Eu vivo em tempos sombrios.
Uma linguagem sem malícia é sinal de
estupidez,
uma testa sem rugas é sinal de indiferença.
Aquele que ainda ri é porque ainda não
recebeu a terrível notícia.
Que tempos são esses, quando
falar sobre flores é quase um crime.
Pois significa silenciar sobre tanta injustiça?
Aquele que cruza tranqüilamente a rua
já está então inacessível aos amigos
que se encontram necessitados?
É verdade: eu ainda ganho o bastante para viver.
Mas acreditem: é por acaso. Nado do que eu faço
Dá-me o direito de comer quando eu tenho fome.
Por acaso estou sendo poupado.
(Se a minha sorte me deixa estou perdido!)
Dizem-me: come e bebe!
Fica feliz por teres o que tens!
Mas como é que posso comer e beber,
se a comida que eu como, eu tiro de quem tem fome?
se o copo de água que eu bebo, faz falta a
quem tem sede?
Mas apesar disso, eu continuo comendo e bebendo.
Bertolt Brecht (1898-1956
29 julho, 2011
Poemas na praia (escritos para mim) - IX
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Bertolt Brecht sabia o que dizia. Mas eu preciso mesmo de rir para esquecer a imbecilidade que paira no ar. É a maneira que eu próprio arranjei para sobreviver no meio deste mundo cão.
ResponderEliminarRogério,
ResponderEliminarnão acha que Brecht na sua infinita sapiência, inclusivé sobre ideais marxistas, se esqueceu da alternativa de repartir com quem tinha fome e sede, metade daquilo que comia e bebia?
Digo eu, que sou uma leiga em teorias filosóficas e relações humanas, bem como em muitos outros temas, obviamente.
No entanto se penso, logo existo e se existo porquê não dizer o que penso?
Não creio alguma vez ter visto este blog ter usado de qualquer tipo de discriminação, pois não?
Muito menos da máxima "quem não é por mim é contra mim..."
Caro Rogério
ResponderEliminarEste poema é um verdadeiro "murro no estômago" Preparo-me para jantar no melhor restaurante do mundo (o meu alpendre) tenho na gelador uma garrafa de um bom verde de Ponte da Barca. O jantar vai ser um mexilhão 1/2 concha da Nova Zelandia. A leitura deste poema faz-me pensar se mereço este jantar. Não tenho duvidas que sim. Mas quantos outros por esse mundo fora mereciam isto e muito mais e não têm.
É este tipo de poesia que gosto. Que nos diz coisas. Que nos faz pensar em coisas e sobretudo que nos faz sentir que não podemos consentir que isto seja um destino traçado. É isto que não nos permite viver conformados... Não "porra"! Não tem que ser assim!
Abraço
O que mais admiro nele é a capacidade de despir a palavra de adornos, de deixá-la "nua" a fazer-nos pensar para além do óbvio.
ResponderEliminarUm beijo
L.B.
Meu amigo, este poema de certeza também me foi dedicado.
ResponderEliminarEstou de partida mas vou sentir falta do seu beiral.
Beijinhos e até Setembro.
Fique bem!
Muito duro este Brecht, mas (infelzmente) muito certeiro!
ResponderEliminar"Um murro no estômago"? Onde é que eu já ouvi isto?!...
O LOL hoje está mole:
ResponderEliminarvai rir para esquecer
Estou fazendo isso, a beber... com três pedras de gelo. Segundo Brecht, não deveria merece-lo...
Janita,
Descriminação? Não...
Nunca... até porque percorro amigos por todo o lado e...nunca fui discriminado. Tenho a obrigação moral (e ideológica) de pagar na mesma moeda...
Quanto ao que pergunta... Apetece responder com a resposta do Folha Seca... mas sempre lhe digo, como quem pergunta. Pode, quem gere o Banco Alimentar, dizer as compras de quem deixou o saco? Pode continuar seu trabalho sem insónia lendo Brecht?
Lídia e Fê
Está, bem!... Pronto! É isso que lhe aponto: verdade nua e de toda a gente... (que sente...)
Sempre achei que ser infeliz e negativista, e a saida mais facil, afinal ser feliz e que da trabalho
ResponderEliminarAdoro O grito
Beijos
Paula
Rogério, hoje estou por aqui, a ler seus últimos posts. Perdoe a demora. Eu tento visitar a todos, mas enrolada nos compromissos profissionais vivo em dívida com meus queridos visitantes.
ResponderEliminarDecidi deixar aqui, nesse post, o meu comentário porque, confesso, nunca resisti ao Brecht e seu modo direto. Esse texto nos coloca de frente para o incômodo de viver;... para o choque entre a consciência e o "verso" da ação.
Um beijo, Rogério. Muito agradecida por suas visitas e comentários. Bom domingo! Inté!