneira dele) logo que Portugal aderiu a esta coisa chamada Comunidade
HOMILIA DE HOJE 
"(...)A Comunidade é o Conselho de Administração de uma grande empresa chamada Europa, que tem produtores que são consumidores, consumidores que são produtores, e tudo isso planificado. A distribuição das tarefas, incumbências e obrigações é determinada por esse Conselho. A Comunidade decidiu, por exemplo, que 75% da superfície florestal de meu país será destinada à plantação de eucaliptos. Nós não decidimos. Decidiu uma potência supernacional. E decidiu sobre algo que até agora teria a ver com o que chamamos de soberania nacional. O mais interessante, porém, é o seguinte: o que antes parecia ligar-se apenas à economia, está se transformando em solução política para a Europa. Isto é, uma vez que a aplicação da política económica não pode ser decidida pelos governos nacionais, então é indiferente que os governos sejam conservadores, nacionalistas, capitalistas, socialistas, social-democratas ou liberais. Apagam-se as fronteiras do que chamávamos ideologias, porque isso não tem mais importância.
O mais importante – e eu diria, o mais trágico – é que se tira dos povos o direito de decidirem sobre o seu destino. Claro que nada no mundo é definitivo, e os povos sempre encontram as soluções melhores para os seus problemas. Mas o problema da hegemonia, que parecia resolvido com a Comunidade, não está. O que está ocorrendo agora é o surgimento da potência europeia do futuro, que será outra vez a Alemanha. A Europa será o que Alemanha decidir."
José Saramago - in "Quem é o patrão da Europa?"
(Publicado em Jornal do Brasil - 15 de Maio de 1992 

12 novembro, 2011

A CPLP... Porque não faz parte de um Plano B?

"Insanidade é estar a fazer as mesmas coisas e esperar resultados diferentes"
Eisntein

"Minha  pátria é minha língua"
Fernando Pessoa

"Angola é um país no qual o Japão tem muito, muito interesse. O  Brasil tem o mesmo interesse. Portugal, idem  aspas. Porque é que não colaboramos?"
Akira Miwa

As duas primeiras citações constam de um artigo de opinião - O redescobrimento do Brasil - assinado por um brasileiro, Carlos Nepomucemo, publicado no semanário Expresso de hoje (não disponível on-line). A leitura recomenda-se e o citado artigo termina assim:
"Não seria um erro estratégico colossal ignorar o Brasil e outros países de língua portuguesa como se está a fazer?"
A terceira citação é minha, de um post  editado em Agosto de 2010 e o senhor citado é o actual embaixador do Japão, em Portugal. Vejamos o que este senhor disse mais:
“O interesse do (vosso) Governo está muito voltado para o centro da Europa, o que acho natural. Mas isso traz efeitos secundários.Com esse sucesso europeu, o país tende a esquecer a importância que poderia ter no resto do Mundo, fora da Europa. Sobretudo agora, num momento em que assistimos às dificuldades económico-financeiras em toda a Europa. Penso que o Governo português e o sector privado deveriam repensar sobre a sua dependência um pouco exagerada do mercado europeu.”
“... como ministro Finanças e como primeiro-ministro (Cavaco Silva) visitou várias escolas japonesas e tinha ficado agradavelmente surpreendido com o conhecimento histórico das crianças sobre Portugal. Vocês deviam fazer o mesmo nas escolas, ensinar a cultura e a história dos países por onde passaram. É uma pena não o fazerem. Faz parte da memória. Não a manter é quase esquecer o passado. Falo também da índia, da China. Estão a perder a vossa memória.”
“Há muitas semelhanças entre portugueses e japoneses (…) A maneira de ser, o modo de reagir é muito igual. À parte o nosso relacionamento histórico, temos muito em comum. O japonês é mais português que espanhol. Para nós a Espanha é um país muito interessante, sim, mas por causa da diferença. Portugal é como se fosse o Japão europeu".
“Apesar do nível económico fraco, o nível de compreensão cultural e artístico (dos portugueses) é muito superior” (ler tudo aqui)
Não se pense que só de fora nos vêem assim e nos sugerem alternativas relativamente ao "rumo que a barca leva" (lembram-se do "pensar fora do paradigma do quadrado"? e dos "avisos dos faroleiros?"), também por cá se ouvem, a "deshoras" de serem escutados, alertas e recomendações ajustadas. João Ferreira do Amaral, na segunda-feira passada, no Programa "Prós e Contras", ao 16º minuto da parte dois, dizia coisas que não se repetiram, nem foram comentadas depois (se lá forem, não deixem de escutar António Espanha). Também na Antena 1, em entrevista a Luís Bento, membro do "Grupo de Paris" (relacionado com a Ética e Responsabilidade Social), se fazem apelos à discussão de alternativas à Europa e à consideração da alternativa CPLP. Não o fazer é afundar-mo-nos  no abismo e, o pior, com a consciência de que será isso mesmo que vai acontecer, assumindo a insanidade de que fala Einstein...  

Seja então a CPLP o nosso "Plano B". Vamos discuti-lo?

11 novembro, 2011

Medo, medos...

Há tantos medos, quantas as suas mães e os seus enredos....
Questionaram-me sobre o medo, não sobre medos. Respondo não haver o medo singular, há medos. Medos vários, reconhecidos e identificados pela maternidade: existem os medos filhos da ignorância; os medos filhos da opressão; os medos filhos da ausência. Todas as mães dos medos, são filhas do pai dos medos: o Medo da Morte.
[O tema é extenso e pouco confortável para ser tratado perante quem passa com medo... de perder tempo. Só vos digo que cada medo pode ser combatido, neutralizado ou superado, com meios diferentes e adequados à tipologia da maternidade que lhes é reconhecida: Os medos filhos da mãe Ignorância, devem ser combatidos com o conhecimento (em certo sentido, são medos bons...); os medos filhos da mãe Opressão, devem ser combatidos por todas as armas disponíveis ao oprimido; os medos filhos da Ausência são superados por aquilo que existe de mais humano em nós, o afecto do mais próximo (que por vezes está - desumanamente - tão distante); os medos filhos da mãe Dor, tão físicos, tão próximos da cobardia ou do heroísmo...]
Falar do pai dos medos, o Medo da Morte?... só com recurso ao Poeta:
Medo da morte?
Acordarei de outra maneira,
Talvez corpo, talvez continuidade, talvez renovado,
Mas acordarei.
Se os átomos não dormem, por que hei-de ser eu só a dormir?
Alberto Caeiro

08 novembro, 2011

Foi em Setembro de 2010 que a conheci...

... e, porque desde aí a li, aceitei o seu convite para estar, no próximo dia 20, onde ela irá apresentar o seu livro.  
Ainda me lembro, a 1 de Setembro, o primeiro poema seu que comentei

Dia 20 de Novembro. Às 15 horas
Auditório do Campo Grande, 56 - Lisboa

Espero que a minha querida amiga Lídia Borges 
não se importe que desafie amigos meus a lá estar...

06 novembro, 2011

Homilias Dominicais (citando Saramago) - 56

Rabiscos: Leandro R. Schenk
HOMILIA DE HOJE 
"O tempo das verdades plurais acabou. Vivemos no tempo da mentira universal. Nunca se mentiu tanto. Vivemos na mentira, todos os dias."
José Saramago 

05 novembro, 2011

Do empréstimo de setenta e tal mil milhões emprestados, pagaremos (só de juros) trinta e tal mil milhões... Falamos de abstenções?


(Afinal só se abstém. O titulo foi tirado do discurso do Jerónimo ) 






"Soubemos hoje em resposta ao nosso insistente questionamento ao Governo que o valor dos juros a pagar pelo País são de 34,4 mil milhões de euros. Repito, 34,4 mil milhões em 78 mil milhões de um empréstimo a que cinicamente chamam ajuda. Ajuda que cobra também comissões exorbitantes, 665 milhões de euros. Ou seja. Pediram 78 mil milhões e o País e o povo vão pagar mais de 110 mil milhões! Este é um rumo que afunda o país e destrói a vida dos portugueses e que inevitavelmente se traduzirá em mais redução da capacidade produtiva do país e o definhamento da nossa capacidade de nos afirmarmos como um país soberano. Este é um rumo que conduzirá o país ao declínio e que se impõe com urgência inverter." 
"... Nestes últimos tempos temos visto dirigentes do PS a responsabilizar aqueles que se bateram contra os seus PEC e a sua política, como nós, pela actual situação no país, insinuando que deviam ter apoiado a sua política e o seu governo, entendidos como um mal menor. Este seu voto é a confirmação, afinal, da justeza dessa luta." 
"... O País e os portugueses precisam de uma nova política, uma nova política ao serviço do povo e dos interesses nacionais. Que ponha em causa os interesses instalados e de ruptura com o grande capital monopolista. Precisa de uma política que contrapõe ao Pacto de agressão, a solução da imediata renegociação da dívida pública – envolvendo prazos, taxas de juro e montantes – numa atitude que combata a sujeição do país às imposições da especulação financeira e da rapina dos recursos nacionais e abra espaço ao relançamento do desenvolvimento do país. O país não está condenado."
Jerónimo de Sousa

04 novembro, 2011

Notoriedade na Forbes pressiona captura de traficante


A foto não dá a posição exacta e sequencial da lista dos mais poderosos:
 Bento XVI está, não entre aquele par, mas sim em 5º lugar entre  Putin (4º) e  Merkel (6º)

AVISO IMPORTANTE: Qualquer relação entre a foto exposta, a legenda e o titulo do meu post (que foi tirado de outra noticia) é mera coincidência. Será igualmente coincidência aquele ranking de poderosos com textos muito contestados... Será também mera coincidência o facto de a foto apresentar os EUA colado ao Vaticano e tal colagem ser apreciada no texto contestado. Tudo coincidências, portanto.

03 novembro, 2011

Mudança de visual. O resto - a Missão e a Luta - permanece igual

Assumi, antes, parte de mim. Fui Viriato, o príncipe, o pastor, o guerreiro, cantado por Camões. Lembrava que, com "meus feitos", tremeu o Império Romano e prometia ir fazer tremer outros impérios agora igualmente dispostos ao domínio bruto e ao saque. Fi-lo inspirado por quem rejeitou receber a "troika" assumindo, assim, a ruptura necessária com quem nos rouba o estar e ser soberanos. Não resultou...
Resolvi mudar. Vou aparecer dentro de outra personagem. Agora esta é inspirada no "pai da democracia". Clistenes é seu nome. Assumo a sua imagem. Hesitei entre ele e Solon, por este ter produzido lei que além de perdoar dívidas e as hipotecas que pesavam sobre os pequenos agricultores, aboliu a escravatura por motivos de dívida. Optei, apesar disso, por Clistenes, a quem se deve a lei que instituiu que o poder deve pertencer a um colectivo e que quem ameaça a Democracia deve ser condenado ao ostracismo. Ele e eu, abominamos a tirania e os tiranetes...

A escolha também tem a vêr com os "diz/desdiz" daqueles gregos que esquecem a sua própria história.

A outra imagem, que também mudei, foi apenas por resolver tirar o chapéu que me esconde parte do rosto. Usar óculos não se tome por acto de esconder meu olhar. É antes a única possibilidade de ver os vossos olhos.