31 julho, 2011

Homilias dominicais (citando Saramago) - 42



HOMILIA DE HOJE


"As palavras são assim, disfarçam muito, vão-se juntando umas com as outras, parece que não sabem bem aonde querem ir, e de repente, por causa de duas ou três, ou quatro que de repente saem, simples em si mesmas, um pronome pessoal, um advérbio, um verbo, um adjectivo, e aí temos a comoção a subir irresistível à superfície da pele e dos olhos, a estalar a compostura dos sentimentos (...)"

(José Saramago, retirado de um post da Sam - Pratododia:"Palavra" )


Há muito que, no que ando a escrever lá no outro lado, que não sinto "a comoção a subir irresistível à superfície da pele e dos olhos, a estalar a compostura dos sentimentos". Cheguei a parar por uns dias, julgando que a minha escrita, para me assaltarem as palavras certeiras, carecia de deixar decantar da poeira dos dias e, quando regressasse, seria mais fácil ir buscar tais palavras à procurada memória translúcida da alma. Parei e voltei. Nada feito e as palavras, daquele lado, parecem não lá chegarem por terem sido gastas neste. Também a poeira dos dias é cada vez mais espessa, razão de sobra para que a falta de palavras me aconteça. Tomo então a decisão de parar aqui.


Não suspendo totalmente esta "conversa avinagrada", mas virei mais amiúde. Vou ficar do lado de lá. Até porque o livro tem de ficar acabado em finais de Setembro...

30 julho, 2011

Sábado... Foi assim, a semana que hoje finda (5)

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Ninguém me convence que o que se passou nesta semana é o normal ciclo das marés. Ninguém me faz acreditar que a pedra não está là só por à vista não estar. Ninguém me venha dizer que as marcas do tempo não existem , apenas porque momentaneamente se deixarem de ver, omissas pelas vagas, para lá da rebentação das ondas. A pedra é a verdade e o tempo desenhado dá-nos o trilho da libertação do homem, ao longo da sua história. A rocha documenta a memória e a realidade não é o que se diz dela, mas o que ela é (independentemente da maré).
O turbilhão de noticias escondeu, qual pedra e marcas do tempo submersas, a realidade dramática que já é sentida por milhões de portugueses. Sentem mas não compreendem. A espuma entre vagas só atrapalha. As pessoas comentam, distraídas, outros horrores sem ligarem o que sentem àquilo que, horrorizados, observam. Como é dificil ligar as causas aos seus efeitos... Mas o mar começou esta semana a recuar e a próxima maré alta será mais verdadeira. Sem determinismo, mas respeitando as leis da natureza, sei que hão-de vir marés vivas. Serão outra coisa, depois de ser percebido que a pedra e as as marcas do tempo estão lá...

(ao longo da semana fui colocando poemas e videos - que ainda mantenho na coluna na direita - que documentam o que de relevante foi acontecendo e que vão "construindo" o verão do nosso descontentamento).

(Foto Praia de Vale Frades/Lourinhã, onde estive)

Poemas na praia (escritos para mim) - X

CONVERSAS DAQUI E DALI, um blogue amigo que há muito sigo (e ele me segue) por baixo do seu título escreve: "Encurtemos distâncias, falando pouco e bem. As palavras medíocres nada nos contam; as boas explicam-nos quase tudo. Sigamos, a vida é breve!"
Apresenta-se com uma imagem que me diz muito com dizeres, sobre si, que muito me diz:"Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo o dia", citando Saramago. Não compreendo como um amigo assim se separa de mim, de nós, abandonando o seu escrever. Escrevia pouco e bem. Escrevia as palavras necessárias. Foi lá, no seu lugar (que designava por cubata), que retirei este poema. Só hoje percebi que o poeta o escrevera para mim. Para ele não foi certamente, pois esta não "é a hora" de ele se ir embora.



É A HORA

“Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço de terra
Que é Portugal a entristecer,
Brilho em luz e sem arder,
Como o que fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro…
É a Hora!”
----------------------------Fernando Pessoa


Quando faltarem as palavras, restará o silêncio... Ou o grito?
Sei que um dia voltará, mesmo que não queira, mas porque tem que ser...

29 julho, 2011

Poemas na praia (escritos para mim) - IX

Está traçado o caminho para o grito (imagens de Edvard Munch 1863-1944)

Eu vivo em tempos sombrios.
Uma linguagem sem malícia é sinal de
estupidez,
uma testa sem rugas é sinal de indiferença.
Aquele que ainda ri é porque ainda não
recebeu a terrível notícia.

Que tempos são esses, quando
falar sobre flores é quase um crime.
Pois significa silenciar sobre tanta injustiça?
Aquele que cruza tranqüilamente a rua
já está então inacessível aos amigos
que se encontram necessitados?

É verdade: eu ainda ganho o bastante para viver.
Mas acreditem: é por acaso. Nado do que eu faço
Dá-me o direito de comer quando eu tenho fome.
Por acaso estou sendo poupado.
(Se a minha sorte me deixa estou perdido!)

Dizem-me: come e bebe!
Fica feliz por teres o que tens!
Mas como é que posso comer e beber,
se a comida que eu como, eu tiro de quem tem fome?
se o copo de água que eu bebo, faz falta a
quem tem sede?
Mas apesar disso, eu continuo comendo e bebendo.

Bertolt Brecht (1898-1956

28 julho, 2011

Poemas na praia (escritos para mim) - VIII

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"(...) as palavras saem de todo o lado. Coração e cérebro são os grandes responsáveis. Um irriga o outro e este converte a vivência em algo a transmitir. Os olhos e ouvidos são acessórios importantes. Mas, no fim de tudo, são as mãos as principais responsáveis pela existência das palavras dignas
(e das outras). Tudo o que o homem fez e faz, sai-lhe das mãos. As mãos são a génese da inteligência humana. Quem não fez nada na vida e humildemente não reconhece isso, não tem uma mão cheia de palavras que valham a pena integrar na comunicação humana sob a forma de um livro, de canção ou outra qualquer..." Ao escrever isto nem previa que a Lídia (Seara de Versos) me daria um dia a definição de mão, que tira e dá, sob a forma de Terra... Um poema para mim... assim:

TERRA
Do canto da terra
Sei o fruto, a polpa e a casca.
O refrão a entoar ternuras
Na voz dos pássaros.

Do seu pranto
Sei os homens,
As magras paisagens
De áridos futuros.

Alguns dizem: - bastam-me as mãos
Para fazer brotar fontes e rios
Outros porém,
De muitas sedes nascidos,
Bebem até à derradeira gota
As fontes e os rios
E dizem: - bastam-me as mãos
Para fazer brotar desertos.

Da terra sei a secura
E a interdição da água
Na véspera da lágrima.

--------------------Lidia Borges

27 julho, 2011

Poemas na praia (escritos para mim) - VII

I
O corpo
dengoso ia desenvolvendo
um andar, quase sem caminhar, lento,
voluptuoso,
ao encontro do que parecia ser seu destino
Tirou os olhos do chão
sem os colocar no ar
Virou para dentro de si
esse seu olhar
Parecia não ter visto outra coisa,
enquanto a densa teia a envolvia,
do que a asa que lhe nascia,
e também a outra, em síncrono movimento
Feliz, nesse encantamento,
falava com outras, suas iguais...
Falava da cor das asas,
da beleza dos locais
para onde iria voar
e das flores todas em que iria pousar,
do céu para onde nunca olhara antes...

Dissertava sobre seus amantes,
com a alma em cio
ouvindo das demais
conversas tão parecidas, quase iguais
em palavras gargalhadas
pois só estas, e não as graves,
passavam as paredes aveludadas
do casulo, sem entraves

Chegado o momento,
a parede se rompeu e saiu
Exercitou o bater de asas,
segura como nunca se viu
Voou na direcção do éden
sem lá chegar, mergulhando antes
em nunca experimentada escuridão.
II
Abri o livro disposto a ler
uma página qualquer
Entre a página aberta e a outra,
ali estava ela
a mais bela borboleta
parecendo ainda sorrir
num sorriso pueril

(borboletas-mulher, vieram comentar)

III
Confesso o meu insucesso
como poeta e comunicador...
Então um ser
que não olha o céu,
que não tem assunto
que não liga ao mundo
que virada a cada momento
só para dentro
que viveu suspirando a sua própria beleza
e a natureza
que não chega a cumprir sua missão
e acaba espalmada
a fim de ser só olhada
é coisa de tanta admiração?

Ah, mulheres
temos que um dia falar
olhos nos olhos...

NOTA: Há meses, sem pensar no destino escolhido pela Amy ("Amy Winehouse estava feliz como não ficava há anos", diz o pai")publiquei o poema
"Metamorfose IV" que aqui reproduzo parcialmente e ao qual junto um comentário, (meio triste, meio zangado) sobre o que pensam as mulheres perante uma borboleta vistosa, mas morta...
(a imagem, foto de J.Ferreira, foi tirada
daqui, com autorização da minha querida amiga FerNanda).

26 julho, 2011

Poemas na praia (escritos para mim) - VII



Refresca-te, irmã,
na água da pequena tigela de cobre
com pedacinhos de gelo,
abre os olhos sob a água, lava-os,
enxuga-te com a toalha áspera
e lança um olhar num livro que amas.
Começa assim
Um dia belo e útil.

Bertolt Brecht (1898-1956)


NOTA: Brecht é por mim lembrado não apenas pelo poema (um apelo que eu faria a despertares?), mas pela leitura que tenho dos acontecimentos da Ilha de Utoya (Noruega).
Podia também citar as Crónicas do Rochedo, ou contar os "picos da roseira brava", mas sairia, de todo, fora do contexto desta série...

25 julho, 2011

Poemas na praia (escritos para mim) - VI

Entrei no café com um rio na algibeira
e pu-lo no chão,
a vê-lo correr
da imaginação...

A seguir, tirei do bolso do colete
nuvens e estrelas
e estendi um tapete
de flores
a concebê-las.

Depois, encostado à mesa,
tirei da boca um pássaro a cantar
e enfeitei com ele a Natureza
das árvores em torno
a cheirarem ao luar
que eu imagino.

E agora aqui estou a ouvir
A melodia sem contorno
Deste acaso de existir
-onde só procuro a Beleza
para me iludir
dum destino.

José Gomes Ferreira




24 julho, 2011

Homilias dominicais (citando Saramago) - 41

Escolhi esta imagem de José Saramago em pequeno (retirada daqui) para ilustrar a minha homilia de hoje. Explico a escolha, por julgar que é pelos afectos recebidos em pequenos, e também por lições de vida e pelos valores que influênciam as crianças, que a visão que temos dos adultos é formada e, depois, a memória que fica é moldada. Acho que Saramago - o Zézito - deve à avó Josefa a parte da humanidade e do caractér que lhe reconhecemos. Que bom seria vir a merecer dos meus netos uma carta escrita com tal carinho... Segundo a Luisa Moreira, do blogue Vox Nostra (que, tendo publicado esta carta, me inspirou em fazê-lo) "Esta é uma carta especial, com a capacidade de nos despertar recordações familiares. Faz parte da escolha de muitos professores na disciplina de Língua Portuguesa, para despertar a sensibilidade e a reflexão nos seus alunos…" Que bem fazem tais professores... Quanto a mim, se fosse professor, tinha aqui matéria para um ano inteiro, lembrando-me disto que fiz...

HOMILIA DE HOJE

"Tens noventa anos. És velha, dolorida. Dizes-me que foste a mais bela rapariga do teu tempo – e eu acredito. Não sabes ler. Tens as mãos grossas e deformadas, os pés encortiçados. Carregaste à cabeça toneladas de restolho e lenha, albufeiras de água. Viste nascer o sol todos os dias. De todo o pão que amassaste se faria um banquete universal. Criaste pessoas e gado, meteste os bácoros na tua própria cama quando o frio ameaçava gelá-los. Contaste-me histórias de aparições e lobisomens, velhas questões de família, um crime de morte. Trave da tua casa, lume da tua lareira – sete vezes engravidaste, sete vezes deste à luz. Não sabes nada do mundo. Não entendes de política, nem de economia, nem de literatura, nem de filosofia, nem de religião. Herdaste umas centenas de palavras práticas, um vocabulário elementar. Com isto viveste e vais vivendo. És sensível às catástrofes e também aos casos de rua, aos casamentos de princesas e ao roubo dos coelhos da vizinha. Tens grandes ódios por motivos de que já perdeste a lembrança, grandes dedicações que assentam em coisa nenhuma. Vives.
Para ti, a palavra Vietname é apenas um som bárbaro que não condiz com o teu círculo de légua e meia de raio. Da fome sabes alguma coisa: já viste uma bandeira negra içada na torre da igreja. (Contaste-me tu, ou terei sonhado que o contavas?) Transportas contigo o teu pequeno casulo de interesses. E, no entanto, tens os olhos claros e és alegre. O teu riso é como um foguete de cores. Como tu, não vi rir ninguém. Estou diante de ti, e não entendo. Sou da tua carne e do teu sangue, mas não entendo. Vieste a este mundo e não curaste de saber o que é o mundo. Chegas ao fim da vida, e o mundo ainda é, para ti, o que era quando nasceste: uma interrogação, um mistério inacessível, uma coisa que não faz parte da tua herança: quinhentas palavras, um quintal a que em cinco minutos se dá a volta, uma casa de telha-vã e chão de barro. Aperto a tua mão calosa, passo a minha mão pela tua face enrijada e pelos teus cabelos brancos, partidos pelo peso dos carregos – e continuo a não entender. Foste bela, dizes, e bem vejo que és inteligente. Por que foi então que te roubaram o mundo? Mas disto talvez entenda eu, e dir-te-ia o como, o porquê e o quando se soubesse escolher das minhas inumeráveis palavras as que tu pudesses compreender. Já não vale a pena. O mundo continuará sem ti – e sem mim.
Não teremos dito um ao outro o que mais importava. Não teremos realmente? Eu não te terei dado, porque as minhas palavras não são as tuas, o mundo que te era devido. Fico com esta culpa de que me não acusas – e isso ainda é pior. Mas porquê, avó, porque te sentas tu na soleira da tua porta, aberta para a noite estrelada e imensa, para o céu de que nada sabes e por onde nunca viajarás, para o silêncio dos campos e das árvores assombradas, e dizes, com a tranquila serenidade dos teus noventa anos e o fogo da tua adolescência nunca perdida: “O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer!”. É isto que eu não entendo – mas a culpa não é tua."

José Saramago, in “Deste Mundo e do Outro"

23 julho, 2011

Sábado... Foi assim, a semana que hoje finda (4)

Certamente que na semana houve pensar de gente, pois existem estátuas desejosas do regresso à filosofia. Dessas mal se ouve falar. Silenciamento (quase) total se faz ao que disseram os que se libertaram há muito da condição de estátua. Os que não se libertam, continuam no mesmo estado: agrupadas num pequeno espaço e viradas para um só lado. Lêem um ou outro jornal. Nesses, e nos outros, as notícias chegam-lhes por igual... (há quem se interrogue sobre a razão, talvez até nem a desconhecendo). Foi mais uma semana de pensamento único, para as muitas notícias que asseguram o estar-se virado para o mesmo lado. Mas as estátuas de areia irão desmoronar-se... um dia...



Quem rejeita a condição de estátua, raramente é ouvido para aquilo que faz todo o sentido

(Imagem retirada da net)

Aprendendo, a brincar - 2

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Mostrei este video ao seu personagem principal. Acompanhando atento as primeiras cenas, ele me confessou:"O Diogo estava a enganar o avô...". Eu sorri e não lhe disse o que nas legendas escrevi...

21 julho, 2011

Aprendendo, a brincar - 1

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NOTA EXPLICATIVA: A legenda, onde se refere ser a piada dada, uma "boca" de mau gosto, é simplesmente porque o Diogo quando tiver idade de ler isto talvez até já haja um bom ministro...

20 julho, 2011

Prémio "Including the Kitchen Sink

Pois... e depois? Depois de algum "suspense" o prémio. O terceiro, de uma vida toda. (verdade!) Podem pensar ser "paleio", "enleio" ou coisa de menosprezar. Nada disso, aceito do peito e prazenteiro, recebo (e agradeço) os parabéns de quem mos deu e guardo o selo... que é meu. O texto premeia asas emprestadas. Estão disponíveis a quem delas precisar (ainda que hoje mais importante que voar é ...poisar)


Obrigado, Eva Gonçalves (mas porquê este local da cozinha? Porque não o exaustor de fumos, ou os arrumos?)

19 julho, 2011

Poemas na praia (escritos para mim) - V

Ainda pequenino
pegou no destino.
Foi-se ao mar,
e foi em quatro que o dobrou carregando-o debaixo do braço
Com o mesmo desembaraço
fez o mesmo ao sol, ao céu azul
-------------------- e rumou ao sul
Foi e voltou
Depois seguiu todos os pontos cardeais

Onde chegava,
o mar, o céu e o sol desdobrava
para depois os voltar a dobrar
---------------------e voltar a partir
Fê-lo tantas a vezes, até que deixou de ir
Ficou, definitivamente
cobrindo-o o mesmo céu
com o mesmo mar à sua frente
com o sol a bater nele, num prolongado afago
morno e dourado
Rogério Pereira (imagem da net)

18 julho, 2011

Em 1970, em Lisboa, mal se conhecia fruta... da boa


"Disse-me, como antes tinha dito, os nomes dos frutos: “Esta tem papaia, aquela abacate, aquelas qui tu tá vendo nu ali, tem muntas manga”. “E a que dá o mamão?”, perguntei por me faltar ver essa, enquanto os odores se misturavam com o cheiro da terra “Essa tá mais nu longe. Custa mais dinheiro”, disse o Meia-Cuca com ar quase severo e que entendi ser seu sinal de não estar para ir mais longe do que tínhamos ido. “É igual a esta que tu ver aqui” e apontou-me a da papaia."

(leia aqui, quando conheci o que hoje é banal ver)

17 julho, 2011

Homilias dominicais (citando Saramago) - 40

Tenho este texto prometido desde domingo passado. Ele ensina-nos a ler Saramago e na sua leitura integral - A estátua e a Pedra - ele explica o fio comum que liga as suas escolhas e o porquê dos temas históricos, uma constante da sua (tão rica) produção literária. Coincidência ou não, dei comigo a pensar e a fazer coisas tão próximas do que diz Saramago que me inquietaria sobre a minha sanidade mental quanto a desdobramentos da minha personalidade não fosse o caso de, na maior parte das situações, a iniciativa ser por mim tomada e só depois verificada a coincidência. Não me refiro apenas às recentes metáforas sobre estátuas, refiro-me principalmente às razões que me levaram a escrever "Caminhos do Meu Navegar":
HOMILIA DOMINICAL

"…para mim é claríssimo e desde sempre o foi, mesmo quando eu ainda não escrevia livros, de que somos herdeiros dum tempo, somos herdeiros duma cultura, somos, para usar um símile que algumas vezes eu empreguei, como se estivéssemos numa praia, o mar está ali e há uma onda que caminha em direcção à praia e essa onda não poderia mover-se sem o mar que está por detrás e sobre essa onda que vem enrolando há uma pequena franja de espuma que avança em direcção à praia onde vai acabar. Eu penso enfim, para usar esta metáfora marítima, que somos nós a espuma que é transportada nessa onda e essa onda é ela mesma impelida pelo mar e neste caso o mar é o tempo, todo o tempo que ficou atrás, todo o tempo vivido que nos leva e que nos empurra. Vivemos uma apoteose de luz e de cor na relação entre o espaço e o lugar onde o mar está e somos essa espuma branca brilhante, cintilante que tem uma breve vida, uma breve cintilação. Isto pode fazer de mim alguém a quem a história preocupa, e é certo, a quem a relação com o tempo passado preocupa, e é certo."


José Saramago - In A Estátua e a Pedra

16 julho, 2011

Sábado... Foi assim, a semana que hoje finda (3)

É difícil adivinhar o que uma estátua pensa. Refiro-me às estátuas que o são por dentro. Vistas de fora, não há sinais de que sejam estátuas, pois se movem, agitam, trabalham, falam e até gritam. As estátuas afagam-se, bebem sumos ou vinho e até sorriem para seu vizinho. Não foi o caso da semana finda, parca em sorrisos. Foi raro ver um sorriso aberto, não porque tivessem a real percepção do que está a acontecer, mas porque lhes disseram para o não fazer. As estátuas não pensam? Pensam. Pensam um pensamento único, aquele que lhes é dito para pensar. O país das estátuas anda a ser maltratado? Anda, de há muito. Mas só agora lhes é dito, parcialmente, as razões para o país estar aflito. Havia solução? Havia mas era - e por enquanto ainda é - negada. Diziam todos os canais fazedores do pensamento estreito que a solução não tinha jeito. Que a solução era dramática, exagerada e proposta por quem era, nem digna de ser falada era aquela que agora se faz ouvir, ainda que timidamente por alguma gente, mas que na próxima semana pode ter decisão europeia. Finda a semana com uma reacção própria de estátuas, responder com uma pequena estatueta, representando o "Zé Povinho", fazendo um manguito aos supostos fazedores de tristezas e maus destinos. O manguito, tinha ele feito há muito e só agora o mostram. Sinais de manipulação, resposta tardia, para estátua ver. Só isso, podem crer...




Resumo da semana, outra maneira (ainda marginal) de falar às estátuas

15 julho, 2011

The big chill

Vinha com a costumada ansiedade. Não conhecia outra e esta já se lhe tinha colado no rosto, moldando-lhe a feição. Sempre se vira assim e sempre assim os outros a viam. Não era uma jovem qualquer e tudo lhe levava a crer que não seria uma normal mulher. Não se sentia rejeitada. Ela era rejeitada, assim ela pensava. Era-o em casa, na escola, entre possíveis amigos, na vizinhança. Era-o desde criança. Seu refugio era a procura de outros amigos. Amigos virtuais, anónimos e também aqueles que fingiam não o ser. Horas a fio despendidas, frente ao seu computador, eram ganhas às horas de grande solidão. Frente ao teclado construía mundos inexistentes em pequenas frases ou em comentários. Procurava e editava fotos da natureza, dos álbuns musicais, de gatos e insectos, seus animais predilectos. Ia assim ocupando o tempo... Sentia ter duas vidas e não gostava de nenhuma. Foi pensando em tudo isto, com a cara do costume, que se aproximou daquele pequeno miradouro sobre a praia, local tantas vezes escolhido para tentar preencher um angustiado e constante vazio. Aquele que naquela altura sentia. Lá, por onde se deixava ficar, pousado sobre a grade de protecção, estava um pequeno pássaro. Saltitava. Quase lhe não ligava, quando se surpreendeu pelo passarito, que em vez de fugir assustado, limitou-se a dar um pequeno pulito, não saindo do sitio em que se encontrava pousado. Tomou tal alheamento como um desafio e avançou ostensivamente. Nada, o pássaro na mesma ficava. Resoluta avançou até quase ao pássaro se encostar, inclinou-se e procurou-lhe o olhar. O pássaro olhou-a, também, de lado com olhar de pássaro, sem medo nem susto mas com ar astuto. Surpreendida por não ter voado nem lhe rejeitar a presença, nem deu pelo insólito de o passarito lhe falar. Respondeu o que lhe ocorreu, dizendo o que então disse com o olhar perdido no mar. Ficaram assim os dois tempos esquecidos. Ela contando suas agruras, desventuras, lutos, rejeições, pequenos e grandes desgostos, insistindo sempre que o mal era dela. Ele, contou-lhe o que via pelo mundo, os locais por onde voava, o esforço em vencer o vento, o frio de dormir ao relento, a dureza da vida e da procura de comida. Desenroladas ambas as vidas, sobressaltou-se o pássaro com o que ela disse: "Não devia ter nascido, minha vida é um arrepio". O pássaro olho-a fixamente, como se fosse gente. Gente compreensiva e inteligente: "Olha o grande arrepio não é nascer, é crescer. Toma minhas asas por empréstimo e dá-lhe o melhor préstimo. Voa e conhece, conhecer é crescer sem te sentires rejeitada". E dizendo isto desapareceu deixando-lhe ficar as asas que lhe ofereceu. Ela experimentou, ganhou confiança e voou. Primeiro com cautela desmedida do sitio onde estava para a árvore que por ali havia perto. Depois fez um voou longo, sobre o mar até chegar ao deserto. Voou por todos os locais que o pássaro lhe contou. Tinha apenas um dia e era preciso usá-lo bem. Fê-lo de dia e de noite. Passou a linha do horizonte. Voou, voou, voou....
Muito chegado o prazo que o pássaro lhe tinha dado, voltou ao local para a devolução das asas emprestadas. Ia eufórica, radiante e uma energia diferente transparecia-lhe do semblante. No local, esperou. Esperou, mas o pássaro não vinha nem chegou. Estava na hora, e agora? Como devolver as asas com que voara. De repente as asas lhe desapareceram e ela percebeu com tristeza que ele as levara sem um último encontro. Sentou-se no chão. Não chorou porque um sem saber o quê não deixou. Não sentiu angústia nem desgosto, mas apenas pena de não poder contar que acabara para ela, pelo que acabou de viver, "o grande arrepio" de crescer... Nem deu por quem se aproximou e quando deu, depressa se levantou. Era um um jovem, quase homem. Nem belo nem feio, atencioso e de voz terna. Falou-lhe com uma voz que lhe pareceu familiar. Depois das primeiras palavras de encontro, ela falou-lhe desinibida o que contava dizer ao pássaro. Ele ouvia-a atentamente, como se fosse novidade tudo o que ela lhe ia contando com vivacidade, sem vestígios de qualquer ansiedade, daquela que ela julgava lhe ter moldado o rosto...


Este conto inscreve-se no "regulamento" do CONCURSO de ESCRITA CRIATIVA 2011, promovido pela querida amiga Eva Gonçalves, do blogue "Including the kitchen sink", respeitando o titulo "The Big Chill"

14 julho, 2011

Poemas na praia (escritos para mim) - IV

A MINHA RELIGIÃO É O NOVO

Este dia, por exemplo; o pôr do Sol,
estas invenções habituais: o Mar.
Ainda:
os cisnes a Ralhar com a água. A Rapariga mais bonita que ontem.
Deus como habitante único.
Todos somos estrangeiros a esta Região, cujo único habitante
verdadeiro é Deus (este bem podia ser o Rótulo do nosso
Frasco).
Dele também se podia dizer, como homenagem:
Hóspede discreto.
Ou mais pomposamente:
O Enorme Hóspede discreto.
Ou dizer ainda, para demorar Deus mais tempo nos lábios ou
neste caso no papel, na escrita, dizer ainda, no seu epitáfio que
nunca chega, que nunca será útil, dizer dele:
em todo o lado é hóspede,
e em todo o lado é Discreto.

Gonçalo M. Tavares - in Investigações Novalis

13 julho, 2011

Poemas na praia (escritos para mim) - III

.
Dia do mar do meu quarto – cubo
Onde os meus gestos sonâmbulos deslizam
Entre o animal e a flor como medusas.
Dia do mar no ar, dia alto
Onde os meus gestos são gaivotas que se perdem
Rolando sobre as ondas, sobre as nuvens.
Dia do mar no ar, p. 20

Mar sonoro, mar sem fundo mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós.
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.
Mar Sonoro, p. 16.



MAR-POESIA
Sophia de Mello Breyner Andersen

12 julho, 2011

Poemas na praia (escritos para mim) - II


Acontece que me canso de meus pés e de minhas unhas,
do meu cabelo e até da minha sombra.
Acontece que me canso de ser homem.

Todavia, seria delicioso
assustar um notário com um lírio cortado
ou matar uma freira com um soco na orelha.
Seria belo
ir pelas ruas com uma faca verde
e aos gritos até morrer de frio.

Passeio calmamente, com olhos, com sapatos,
com fúria e esquecimento,
passo, atravesso escritórios e lojas ortopédicas,
e pátios onde há roupa pendurada num arame:
cuecas, toalhas e camisas que choram
lentas lágrimas sórdidas.

Pablo Neruda (faria hoje 107 anos)

11 julho, 2011

Poemas na praia (escritos para mim) - I

Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.
(*) Carlos Drummond de Andrade

10 julho, 2011

Homilias dominicais (citando Saramago) - 39

Tinha programado escrever todos os sábados, ao jeito de balanço sobre os acontecimentos da semana passada, mas não escrevi nada. A primeira explicação que me ocorre é que a semana teria sido tão mal prendada de acontecimentos ruins que mais valeria a pena deixá-los sob o tapete do esquecimento, aquele mesmo tapete para onde a gente desleixada varre todos os lixos deixando a casa aparentemente asseada. Mas uma explicação para a ruptura dum plano nunca vem só, e tenho outra: o desconforto de tratar o meu povo, as minhas gentes, por estátuas. Dei por mim a considerar-me excessivo e descrente, pois só se fala de estátuas para gente morta e o meu rigoroso pensamento é de acreditar em gente viva, disposta a viver, a ser e a pensar. Foi pois por esta duas fortes razões (e não por estar "de férias") que nada escrevi sobre a semana que passou, nem sobre a conduta das almas e mentes empedernidas. Fosse hoje o ontem que passou e teria escrito, pois descobri dois textos de Saramago, um ensinando-me a ler o outro, que me teriam obrigado a escrever o tema de sábado. Não indo a tempo, falo-lhes dele nesta homilia. Um desses (guardado para o próximo domingo) ensinou-me a ler o outro, publicado aqui, pela querida Sam, com o título "Frases Feitas". Que se poderá dizer a gente confusa, abúlica e indecisa - considerando que sua mente se poderá libertar da condição de estátua - se não as palavras recomendadas para lhes serem ditas?
HOMILIA

"Dizemos aos confusos, Conhece-te a ti mesmo, como se conhecer-se a si mesmo não fosse a quinta e mais difícil operação das aritméticas humanas;
Dizemos aos abúlicos, Querer é poder, como se as realidades bestiais do mundo não se divertissem a inverter todos os dias a posição relativa dos verbos;
Dizemos aos indecisos, Começar pelo princípio, como se esse princípio fosse a ponta sempre visível de um fio mal enrolado que bastasse puxar e ir puxando até chegarmos à outra ponta, a do fim, e como se, entre a primeira e a segunda, tivéssemos tido nas mãos uma linha lisa e contínua em que não havia sido preciso desfazer nós nem desenredar emanharados, coisa impossível de acontecer na vida dos novelos, e, se uma outra frase de efeito é permitida, nos novelos da vida."

(José Saramago)

06 julho, 2011

Férias... mas sem interrupção de palavras necessárias (2)

Fosse eu sinaleiro e daria o caminho certo ao nosso dinheiro

Estar de férias não significa gozar devaneios de Estio e ficar, tempos a fio, a léguas do que está a acontecer. Como posso ignorar o que se vai passando e que não respeita esse período, que até podia ser de tréguas? A verdade é que se aproveita este tempo, que devia ser de acalmia, para por tudo em polvorosa. O governo, as agências de rating e as habituais omissões. Omissões do que foi denunciado ontem para hoje acontecer, com os responsáveis fingindo que nada podiam prever. A verdade é que, há duas semanas atrás, já alguém insistia em avisos há muito dados (se bem que pouco propalados). A verdade é que na segunda feira o mesmo "alguém" voltou a avisar sobre o que no dia seguinte iria acontecer. (ver, a partir dos dez minutos iniciais, o que aqui foi dito). Se eu fosse sinaleiro, bem eu encaminharia o nosso dinheiro...


Coisas que alguém disse no tempo certo (e repetidas há duas semanas atrás)

05 julho, 2011

04 julho, 2011

A simpatiquíssima trindade

Tem o quarto poder muito por onde se benzer e ser bem-querido. Não que seja nova esta religião, pois é sabido que data de tempos imemoriais, a forma e a maneira de estar entre os mortais. Sentada à direita da Falsidade, no topo deste triângulo poderoso, podemos ver a Mentira com ar simpático e neutro, sem ternura nem ira. Do outro lado, praticamente com o mesmo rosto e posição, senta-se a Omissão. As três, no feminino mas não mulheres, trocam dizeres de catecismo. São as senhoras do universo e crescem, crescendo com elas, todos os dias, a multidão de crentes, tomando-as, todas as três, por verdades omnipresentes... A Mentira campeia, sem receio de ser desmascarada ou desnudada. Quem o tentar, a Omissão entra eficientemente com a sua eficaz missão.


03 julho, 2011

Homilias dominicais (citando Saramago) - 38

Ontem, quando no meu texto fazia um link para denunciar uma omissão (modalidade de mentira muito utilizada para manipular a verdade), sem que tal esperasse, uma minha muito amiga escrevia: "eu não sei, confesso. mas, acredito que foi melhor sabermos já, aquilo que nos espera... não acha? estou farta de mentiras, do "está tudo bem"... e do "afinal, está muito pior do que alguém poderia imaginar"... sinto-me perdida. cada um pior que outro. mas, sinceramente, continuo a preferir a verdade o mais cedo possível.". Ora, no caso vertente, a verdade que ela reclama conhecer (e julga que passou a conhecer) o mais cedo possível, poderia ter custado a eleição do actual primeiro ministro, agora em função. A verdade nua e crua, como ela quer, não a vai ter. É contra-natura de certa forma de exercer o poder. Por outro lado, é cedo para o discurso do sucesso das politicas seguidas. É cedo para repetir essa mentira, pois ainda estamos na maré de dizer o que é, quase com a garantia de não ir ser como se diz que irá acontecer. Sobre estas coisas, proponho uma reflexão sobre o entendimento dessa miríade ansiada, mas de nós tão afastada: a verdade. Tal como a via José Saramago:

HOMILIA DOMINICAL

"(...) não o esqueçamos, assim como as verdades puras não existem, também não existem as puras falsidades. Porque se toda a verdade leva consigo, inevitavelmente, uma parte de falsidade, nenhuma falsidade o é tanto que não veicule uma parte de verdade. A falsidade contém, portanto, duas verdades: a sua verdade própria («Se eu sou falso e digo que o sou, digo uma verdade»), e a verdade outra de que acaba por ser veículo, voluntário ou involuntário, e leve ela, ou não leve, por sua vez, uma parte de falsidade. Convenho que a clareza, tanto a do pensamento como a da expressão, não abunda no que acabei de escrever, mas a culpa não a tenho eu, a vida é que não é clara."


José Saramago, in "Detalhes"

02 julho, 2011

Sábado... Foi assim, a semana que hoje finda (2)

As estátuas continuaram serenamente a fazer o que últimamente fizeram. Contrariando quem bem as esculpiu quiseram deixar de pensar. Querer tal é, reconhecidamente, esforço inútil. Ocupou-se então a mente com um pensar fútil, ou distanciando da dura realidade. Pensou-se numa dor fora da sua, mesmo que seja dor inventada, encenada, mas em sintonia com coisa ocorrida, pela perda de uma vida, num espaço público: a rua. Pensou-se que há reinos, reinos felizes, onde plebeias casam com príncipes. Pensou-se na oportunidade de ser muito rico, pela sorte de aceder a um prémio milionário. Pensou-se que tudo vai dar certo apesar da forte probabilidade de não dar. Perante uma noticia inusitada, as estátuas entreolharam-se inquietas, mas depressa regressaram ao estar de pedra ser. Quem ousaria posar como Rodin esculpiu? Se alguém o fez (e fez), nada se propalou e, fiquem a saber, quem viu fingiu não ver...

01 julho, 2011

Férias... mas sem interrupção de palavras necessárias

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Chegámos. Depois de desfazer as malas, foi o procurarmos um lugar para cada coisa e, de seguida, a faina de as colocar lá. Roupas, algumas (poucas) loiças, livros e as cartas escritas há tantos anos atrás. Trouxe a câmara de vídeo que ofereci à Teresa pelos seus anos, em Fevereiro, e estive a configurá-la. Nunca a usámos antes. Não por falta de interesse em o fazer. Não por falta de oportunidades de registo de momentos e até eventos. Não por uma qualquer razão especial ou talvez, inconscientemente, não tenhamos até agora querido que este período conte e deva ser lembrado. O gesto de trazer a câmara e de a preparar inverteu este sentir...

Ainda não fomos ver a praia, mas sei de cor como ela é. Conheço a água fria e agitada. Conheço a brisa fresca e a nortada. Conheço a distancia entre a formação das ondas e o seu morrer na areia. Amanhã caminharei pelo areal e também por atalhos e veredas sentindo o prazer de isso acontecer sobre o trilho provável de um qualquer dinossauro...