31 maio, 2011

O endividamento começou, quando o aparelho produtivo começou a ser destruído... II

Voltar à terra? Mas se os professores nem nela falam. Os bem pensantes dizem ser uma ocupação terceiro-mundista e que o futuro está nos serviços e no turismo. Os velhos agricultores e os que ainda por lá estão dizem ser isso uma valente danação. Que fazer então? Votar. Sim votar em quem assegura mudar...


Eu tinha (e tenho) entre os meus valores, a terra. Um post que escrevi e de que muito gosto é sobre o tema. Mas...Voltar à terra quando durante mais de 30 anos se desvalorizou a ocupação é uma arriscada aposta. Criou-se a imagem de actividade menor, da qual ninguém gosta. Incute-se que destino melhor, melhor, é ser-se doutor. Doutor não importa de quê. Se não chegarem lá, o campo só é caminho para o regresso dos que lá estão. As politicas ajudaram. Os que ainda por lá andam não recebem por lá estar. Acho que ainda terão que pagar. Há quem fale da necessidade de "Garantia de um rendimento mínimo nas explorações agrícolas familiares (...), da criação de adequado seguro às suas actividades, combate à especulação do custo dos factores de produção – adubos, sementes, fito-fármacos, combustíveis – e defesa de preços justos à produção, com apoios aos pequenos agricultores e à agricultura familiar."(*) . Há quem fale dessas coisas até em campanha, mas os fazedores de opinião primam pelo silêncio, pela omissão. Uma noticia de ontem dá um indicio alarmante mas quase insinua que é por preguiça que a coisa acontece: "Em 2009 existiam 305 mil explorações agrícolas em Portugal, menos 111 mil do que em 1999. Em dez anos uma em cada quatro explorações cessou a sua actividade." E então o que se passou desde que a reforma agrária foi cilindrada?

Queda da superficie agricola utilizada


Terra abandonada significa produção importada (**)


(*) Medida preconizada pela CDU - "50 Medidas" (**) (1974/76 anos da Reforma Agrária não aparecem no gráfico mas seriam certamente superiores aos de 1979 ) - Fonte PORDATA

30 maio, 2011

O endividamento começou, quando o aparelho produtivo começou a ser destruído... I

Quando olho o mar, por força deste, o meu pensamento recua a séculos passados. A minha capacidade de ver nesses tempos, dá-me o nítido detalhe das águas a abraçar cascos de esquadras de todo o tipo de navios de construção lusa, partindo de portos fervilhando de gentes. Éramos os agentes da primeira globalização, os "japões" chamavam-nos namban-jin...


Mantenho a legenda de um post editado o ano passado onde denunciava palavras do então candidato presidencial Cavaco Silva. Eu mantenho a ideia que então tinha, ele não, pois já não precisa. Acho que foi com palavras assim que ele renovou o mandato. Dizia a notícia: "PR quer investimento nos portos e auto-estradas do mar". Falando dos portos cilindrava o projecto TGV, como se a opção de transporte de carga podesse vir por mar e num porto parar. Eu até acho que Cavaco olhou para o mar, pois foi a partir de 1982/3 que começou o declínio de todas as nossas frotas e, assim, dando um rombo prolongado, surdo e mudo à economia do mar. Hoje ele anda atarefado a reunir condições para que o que sobra chegue para pagar as dívidas que ele próprio ajudou a criar. Não terá a tarefa fácil, mesmo que consiga que os partidos "credíveis" se venham a entender (o que por certo, irá acontecer). Porque ontem a CDU lembrou também tudo isso, pelas palavras do seu candidato Carlos Coutinho, relembro eu também neste momento, onde começou o endividamento:



O gráfico representa o número de embarcações totais registadas. Portugal

terá perdido, em 29 anos, quase 60% da frota total (pesqueira e de transportes) - fonte:PorData

29 maio, 2011

Este domingo: de manhã; à tarde; ao serão. Sempre. Sempre e sempre a omissão. Por isso falarei em coisas pouco faladas...

DE MANHÃ


A manhã estava incerta, mas não foi por isso que não fiz o que costumo fazer. Comprar um semanário, o Expresso, pré-pagar dois cafés e ler mais por obrigação do que por prazer. No primeiro caderno, o costume, quer em distorção quer em omissão e tudo para manter um eleitorado bem amarrado "ao tem de ser". Da CDU dá um espaço mitigado e diz: "A organização comunista é eficaz mas copia o mais gasto roteiro de campanhas passadas". Esboço um sorriso e passo ao suplemento económico onde na primeira página o CEO da TAP dá uma gargalhada numa foto a cores. Está vendendo a transportadora: "...o valor da TAP está a atingir o seu máximo". Nem leio, passo adiante e chego ao titulo que é ilustrado pela foto ao lado: "Sines atrai gigantes do mar". Entro no texto: "O terminal de contentores duplica a sua capacidade máxima para um milhão de contentores de 20 pés (TEUS)...". A leitura desperta-me a curiosidade, pois todos falam (agora) na importância económica do mar, mas não me recordo de alguém falar deste projecto. Leio sofregamente e fico surpreendido, boquiaberto: "Com as actuais ligações ferroviárias - continuam em aberto as perspectivas de construção de linhas mais eficientes a médio e longo prazo - Sines já transportou por comboio 100 mil TEUS em 2010". Se outra coisa não consegui concluir, uma parece clara evidência: A justeza da medida (a 18ª das 50 que a CDU submete a votação): "Garantir a produção nacional de material ferroviário (em particular material circulante) nomeadamente com a mobilização de incentivos em torno de investimento em curso na ferrovia.". Mas fica-me a interrogação: Porque raio a noticia de tal projecto desinserida das condições prévias indispensáveis ao escoamento das mercadorias? Porque não fala o Expresso nos investimentos em ferrovias? Como sairão de Sines um milhão de mercadorias?


DE TARDE
Decidi ir ao almoço da CDU na Escola Náutica Infante D. Henrique. De resto estando anunciado o candidato Carlos Coutinho, vice-presidente daquele estabelecimento do ensino superior, tinha a oportunidade de continuar dentro do tema que me é mais querido: o mar. Bingo! Falou-se mesmo do mar. E não foi para deixar as coisas do mar no ar, nem para repetir que se acabou com a frota pesqueira... É que, contráriamente ao propalado, os comunistas estão a fazer uma campanha como há muito não se via. Com sessões de esclarecimento. Carlos Coutinho falou primeiro da "sua" Escola Naútica. Das dificuldades em gerir com um magro orçamento cursos reputados e de emprego assegurado para os jovens que os frequentam. Do prestigio internacional e do know how em gestão portuária, em manobra e em segurança marítima, que vende e rende, mas cujo rendimento não reverte para a escola. Podia (e devia) reforçar o orçamento. Mas não, todo esse dinheiro vai direitinho para a tutela. Dá depois o quadro da evolução da Marinha Mercante. O que aconteceu que quase desapareceu. Falou da venda da Soponata e da troca que o Grupo Melo fez, abandonando o mar e investindo no lucro facilitado e seguro do negócio da saúde. Falou do aconteceu com a Sacor. Falou nas negociatas e dos elevados custos de afretamento de transporte a navios cuja tripulação é... portuguesa (na maioria dos casos). Falou da competência e capacidade instalada dos estaleiros portugueses. Nas obras de relojoaria de que são capazes os Estaleiros de Viana. Resumiu no final o que chamou de "Politica patriótica e de esquerda para o Mar e a Marinha Mercante". Desenhar essa politica compreenderá incrementar relações aprofundadas com os países da CPLP e a aposta na reconstrução de uma Marinha Mercante nacional dotada de navios de carga, passageiros e cruzeiro incorporando tripulações e tecnologia portuguesa, que assegure a circulação marítima entre o continente, as ilhas e as ligações internacionais estratégicas. Carlos Coutinho desenvolveu ainda outras vertentes dessa politica necessária para que seja salvaguardada a soberania nacional relativamente à grande extensão do território marítimo que nos pertence. De seguida falou José Casanova. O discurso fluiu claro e documentado. Ao serão, o Professor Marcelo, viria a dizer tudo ao contrário do que José Casanova denúnciou, mas baralhado e sem ser documentado. E o que documentou apenas serviu para dar razão às posiçoes que a CDU afirma.


AO SERÃO
Nunca me passaria pela cabeça colocar palavras de Marcelo Rebelo de Sousa em substituição das que José Casanova disse. Faço-o pela necessidade pedagógica de documentar perante os milhares que ouviram Marcelo a denúncia que só chegou a centena e meia de presentes na sessão de esclarecimento da CDU. Marcelo, depois de acusar PS, PSD e CDS de falar de tudo menos do pacto que tinham assinado, veio afirmar que nas eleições do próximo domingo ou se votava o pacote ou contra o pacote da troica. Fê-lo regressando à tese da inevitabilidade, mas... que coisa estranha. Depois de se meter pela clara demonstração da irracionalidade dos prazos, inumerando o que tem que ser feito em julho, em Agosto e em Setembro, ele só de inumerar estava esgotado. Coitado. Perante a pergunta do "entrevistador" sobre a viabilidade de tudo isso ser feito disse que não havia outro jeito. De outro modo, ter-se-ia que... renegociar a dívida. Só não disse uma coisa que Casanova tinha dito: ESTÃO OS GRANDES GRUPOS FINANCEIROS A GANHAR TEMPO EMBOLSANDO O MAIS QUE PUDEREM PARA SÓ QUANDO FOR POR DEMAIS EVIDENTE QUE NÃO SE PODE PAGAR MAIS, ENTÃO SIM SE ABRIR A MÃO À RENEGOCIAÇÃO... Não sei porquê, pressinto a alma de Cavaco a inspirar o discurso de Marcelo, preparando terreno para o dia 6 de Junho...

28 maio, 2011

Ajuda?



Pois é, a manipulação mais eficaz é a "inocente" e começa por amenizar palavras, trocando-lhe o sentido... (ver mais)ou assine a petição aqui

27 maio, 2011

Inquietações. Talvez sem fundamento...




Texto de Bertold Brecht de 1934 que ontem postei foi publicado pouco depois da eleição de Hitler. Dois factos me fazem passar este video: Primeiro, os comentários lá colocados sobre ser a mentira uma inevitabilidade da politica, independentemente dos regimes. Tais afirmações receio-as complacentes; segundo, nesta fase da campanha eleitoral, é clara a apropriação por parte da direita do discurso e das mensagens de esquerda, para suportar uma demagogia sem limites. Como o que se vai seguir é de grande sofrimento com riscos de desestabilização social, sobram-me inquietações...


26 maio, 2011

De um texto de Bertold Brecht sobre a Verdade


Hoje, o escritor que deseje combater a mentira e a ignorância tem de lutar, pelo menos, contra cinco dificuldades. É-lhe necessária a coragem de dizer a verdade, numa altura em que por toda a parte se empenham em sufocá-la; a inteligência de a reconhecer, quando por toda a parte a ocultam; a arte de a tornar manejável como uma arma; o discernimento suficiente para escolher aqueles em cujas mãos ela se tornará eficaz; finalmente, precisa de ter habilidade para difundir entre eles. Estas dificuldades são grandes para os que escrevem sob o jugo do fascismo; aqueles que fugiram ou foram expulsos também sentem o peso delas; e até os que escrevem num regime de liberdades burguesas não estão livres da sua acção.”

Texto de 1934 - Publicado no Diário de Lisboa de 25/Abr/82 (ler tudo aqui)

25 maio, 2011

Não sendo bom, o Jornal "i" ainda é o melhorzinho que anda aí...

Tornou-se evidente que a Grécia, a Irlanda e Portugal não serão capazes de pagar as suas dívidas na totalidade
Se quiser ser realista, a Europa tem de se preparar para aceitar uma redução da dívida, o que poderá ser feito através da ajuda das economias mais fortes e de perdões parciais impostos aos credores privados, que terão de se contentar com receber menos em troca de receber alguma coisa. Só que realismo é coisa que não parece abundar.
Por um lado, a Alemanha adoptou uma atitude dura em relação a qualquer ajuda aos vizinhos em dificuldades - isto apesar de uma das principais motivações do actual programa de resgates ser proteger os bancos alemães de perdas.
(...)
Se os bancos gregos caírem, a Grécia pode ser forçada a sair do euro - e é fácil ver como isto pode ser a primeira peça de um dominó que se estende a grande parte da Europa. Então que estará o BCE a pensar?
por Paul Krugman, Publicado em 25.Maio.2011, Jornal i (ler tudo)

As vizinhas do prédio do Rogérito andam com preocupações diferentes. Eu comungo de ambas...

Enquanto a vizinha do 4º andar se lamenta de não encontrar em quem votar,
a Dª Esmeralda, que já tem ideias arrumadas, não sabe como "ir" visitar os amigos.
Anda, com o blogger, tão desencada que há dias que não escreve nada...

Ao Rogérito acontece coisa semelhante. Esperemos que não haja incompatibilidades entre os gigantes e que tudo regresse a como estava antes... Sem comentários o texto não lhe sai...

24 maio, 2011

Afinal apareceu... nem sei como aconteceu (os comentários é que se esfumaram...)

Lembram-se do post que me deu trabalho e desapareceu roubado? Deu à costa. Nem sei como foi. Apareceu e pronto. Não é de um gajo ficar tonto? Porque o reconstruí parcialmente (ver aqui), apenas repito a introdução com nova pintura de Jerónimo...Bosch.
"Chama-se a atenção para os valores da ética. Quem deve paga. Paga o que deve, quem deve. Mas quem deve? Não é conhecido o motor gerador de tanta dívida, nem os seus operadores. Alguns dizem, com veemência, que terá sido quem viveu acima das suas possibilidades e que todos somos culpados. Outros, que terão antes sido os que fomentaram e promoveram a cultura do consumismo, lucrando com os negócios. Estes terão grande parte das culpas dentro da culpa geral. Os negócios, esses, foram dentro da ética e em conformidade com os seus valores. O problema terão sido os excessos. Quem assim não pensar sai fora do paradigma do entendimento normal, passa a ser um anormal e, como tal, deverá ser ou marginalizado ou omitido, porque tudo o que dirá (por repetitivo) deixa de fazer sentido. Chegamos assim, perto da bancarrota e, mais uma vêz com toda a límpida ética, foi "negociado" o resgate da dívida. Foi um bom acordo, dizem uns. Foi o acordo possível, dizem outros. Atendendo à crise, foi uma inevitabilidade, dizem em coro uns e outros. Quem assim não pensar sai fora do paradigma do entendimento normal da inevitabilidade inevitável. Reestruturar a dívida? Sabem o que isso significa? Significa a catástrofe e, pior, significa deixar de ser reconhecido nas relações internacionais como país com ética. Seriamos um país caloteiro. Quem pensar o contrário nem merece ser falado quanto mais escutado." - Foi exactamente isto que escrevi.

PORQUE O TEMA VEM A CALHAR, VEJA-SE TAMBÉM ISTO E MAIS ISTO (a pouco e pouco vamos sabendo o que aconteceu à nossa economia)

22 maio, 2011

O debate decisivo deixou o Rogérito apreensivo...

A vizinha do 4º andar estava entusiasmada com o falar dos lideres dos principais partidos, comentava até que ambos eram garbosos, jeitosos, educados e com ar muito asseado. A Dª Esmeralda, desencantada, dizia que sobre o que eles assinaram não disseram mesmo nada. O Rogérito, nem sequer interrompeu. Estava a ler o que o Eugénio Rosa aqui escreveu:
"A análise do Memorando do FMI-BCE-UE , aceite pelo governo PS, pelo PSD e pelo CDS leva à conclusão de que ele se caracteriza, por um lado, pela ausência total de quaisquer objectivos a nível de crescimento económico e de aumento do emprego; por outro lado, por uma profunda insensibilidade social já que muitas das suas medidas vão atingir os grupos da população mais vulneráveis; e, finalmente, é um autêntico programa neoliberal, que visa transformar a economia e a sociedade portuguesa. Os únicos objectivos quantificados que existem no "Memorando" são os referentes à redução anual do défice, ao corte nas despesas públicas e ao aumento de receitas de impostos necessários para alcançar tais objectivos fixados arbitrariamente, pois não apresenta qualquer justificação técnica para os valores de défice. Para além disso, contém uma numerosa lista de medidas, com um calendário muito apertado, cujo cumprimento rigoroso será controlado trimestralmente pelo "troika", que visam transformar a economia e a sociedade portuguesa no sentido neoliberal, que um governo PS ou PSD terá de implementar, sob vigilância apertada do FMI-BCE-UE. A "troika" FMI/BCE/UE pretende reduzir brutalmente a procura e o défice orçamental à custa de uma diminuição significativa do nível de vida dos portugueses. Para isso pretende impor um conjunto numeroso de medidas, que referimos detalhadamente à frente neste estudo, cuja quantificação possível (e há muitas em que isso não foi possível) determinarão: (1) Uma redução dos rendimentos nominais dos trabalhadores e dos pensionistas em, pelo menos, 2.707 milhões € no período 2012-2013 através do congelamento dos salários e pensões, ou mesmo por meio de cortes; (2) Um corte que incide sobre os rendimentos anteriores dos trabalhadores, dos pensionistas, dos aposentados e dos trabalhadores atingidos pelo desemprego, através do aumento dos impostos que incidem sobre os seus rendimentos, em mais 725 milhões €, e embora a evasão e a fraude fiscal e contributiva atinja mais 7.000 milhões €/ano o "Memorando" prevê a recuperação só de 175 milhões € em 2012; (3) A aceleração da inflação, devido ao aumento do IVA (mais 810 milhões €), do Imposto de Consumo (mais 400 milhões €), e a uma ainda maior liberalização dos preços. Para que se possa ficar com uma ideia da redução do nível de vida dos portugueses que a medidas constantes do "Memorando" do FMI/BCE/UE determinarão basta dizer o seguinte: com uma taxa de inflação média anual de 3%, e admitindo que os rendimentos nominais dos trabalhadores, dos pensionistas, aposentados e dos desempregados não sofreriam reduções – e não é isso que vai suceder – verificar-se-ia nos três anos (2011-2013) uma diminuição de cerca de 10% no nível de vida dos portugueses. O "Memorando" da "troika" é um gigantesco programa de redução do nível de vida dos portugueses, com o objectivo de reduzir a procura interna e o défice orçamental. É importante referir que, contrariamente ao afirmado pelos funcionários da "troika", muitas destas medidas atingem os grupos mais vulneráveis da população. São exemplos, o congelamento do salário mínimo nacional; a redução do subsídio de desemprego e das indemnizações; o pagamento de IRS sobre prestações sociais até agora isentas; o aumento da taxa do IVA de 6% e 13% para 23%; a criação de um novo imposto sobre o consumo de electricidade; a liberalização dos preços da electricidade e do gás; a subida significativa dos preços dos transportes; o aumento das taxas moderadoras no SNS e a redução significativa do nº de portugueses isentos de taxas moderadoras. É um autêntico programa de ataque às condições de vida dos mais vulneráveis. Mas para a banca estão previstos no "Memorando" 35.000 milhões € para avales e 12.000 milhões € para aumentos de capital Mas o "Memorando " contém também muitas outras imposições que caracterizam qualquer programa neoliberal. Assim, exige a eliminação de um número indeterminado de serviços públicos e a redução da despesa pública em dois anos (2012-13), em 5640 milhões €, quando no PEC-IV era 4320 milhões € com o claro objectivo de reduzir a Administração Pública e o papel do Estado. O "Memorando" obriga também o futuro governo "a ir ainda mais além", do que constava no PEC-IV, nas privatizações procurando assim eliminar a presença do Estado na economia (a única excepção é a parte bancária da CGD). No campo dos despedimentos individuas, com o falso pretexto que é "uma reforma estruturante" necessária à recuperação da economia e ao crescimento económico, o "Memorando" contém uma série de pontos que visam liberalizar os despedimentos individuais. Chega-se ao cinismo de justificar uma nova lei do arrendamento, que liberalize as rendas e facilite os despejos, o aumento do IMT e a eliminação dos benefícios fiscais à habitação como indispensáveis para promover a mobilidade dos trabalhadores, pois a casa própria é um obstáculo. Um programa desta natureza, ao reduzir o défice orçamental, a procura interna e o investimento público em tal dimensão, e ainda por cima em plena crise, provocará uma recessão prolongada. Como refere o Nobel da economia Paul Krugman: "A redução da despesa em períodos de desemprego elevado é um erro. Os defensores da austeridade prevêem que esta produza dividendos rápidos sob a forma de aumento da confiança económica, com poucos ou nenhuns efeitos negativos sobre o crescimento e o emprego; o problema é que não têm razão". Em 2013, Portugal estará certamente pior com a economia destruída e com mais desemprego (750-900 mil), o que impede a recuperação do País Em conclusão, a entrada do FMI-BCE-UE representou uma importante ajuda dada à direita no seu objectivo de reduzir o papel do Estado, de liberalizar a economia e de desregular mais as leis laborais."
É muito provável que a vizinha do 4º andar vote num dos dois, lamentando-se depois...

Dedicatória aos amigos


"Um dia a maioria de nós irá separar-se.
Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que partilhamos. Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das vésperas dos finais de semana, dos finais de ano, enfim... do companheirismo vivido. Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre. Hoje não tenho mais tanta certeza disso.
Em breve cada um vai para seu lado, seja pelo destino ou por algum desentendimento, segue a sua vida. Talvez continuemos a nos encontrar, quem sabe... nas cartas que trocaremos. Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices... Até que os dias vão passar, meses...anos... até este contacto se tornar cada vez mais raro. Vamo-nos perder no tempo.... Um dia os nossos filhos vão ver as nossas fotografias e perguntarão: "Quem são aquelas pessoas?" Diremos...que eram nossos amigos e...... isso vai doer tanto! "
Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons anos da minha vida!" A saudade vai apertar bem dentro do peito. Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...... Quando o nosso grupo estiver incompleto... reunir-nos-emos para um último adeus de um amigo. E, entre lágrimas abraçar-nos-emos. Então faremos promessas de nos encontrar mais vezes desde aquele dia em diante.
Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vida, isolada do passado. E perder-nos-emos no tempo..... Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida te passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades.... Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!"


(Fernando Pessoa)


Ao Rodrigo

É bonito ser amigo, mas confesso é tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de lembranças,
Dá-me tempo de acertar nossas distâncias.
(Fernando Pessoa)

Encurta distâncias também tu, onde as tiveres
Não desde a pretensa desavença
Mas sim a partir do Largo, onde nos conhecemos
(Rogério Pereira)

21 maio, 2011

Há jornalistas que merecem consideração... Mas existem poucos jornais a merece-la.

.
Passo a informar que a partir de hoje (*), dos jornais diários, lerei apenas o jornal i.
Por tudo, a começar pelos destaques... Mas também por isto, isto e isto
(*) Decisão que às 23 h foi tomada, mas que em qualquer momento pode ser revogada (espero que não

19 maio, 2011

Diálogo quase poético, mas cheio de poesia...

É sabido o meu prazer de ler e de fazer comentários, quase sempre cuidados mas que me saem no momento... Escrevo o que me ocorre, conforme o pensamento. Podia trazer vários exemplos. Escolho este, porque houve um desencontro (e só por isso)
DESFILE
Banho-me na intensidade das cores que fogem dos vitrais.
Visto-me com os pontinhos coloridos.
Coloco o meu salto mais alto.
No rosto?
Ah! No rosto
Estampo o meu mais belo sorriso de desdém.
E, senhora de mim, parto sem olhar para trás,
Desfilando felicidade na passarela do arco-íris


PREPARADO PARA A VER DESFILAR
(meu comentário ao post DESFILE)
Ajeito o cabelo em atropelo
Mais difícil foi fazê-lo
com as ideias
(sobretudo com as mais soltas)
escolho as roupas
brancas, todas brancas,
do tom da alma
Coloco chapéu e laço,
ponho o coração do lado certo
do peito
asseguro a pulsação em ponto
e parto, convicto, firme
a caminho da passarela do encontro
Espera-me um sorriso de desdém

NÃO DESFILOU, FOI TOMAR CHÁ (com quem apareceu por lá)
Com o primeiro quero conversar e tomar chá em meio de um jardim repleto de preciosas flores de diversas tonalidades, texturas e com os mais belos aromas. Descanso.
Com o segundo quero conversar e plantar chá em meio a sua horta tão bem cuidada onde, ao final, ouviremos o canto dos pássaros a nos saudar a amizade. Confio.
Com o terceiro quero conversar e servir chá na mais bela baixela de prata, combinação perfeita a suas telas tão repletas de brilho e vida. Sorrio.
Com o quarto quero conversar e ouvir sobre as delícias do preparo do chá aula ministrada por suas estátuas tão lindamente ornadas em sua terra distante. Aprecio.
Com o quinto quero conversar e poetizar sobre o chá desfrutando da sua ousada companhia surgida das nuvens à bordo de um zepelin, todo vestido de branco e com uma flor nas mãos. Gosto.
Com o sexto quero conversar e ser bebida com o chá, quente e fumegante, em meio a uma noite de tempestade. Dissolvo.
Olho fixamente para as seis partes do todo e passo ao sonho.


ACHO QUE NÃO TENDO EU APARECIDO, A GISA TOMOU SEU CHÁ COM ALGUÉM MUITO PARECIDO

18 maio, 2011

Renegociar a dívida: o inviável é inevitável (*)

Se não quiserem (ou puderem) ver todo o programa, vejam os primeiros 20 minutos

Quase todo este meu post é feito à custa da Joana Lopes
mas decidi dar, no que escreveu, uns pequenos retoques

"Parece que sim. Devagar, devagarinho, políticos e comentadores começam a dizer que talvez, quem sabe, não agora mas…, se calhar terá de ser. Vale a pena ouvir Medeiros Ferreira.
O que até aqui era pura «demagogia», do PCP e do Bloco, a ganhar terreno porque o rei vai nu."

P.S. – E a Grécia aqui tão perto!

(*) Para quem já não se recorde, o texto que ficou conhecido como Manifesto dos 74/74 tinha como cartão-de-visita «O inevitável é inviável».

17 maio, 2011

A ética, inspiradora do acordo, numa sociedade muito próxima do inferno

Chama-se a atenção para os valores da ética. Quem deve paga. Paga o que deve, quem deve. Mas quem deve? Não é conhecido o motor gerador de tanta dívida, nem os seus operadores. Alguns dizem, com veemência, que terá sido quem viveu acima das suas possibilidades e que todos somos culpados. Outros, que terão antes sido os que fomentaram e promoveram a cultura do consumismo, lucrando com os negócios. Estes terão grande parte das culpas dentro da culpa geral. Os negócios, esses, foram dentro da ética e em conformidade com os seus valores. O problema terão sido os excessos. Quem assim não pensar sai fora do paradigma do entendimento normal, passa a ser um anormal e, como tal, deverá ser ou marginalizado ou omitido, porque tudo o que dirá (por repetitivo) deixa de fazer sentido. Chegamos assim, perto da bancarrota e, mais uma vêz com toda a límpida ética, foi "negociado" o resgate da dívida. Foi um bom acordo, dizem uns. Foi o acordo possível, dizem outros. Atendendo à crise, foi uma inevitabilidade, dizem em coro uns e outros. Quem assim não pensar sai fora do paradigma do entendimento normal da inevitabilidade inevitável. Reestruturar a dívida? Sabem o que isso significa? Significa a catástrofe e, pior, significa deixar de ser reconhecido nas relações internacionais como país com ética. Seriamos um país caloteiro. Quem pensar o contrário nem merece ser falado quanto mais escutado.

DOCUMENTAÇÃO USADA PARA ESTE POST (se confia no texto, nem precisa consulta)

"...a entrevista de João Cravinho ao Público de hoje: «a grande corrupção considera-se impune e age em conformidade e atinge áreas de funcionamento do Estado, que afectam a ética pública». A reconfiguração neoliberal do Estado, com a entrada de privados em novos sectores em que, dada a natureza das actividades, é necessário desenhar complexos contratos, é uma das fontes do problema. A fraqueza e falta de autonomia do Estado do bloco central face aos grandes grupos privados com cada vez mais poder e o défice de escrutínio democrático destas relações cada vez mais promíscuas colocam-nos assim numa situação difícil. Juntem a isto a hegemonia de um discurso que subestima e despreza a ética do serviço público e os profissionais e as práticas que a podem sustentar. Ficamos sem recursos intelectuais para traçar as linhas entre o que se pode comprar e vender e o que não se pode nem deve comprar e vender. Finalmente, temos evidência empírica e argumentos plausíveis mais do que suficientes para associar a corrupção ao problema das gritantes desigualdades no nosso país. (postado por Ladrões de Bicicletas, em 27 de Julho de 2008)
O PEC é a factura que vamos pagar por anos e anos de saque organizado e contínuo dos recursos públicos, por uma vasta quadrilha pluripartidária que vive de comissões, subornos e tráfico de influências. As derrapagens, sempre as derrapagens… (um dos últimos artigos de Saldanha Sanches, publicados no Expresso)
O que é uma reestruturação da dívida soberana? - "O capitalismo tem, na sua génese, a tomada de risco e em consequência a possibilidade de insucesso. No caso de iniciativas empresariais esse insucesso pode-se traduzir em processos de saneamento ou falência, que geralmente resultam na reestruturação de dívida dos credores da empresa. Ou seja, o processo de reestruturação de dívida é intrínseco a economias de mercado. Além desse exemplo note-se que, em economias de mercado, os bancos regularmente reestruturam os créditos que detêm sobre empresas e famílias em dificuldade. De facto, os bancos (e outras empresas) incluem na sua demonstração de resultados uma previsão das imparidades, que não é mais do que uma previsão dos hair-cuts que irão sofrer quando reestruturam a dívida dos seus clientes. É parte do dia-a-dia do negócio bancário." - economista Ricardo Cabral , Semanário Expresso

Para que te não abatas...

.


Quando estiveres triste
Quando estiveres solitário
E não tiveres nenhum amigo
Lembra-te que a morte não é o fim

Quando tudo aquilo que acreditas ser sagrado
Cair por terra e não se recompor
Lembra-te apenas que a morte não é o fim
Não é o fim,
Lembra-te apenas que a morte não é o fim

Quando estiveres perante uma encruzilhada
Que não consigas compreender
Lembra-te apenas que a morte não é o fim

E todos os teus sonhos se apagaram
E não sabes o que está por vir a seguir
Lembra-te apenas que a morte não é o fim
Não é o fim,
Lembra-te apenas que a morte não é o fim
...
A árvore da vida está crescendo
Onde o espírito nunca morre
E a luz clara da salvação
No alto em céus escuros e vazios
Quando as cidades estiverem em chamas
Fazendo arder a carne dos homens
Lembra-te apenas que a morte não é o fim

Quando procuras em vão encontrar
Algum cidadão cumpridor de leis
Lembra-te apenas que a morte não é o fim
Não é o fim,
Lembra-te apenas que a morte não é o fim

Bob Dylan

16 maio, 2011

Nova sondagem, para congelar as dúvidas e o pensar. Tudo muito próximo do resultado anterior, mudando um pouco o teor...

Passaram-se várias coisas desde a última sondagem. A imprensa, eficaz e eficiente, aguentou possíveis veleidades de alteração da opinião e, assim, permanecem as hesitações nas classes média e média baixa quer quanto à situação quer quanto ao sentido da sua votação. Outras sondagens vão-se sucedendo como forma de controlar a eficácia da mensagem dos fazedores de opinião. Ao menor desvio à esquerda, pimba. Nevoeiro para cima...

-Imagens do estado de espírito de cada classe quanto à decisão sobre a sua votação (as classes que alguns querem no "centrão" andam, aflitas, com os programas do PS e PSD na mão)

Como resposta à única questão sondada: Qual o sentido de voto, vejamos os resultados e a sua análise:
  1. As classes A e B, cerca de 17,5% do eleitorado estão mais radiantes que antes. Nem leram qualquer programa partidário, pois os partidos que assinaram o acordo, agora não iriam propor o contrário. Estão radiantes pois os paraísos fiscais ficam como antes. A troika também não prevê mecanismos de combate à corrupção nas reformas do sector público e da Justiça e o Movimento Transparência e Integridade está contente, tal como essa gente . A maioria tende para votar no CDS, porque... merece.
  2. A classe C (C1, 24,9% + C2, 31%) andam numa roda vida e, tal como na sondagem anterior, a coisa anda distribuída entre o Passos e o Sócrates. Em votação andam quase iguais, pouco afastados ou praticamente empatados. Lêem programas, declarações, insultos, promessas e sermões. Passam o tempo em aritmética, não na da economia nacional nem sequer na caseira. Fazem contas e previsões aos resultados e ao número de deputados. Quanto a alternativas, nem pensar pois essa coisa de reestruturar a dívida era logo para doer e, assim, vá se lá saber. Pelo menos até ao fim de 2011, não acontece nada e cada um diz ter a data de férias já marcada...
  3. A classes D, 20,7% continua à rasca mas é firme em não aceitar esta situação. Uns até falam na necessidade de nova revolução...
    ____________________________________________
    Ficha Técnica: Foram inquiridos 9 milhões de portugueses, via telemóvel. Os desempregados viram as suas respostas anuladas para não dar um tom demasiado pessimista aos resultados globais. Foi aplicada uma metodologia assente nos critérios usados pela Marketest no que se refere ao dimensionamento das classes sociais. A análise de resultados segue metodologia própria que designada por Marketestista. Não tem nada de marxista embora, em sonância, o faça lembrar, apesar de fazer arranhar muito mais o aparelho auditivo.

15 maio, 2011

Reconstituindo o post roubado, depois da espera e do impossivel despertar da floresta...

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Em post anterior que levou sumiço, discorria eu sobre o que se passa na cidade e sobre a mentira de ser todo o povo, por igual, o culpado do gasto desenfreado. Do gasto e da dívida. Falava de coisa escondida, da corrupção e do dinheiro (e poder) envolvido e do sacrifício agora exigido. Na reconstrução desse post desaparecido, o mais fácil foi fazer com que o criativo colaborasse. Pelo apelo que lhe fiz, Jeronimus Bosch repintou-me o quadro da cidade onde as árvores não penetram. O humilhado e ofendido, do poder escorraçado pelos seus próprios irmãos, porque vertical era a sua posição contra a corrupção o compadrio e a maldade que grassava (e grassa) na cidade, também veio em meu socorro recuperando o que tinha escrito (1). O morto, que era citado, também não se negou (2). Tudo isto enquanto os vampiros concordam com os abutres apenas discutindo se as vitimas estão, ou não, no ponto exacto de votar. Se o seu próprio sangue está no ponto ou se será melhor a carne apodrecer, sendo assim mais fácil de comer. Com tal prestimosa ajuda, ficou-me apenas a tarefa de dizer, fundamentadamente, que a cidade não perderá a ética por afastar essas e outras aves agoirentas, nem por deixar de pagar as dividas que o povo da cidade não contraiu. Que não é verdade que seja imoral fazer com a dívida outra coisa que não seja torná-la tolerável com a capacidade de gerar proveitos com o esforço voluntário e heróico da cidade (3). Não sei se era importante ou consequente recuperar o escrito. Mas de qualquer modo aqui está o dito. De outra maneira, diferente da primeira...

AS AJUDAS FUNDAMENTAIS:
1 - João Cravinho não esconde a sua desilusão. Autor de um pacote legislativo que deixou no Parlamento antes de ir para Londres para a direcção do Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento, viu as suas propostas serem rejeitadas pela sua própria bancada, a do PS. - IN JORNAL O PÚBLICO, 27 de Julho de 2008
2 - O PEC é a factura que vamos pagar por anos e anos de saque organizado e contínuo dos recursos públicos, por uma vasta quadrilha pluripartidária que vive de comissões, subornos e tráfico de influências. As derrapagens, sempre as derrapagens… - SALDNHA SANCHES, IN SEMANÁRIO EXPRESSO, 10 de Abril de 2010
3 - É eticamente aceitável (a reestruturação da dívida)? - O capitalismo tem, na sua génese, a tomada de risco e em consequência a possibilidade de insucesso. No caso de iniciativas empresariais esse insucesso pode-se traduzir em processos de saneamento ou falência, que geralmente resultam na reestruturação de dívida dos credores da empresa. Ou seja, o processo de reestruturação de dívida é intrínseco a economias de mercado. Além desse exemplo note-se que, em economias de mercado, os bancos regularmente reestruturam os créditos que detêm sobre empresas e famílias em dificuldade. De facto, os bancos (e outras empresas) incluem na sua demonstração de resultados uma previsão das imparidades, que não é mais do que uma previsão dos hair-cuts que irão sofrer quando reestruturam a dívida dos seus clientes. É parte do dia-a-dia do negócio bancário. - RICARDO CABRAL, IN EXPRESSO, 26 de Abril de 2011

14 maio, 2011

Metamorfose - V (Despertares)

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A alma, o corpo e a razão
sentiram-se abraçados,
docemente,
como há muito não lhe acontecia
Desde então,
ela não mais se afastaria,
como se fizesse parte dele,
sem pressão nem posse.
Seu tronco tornou-se forte
e, na sua frondosa copa,
as folhas assumiram aquele tom
verde de esperanças e de certezas
contrastando com o vermelho
de um fruto amadurecido
Enquanto a seiva lhe fervilhava,
as raízes acordaram resolutas
no seio do húmus da terra



Decidiu então juntar-se à floresta
E o inesperado aconteceu:
Tomaram de assalto a cidade
que os acolheu em festa

11 maio, 2011

A substãncia da coisa e a coisa da substância

Os que me lêem - e os que agora chegarem para o fazer - sabem (ou ficam a saber) o meu gosto em brincar com as palavras, não para lhes alterar o sentido, mas para esmiuçar o seu sabor e peso. Sim, porque as palavras, independentemente do ar e da entoação com que são ditas podem ser doces ou amargas, leves ou pesarem chumbo. Pois foi brincando com as palavras que, num comentário a um blogue de pessoa amiga, escrevi que o discurso politico carece de ser analisado tendo em conta a necessidade de discernimento entre "A substância da coisa e a coisa da substância" e de quando se falar de uma ser quase criminoso (porque manipulador) não falar da outra.
Contrariamente ao que possam pensar, o post de hoje é sobre isso. A alusão ao debate de ontem vai ser meramente ilustrativo da minha figura de estilo...

A SUBSTÂNCIA DA COISA (coisa política, claro)

Todos os conteúdos são definidos por uma substância, se não física e tangível, pelo menos demonstrável (frequentemente com recurso à frieza dos números). Por coisa deve entender-se o domínio a que o conteúdo diz respeito. Uma coisa é falar de galhos outra é de bugalhos. O valor atribuído não é exterior à substância da coisa. Depende dos interesses que se reúnem em torno e que frequentemente disputam a substância. Nada melhor do que um exemplo: AS PRIVATIZAÇÕES enquanto substância. Privatizar qualquer coisa: OS TRANSPORTES, A ENERGIA, O GÁS, OS CORREIOS, A ÁGUA, etc. Discutir a substancia da coisa implica, naturalmente, compreender as funções do Estado em confronto com os interesses privados que tomarão conta da coisa. Como a discussão se passou e quais as ideias em jogo, podem ver no vídeo junto. Compreenderão como os sujeitos em confronto discorrem e, até, formularem uma opinião (logo no inicio, mas mais detalhadamente a partir do 27º minuto)

A COISA DA SUBSTÂNCIA (o aproveitamento politico da substância)

Desde logo há a percepção de que se trata de algo que gira em torno da substância (às vezes tão próxima, que tendem a distraída ou propositadamente confundirem uma e outra). A coisa da substância pode ser a forma em como a substância pode ou não influenciar o voto, ajudar ou prejudicar alianças ou até mesmo a forma agressiva, moderada ou diplomática, com que essa envolvente da substância é tratada. Se quer aprofundar o significado do que escrevi, pode olhar a imagem onde Passos Coelho afirma risonho que muito mais que o seu partido foi o PS o grande privatizador (sem explicitamente dizer que agora chegou a sua vez de o fazer). Pode também ver o ar risonho do seu interlocutor, a concordar com um cordial "sim senhor, tem toda a razão".

CONCLUSÃO

Cada vez mais o discurso politico e de quem o comenta fala da "coisa da substância" esquecendo e distorcendo completamente o seu conteúdo e o valor das posições, os seus beneficiários e, até, de que forma os príncipios e os valores se atropelam pela luta da caça ao voto...

Observação: Poderia ter escolhido outro exemplo como seja a argumentação usada para assinar ou não (substância) o memorando imposto (coisa), mas não faltarão oportunidades até para reflectir sobre a contitucionalidade desse processo, sobre as graves omissões e sobre as consequências da aprovação do acordo na próxima semana, pelos ministros das finanças da UE.

10 maio, 2011

O tempo para milages está mesmo muito difícil

Ao fazer uma rápida passagem pela imprensa on-line procurando comentários sobre o debate que me impediu de ver o programa da Eurovisão, concluo que, de facto, o tempo para milagres está mesmo muito difícil. Falemos então de milagres...(enquanto não me ocorre falar do tempo e deste nevoeiro, tão denso)



“Se toda folha em toda árvore
Pudesse contar uma história, seria um milagre

Se toda criança em todas as ruas
Tivessem roupas para vestir e comida para comer
Seria um milagre
Se todo o Povo de Deus pudesse ser livre”

----------------------------------Queen - Miracle (ver toda a letra)

EUROVISÃO - Se o apelo resultar, pode acontecer uma coisa estranha

A canção pode não ser cantiga, pode nem ser muito boa a sua letra, o grupo até é considerado careta sem vozes que mereçam atenção, mas o que é certo é que foi eleita como a melhor canção. Pode-se pensar e sentir quem luta não se está a divertir e que a luta não se faz nem com alegria nem com tristeza, mas com convicção e firmeza. Mas se a luta com alegria existe, e se o apelo da senhora resulta, isto vai dar ainda mais luta...
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AVISO.: Aproveito para lembrar, que logo a seguir na TVI, o senhor Passos Coelho tem treino (isto no dizer do senhor professor Marcelo). Espera-se que não se lesione, como acontece por vezes nos treinos duros...

09 maio, 2011

Falar a sorrir, no Dia da Europa sem escrever sobre o tema..

Acho que entendo porque a imprensa não assinala a data. Também não o farei. Pego da revista Pública de ontem, sem me apetecer ler os jornais de hoje. Na capa um destaque para "As elites já não estudam Letras - e talvez façam mal". Dspenso também esta leitura, por duas razões: primeira porque não perteço a qualquer tipo de casta; segunda, sempre abracei as duas culturas. Não concebo um humanista que não saiba de economia, nem um matemático que não associe ao teorema, um poema. Sei que é dificil e que a escola está cada vez mais distante de fazer essa simbiose desejada. Na citada revista sou atraído por um nome: Lygia Fagundes Telles e leio a entrevista:
- Ela dizia: "Lygia, você ri quando fala. Não ria quando fala. Não ria senão não te respeitam. Eu não tenho retrato rindo. Você ri demais. Fecha a boca!" E eu dizia: "Mas Clarice, eu sou risonha..." E ela: "Não, não dê risada senão não te respeitam."
Foi talvez a passagem que mais me fez pensar. Será que eu próprio, para ser levado a sério, tenho que deixar de rir, sorrir, brincar, rimar, ironizar, galhofar, avinagrar? Ou isso é só para brasileiro que passa o dia rindo o tempo inteiro? Sim só pode ser e não dá para alterar. Acho que o brasileiro sisudo, está de mal com o mundo (talvez como o português). Clarice sendo estrangeira via a coisa de outra maneira...

Clarice Lispector raramente sorria, mas quando o fazia ficava bem, como ninguém

08 maio, 2011

Que luz vem do farol? Que dizem os faroleiros? - (2)

As imagens ilustram que o nevoeiro aumentou desde que a barca na direcção ao resgate rumou...
Apesar das famílias da classe média manterem a vida normal de fim-de-semana, porventura descansadas pelas palavras optimistas do primeiro ministro (secundadas pelo doutor Soares), os faroleiros continuam, dizendo de sua graça e alertando para a desgraça:

"A reestruturação de uma dívida soberana é sempre algo desordenado e confuso, complexo e mesmo feio. Mas é melhor do que um estrangulamento em ritmo lento da economia grega", afirmou ao Expresso Charles Wyplosz, professor de Economia Internacional no Graduate Institute, em Genebra

MAS HÁ DADOS NOVOS, NOS ALERTAS, (já depois do "bom acordo" de resgate assinado):

"O risco de incumprimento da dívida soberana portuguesa subiu para perto dos 42%, ultrapassando o risco atribuído ao Paquistão. Portugal regressa, assim, ao 4º lugar no "clube" dos 10 de maior risco à escala mundial", segundo o monitor de probabilidade de incumprimento da CMA Datavision

"Juros da dívida pública portuguesa renovam máximos - Os juros exigidos pelos investidores para comprar dívida soberana portuguesa com maturidade a dez anos estavam a ser negociados, na manhã desta sexta-feira, nos 9,715 por cento, atingindo um novo máximo histórico", refere a Bloomberg.


COMO QUALIFICAR BOM UM ACORDO. QUE NÃO COBRINDO A TOTALIDADE DA DIVIDA, NÃO CONSEGUE ESTANCAR A PRESSÃO? SE NÃO SE DER ATENÇÃO AO FAROLEIRO, ISTO VAI MESMO PARA O GALHEIRO...

07 maio, 2011

Sábado. Tudo se passa, como se não se passasse nada...

O menino brincava com o comboio que o maravilhava, mas não andava. Ela, de cabelo em desalinho, parecia pensar pois seu olhar, parado, pairava no ar. Numa mão segurava o pão e nesse ar para onde olhava, pairava o cheiro a torrada que ninguém comeu. Na televisão, sem som (como de costume), um politico, hirto e com ar convencido e solene, gesticulava em gesto breve, talvez sublinhando uma frase importante. No sofá, a revista Caras pousava sobre o jornal "A Bola", ambos fechados esperando o gesto de ser lidos. Ele retirou os olhos do computador disse com voz soletrada: "Cá está", e continuou, " T3, perto da praia com piscina e parqueamento privativo, perto do golf e do polidesportivo". O menino continuava a brincar. O cão, deitado ao canto, fez a décima tentativa para dentar a mosca que voando lhe escapava. Desistindo, pela décima vez colocou, pachorrento, o focinho sobre a pata dianteira sem sinais de enervamento. O canário, na gaiola, não cantava e o sol estava escondido, como se ainda estivesse dormindo. Ela, que não tinha respondido à descoberta do marido, disse sem voz autoritária, como se a não obediência não lhe interessasse nada. "Vá meninos, toca a arranjar, senão vamos chegar atrasados à festa de anos". Tocou o telemóvel, o terceiro a contar da esquerda dos que estavam postados no chão, junto aos comandos de televisão. Ela lentamente, imitando a dolência do cão, apanho-o e atendeu: "Sim!, ah essas coisas são com o meu marido" e de pronto estendeu o pequeno aparelho ao marido, dizendo "è para uma sondagem, responde tu que tens mais jeito". Ele ia respondendo, ela foi-se alindar e vestir o menino. Só ele iria ficar responsável por chegarem atrasados à festa de anos...


---------------------------------------REM - Imitation Of Life (ver letra)

06 maio, 2011

Que luz vem do farol? Que nos dizem os faroleiros?

Num post de há poucos dias atrás, falava do paradigma do rumo "inevitável" e da "certeza" dessa inevitabilidade por parte de todos os que iam na barca - representação figurada daquela parte do país condicionada à opinião única e ao pensamento dominante. Escrevia aí, que poucos ficaram em terra, auto-excluindo-se da barca, pelo que (reconheço agora) a figura da barca deixava uma ambiguidade grave: a barca significava o país ou apenas o paradigma em que uma parte dele vive, com a definição (também já feita) do que entendo ser essa coisa de paradigma, palavra tão pouco frequente entre muito douta gente. Escrevo agora a desfazer equívocos fazendo-o num botequim canarinho, rodeado de gente amiga e quase me cruzando com Mia Couto, que acabado de sair daquele lugar deixava palavras no ar: "O Brasil vai ser a nossa estrela guia", era o que dizia, deixando-me a angústia de o não poder repetir, preso ao lado do paradigma que me deixa amarrado a esta Europa lorpa e a braços com um outro lado que é o resultado das agências de rating já traduzido num plano de resgate que nos evita, por uns tempos, a bancarrota. O terceiro lado da paradigma, enfabulando (lembra-se do video?)o que se passava na terra dos ratitos que só elegem gatos para os governar, degladiam-se os partidos credíveis (os gatarrões) sobre as estratégias eleitorais e outras coisas mais daquelas que são usadas para obter votos dos ratos e de caneta aprontada para assinar o resgate e o fazer aprovar na Assembleia. Os fazedores de opinião (o quarto lado do quadrado) mostram-nos diariamente com uma insistência frequente, não vão os ratitos pensar fora do que a inevitabilidade forjada possa ser contestada... Deixemos as imagens e as metáforas por momentos (a custo o faço) e falemos um pouco mais directamente:

QUEM SÃO E QUE DIZEM OS FAROLEIROS SOBRE O PROCESSO DE SALVAÇÃO ?


Eram de inicio poucos ou poucos eram os que acendia luzes de alerta no nevoeiro. Traduzindo a imagem pelo significado. Só os partidos da esquerda (que chamam de radical) se opunham à chamada de estrangeiros para a "ajuda" externa. Até que a imprensa estrangeira acende faróis. Ao farol New York Times, segue-se o Daily Telegraph e agora o Le Monde Diplomatique. Dizem estes faroleiros o que os fazedores de opinião calam, limitando-se os jornais portugueses a dar pequeno espaço aos alertas dados pela esquerda: o processo é antidemocrático e o pacto, assinado por um governo demitido (eventualmente aprovado por uma Assembleia já dissolvida) é um embuste. Certamente que o povo irá participar nas eleições menos democráticas da história da nossa recente democracia...


QUEM SÃO E O QUE DIZEM OS FAROLEIROS SOBRE O RUMO QUE A BARCA LEVA?


No nevoeiro espalhado pela imprensa, televisão, fazedores de opinião ditos credíveis, encartados economistas e outros colunistas eram poucos os que acendiam a luz de alerta quanto a alternativas. A pressão da banca para o resgate urgênte da dívida aparecia como a única saída. A bancarrota o medo das prateleiras vazias e da falta de dinheiro para pagar salários era a toada para vergar a resistência onde ela ainda havia. Eram poucos. Os mesmos da dita esquerda radical. Em 6 de Abril, em Conferência de imprensa, o Partido Comunista, acende a luz da alternativa, com a proposta: "A renegociação imediata da actual dívida pública portuguesa – com a reavaliação dos prazos, das taxas de juro e dos montantes a pagar – no sentido de aliviar o Estado do peso e do esforço do actual serviço da dívida, canalizando recursos para a promoção do investimento produtivo, a criação de emprego e outras necessidades do país. A intervenção junto de outros países que enfrentam problemas similares da dívida pública" . O nevoeiro esconde a proposta por impossível e torna a voz deste faroleiro inaudível. Sobre ele recaem as maiores e terríveis acusações perante a renúncia em negociar o resgate. Tiro no pé, há quem diga. Gente oportunista, outros acusam. Mas os dias passam e surgem outros faroleiros dando o mesmo alerta:


"Portugal deve também reestruturar a sua dívida? - Claro que sim. Não existe alternativa quando a dívida deixa de ser suportável. Portugal tem uma boa razão para entrar em incumprimento. Ao contrário dos gregos e dos irlandeses, não se pode censurar os portugueses por terem cometido infracções estatísticas ou criado um sistema bancário com uma dimensão inadequada para o tamanho do país. A Grécia é um caso de falência criminosa e manipulação estatística. O verdadeiro problema de Portugal é a competitividade. E uma reestruturação seria viável." Markus Kerber, in Jornal i, 14 de Abril


"O governo português pode usar como arma negocial a reestruturação da dívida se considerar que o programa de ajustamento exigido ao país é demasiado severo", avisa o economista Álvaro Almeida. O português trabalhou no Fundo Monetário Internacional (FMI) entre 1997 e 2000 e participou na negociação dos programas de México, Arménia e Venezuela". In Jornal i, 14 de Abril

concluímos que, na ausência de uma reforma institucional da UEM, sair da Zona Euro constitui uma opção política séria para Portugal.” Pedro Leão e Alfonso Palacio-Vera, disponível como documento de trabalho no Levy Economics Institute, um dos principais centros de investigação keynesianos nos EUA. In Ladrões de Bicicletas, 26 de Abril


"Questionado sobre a posição defendida por economistas como Paul Krugman no sentido de que Portugal terá que reestruturar dívida, o presidente do banco sublinha: "Por deformação profissional tenho mais respeito pela opinião das pessoas que fazem e não das que comentam. Não atribuo às palavras do s. Krugman a mesma importância que vocês. Ele ganha dinheiro a vender livros e fazer conferências. Dou mais importância ao que diz Merkcel, Sarkosy e Durão Barroso… in Jornal i, 28 de Abril


"Saída do euro ou resgate? Economistas discutem opções. - Jens Bastian, de Atenas, Marc Coleman, de Dublin, Niño Becerra, de Barcelona, e Ricardo Cabral, do Funchal, trocam argumentos sobre as opções que se colocam aos quatro países da zona euro em situação de crise de dívida, ainda que em graus distintos." In Semanário Expresso, 30 de Abril


"Por isso, entendemos que Portugal deve propor à Espanha, Grécia e Irlanda a criação de uma frente diplomática comum tendo em vista renegociar as respectivas dívidas e obter da UE derrogações ao Tratado que permitam a estes países adoptar políticas económicas favoráveis ao seu desenvolvimento, com destaque para uma forte política industrial e medidas de discriminação positiva para o sector exportador." in Manifesto «Convergência e Alternativa»


QUE VAI ACONTECER EM 5 JUNHO?


Saio do botequim com este texto denso e extenso para editar e a pensar: "Irá o nevoeiro esconder as alternativas e o povo votar um timoneiro que conduzirá a barca contra os rochedos? Ou será que o povo obriga a um outro homem do leme e a novo comandante? Talvez que o mais certo seja o dizer adeus à soberania..."


05 maio, 2011

Um dia alienado (esquecendo um desgosto Luso), num botequim, num outro lado onde se fala esta lingua (hoje lembrada)

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Entro do botequim e sinto os olhares fixados em mim. Evito espelhar no rosto que sou do outro lado do mar e o que me fez ali entrar. Evito também mostrar este desgosto. Apetece-me um aconchego canarinho, um seu carinho. Faz-me falta o apoio desta gente, ouvir de maneira diferente a lingua portuguesa (hoje lembrada).
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Vou aproveitar para escrever o post seguinte... Será um post denso, extenso, tenso, sem humor nem ironia. Será um post sobre o meu país, escrito no ambiente atraente de uma conversa de botequim
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Outras versões existem (Chico Buarque, Maria Rita), mas esta é tão bonita...

04 maio, 2011

A Dª Esmeralda e a vizinha do 4º andar, a conversar (3)

As vizinhas do prédio do Rogérito comentam o futuro,
uma delas pensa que este vai ser menos duro...

Vizinha do 4º andar – Ai que o nosso Primeiro Ministro falou tão bem. Foi um elevo... Ainda por cima o povo estava com medo. Medo da bancarrota, das prateleiras vazias, da falta de dinheiro para ordenados... e depois ele é mesmo... sei lá... charmoso.
Dª Esmeralda – Mas ainda ontem me dizia que o Passos Coelho é que tem tão bom parecer. Que era tão elegante, educado e bem-apessoado. Agora passou-se para o outro lado?
Vizinha do 4º andar – Bom, eu achava isso e ainda o acho um "borracho". Mas é um novato e isto de governar tem que se lhe diga e não se pode ir atrás de quaquer cantiga. Não vê que os senhores que vieram ajudar não deixam mexer no nosso salário, nem no minimo nacional, nem nos subsidios de férias nem no de Natal...?!
Dª Esmeralda – Não mexe no que recebe mexem no que vai pagar! Há muita maneira de fazer parecer que a coisa não vai doer. Vai ter aumento nos impostos, na renda, na luz, no autocarro, na comida e no cigarro... Ah, e o seu filho, o desempregado, vai ter um subsidio rapado e a acabar daqui a nada...
Rogérito (gritando do 3º andar) – É! É! Dª Esmeralda, deixe lá a cassete, a vizinha está enfeitiçada!
Som da televisão (saindo do rés-do-chão) - "O presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) disse hoje que o discurso do primeiro-ministro sobre as medidas constantes no memorando de entendimento entre o Governo e a 'troika' foi o regresso ao "país das maravilhas".