HOMILIA DE HOJE
"As palavras são assim, disfarçam muito, vão-se juntando umas com as outras, parece que não sabem bem aonde querem ir, e de repente, por causa de duas ou três, ou quatro que de repente saem, simples em si mesmas, um pronome pessoal, um advérbio, um verbo, um adjectivo, e aí temos a comoção a subir irresistível à superfície da pele e dos olhos, a estalar a compostura dos sentimentos (...)"
(José Saramago, retirado de um post da Sam - Pratododia:"Palavra" )Há muito que, no que ando a escrever lá no outro lado, que não sinto "a comoção a subir irresistível à superfície da pele e dos olhos, a estalar a compostura dos sentimentos". Cheguei a parar por uns dias, julgando que a minha escrita, para me assaltarem as palavras certeiras, carecia de deixar decantar da poeira dos dias e, quando regressasse, seria mais fácil ir buscar tais palavras à procurada memória translúcida da alma. Parei e voltei. Nada feito e as palavras, daquele lado, parecem não lá chegarem por terem sido gastas neste. Também a poeira dos dias é cada vez mais espessa, razão de sobra para que a falta de palavras me aconteça. Tomo então a decisão de parar aqui.
Não suspendo totalmente esta "conversa avinagrada", mas virei mais amiúde. Vou ficar do lado de lá. Até porque o livro tem de ficar acabado em finais de Setembro...
31 julho, 2011
Homilias dominicais (citando Saramago) - 42
30 julho, 2011
Sábado... Foi assim, a semana que hoje finda (5)
(Foto Praia de Vale Frades/Lourinhã, onde estive)
Poemas na praia (escritos para mim) - X
CONVERSAS DAQUI E DALI, um blogue amigo que há muito sigo (e ele me segue) por baixo do seu título escreve: "Encurtemos distâncias, falando pouco e bem. As palavras medíocres nada nos contam; as boas explicam-nos quase tudo. Sigamos, a vida é breve!"
Apresenta-se com uma imagem que me diz muito com dizeres, sobre si, que muito me diz:"Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo o dia", citando Saramago. Não compreendo como um amigo assim se separa de mim, de nós, abandonando o seu escrever. Escrevia pouco e bem. Escrevia as palavras necessárias. Foi lá, no seu lugar (que designava por cubata), que retirei este poema. Só hoje percebi que o poeta o escrevera para mim. Para ele não foi certamente, pois esta não "é a hora" de ele se ir embora.É A HORA
“Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço de terra
Que é Portugal a entristecer,
Brilho em luz e sem arder,
Como o que fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro…
É a Hora!”
----------------------------Fernando Pessoa
Quando faltarem as palavras, restará o silêncio... Ou o grito?
Sei que um dia voltará, mesmo que não queira, mas porque tem que ser...
29 julho, 2011
Poemas na praia (escritos para mim) - IX
Eu vivo em tempos sombrios.
Uma linguagem sem malícia é sinal de
estupidez,
uma testa sem rugas é sinal de indiferença.
Aquele que ainda ri é porque ainda não
recebeu a terrível notícia.
Que tempos são esses, quando
falar sobre flores é quase um crime.
Pois significa silenciar sobre tanta injustiça?
Aquele que cruza tranqüilamente a rua
já está então inacessível aos amigos
que se encontram necessitados?
É verdade: eu ainda ganho o bastante para viver.
Mas acreditem: é por acaso. Nado do que eu faço
Dá-me o direito de comer quando eu tenho fome.
Por acaso estou sendo poupado.
(Se a minha sorte me deixa estou perdido!)
Dizem-me: come e bebe!
Fica feliz por teres o que tens!
Mas como é que posso comer e beber,
se a comida que eu como, eu tiro de quem tem fome?
se o copo de água que eu bebo, faz falta a
quem tem sede?
Mas apesar disso, eu continuo comendo e bebendo.
Bertolt Brecht (1898-1956
28 julho, 2011
Poemas na praia (escritos para mim) - VIII
"(...) as palavras saem de todo o lado. Coração e cérebro são os grandes responsáveis. Um irriga o outro e este converte a vivência em algo a transmitir. Os olhos e ouvidos são acessórios importantes. Mas, no fim de tudo, são as mãos as principais responsáveis pela existência das palavras dignas (e das outras). Tudo o que o homem fez e faz, sai-lhe das mãos. As mãos são a génese da inteligência humana. Quem não fez nada na vida e humildemente não reconhece isso, não tem uma mão cheia de palavras que valham a pena integrar na comunicação humana sob a forma de um livro, de canção ou outra qualquer..." Ao escrever isto nem previa que a Lídia (Seara de Versos) me daria um dia a definição de mão, que tira e dá, sob a forma de Terra... Um poema para mim... assim:
Sei o fruto, a polpa e a casca.
O refrão a entoar ternuras
Na voz dos pássaros.
Do seu pranto
Sei os homens,
As magras paisagens
De áridos futuros.
Alguns dizem: - bastam-me as mãos
Para fazer brotar fontes e rios
Outros porém,
De muitas sedes nascidos,
Bebem até à derradeira gota
As fontes e os rios
E dizem: - bastam-me as mãos
Para fazer brotar desertos.
Da terra sei a secura
E a interdição da água
Na véspera da lágrima.
--------------------Lidia Borges
27 julho, 2011
Poemas na praia (escritos para mim) - VII
O corpo
dengoso ia desenvolvendo
um andar, quase sem caminhar, lento,
voluptuoso,
ao encontro do que parecia ser seu destino
Tirou os olhos do chão
sem os colocar no ar
Virou para dentro de si
esse seu olhar
Parecia não ter visto outra coisa,
enquanto a densa teia a envolvia,
do que a asa que lhe nascia,
e também a outra, em síncrono movimento
Feliz, nesse encantamento,
falava com outras, suas iguais...
da beleza dos locais
para onde iria voar
e das flores todas em que iria pousar,
do céu para onde nunca olhara antes...
com a alma em cio
ouvindo das demais
conversas tão parecidas, quase iguais
em palavras gargalhadas
pois só estas, e não as graves,
passavam as paredes aveludadas
do casulo, sem entraves
Chegado o momento,
a parede se rompeu e saiu
Exercitou o bater de asas,
segura como nunca se viu
Voou na direcção do éden
sem lá chegar, mergulhando antes
em nunca experimentada escuridão.
II
Abri o livro disposto a ler
uma página qualquer
Entre a página aberta e a outra,
ali estava ela
a mais bela borboleta
parecendo ainda sorrir
num sorriso pueril
(borboletas-mulher, vieram comentar)
como poeta e comunicador...
Então um ser
que não olha o céu,
que não tem assunto
que não liga ao mundo
que virada a cada momento
só para dentro
que viveu suspirando a sua própria beleza
e a natureza
que não chega a cumprir sua missão
e acaba espalmada
a fim de ser só olhada
é coisa de tanta admiração?
Ah, mulheres
temos que um dia falar
olhos nos olhos...
NOTA: Há meses, sem pensar no destino escolhido pela Amy ("Amy Winehouse estava feliz como não ficava há anos", diz o pai")publiquei o poema "Metamorfose IV" que aqui reproduzo parcialmente e ao qual junto um comentário, (meio triste, meio zangado) sobre o que pensam as mulheres perante uma borboleta vistosa, mas morta...
(a imagem, foto de J.Ferreira, foi tirada daqui, com autorização da minha querida amiga FerNanda).
26 julho, 2011
Poemas na praia (escritos para mim) - VII
na água da pequena tigela de cobre
com pedacinhos de gelo,
abre os olhos sob a água, lava-os,
enxuga-te com a toalha áspera
e lança um olhar num livro que amas.
Começa assim
Um dia belo e útil.
25 julho, 2011
Poemas na praia (escritos para mim) - VI
e pu-lo no chão,
a vê-lo correr
da imaginação...
A seguir, tirei do bolso do colete
nuvens e estrelas
e estendi um tapete
de flores
a concebê-las.
Depois, encostado à mesa,
tirei da boca um pássaro a cantar
e enfeitei com ele a Natureza
das árvores em torno
a cheirarem ao luar
que eu imagino.
E agora aqui estou a ouvir
A melodia sem contorno
Deste acaso de existir
-onde só procuro a Beleza
para me iludir
dum destino.
José Gomes Ferreira
24 julho, 2011
Homilias dominicais (citando Saramago) - 41
"Tens noventa anos. És velha, dolorida. Dizes-me que foste a mais bela rapariga do teu tempo – e eu acredito. Não sabes ler. Tens as mãos grossas e deformadas, os pés encortiçados. Carregaste à cabeça toneladas de restolho e lenha, albufeiras de água. Viste nascer o sol todos os dias. De todo o pão que amassaste se faria um banquete universal. Criaste pessoas e gado, meteste os bácoros na tua própria cama quando o frio ameaçava gelá-los. Contaste-me histórias de aparições e lobisomens, velhas questões de família, um crime de morte. Trave da tua casa, lume da tua lareira – sete vezes engravidaste, sete vezes deste à luz. Não sabes nada do mundo. Não entendes de política, nem de economia, nem de literatura, nem de filosofia, nem de religião. Herdaste umas centenas de palavras práticas, um vocabulário elementar. Com isto viveste e vais vivendo. És sensível às catástrofes e também aos casos de rua, aos casamentos de princesas e ao roubo dos coelhos da vizinha. Tens grandes ódios por motivos de que já perdeste a lembrança, grandes dedicações que assentam em coisa nenhuma. Vives.
Para ti, a palavra Vietname é apenas um som bárbaro que não condiz com o teu círculo de légua e meia de raio. Da fome sabes alguma coisa: já viste uma bandeira negra içada na torre da igreja. (Contaste-me tu, ou terei sonhado que o contavas?) Transportas contigo o teu pequeno casulo de interesses. E, no entanto, tens os olhos claros e és alegre. O teu riso é como um foguete de cores. Como tu, não vi rir ninguém. Estou diante de ti, e não entendo. Sou da tua carne e do teu sangue, mas não entendo. Vieste a este mundo e não curaste de saber o que é o mundo. Chegas ao fim da vida, e o mundo ainda é, para ti, o que era quando nasceste: uma interrogação, um mistério inacessível, uma coisa que não faz parte da tua herança: quinhentas palavras, um quintal a que em cinco minutos se dá a volta, uma casa de telha-vã e chão de barro. Aperto a tua mão calosa, passo a minha mão pela tua face enrijada e pelos teus cabelos brancos, partidos pelo peso dos carregos – e continuo a não entender. Foste bela, dizes, e bem vejo que és inteligente. Por que foi então que te roubaram o mundo? Mas disto talvez entenda eu, e dir-te-ia o como, o porquê e o quando se soubesse escolher das minhas inumeráveis palavras as que tu pudesses compreender. Já não vale a pena. O mundo continuará sem ti – e sem mim.
Não teremos dito um ao outro o que mais importava. Não teremos realmente? Eu não te terei dado, porque as minhas palavras não são as tuas, o mundo que te era devido. Fico com esta culpa de que me não acusas – e isso ainda é pior. Mas porquê, avó, porque te sentas tu na soleira da tua porta, aberta para a noite estrelada e imensa, para o céu de que nada sabes e por onde nunca viajarás, para o silêncio dos campos e das árvores assombradas, e dizes, com a tranquila serenidade dos teus noventa anos e o fogo da tua adolescência nunca perdida: “O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer!”. É isto que eu não entendo – mas a culpa não é tua."
José Saramago, in “Deste Mundo e do Outro"
23 julho, 2011
Sábado... Foi assim, a semana que hoje finda (4)
Quem rejeita a condição de estátua, raramente é ouvido para aquilo que faz todo o sentido
(Imagem retirada da net)
Aprendendo, a brincar - 2
Mostrei este video ao seu personagem principal. Acompanhando atento as primeiras cenas, ele me confessou:"O Diogo estava a enganar o avô...". Eu sorri e não lhe disse o que nas legendas escrevi...
22 julho, 2011
Hoje o dia foi passado em devaneio... Nada será postado e o cabeçalho exposto foi lá posto depois de roubado (logo devolvo...)
Este foi o cabeçalho que ocupou o meu espaço, durante umas horas. FOI DEVOLVIDO, conforme o prometido - (Pode confirmar, lá no seu lugar)
21 julho, 2011
Aprendendo, a brincar - 1
NOTA EXPLICATIVA: A legenda, onde se refere ser a piada dada, uma "boca" de mau gosto, é simplesmente porque o Diogo quando tiver idade de ler isto talvez até já haja um bom ministro...
20 julho, 2011
Prémio "Including the Kitchen Sink
19 julho, 2011
Poemas na praia (escritos para mim) - V
pegou no destino.
Foi-se ao mar,
e foi em quatro que o dobrou carregando-o debaixo do braço
Com o mesmo desembaraço
fez o mesmo ao sol, ao céu azul
-------------------- e rumou ao sul
Foi e voltou
Depois seguiu todos os pontos cardeais
Onde chegava,
o mar, o céu e o sol desdobrava
para depois os voltar a dobrar
---------------------e voltar a partir
Fê-lo tantas a vezes, até que deixou de ir
Ficou, definitivamente
cobrindo-o o mesmo céu
com o mesmo mar à sua frente
com o sol a bater nele, num prolongado afago
morno e dourado
Rogério Pereira (imagem da net)
18 julho, 2011
Em 1970, em Lisboa, mal se conhecia fruta... da boa
"Disse-me, como antes tinha dito, os nomes dos frutos: “Esta tem papaia, aquela abacate, aquelas qui tu tá vendo nu ali, tem muntas manga”. “E a que dá o mamão?”, perguntei por me faltar ver essa, enquanto os odores se misturavam com o cheiro da terra “Essa tá mais nu longe. Custa mais dinheiro”, disse o Meia-Cuca com ar quase severo e que entendi ser seu sinal de não estar para ir mais longe do que tínhamos ido. “É igual a esta que tu ver aqui” e apontou-me a da papaia."
(leia aqui, quando conheci o que hoje é banal ver)
17 julho, 2011
Homilias dominicais (citando Saramago) - 40
"…para mim é claríssimo e desde sempre o foi, mesmo quando eu ainda não escrevia livros, de que somos herdeiros dum tempo, somos herdeiros duma cultura, somos, para usar um símile que algumas vezes eu empreguei, como se estivéssemos numa praia, o mar está ali e há uma onda que caminha em direcção à praia e essa onda não poderia mover-se sem o mar que está por detrás e sobre essa onda que vem enrolando há uma pequena franja de espuma que avança em direcção à praia onde vai acabar. Eu penso enfim, para usar esta metáfora marítima, que somos nós a espuma que é transportada nessa onda e essa onda é ela mesma impelida pelo mar e neste caso o mar é o tempo, todo o tempo que ficou atrás, todo o tempo vivido que nos leva e que nos empurra. Vivemos uma apoteose de luz e de cor na relação entre o espaço e o lugar onde o mar está e somos essa espuma branca brilhante, cintilante que tem uma breve vida, uma breve cintilação. Isto pode fazer de mim alguém a quem a história preocupa, e é certo, a quem a relação com o tempo passado preocupa, e é certo."
José Saramago - In A Estátua e a Pedra
16 julho, 2011
Sábado... Foi assim, a semana que hoje finda (3)
Resumo da semana, outra maneira (ainda marginal) de falar às estátuas
15 julho, 2011
The big chill
14 julho, 2011
Poemas na praia (escritos para mim) - IV
Este dia, por exemplo; o pôr do Sol,
estas invenções habituais: o Mar.
Ainda:
os cisnes a Ralhar com a água. A Rapariga mais bonita que ontem.
Deus como habitante único.
Todos somos estrangeiros a esta Região, cujo único habitante
verdadeiro é Deus (este bem podia ser o Rótulo do nosso
Frasco).
Dele também se podia dizer, como homenagem:
Hóspede discreto.
Ou mais pomposamente:
O Enorme Hóspede discreto.
Ou dizer ainda, para demorar Deus mais tempo nos lábios ou
neste caso no papel, na escrita, dizer ainda, no seu epitáfio que
nunca chega, que nunca será útil, dizer dele:
em todo o lado é hóspede,
e em todo o lado é Discreto.
Gonçalo M. Tavares - in Investigações Novalis
13 julho, 2011
Poemas na praia (escritos para mim) - III
Dia do mar do meu quarto – cubo
Onde os meus gestos sonâmbulos deslizam
Entre o animal e a flor como medusas.
Dia do mar no ar, dia alto
Onde os meus gestos são gaivotas que se perdem
Rolando sobre as ondas, sobre as nuvens.
Dia do mar no ar, p. 20
Mar sonoro, mar sem fundo mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós.
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.
Mar Sonoro, p. 16.
MAR-POESIA
Sophia de Mello Breyner Andersen
12 julho, 2011
Poemas na praia (escritos para mim) - II
Acontece que me canso de meus pés e de minhas unhas,
do meu cabelo e até da minha sombra.
Acontece que me canso de ser homem.
Todavia, seria delicioso
assustar um notário com um lírio cortado
ou matar uma freira com um soco na orelha.
Seria belo
ir pelas ruas com uma faca verde
e aos gritos até morrer de frio.
Passeio calmamente, com olhos, com sapatos,
com fúria e esquecimento,
passo, atravesso escritórios e lojas ortopédicas,
e pátios onde há roupa pendurada num arame:
cuecas, toalhas e camisas que choram
lentas lágrimas sórdidas.
Pablo Neruda (faria hoje 107 anos)
11 julho, 2011
Poemas na praia (escritos para mim) - I
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.
Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.
Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?
A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.
Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.
10 julho, 2011
Homilias dominicais (citando Saramago) - 39
"Dizemos aos confusos, Conhece-te a ti mesmo, como se conhecer-se a si mesmo não fosse a quinta e mais difícil operação das aritméticas humanas;
Dizemos aos abúlicos, Querer é poder, como se as realidades bestiais do mundo não se divertissem a inverter todos os dias a posição relativa dos verbos;
Dizemos aos indecisos, Começar pelo princípio, como se esse princípio fosse a ponta sempre visível de um fio mal enrolado que bastasse puxar e ir puxando até chegarmos à outra ponta, a do fim, e como se, entre a primeira e a segunda, tivéssemos tido nas mãos uma linha lisa e contínua em que não havia sido preciso desfazer nós nem desenredar emanharados, coisa impossível de acontecer na vida dos novelos, e, se uma outra frase de efeito é permitida, nos novelos da vida."
(José Saramago)
07 julho, 2011
06 julho, 2011
Férias... mas sem interrupção de palavras necessárias (2)
Estar de férias não significa gozar devaneios de Estio e ficar, tempos a fio, a léguas do que está a acontecer. Como posso ignorar o que se vai passando e que não respeita esse período, que até podia ser de tréguas? A verdade é que se aproveita este tempo, que devia ser de acalmia, para por tudo em polvorosa. O governo, as agências de rating e as habituais omissões. Omissões do que foi denunciado ontem para hoje acontecer, com os responsáveis fingindo que nada podiam prever. A verdade é que, há duas semanas atrás, já alguém insistia em avisos há muito dados (se bem que pouco propalados). A verdade é que na segunda feira o mesmo "alguém" voltou a avisar sobre o que no dia seguinte iria acontecer. (ver, a partir dos dez minutos iniciais, o que aqui foi dito). Se eu fosse sinaleiro, bem eu encaminharia o nosso dinheiro...
Coisas que alguém disse no tempo certo (e repetidas há duas semanas atrás)
05 julho, 2011
04 julho, 2011
A simpatiquíssima trindade
03 julho, 2011
Homilias dominicais (citando Saramago) - 38
"(...) não o esqueçamos, assim como as verdades puras não existem, também não existem as puras falsidades. Porque se toda a verdade leva consigo, inevitavelmente, uma parte de falsidade, nenhuma falsidade o é tanto que não veicule uma parte de verdade. A falsidade contém, portanto, duas verdades: a sua verdade própria («Se eu sou falso e digo que o sou, digo uma verdade»), e a verdade outra de que acaba por ser veículo, voluntário ou involuntário, e leve ela, ou não leve, por sua vez, uma parte de falsidade. Convenho que a clareza, tanto a do pensamento como a da expressão, não abunda no que acabei de escrever, mas a culpa não a tenho eu, a vida é que não é clara."
José Saramago, in "Detalhes"
02 julho, 2011
Sábado... Foi assim, a semana que hoje finda (2)
01 julho, 2011
Férias... mas sem interrupção de palavras necessárias
Ainda não fomos ver a praia, mas sei de cor como ela é. Conheço a água fria e agitada. Conheço a brisa fresca e a nortada. Conheço a distancia entre a formação das ondas e o seu morrer na areia. Amanhã caminharei pelo areal e também por atalhos e veredas sentindo o prazer de isso acontecer sobre o trilho provável de um qualquer dinossauro...