Os que me lêem - e os que agora chegarem para o fazer - sabem (ou ficam a saber) o meu gosto em brincar com as palavras, não para lhes alterar o sentido, mas para esmiuçar o seu sabor e peso. Sim, porque as palavras, independentemente do ar e da entoação com que são ditas podem ser doces ou amargas, leves ou pesarem chumbo. Pois foi brincando com as palavras que, num comentário a um blogue de pessoa amiga, escrevi que o discurso politico carece de ser analisado tendo em conta a necessidade de discernimento entre "A substância da coisa e a coisa da substância" e de quando se falar de uma ser quase criminoso (porque manipulador) não falar da outra.
Contrariamente ao que possam pensar, o
post de hoje é sobre isso. A alusão ao
debate de ontem vai ser meramente ilustrativo da minha figura de estilo...
A SUBSTÂNCIA DA COISA (coisa política, claro)
Todos os conteúdos são definidos por uma substância, se não física e tangível, pelo menos demonstrável (frequentemente com recurso à frieza dos números). Por coisa deve entender-se o domínio a que o conteúdo diz respeito. Uma coisa é falar de galhos outra é de bugalhos. O valor atribuído não é exterior à substância da coisa. Depende dos interesses que se reúnem em torno e que frequentemente disputam a substância. Nada melhor do que um exemplo: AS PRIVATIZAÇÕES enquanto substância. Privatizar qualquer coisa: OS TRANSPORTES, A ENERGIA, O GÁS, OS CORREIOS, A ÁGUA, etc. Discutir a substancia da coisa implica, naturalmente, compreender as funções do Estado em confronto com os interesses privados que tomarão conta da coisa. Como a discussão se passou e quais as ideias em jogo, podem ver no vídeo junto. Compreenderão como os sujeitos em confronto discorrem e, até, formularem uma opinião (logo no inicio, mas mais detalhadamente a partir do 27º minuto)
A COISA DA SUBSTÂNCIA (o aproveitamento politico da substância)
Desde logo há a percepção de que se trata de algo que gira em torno da substância (às vezes tão próxima, que tendem a distraída ou propositadamente confundirem uma e outra). A coisa da substância pode ser a forma em como a substância pode ou não influenciar o voto, ajudar ou prejudicar alianças ou até mesmo a forma agressiva, moderada ou diplomática, com que essa envolvente da substância é tratada. Se quer aprofundar o significado do que escrevi, pode olhar a imagem onde Passos Coelho afirma risonho que muito mais que o seu partido foi o PS o grande privatizador (sem explicitamente dizer que agora chegou a sua vez de o fazer). Pode também ver o ar risonho do seu interlocutor, a concordar com um cordial "sim senhor, tem toda a razão".
CONCLUSÃO
Cada vez mais o discurso politico e de quem o comenta fala da "coisa da substância" esquecendo e distorcendo completamente o seu conteúdo e o valor das posições, os seus beneficiários e, até, de que forma os príncipios e os valores se atropelam pela luta da caça ao voto...
Observação: Poderia ter escolhido outro exemplo como seja a argumentação usada para assinar ou não (substância) o memorando imposto (coisa), mas não faltarão oportunidades até para reflectir sobre a contitucionalidade desse processo, sobre as graves omissões e sobre as consequências da aprovação do acordo na próxima semana, pelos ministros das finanças da UE.