Às vezes acontece as palavras valerem mais que mil imagens. As imagens que aparecem, com frequência, de Jerónimo de Sousa são fugazes e quase sempre com o homem a ir dizer aquilo que, se começa, não acaba. Quase sempre lhe vão cirurgicamente focar o que argumento dito na mais que evidente preocupação de lhe desvalorizar o discurso e de o poder mais tarde manipular fazendo passar o que não foi dito. Raramente acontece o que aconteceu hoje: o que o Público fez, E coisa rara, com chamada de primeira página. Alguns extractos:
A GRÉCIA
...essa falácia da União europeia, da coesão e da solidariedade ficou totalmente estilhaçada.
... E o exemplo da Grécia revelou até onde as instituições europeias e o FMI podem ir nesse processo de vergar os povos, de exigência da abdicação da sua soberania e do seu devir colectivo.
...Um referendo realizado no quadro da chantagem e da pressão internacional onde valeu tudo e ainda assim, o povo grego manifestou-se contra. Foi um acto corajoso.
... Não queremos monitorizar o posicionamento dos gregos, mas é uma lição de que num confronto desta envergadura, a questão de cada povo e cada Estado estar preparado para um embate desta natureza é fundamental. Creio que o povo grego estava preparado, o Governo grego não estava.
A SAÍDA DO EURO
... O mais fácil é dizer ‘sai do euro’. A questão é: como é que se sai? E creio que essa é a grande omissão e improvisação.
... Quando falo da improvisação, era uma questão que estava colocada, mas o povo e o governo gregos não estavam em condições para uma saída súbita.
... Quanto a futuros alinhamentos, pode haver uma contradição de um partido que acolheu um grande anseio popular mas que, pelas suas próprias características, pode não ter interpretado essa vontade de mudança do povo grego.
... Essa coisa da coesão e da solidariedade é como aquela da folha de couve, veio um burro e comeu.
... o problema é que a questão continua a estar colocada: esta transferência de soberania não é uma questão pequena.
... A questão da reestruturação foi sempre um tabu. Os credores não querem mas, como devedores, também temos direitos e a questão da renegociação da dívida portuguesa vai-se pôr ou por iniciativa nossa ou dos credores.
... Nós temos um problema: o Governo disse que temos os cofres cheios. Mas estão é cheios de dívidas: substituíram dívida velha por nova - e isso não nos dá tranquilidade nenhuma.
... Em primeiro lugar: como pode ser aplicada uma moeda única com economias tão diferentes como aquelas que existem nos 19 países da zona euro?
... a entrada no euro fazia ressuscitar a velha tese do confronto entre a panela de barro e a panela de ferro.
... E verificamos consequências no plano económico e financeiro: destruição da produção nacional, das empresas estratégicas (metalomecânica, indústria naval, siderurgia nacional), da destruição das nossas pescas e marinha mercante. Somos um contribuinte líquido se tivermos em conta a questão dos dividendos e lucros que saem para a UE e que estão longe de serem compensados com os fundos comunitários que nos enviam.
Entretanto desenvolveram-se os mecanismos de aperto (a questão da UEM, o Tratado Orçamental, a governação económica), que são espartilhos para o país se desenvolver de forma soberana no plano económico.
... Sabemos que uma saída do euro por si só não resolve as coisas. Nós consideramos, no quadro da política alternativa que propomos, a conjugação da necessidade da renegociação da dívida com a de termos dinheiro para o investimento para pôr Portugal a produzir e termos soluções duradouras para a Segurança Social, emprego e criação de riqueza.
... o grande argumento do Governo era ‘nós estamos à beira da bancarrota, precisamos de resolver o problema da dívida. E passados quatro anos, ela aumentou 50 mil milhões de euros.
... o problema é que o grosso dos cortes foi nos salários, nas pensões e reformas, ... ao mesmo tempo que se alivia o IRC aos grandes grupos económicos e financeiros.
... A questão de fundo é que quem pagou foi quem trabalha. Os cortes brutais na saúde, educação, segurança social tiveram um efeito tremendo. Temos hoje quase mais meio milhão de postos de trabalho destruídos. Não somos nós que dizemos. Mais 800 mil portugueses em risco de pobreza nestes quatro anos. Com níveis de precariedade que atinge particularmente as camadas mais jovens. Como é que o país pode estar melhor se o seu povo está a viver pior?
O PROGRAMA ELEITORAL
... É fundamental o aproveitamento dos recursos naturais, num plano do subsolo para explorar e transformar para exportar. Enchem a boca para falar na economia do mar depois de terem destruído a frota pesqueira, a marinha mercante a indústria naval – não é separável um investimento na capacidade de criar mais riqueza neste sectores. E um processo de reindustrialização virado para as PME, facilitando no crédito, nos custos dos meios de produção, um alívio da brutal carga fiscal.
... A Constituição refere a coexistência do serviço público, privado e cooperativo. No quadro de uma economia mista, - e para sacudir essa caricatura de que o PCP quer nacionalizar tudo -, esse controlo público pode ser feito por nacionalização mas também por um controlo efectivo tendo em conta o investimento que o Estado fez nessa banca comercial. Para um crescimento e desenvolvimento soberanos é fundamental Portugal ter as alavancas económicas para a concretização desse objectivo. Vamos insistir. Quem é que entende uma privatização da EDP? Dava lucro, dá lucro. Dos CTT? Dava lucro.
... há sectores que dificilmente dão lucros tendo em conta a dimensão social do serviço que prestam. Nós não estamos a exigir que tudo dê lucro, não exigimos que os hospitais dêem lucro.
... quando falamos de sectores estratégicos, ninguém entende como é que se privatizou uma ANA, que dava milhões de euros de lucro. Eu não queria transformar o oceanário numa referência contra as privatizações.
… Quando o Estado perder essas alavancas e precisar de encontrar receitas, como é que vai fazer? Corta nos salários ou aumenta os impostos.
Propomos criar uma taxa extraordinária sobre as empresas que tenham mais de 500 mil euros de euros de lucros, o que se aplicaria apenas sobre 12% das empresas. Esta é a pedra angular: o reforço da sustentabilidade da SS passa inevitavelmente pela criação de mais emprego. Os descontos devem ser feitos em função do número de trabalhadores, a TSU deve manter-se como está. É um presente envenenado do PS baixar a TSU dos trabalhadores para depois tirar mais à frente quando o trabalhador se reformar.
A FRAGMENTAÇÃO À ESQUERDA E AS ALIANÇAS
... Em termos de fragmentação, o problema é sempre o PS. É importante que os partidos façam o que prometem aos portugueses. A prática é o grande critério da verdade. Verifica-se que o PS, em minoria, na oposição ou com maioria absoluta, sempre fez uma opção: identificou-se com a política de direita, fazendo acordos e entendimentos naquilo que é estruturante.
... O nosso problema são estes posicionamentos do PS.
... Questionamos as sondagens, não pelo resultado – aquilo são tendências -, mas pelas leituras. ... em relação à CDU dizem que estagnou. Bom, se fossem verdade estes 10 ou 11% dariam 25% de crescimento [em 2011 teve 7,91%].
... vemos muitos portugueses que olham para nós reconhecendo que estão perante gente séria, que assume os compromissos, que tem propostas. É maior a simpatia do que a opção do voto, não nos iludimos…
... sinto uma maior abertura na forma como sou recebido – não estou a dizer que toda a gente gosta. Não só nos ouvem como procuram esclarecer as nossas posições e incentivam - mesmo gente que não vota na CDU.
... o reconhecimento das pessoas de que de facto não são todos iguais, é um elemento que também conduz a este possível crescimento da CDU.
... Mas vamos às questões estruturantes: a questão da dívida: qual é a resposta do PS? Nenhuma. A questão do amarramento ao Tratado Orçamental e à política económica? Diz que é para ser cumprido e acrescenta a palavra ‘inteligente’ mas isso não diz nada. Nas privatizações? Há uma pequena diferença com a direita: o PS defende a privatização aos poucochinhos, a direita é mais radical. Legislação laboral? A proposta do PS é simplificação dos despedimentos.
... António Costa diz que é preciso um acordo e os conteúdos depois logo se vê. Ora, nós consideramos fundamental o diálogo, que deve existir, mas um governar para quê? E para quem?
... O problema está do lado do PS, pressupondo a sua afirmação de que é um partido de esquerda.
TRABALHO PARLAMENTAR E REJUVENESCIMENTO
... O PCP faz um balanço muito positivo da actividade parlamentar. É uma bancada com características muito interessantes, muito rejuvenescido, renovado, com jovens a afirmarem-se com uma grande capacidade, o que nos enche de satisfação.
... Acho que devemos continuar a ser audaciosos. Isto não significa a dispensa deste caldeamento entre a experiência e a juventude.
... É uma injustiça não reconhecer o papel do Miguel Tiago na comissão do BES. Foi um trabalho de grande valor de um jovem que teve que se preparar, estudar e conseguir ter um grau de intervenção que esteve ao nível do camarada Honório ou de qualquer outro economista que por ali tenha passado.
A SUA SUBSTITUIÇÃO
... O que sinto por parte dos meus camaradas é incentivo e estímulo e, da minha parte, enquanto tiver esta capacidade de saúde e força anímica
... Mesmo às vezes os cansaços são cansaços bons e depois há o incentivo das pessoas.
SAMPAIO DA NÓVOA
... Aquilo que nos tem animado sempre é o contributo que podemos dar para a eleição de um Presidente da República que cumpra e faça cumprir a constituição. Algo, aliás, que o actual PR não fez.
... Em relação às presidenciais temos este instrumento que é a deliberação do congresso de que o PCP irá intervir de modo próprio, que pode ser com ou sem candidatura. Nos dias seguintes às legislativas iremos definir a nossa posição em relação às presidenciais. Neste momento não temos posição em relação a ninguém.