31 janeiro, 2015

As (muito) mais de 100 maneiras de cozinhar bacalhau


Em tempos de masterchefs ocorre-me falar da ementa imposta pela imprensa. Falemos então da comida que nos foi servida. À falta de imaginação, com mais ou menos condimentos, foi-nos servido mais do mesmo:
  •  Ronaldo, foi servido em cem variantes. O casamento desfeito, a nova namorada, o sopapo a preceito, a expulsão com cartão vermelho, as desculpas de respeito e as variantes que se seguiram. 64 pratos, e mesmo o mais requentado terá sido muito repetido e apreciado;
  • Costa, aquele que a imprensa apresenta como sendo, ainda antes de o ser. Cem variantes também, e delas sobressaem as tipo pescada (que antes de ser já o era). Embora tenha 52 pratos, atente-se nos tempos de confecção significando que há a preocupação de, no serviço, este seja requintado. A imprensa não brinca no que se refere a impor um sabor;
  • Sócrates, quando se julgava comida intragável a ribalta insiste em apresentar o mesmo prato com mais de cem maneiras diferentes de ser temperado, o que não é de estranhar. Os molhos e temperos sempre serviram para enganar o paladar quando se duvida da frescura. À porta de um restaurante (que se vai tornando famoso), há uma fila imensa sem que se perceba se é para comer ou se para agradecer a comida por ele servida;
  • Paulo, é um bacalhau muito apreciado e que tomou o lugar do outro Paulo. Representa a alternativa a quem está de dieta. Reza sobre ele suspeita vegetariana. Donde, é capaz mesmo de nos arruinar a saúde;
  • Coelho, não se come enquanto tal. Seria intragável, não fosse a persistência com que aparece no menú da imprensa. 41 receitas impostas, umas de "punheta" outras às postas e bastante azeitado. Há quem admita restaurar o paladar associando-o à pescada. Com o que esta imprensa nos dá a comer, tudo pode acontecer...
E se na mesa do canto alguém insiste em se levantar e protestar, a TV cita Bruxelas na voz da big-masterchef entendida, com a maior desfaçatez desta vida: "Para quem é, bacalhau basta!"

30 janeiro, 2015

Um post cuja reposição se justifica: «E se a Maior Flor do Mundo fosse a Democracia? Se para a salvar fosse necessário fazer 20 coisas, que coisa lhe parece que podia fazer por ela?»

(post editado em Abril de 2011)

Leio no texto, que se supõe destinado a crianças, como a coisa de facto aconteceu:

Deu-se o menino ao trabalho de subir a encosta, e quando chegou lá acima, que viu ele? Nem a sorte nem a morte, nem as tábuas do destino… Era só uma flor. Mas tão caída, tão murcha, que o menino se achegou, de cansado. E como este menino era especial de história, achou que tinha de salvar a flor. Mas que é da água? Ali, no alto, nem pinga. Cá por baixo, só no rio, e esse que longe estava!... Não importa. Desce o menino a montanha, atravessa o mundo todo, chega ao grande rio, com as mãos recolhe quanta de água lá cabia, volta o mundo atravessar, pelo monte se arrasta, três gotas que lá chegaram, bebeu-as a flor com sede. Vinte vezes cá e lá… …Mas a flor aprumada já dava cheiro no ar, e como se fosse uma grande árvore deitava sombra no chão.”

Vinte vezes cá e lá. Vinte certas, diz o escritor, e quero acreditar que sejam precisas tantas. Imagine, caro leitor, que a água não é água, mas sim porções de coisas esforçadas que é necessário fazer para salvar a vida da nossa flor. Pense que, de cada vez que se sobe a montanha, se deposita na Democracia muribunda algo que a faz, lentamente, renascer. Indique uma só, que esteja disposto a fazer ou que ache ser necessário que se faça... Lembre-se que há pequenas coisas, à semelhança das que cabem numa mão pequenina.

As imagens são do video . O texto é do livro de Saramago "A Maior Flor do Mundo"

29 janeiro, 2015

O rato está de volta, graças ao arranjo da porta!


Escravos da tecnologia bem podem compreender a alegria. Arranjada a porta tenho o meu rato de volta. Assim, passarei ao meu desempenho tal como o desejo e planeio. Se é importante um rato? É, no meu caso. Vejamos a legenda, pondo a descoberto um segredo do meu estado:
  1. Aqui, nesta bola, é onde o Mundo se enrola e se desenrola. Quando estendo a ponta é esta esfera que ela aponta. Um mundo. É uma bola com memória;
  2. É um veio de transmissão. Liga a visão do mundo às ideias e estas à acção. Sem rato, fico práticamente parado. E isto tem-se revelado um perigo. Veja-se o que tem no Mundo acontecido e eu calado, por falta de rato;
  3. Esse é uma espécie de frasquinho onde se aloja o tempero, gourmet, que com todo o esmero dá paladar a tudo o que escrevo;
  4. Localiza o armazém da ironia. Está muito desarrumado e tem stock elevado de coisas parvas (como este post bem prova)
  5. Minha Alma. Está exactamente aí e é simétrica ao Meu Contrário, que está implantado no outro lado. Aquela pontinha vermelha não engana ninguém...
 E pronto! Cá estou de volta, graças ao arranjo... da porta!  

27 janeiro, 2015

AUCHSWITZ-BIRKENAU: Eu lembro um filme, que ainda não sei se acaba bem...

A memória é selectiva, até mesmo a dos povos. Registo, apreensivo, que nunca como este ano foi tão elevado o número dos que recordam o holocausto. Temo que seja por medo. Medo que a história se repita. Eu comungo dos receios e, pelo sim pelo não, recordo cenas da libertação. Lembro um filme, que ainda hoje não sei se vai acabar bem...

Crianças, Auschwitz-Birkenau, Polónia, 27 de janeiro de 1945 (imagem da net)
Mais de 230 militares soviéticos morreram para libertar o campo de concentração...

26 janeiro, 2015

Nós e a Grécia: "a prática é o critério da verdade"


«O SYRIZA tinha as seguintes opções: Nova Democracia, PASOK, Aurora Dourada, KKE, To Potami, ANEL. Aurora Dourada excluída desde logo por razões óbvias, é um partido fascista que se encontra nos antípodas humanos do SYRIZA. Nova Democracia e PASOK querem a continuação da austeridade e o cumprimento do memorando com a Troika, também excluídos. O KKE defende uma ruptura completa com a União Europeia e com a Moeda Única, o SYRIZA não, dificilmente se forma um governo que não concorde em algo tão decisivo, ainda assim, o KKE já deixou claro que votará favoravelmente a todas as políticas sociais e laborais progressistas que o SYRIZA apresentar. O To Potami é constituído por um conjunto de hipsters-populistas que também não rejeitam a Troika e, tendencialmente, têm uma postura de classe, da sua, a burguesia.

Sobrava o ANEL e o SYRIZA escolheu o ANEL. É possível elaborar dezenas de teorias sobre o porquê e o para quê.(...)

As realidades gregas e portuguesas são mesmo tão diferentes que ninguém acredita que os partidos que por cá representam estes campos ideológicos, na conjuntura actual, pudessem sequer ponderar uma coligação de governo. Isso deixa-me descansado, porque os compromissos não devem comprometer as ideias, e este passo do SYRIZA é arriscado e difícil de aceitar. Veremos.

E por serem realidades diferentes é que não faz sentido uma tentativa de colagem a vitórias alheias. A estória não acaba aqui e o seu desfecho pode ser uma derrota, nessa altura será difícil e pouco legítima a descolagem.
Não são o ontem ou o hoje que importam nestas eleições, é mesmo o amanhã e o resultado do amanhã precisa de tempo para aparecer.

 A Grécia vai ter um novo governo, espera-se que com políticas diferentes. Às eleições de ontem concorreram partidos políticos e não clubes de futebol. Só com calma e distanciamento será possível fazer a melhor análise possível deste novo governo. Como dizia o outro, "a prática é o critério da verdade". Depois é aprender com os erros e com as virtudes.» 
André Albuquerque, in "O Anel do Syriza"
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Actualização

25 janeiro, 2015

Geração sentada, conversando na esplanada - 81 (Depois de Clístenes, foi Sólon a aderir ao KKE)

(ler conversa anterior)
«Poderemos designar este período como Os Anos Pavlov da Europa.
É um belíssimo nome.
Ou talvez melhor A DÉCADA PAVLOV da EUROPA.
A questão é esta: em vez de colocares um único cão a salivar sem alimento à sua frente, só por causa do toque da campainha… condicionamento clássico…colocas milhões com medo também só com o toque da campainha.
- Mas pode um continente comportar-se como um cão?
- Pode.»
Gonçalo M. Tavares, de um texto editado na imprensa grega

«Clístenes, um aristocrata da época, liderou várias reformas em Atenas, e ao invés de ficar ao lado dos tiranos, preferiu ficar ao lado do “povo” e se tornou soberano, precisamente no ano 507 a.C., sendo sensível com a pressão social que reivindicava participação nas decisões públicas e no poder. Não foi fácil Clístenes tomar o poder, a população teve que o tomar pela força...»
Luciano Baptista, in "A Democracia Ateniense Clássica"

Soalheira, a manhã trouxera à esplanada uma frequência rara. Do outro lado, as professoras mantinham uma conversa agitada, sem que conseguisse perceber o tema da desavença. "Estão assim há tempo", dizia-me o velho engenheiro desfiando o bolo que ia dando ao rafeiro, que pela gulodice abanava a cauda e passeava a língua pelo focinho inteiro. "Com que então voltou a editar o Gonçalo, pensava que o tinha arrumado!" disse  para me picar e iniciar a tertúlia. "Quem o arrumou foi o jornal, meu velho. Foi o jornal. Não sei se reparou, mas um redator batido ocupou-lhe o espaço. Veja..." e estendi-lhe o Noticias Magazine.
- Não posso crer... mas voltando ao que hoje escreveu, acho que nunca falou da Grécia!
- Até me assumi grego. Já fui Clístenes. Já fui Sólon... a eles se deve a Democracia. Hoje seriam militantes do KKE...
- KKE?
- É um partido. Se não o sabe localizar, deite-se lá a adivinhar: Clístenes, instituiu que o poder deve pertencer a um colectivo e que quem ameaça a Democracia deve ser condenado ao ostracismo, Sólon produziu lei que além de perdoar dívidas e as hipotecas que pesavam sobre os pequenos agricultores, aboliu a escravatura por motivos de dívida. Que tipo de partido defende hoje mais ou menos isso?
- Pois, entendi!, o Syriza tem a vitória assegurada? irá coligar-se com o Partido Comunista?, se for maioria absoluta, não precisa!
- Se o Syriza começa com essa aritmética... quem prescinde hoje de um Clístenes, de um Sólon?
- E ficam milhões com medo!
- Pode ser, vamos ver... a década de Pavlov na Europa está posta à prova.
- Basta uma pequena campainha, e a Europa ensaliva!
- Baba-se, não sei se de medo se de raiva!

24 janeiro, 2015

Violetta? Quem é?

A Maria, já vossa conhecida, passa imune e ao lado modas e pragas. A loucura da Violetta é o que se vê. Mas ela não liga. Com a personalidade própria de quem se julga (e é) senhora de todos os exércitos, não perde tempo nem dispersa o gosto com o formato nem o considera festivo. Prova-o na escolha do vestido. Foi uma escolha demorada, e depois as meias, das quentinhas, pois de manhã cai geada e a tarde vai esfriar. Os adereços são escolhidos a combinar...
(não sei se de manhã terá escolhido outra roupa)

22 janeiro, 2015

Natália Correia - vida com sentido: "Não há revolta no homem que se revolta calçado..."



Ainda estava com os comentários deixados ontem ao meu escrito sobre o ALA a pairarem-me na incerteza de se a escrita não coloca responsabilidades maiores a quem lida magicamente com ela, quando leio um texto a introduzir um evento. "Natália Correia - vida com sentido", era o título da página "Tribuna Literatura". O evento era (foi) promovido pela Fundação Mário Soares. Leio tudo e desisto de me insurgir perante grosseiras omissões. Apenas me ocorrem versos daquele belo poema "Do sentimento trágico da vida" que há tempos inseri num daqueles momentos de endeusamento aos deuses, que o foram na escrita e na vida. Descreveu o colunista, que também terá participado na homenagem, o itinerário dessa "presença vigorosa na sociedade portuguesa". Infelizmente Natália Correia só está no coração e na memória de quem a respeita, pois se estivesse entre nós irromperia pela sala e com a frontalidade que lhe era característica, cobraria aos presentes a responsabilidade pela concretização da premonição:
«A nossa entrada (na CEE) vai provocar gravíssimos retrocessos no país, a Europa não é solidária com ninguém, explorar-nos-á miseravelmente como grande agiota que nunca deixou de ser. A sua vocação é ser colonialista.»
Natália Correia, in "O Botequim da Liberdade"
É pouco provável que alguém da assistência se tenha erguido e lembrado isso...
Que falta nos faz a Natália!

20 janeiro, 2015

António, o cordeiro (e um Lobo chamado Antunes) - II


Ainda a pergunta não estava totalmente formulada e já antevia a resposta. Adivinhava-lhe o conteúdo, pois a forma surpreende, e muito. É (continua a ser) um deus no estar e na encenação da palavra. O rosto brinca com ela como se fosse a sua própria escrita. A voz pausada insinua uma profundidade ao que vai dizendo. Essa insinuação de profundidade é mais forte que a própria resposta. Dir-se-á que em televisão o tempo é estreito para se espraiar o pensamento, mas também é um excelente álibi para se poder concluir que ainda não foi desta vez que o Lobo devorou o António. O homem continua igual e é preciso ser muito crente para esperar que mude. Se Deus existisse segredar-lhe-ia ao ouvido, não o que ele esperaria ouvir, mas o pedido divino que gostasse um pouco menos dele próprio e um pouco mais de todos nós...

nota: suponho que a entrevista emitida na RTP1 é apenas parte da que mais tarde será editada. Esperemos.

18 janeiro, 2015

Chefe Santos - O grande condutor de massas


cartoon do maceta/"Caixa dos Pregos"
Depois de se conduzir a largas massas, fazer frente aos sindicatos, apoucar salários e meter o coelho em saldos, o merceeiro não perde tempo e, com a verdade enganando, prepara-se para não se sabe bem o quê, nem quando. É que esta gente não dá ponta sem nó.

17 janeiro, 2015

Diário de um eleito (15)

Cheguei antes da hora, Minha Alma não me largava "Uma criança, num evento desses deve cedo estar presente!" disse com aquela ambiguidade irónica com que sempre me fala. Percebi que se referia à imagem e não a mim. Escolhi a imagem de uma criança para  ficar projectada* enquanto se falasse do ensino, das ameaças porque passa e das falsas esperanças inculcadas  em quem devia estar mais que avisado. "Na Suécia destruiu-se um ensino de qualidade e digno para embarcar nesse disparate" . Lembrava-me Meu Contrário, receoso que esse exemplo fosse esquecido. E não foi, falou-se da Suécia e do Brasil... A sessão foi viva e participada. Eram muitos os directores de escolas e agrupamentos escolares, muitos os professores e pais. Alguns vereadores em representação da Câmara e outros dos concelhos próximos. 

*Seria outra a imagem projectada, a escolhida não tinha contraste suficiente

16 janeiro, 2015

Escrevi, por ai...


As telas de Afremov

Fazem parecer belo
o inverno
as telas de Afremov
quando chove

A chuva só lava a alma
em corpo bem abrigado
sei como sofre a alma
quando o corpo jaz encharcado

Rogério Pereira

15 janeiro, 2015

E agora? Que farei sem o meu rato?



Depois do acontecido e já contado sobre o que se passou com o meu gato, que se chamava "Gato", nunca mais aceitei outro. A aceitar, tinha ser na condição de se dar bem com o meu rato. Esse existe. Ou melhor, existia. Desde que tenho a porta (USB)avariada o rato existe mas é um mono e não me serve para nada. Pior, à falta dele é asneira atrás de asneira. O remédio?, já se vê, é mesmo arranjar a porta (USB).

13 janeiro, 2015

O Mundo vai ser ainda mais violento, só não sabemos quanto, nem em que momento!

Desta vez não é ninguém que me entre em casa. Depois do post de ontem e do outro, podiam pensar isso, até porque estando de arma em riste bem podia dar-se a confusão. Mas não. A menina é do outro lado do Atlântico, de um país doente. A arma que apresenta, mata! Não acredita? Veja! Veja mas não mostre aos meus netos. Por favor. Ah!, e não mostre aos seus. Por enquanto, poder esconder ainda é uma vantagem...

12 janeiro, 2015

A Maria é que ficou senhora de todos os exércitos...

As negociações foram inicialmente tensas. Percebe-se pelas caras. É que podem os corações estarem tranquilos, mas havendo armas pesadas e artilharia de pouco valem as outras armas e o estado das almas. Contudo, cedo o que estava em cima da mesa deixou de ser de confronto e já nenhum se lembrava de como tinham começado. Mas o que fazer dos exércitos? A Maria impôs-se, calma, e ficou ela a senhora de todos exércitos. Ficou garantida a paz entre os homens, pelo menos ali. Quanto ao Mundo... 

11 janeiro, 2015

48 anos, ena tantos!


O vidro e o reflexo, feérico, traduz o que o fotógrafo conseguiu mesmo sem o pretender. Sorte de aprendiz, pois pretendia marcar o dia e numa só foto "dizer" quase tudo e também ficar. Lá dentro passava-se um belo momento. 48 anos, celebrados em família uma mesa posta como a gente gosta e um sol que brilhou para todos nós.


Filhas, netas e netos, conversas e afectos. Coisas que nos marcam a vida...

Como sempre, as crianças não se dispensam de personalizar a festa mesmo que esta não seja a sua. A mãe já tinha soprado o 4 e 8 em cada vela. Maria exigiu que o fizesse por ela.
Foi bom!

10 janeiro, 2015

Liberdade, não sucumbas à mágoa de só te quererem como estátua!

Sabes Liberdade?, nenhum idiota, nenhum senhor do mundo, separará Minha Alma Celta e Meu Coração Luso do Meu Sangue Mouro. Viveremos em harmonia, o tempo todo. O que me resta e o outro. Lembra-te sempre da minha Águia, Liberdade, e de que há os que te amam de verdade. Não sucumbas à mágoa de só te quererem como estátua.

09 janeiro, 2015

No Continente, acessível a toda a gente (anos 6+)


A Metralhadora

Vô, compra
e apontava a metralhadora
sedutora
de mil cores
e balas de espuma
Não te compro porra nenhuma
E o menino
mesmo não compreendendo
prescindiu do brinquedo!

Velho arrependeu-se da expressão usada
Mas a arma ficou, lá onde estava

08 janeiro, 2015

Semeou-se vento, colheu-se tempestade; semeou-se tempestade, colheu-se o ódio; semeou-se o ódio e continua a colher-se o petróleo... Diz-se que é mais barato?

(mapa desactualizado. a partir de 2002 tem sido mais clara a intervenção dos EUA e da Europa, na região)

Lido por ai:
«Todos somos Charlie, mas o mundo não é Charlie. Indignar-nos-emos, justamente, perante o fanatismo revelado por este e por, possivelmente, próximos eventos. Justamente, mas debalde: o motor do carro funciona é a petróleo.» - in "A causa das coisas"

«...este é o momento de confrontar a União Europeia, a NATO e o governo francês em particular com as suas imensas e determinantes responsabilidades no crescimento de uma nova "jihad" que agora (e uma vez mais) lhes rebenta nas mãos; é tempo de lembrar que em 2012 foram capturados na Síria cerca de duas dezenas de agentes secretos franceses que apoiavam no terreno o "Exército Livre da Síria", uma das facções da "jihad" que destruiu e destrói um dos únicos estados laicos da região; é tempo de lembrar que em Abril de 2013 a União Europeia decidiu comprar às claras petróleo aos "rebeldes" que haviam tomado para si - e para o financiamento da sua "jihad" - poços de petróleo que pertencem na verdade ao povo sírio; é tempo de lembrar que o governo francês foi um dos elementos chave no esforço de guerra da NATO na Líbia - um dos paraísos do novo jihadismo itinerante -, e que boa parte daqueles que hoje ameaçam vidas inocentes em todo o mundo fizeram nesse contexto de guerra a sua formação (para)militar.» - in "Não, não somos todos Charlie Hebdo"

«Je suis charlie, pas des autres qui pleurent cyniquement» - aqui


07 janeiro, 2015

«Hoje, todos se dizem Charlie. Eu também sou.»

Num post, editado ontem num blog que sigo: "admitimos que Deus é por definição o ser mais grandioso do que o qual nenhum pode ser pensado, e depois pensámos num ser mais grandioso do que Deus. Para negar esta contradição, rejeitamos a hipótese de partida: a ideia do insensato de que Deus, o ser mais grandioso do que o qual nada pode ser pensado, não existe. Logo, Deus existe."

Deixei lá este meu comentário: "Irrefutável. Contudo, nunca me interroguei sobre o que aqui se prova. A minha questão é outra, e também tem a ver com a dimensão. E tem a ver com a dimensão, imensa, do tempo de resposta às preces... E, se tarda, de que vale (Deus)  existir? É que se ele (letra pequena) é infinitamente grande, também é infinitamente lento. Antes lamentava, hoje não o lamento, vou fazendo aquilo que muitos pedem a Deus que faça. É infinitamente pouco? Mas ou menos tenho prazo!"

Depois de saber o horroroso, li o que se escreveu por aí. Selecciono esta parte (mas vale a pena ler todo):
"Falta a lucidez de se clarificar quem, de facto, foram os autores do crime perpetrado em Paris. Quem quer que tenha sido merece ser perseguido, julgado e castigado. Mas para lá das sombras com que comentadores, politólogos, jornalistas queiram esconder a verdade mais crua devemos perceber que o imperialismo vive uma fase agressiva. Instalou o caos na vida dos povos do Norte de África, do Médio Oriente, na Ucrânia e na Venezuela. Apontar o dedo contra o extremismo islâmico sem apontar o dedo contra quem o financiou, treinou e armou é um insulto à memória dos que caem sob a barbárie da guerra.

Hoje, todos se dizem Charlie. Eu também sou. Mas devemos sê-lo todos os dias denunciando sem ceder à auto-censura quando se refere aos que nos conduzem à miséria, à exploração e à guerra.
"

05 janeiro, 2015

Aos poucos, vão regressando... invertendo o sentido do sítio onde lançam o grunhido!

Foi há exactamente há três meses e dei-lhe um título desgostoso que não me deu nenhum gozo, nem gozava quando Saramago citava, com palavras penetrantes, próprias de quem desassossega. 

Desertores e grunhidos são palavras pesadas se dirigidas a humanos e alguns reagiram, sentidos.
Claro que o pata negra (Rei dos Leittões, seu nome mais conhecido) se esteve nas tintas para que usasse a palavra grunhido. E ele aí está! Regressou à blogosfera, sarcástico e ainda mais irónico e ácido. Sei que muitos não regressarão, que a blogosfera já não é o que era, que os comentários se vão tornando mais escassos,  que um simples gosto pode funcionar como uma massagem no Ego, como acontece lá no face...
A blogosfera já não é o que era?
Paciência, mas que se canse quem nada acrescenta. Bem-vindo, pata negra


Não é péssimismo!, o blogue é um aviso, para o que a espécie se encaminha. Se é que já lá não está ...

04 janeiro, 2015

Geração sentada, conversando na esplanada - 80 (Muito mais que dois milhões, mais de 63% de share)

(ler conversa anterior)
«A gala final da «Casa dos Segredos 5» arrasou a concorrência, registando uma audiência média de 15,9% e um share de 45,1%. Pelas 01h20, o reality show da TVI atingiu um pico máximo de audiência instantânea com 2 milhões e 22 mil telespectadores (63,3% de share).»

A Rita trouxe o filho. Há precisamente dois anos que não o trazia mas o rafeiro logo o reconheceu. O reencontro deu-se com alegria reciproca e o abraço foi demorado. A Teresa, "Então, então, nós não somos ninguém?" e não foram. A criança nem nos olhou, depois do cumprimento correu para o longe com o rafeiro atrás, ladrando, enxotando o melro e o pombo. Elas não comentaram e nós também permanecemos silenciosos. 
"Então? A tua passagem de ano?"
"Não saímos, o miúdo queria ver a Gala e o frio também não convidava..."
"Ver a Gala?!... da casa dos segredos? E deixas o miúdo ver aquilo?"
"Quê?, ele disse-me que os colegas lá da escola todos veem!"
O engenheiro, com ar alarmado, virou-se para mim "Sabe? Ainda me recordo de uma longa frase sua, em que dizia:
"Podemos, se queremos, carregar na mochila da escola tudo o que ela pode levar. E a criança leva. Leva até não poder carregar e se cair pode-se levantar. Ou não. Depois vamos aliviar a carga. Só nessa altura percebemos que não levava nada que lhe fosse útil. É nessa altura que ficamos alarmados. Mas já aconteceu a queda"

03 janeiro, 2015

As perguntas que o Expresso não fez... são apenas três

O Expresso não dá ponta sem nó e por isso só coloca perguntas cuja (im)probabilidade serve para situar incertezas que não acordem consciências sobre os riscos de ruptura do paradigma que enquadra as preocupações do burguês. É preciso que este se assuste, mas o mínimo, para não lhe quebrar o ânimo. As respostas ocorrerão durante o ano. Mas eu tenho três perguntas que o Expresso não fez...

  1. O que é que se vai passar com as moedas que andam para ai a circular? A noticia, diz-se, é devastadora. E pode bem ser, sim senhora. É que se se confirma que a China lança comércio bilateral com a Rússia em Yuan e Rublo o paradigma existente vai ao rubro. Na Europa, a coroa norueguesa (também) parece estar em colapso total. Por outro lado, as dificuldades dos países que sofrem com a redução do preço do petróleo podem encontrar respostas na estratégia já delineada pelos  BRICs. O que está em causa é uma profunda alteração na actual ordem Mundial. 
  2. Neste novo contexto, para que serve o Grupo de Bilderberg? O Expresso não (se) interroga sobre isso. Balsemão não desculparia ver tal pergunta impressa na sua própria imprensa. O mais certo é que se as respostas à minha primeira pergunta forem em determinado sentido o Grupo será... implodido, sem disponibilidade para assistir a António Costa e a Rui Rio. A seu tempo a Dona Esmeralda e a sua vizinha do 4º andar terão assunto para conversar.
  3. O quórum que elegeu Francisco sabia ou não das suas origens proletárias? Claro que o Expresso colocou perguntas sobre o papa, mas esteve-se nas tintas para indagar sobre coisas que nem os cardeais indagaram. Li, naquele jornal em que se sabe tudo o que todos os outros escondem, que a questão é relevante. Cito o artigo:
 «(...) a voz de Francisco Bergoglio, cardeal argentino, filho de um ferroviário de nacionalidade italiana, que, na sequência de uma espécie de leviandade que hoje decerto muitos lamentam, foi já vai para dois anos eleito por um punhadão de cardeais para chefiar a Igreja Católica. Talvez a generalidade desses eleitores até desconhecesse qual a profissão do pai de Francisco e essa ignorância tenha ajudado à escolha feita, pois consta um pouco que isso de ferroviários não é gente de muito fiar. O certo é que a eleição aconteceu e que, de então para cá, a inquietação e o claro desagrado têm vindo a atingir muita gente excelente, e sobretudo devota, que estava posta em sossego, dos seus anos colhendo o doce fruito, como Luís Vaz disse de Inês. Entende-se: aquilo no Vaticano estivera a andar muito bem, João Paulo II havia sido um talvez decisivo cruzado no combate aos infiéis do Leste; o seu valido Marcinkus, arcebispo de Chicago, tinha sido um eficaz presidente do Banco do Vaticano; em devido tempo o «céu» se encarregara de no breve período de um mês afastar do caminho João Paulo I, que na altura não viria muito a propósito. Ia, pois, tudo bem, quando de súbito, zás!, surge Francisco e desata a multiplicar inconveniências. Não apenas a falar de pobres e desamparados, o que já não é de muito bom gosto, mas também a responsabilizar as estruturas financeiras dominantes pelos desconcertos do mundo, a formular apelos em favor da dignificação e respeito pelo factor Trabalho, a condenar as várias opressões sociais. Logo se desencadearam vozes a acusá-lo de ser comunista, pecado enorme e irremível, pois é sabido que os comunistas é que se preocupam com tais coisas afinal naturais, sempre houve ricos e pobres. E agora, em plena quadra de Natal, chega a sua denúncia pública, clara e veemente, de torpezas e vícios cardinalíssimos, um pouco a lembrar Jesus no Templo. Bem vimos na TV como prováveis visados aplaudiram o Papa com as pontas dos dedos, e apenas por dever de ofício. Bem sabemos que a esperança é que ao perfazer 80 anos, em 2016, Francisco passe à reforma, e que o tempo passe depressa. E bem sabemos também que a prudência recomenda ao Papa alguns cuidados. Pois a História ensina que nem sempre a cidade do Vaticano é um lugar saudável. E o «céu» não dorme.»

Há poemas-bandeira, poemas-denúncia, poemas-grito. O "Estética do Domínio" é tudo isso e aponta um caminho. É um hino!


“Estética do Domínio”

Tornaram bonitas as barrigas inchadas dos meninos pretos,
as moscas vagueando pelas bocas dos famintos,
tornaram heróis quem lhes manda arroz à beira do prazo de validade,
quem usa na lapela um broche de caridade.

Arrepiam-te os olhos esbugalhados da criança em sangue,
mas entorpece-te a habituação, toma-te uma certa vontade que se esgota
no anúncio do patrocinador do world press photo.

Imunizam pela estética a revolta, volvendo-a piedade,
os ossos da miséria montam cadáveres pelos campos estéreis,
arrasados pelo napalm e fósforo da liberdade.

Contemplação de um belo nascido do lodo que esconde
o que mais feio há na verdade.

Que belo não é o choro, é o que o acaba.
Não é a fome, mas o que alimenta.
Belo não é o osso despido, mas a pele que o cobre,
belo não é carpir lamentações, é fazer revoluções.

Miguel Tiago

01 janeiro, 2015

Quarto aniversário deste espaço, depois de cerca de 2000 mensagens editadas, com mais de 19700 comentários anotados, de muitos dos quase 390 amigos que me seguem. Porquê?

Talvez porque não precisemos apenas 
de palavras dirigidas à alma, 
que nos arrepiem a pele, que nos emocionem… 

Porque talvez precisemos de palavras-adubo, 
palavras-semente e, sobretudo,
de ideias. 

Por isso, as venho procurando. Há tanto;
(alguns dos meus cabeçalhos, nestes quatro anos)