PEQUENA EXPOSIÇÃO - OS MEUS LUGARES DE MENINO E MOÇO
Passava as férias grandes na quinta dos meus avós. A caminho, no cacilheiro, barco que atravessava o Tejo ligando Lisboa ao Barreiro, não pensava nada. O rio não deixava. Os meus olhos percorriam margens e água e os odores eram um estimulo a todos os outros sentidos. Quando ao longe eu avistava os "meus" moinhos, sabia que estava a chegar. Depois do barco a camioneta, por entre os vidros que lhes adensavam cores de sépia, lá estavam. Eram o marco do inicio das minhas aventuras pois do Barreiro à Moita e daí à quinta seriam, ao todo, 20 a 25 minutos...
-- --... Uma vez chegado logo começava a minha faina na quintinha. Esta frequentemente era demasiado pequena para conter todas as aventuras e, assim, aceitava de bom grado convites de outros miúdos para ir à Moita, vila morena da beira Tejo...
Claro que me lembro das festas, da procissão, do foguetório, das largadas de touros e de muitos outros acontecimentos de cor e festa. Mas a memória mais viva eram os momentos de água. Recordo mil mergulhos nessa água lodosa para onde saltava de cima do pequenos cais de atracagem. António, pintou-mo. Vê-lo assim, degradado, não me feriu a sensibilidade. Para tal ele deu-lhe a cor necessária...
Claro que me lembro das festas, da procissão, do foguetório, das largadas de touros e de muitos outros acontecimentos de cor e festa. Mas a memória mais viva eram os momentos de água. Recordo mil mergulhos nessa água lodosa para onde saltava de cima do pequenos cais de atracagem. António, pintou-mo. Vê-lo assim, degradado, não me feriu a sensibilidade. Para tal ele deu-lhe a cor necessária...
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As idas a Alhos Vedros, pequena povoação perto da Moita e igualmente da beira Tejo, não deixavam grau de liberdade para as minhas brincadeiras preferidas. Obediente, seguia as instruções da minha avó Mariana que alí se deslocava, com alguma frequência, fazendo venda dos produtos da quinta: "Não vás para longe", dizia-me. E eu ficava por ali junto ao rio. Por vezes, descalçava os sapatos para que meus pés afagassem a areia. Apanhava pedras e atirava-as, como todos os miúdos fazem quando não podem eles próprios atirar-se... Entre o rio e o encarnar de mil personagem num cenário de selva ou planície em outras tantas aventuras lá na quintinha, as férias terminavam...
As idas a Alhos Vedros, pequena povoação perto da Moita e igualmente da beira Tejo, não deixavam grau de liberdade para as minhas brincadeiras preferidas. Obediente, seguia as instruções da minha avó Mariana que alí se deslocava, com alguma frequência, fazendo venda dos produtos da quinta: "Não vás para longe", dizia-me. E eu ficava por ali junto ao rio. Por vezes, descalçava os sapatos para que meus pés afagassem a areia. Apanhava pedras e atirava-as, como todos os miúdos fazem quando não podem eles próprios atirar-se... Entre o rio e o encarnar de mil personagem num cenário de selva ou planície em outras tantas aventuras lá na quintinha, as férias terminavam...
António pinta-me essa viagem, colocando as pessoas exactamente como eu as via, ainda meio adormecidas pelo levantar cedo para enfrentar mais um dia de trabalho. Que me lembre, não regressava triste, apenas na expectativa de conhecer novos amigos, novos professores e, assim, outras vivências...
Um pintor quando se exprime como o António, nem imagina as sensações que pode provocar. Ou será que o faz exactamente porque pretende isso mesmo: EMOCIONAR? Se tem ainda alguma dúvida, navegue no seu blogue "Sem margens - Pintar a palavra, escrever a pintura."
Obrigado António, por pintares estes lugares!
Obrigado António, por pintares estes lugares!
Muito bem Rogério. Não tarda nada copio, posso?
ResponderEliminarBom domingo
:))
"Conversa Avinagrada"? Meu caro amigo, a tua conversa, não tem vinagre: tem mel!
ResponderEliminar:)
Há uma sintonia perfeita entre o que o quadro representa e as resplandecentes palavras que o acompanham. Procuro, em cada tela, mais do que representar as casas, o rio, o céu, traduzir a emoção que me levou a pintar o céu com aquela cor, as águas com aqueles reflexos...
A tradução desses sentimentos, estão patentes em cada uma das palavras que escreves, como se presenciasses o momento da criação da obra.
O meu obrigado pelo que fizeste!
Emocionaste-me, sabes?
Já agora! Aos amigos que nos lêem um pedido: emocionem-se! Faz bem viver com emoções...
...e ter amigos assim!
Um grande abraço,
António
Caramba, Rogério, foi forte a emoção que me deu ao ler este post. Esparralhei-me ao comprido!
ResponderEliminarNão se limitou a expor os quadros do António Tapadinhas. Trouxe-os e emoldurou-os com palavras que se soltaram das suas vivências de menino e moço.
Belo!
Ter amigos assim é um privilégio. O seu amigo pintor tem toda a razão para se ter emocionado e se sentir um homem feliz.
Abraço, Rogério, bom Domingo.
Agora, parto à procura de um peixe grelhado. :)
Bom-dia, Rogério :)
ResponderEliminarVou fazer link... e aproveito para dar nota da sintonia: o meu mais recente post antes do que irei escrever com link para esta bela janela, foi exactamente de divulgação da galeria de arte de um Pintor :)
Grande Abraço.
Que bom poder recordar assim a infância!As imagens da minha são quase todas desfocadas e longínquas, duma África que nunca mais vi.
ResponderEliminarOs quadros do António de que já tinha ouvido falar, são lindíssimos. O meu preferido é o da viagem do cacilheiro...
Abraços
Gosto da Galeria e dos temas das pinturas :)
ResponderEliminarBjos
Rogério,
ResponderEliminarMas que ricas férias se deviam passar nessa quinta. Texto adorável e belas pinturas.
:)))
Rogério
ResponderEliminarAdorei esta exposição de "lugares" iluminados, coloridos e belos vistos pelos olhos, coração e pincel de António Tapadinhas, que não conhecia e que agradeço ter apresentado, e a quem dou os parabéns.
Obrigada e um abraço
Gosto desta galeria, sem vinagre lolololol adorei o quadro com Lisboa ao fundo. é Lisboa, não é!?
ResponderEliminarMdSol
ResponderEliminarAna Paula Fitas
É uma honra que o façam. Entre outras coisas dão-me sinal que tratei a obra do António com a dignidade merecida...
Olá Rogério, que lindas pinturas muito bem enquadradas na narrativa que adorei, como diz o Antº Tapadinhas até parece qe estavas presente, quando os criou! É um excelente artista o Tapadinhas, também conheci à pouco aqui pela blogosfera e fiquei fã!
ResponderEliminarTem um bom Domingo e uma excelente semana que se avizinha.
Bjs
Sãozita
António Tapadinhas
ResponderEliminarMeu caro, cuidado com os adjectivos próprios para envaidecer pessoas que, como eu, possuem a vaidade como um dos seus piores (ou melhores?) defeitos...
Quanto ao Avinagrar deixe que esclareça que esse meu acto e gesto só resulta de contrariarem o ditado popular que diz ser a verdade como o azeite e que esta vem sempre ao de cima. Sendo verdade isso não está a acontecer. A minha missão de avinagrar é uma manobra de diversão para que o ditado se cumpra. Portanto, avinagrar não deve ser confundido por azedar. Nada tem a ver com conversa azeda, mal disposta, produtora de azias e outras patifarias. O vinagre é um excelente tempero. Mesmo não sendo de Modena, é igualmente balsãmico... Quando não avinagro estou a servir posts sem o meu temperado humor ou mordacidade. È assim... muitos não o entenderam ainda!
Boa?
PS - Posso lá ir buscar mais quadros?
Carlos Albuquerque,
ResponderEliminarAcho que todos os homens bons tem semelhanças. Os maus, entre si, também são iguais. Depois existem os outros os amorfos, apáticos e crentes que com a descrença em tudo se manterão vivos...
Acho que só tenho amigos bons, que tanto comigo se identificam!
Abraço
lolipop
ResponderEliminarAriel,
Deixei passar a ideia de dias felizes e férias na maior... Foram. Contudo, deixem só dizer que minhas brincadeiras eram sem brinquedos em vilas e aldeias onde habitava o operariado e as dificuldades eram grandes. Meus avós, de que falo com tanto carinho, conhecio-os já teriam mais de sessenta anos e viviam unicamente do que a quinta produzia como resultado do seu trabalho. Não tenham inveja da minha infância... Os meus netos tem hoje a sua bem mais facilitada, só lhes restando serem felizes...
Isa
ResponderEliminarManuela,
Ainda bem que gostaram. Eu também gostei (e nem sempre isso acontece)
Boa?
polittikus,
ResponderEliminarAvinagrado e bem avinagrado. Leia a minha resposta ao António Tapadinhas...
É Lisboa que se ve
do regresso da margem certa da vida!
Caro Rogério
ResponderEliminarSeja dia de trabalho ou de descanso,já não dá para passar sem uma espreitadela ao "Conversa Avinagrada" mas começa a não haver palavras para acrescentar... pronto. Está muita fixe!
Abraço
Muito belo...
ResponderEliminarAcho que enfim compreendi o verdadeiro sentido de avinagrar.
Não amarga e não azeda, apenas tempera o destempero que vai por aí. Quem bem imaginado.
Beijo
excelente.
ResponderEliminargostei muito - textos e pintura.
belas memórias.
forte abraço.
Sãozita
ResponderEliminarobrigado pela simpática visita
acredite que conheci o António nesta passada semana, vei aqui comentar-me e eu retribuí a visita...
Bom f.d.s. também
Folha Seca
ResponderEliminarMaiuka
Heretico
O António vai continuar lá no lado dele mas também por aqui. Prometo!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarAcuso o "puxão de orelhas" e agradeço-o porque por causa dele ganhei a oportunidade de me emocionar com a luz e a cor destas pinturas e palavras.
ResponderEliminarParabéns pelo fácil dialogismo palavra/imagem.
Um beijo
Querida Lídia,
ResponderEliminarPuxão de orelhas, não. Foi só e apenas um psst-psst para aparecer...
Beijo
Boa noite Rogério,
ResponderEliminarAntónio Tapadinhas tem muito talento, tenho visto algumas das suas obras e são magnificas.
Beijinhos,
Ana Martins
Ave Sem Asas
Meu amigo.
ResponderEliminarInfelizmente aos fins de semana tenho tanto que fazer que não me sobra tempo para comentar nos meus blogues preferidos.
Sabe que adoro pintura. Emoções é a cor predominante nestas telas, amizade a cor de fundo e talento o resultado final.
O seu amigo é um artista e o meu amigo Rogério o guia perfeito para esta magnífica exposição.
Já sou seguidora do "Sem margens-Pintar a palavra, escrever a pintura" e sei que me vou deslumbrar.
Beijinhos
Amigo Rogério!
ResponderEliminarVoltei para ler o texto que agora ilustram as telas fantásticas do amigo António.
Esta parte do país eu não a conhecia bem, agora graças a este magnífico trabalho, não só fiquei a conhecer os locais duma infância vivida na sua plenitude, como descobri os lugares e nelas outras cores que não as das telas.
O poeta encanta escrevendo amor.
O pintor encanta, pintando amor.
Parabéns!
Beijinhos
Ná
Além de falta de tempo, ainda tenho falta de inteligência, pobre de mim!!
ResponderEliminarSó afora, vindo aqui, é que me dei conta do significado daquilo que me disse lá em casa...
Deixe-me dizer-lhe que adorei estes posts! A sério, acho-os maravilhosos: parabéns!
O meu abraço.
PS- o que não gosto é das letras de verificação, rrrss
Querido Rogério,
ResponderEliminarChorei de emoção pelas telas e pela poesia das recordações. Você teve moinhos para chamar de seus! isso é precioso.
Que suas almas, sua e do Antonio Tapadinhas jamais escondam esse amor, essa paixão por tudo que os cerca e que nos emocionem sempre mais.
Girassóis nos seus dias. Beijos.