28 setembro, 2011

O livro que estou a escrever está muito atrasado...

O Diogo não me larga. Eu não largo o Diogo. O sol me põe mole. O dia-a-dia tem pressão que não alivia. E os amigos me requerem.  As palavras e as páginas não me saem. Tenho que pôr mão nisto: vou ter que ser mais disciplinado e, entre outras coisas, estar menos aqui e menos a passear para comentar. Tem de ser... Vou ligar à editora, a comunicar que o rascunho do meu livro vai ter entrega adiada... Sobre nova data? Por enquanto, não digo nada.
PELAS RAZÕES DITAS VIREI AQUI DE VEZ EM QUANDO.- VÁ ESPREITADO

26 setembro, 2011

Pai à distância, sonhando com Maria Montessori...

...uma minha carta (pequenina parte), escrita em 26 de Junho de 1971.
Depois de a escrever, acho que sonhei com Maria Montessori (*)

118– “Pai à distância, sonhando com Maria Montessori” – As cartas para casa, as minhas e a de outros certamente, evitavam falar de qualquer acontecimento operacional. Nas cartas, a guerra pura e simplesmente não existia apesar de a sentirmos crescer. Para evitar qualquer deslize, as cartas deixaram até de referirem o dia-a-dia, mesmo nos dias em que os cheiros do planalto do Bié nos tomavam os sentidos e o sossego fosse promessa de paraísos. Eu e o Alma Atenta, passávamos nas cartas a falar, não de nós, mas daqueles a quem nossas cartas se dirigiam. Ele escrevia sobre a mulher e o filho, eu falava da mulher à minha mulher e das minhas filhas também a ela. Maridos e pais à distância, fazíamos por estar perto escrevendo como se estivéssemos logo ali, conversando. Não sabia do que Alma Atenta falava a não ser quando comentava comigo as respostas que ia tendo ao que ia escrevendo. Eu, no que escrevia, ia interrogando e adivinhando a resposta de como ia ela no emprego e elas na escola. A carta que depois vinha confirmava umas vezes e outras não o que pensara ao escrever. Sobre minhas filhas, repetia-me e dissertava longamente sobre as vantagens do ensino pré-primário e também dos riscos de um ensino desfasado do desenvolvimento da criança, daquele ensino que passa o tempo enchendo as suas cabecitas com conhecimentos antecipados e saberes fora da capacidade da experiência e uso, com o sacrifício do ensino das artes, do treino dos sentidos, do gosto pelos sons, pelas formas e pelos tons. Fazia frases sofisticadas e pretensiosas, umas bem construídas outras até ridículas, sobre tudo o me ocorria serem bons ou maus saberes e sobre pedagogias recomendáveis para nossas filhas. Nesse dia, depois de escrever, peguei num livro que tinha comprado já com ideia de o ler e comentar numa oportuna carta. Li-o de uma só rajada e, sem interromper os pensamentos que me suscitou, reiniciei outra carta. Seguiria no mesmo correio daquela outra que acabara de fechar? Minha Alma me aconselhou escrever e mandá-las separadas e espaçadas, podia nos dias seguintes me faltar o que dizer. E assim resolvi fazer. Escrevi “As nossas filhas… Sabes que a minha maneira de as amar, assim à distancia, se consubstancia no fervor e entusiasmo que agora ponho na leitura de um livro (que achado!) chamado “A Criança”, de Maria Montessori? (Eu e os livros, não é amor?)” e explicava-lhe a obra da autora, do seu método de ensino(*) dirigido a crianças da pré-primária, do seu sentido social e da criação de escolas – “Casas de crianças” – que institucionalizaram o seu uso referindo os países do Mundo onde tal aconteceu. E citava-lhe a frase transcrita: “O homem degeneraria sem a criança que o ajuda a renovar-se”. Não fechei a carta, prevenindo o poder acrescentar-lhe mais alguma coisa. Deitei-me e o Alma Atenta ainda escrevia. Com os olhos no teto, Minha Alma ia-me dizendo sem quebrar o silêncio “Vês?, não tens que te preocupar, tuas filhas farão de ti um homem novo”. Sorri e acho que foi sorrindo que adormeci. Nessa noite terei sonhado com Maria Montessori e as suas “Casas de Crianças”…
Página, ainda não numerada, do livro que estou a escrever
"Almas que não foram fardadas"

25 setembro, 2011

Homilias dominicais (citando Saramago) - 50

Ontem fui parco em palavras mas contava já com este espaço para equilibrar o que então me faltou falar e que não pode ser diluído no alinhamento irónico-poético da canção de Sérgio Godinho: "A vida é feita de pequenos nadas.".  Dois assuntos incontornáveis, mas ligados: O Alberto João e o "enriquecimento ilícito". Sobre o primeiro, "um pequeno nada" a outros igual só que excessivamente bronco e boçal. Filho da degeneração de Abril, faz percurso sustentado por perdões de dívida, reacções intempestivas bem apoiadas por interesses  (offshore da Madeira) que os sucessivos governos  não  afrontam, antes protegem. O homem até ficou (acho que terá ficado) admirado com eloquentes (e inesperados)elogios partidos da segunda figura do Estado. E porque as mesmas causas geram os mesmos efeitos, será eleito.
Sobre o segundo, foi preciso esperar (pelo menos) quatro anos para ver ser aprovada uma lei indispensável no combate à corrupção. Estranhamente pertence ao único partido que votou contra essa lei quem afirmou que Jardim já tinha acabado se o enriquecimento ilícito tivesse sido aprovado. O que é que a homilia de hoje tem a ver com estes pequenos nadas de que a vida é feita? Um "nada", certamente:
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HOMILIA DE HOJE
"Mas a realidade é esta: não temos um projecto de país. Vivemos ao deus-dará, conforme o lado de que o vento sopra. As pessoas já não pensam só no dia-a-dia, pensam no minuto a minuto. Estamos endividados até às orelhas e fazemos uma falsa vida de prosperidade. Aparência, aparência, aparência - e nada por trás. Onde estão as ideias? Onde está uma ideia de futuro para Portugal? Como vamos viver quando se acabarem os dinheiros da Europa? Os governos todos navegam à vista da costa e parece que ninguém quer pensar nisto, ninguém ousa ir mais além."
"(...) A tineta vem de longe. Quando informaram o rei D. João V do preço do carrilhão que iria ser instalado em Mafra, ele não se conteve e, com a sua ridícula prosápia de nouveau-riche, disse: “Acho barato. Comprem dois”. E, não há muitos anos, quando Portugal foi encarregado de organizar o campeonato europeu de futebol, que logo desgraçadamente não ganhou, alguém terá dito que precisaríamos de construir uns quantos estádios porque estávamos muito em baixo de instalações desportivas. Imagino o diálogo: “Quantos?”, perguntou o manda-chuva da modalidade, “Aí uns três ou quatro devem bastar”, respondeu o técnico, “Quais três? Quais quatro?” indignou-se o figurão, “Dez, doze é que hão-de ser, seríamos uns bons idiotas se não aproveitássemos os fundos europeus até lhe vermos o fundo ao saco”. Também neste caso alguém se enganou nas contas ou com elas nos enganou.
Onde as contas parece que batem certo é no número de pobres em Portugal. São dois milhões, segundo as últimas informações. Quer dizer, uma expressão mais da nossa histórica mania das grandezas…"
Mania das Grandezas In "Outros Cadernos de Saramago" - Abril de 2009

24 setembro, 2011

Sábado... Foi assim, a semana que hoje finda (9)

Aconteceram coisas importantes na semana? Sim, claro...  destaco que aprendi à minha custa que não devo comentar com a razão o que foi escrito com palavras de paixão... O resto? O Sérgio conta:



A vida é (mesmo) feita de pequenos nadas?

23 setembro, 2011

Segundo fontes próximas da NASA ... Parte III (final)

Resumo dos episódios anteriores: Na madrugada deste dia a NATO recebe aviso da NASA, logo passado ao Primeiro Ministro português de que, contrariamente ao previsto os destroços do satélite iriam cair sobre 26 localizações. A chamada interceptada por um escuta foi passada aos media e logo divulgada. O pânico instalou-se e o Conselho de Ministros foi convocado para tomar as medidas adequadas. Estas foram tomadas e comunicadas ao povo. O dia foi passado em grande alvoroço com toda a imprensa nacional e estrangeira a dar conta do sucedido e a emitir em continuo sem nada de objectivo para dar. Á noite aconteceu o inacreditável: os 26 fragmentos "encostaram" artisticamente às estátuas de Lisboa. Do outro lado do Tejo, o Cristo Rei, passou a ostentar uma parte enorme dos destroços e na entrada do estuário daquele rio, no Bugio, foi onde a parte mais pesada caiu. Inopinadamente o Primeiro Ministro português recebe uma chamada telefónica de Obama...

Obama não deixa dúvidas: a tralha e as estátuas passaram a estar sob controlo da sua administração

10.12 pm - Todos os ministros pararam de falar ao ver a cor, lívida, do rosto do seu primeiro. Este, percebendo ser alvo de tanta atenção esclareceu afastando ligeiramente o aparelho. - "É o Obama" - , disse. Até que a chamada foi passada. E ele ouvia com atenção redobrada. "Sim, presidente" seguiam-se atenciosos silêncios interpolados por mais "sins  presidente". Desligaram e o primeiro enfrentou o conselho, com todos os ministros em espera. E desenrolou: O Presidente diz que todo o bocado fragmentado é pertença do seu Estado. Que temos que fazer guarda militar apertada e que a protecção ao Bugio terá de ser feito pela marinha de guerra até à chegada da sua sexta esquadra. Diz que vem uma equipa da NASA e conselheiros do Pentágono...". Os ministros empalideceram menos o das finanças por este estar, coitado, já nesse estado. O Primeiro omitiu o clique que ouviu (sinal de que a conversa com o presidente americano estava a ser escutada por gente malvada...)
10.52 pm - Nova chamada dos estates, agora do Pentágono a esclarecer o engano: do presidente americano: por causa da nossa xifrineira confundiu o Bugio com a Ilha da Madeira. A esquadra americana já não vinha e que nós fizéssemos o cerco de protecção com os barcos que tivéssemos à mão... Cada ministro saiu para assegurar a parte que cabia ao seu ministério...

EFEITOS E SEQUELAS (PASSADAS 24 HORAS) 

Ninguém tinha a percepção das consequências dos estranho fenómeno. À hora da refeição era assim o balanço feito pela televisão. Balanço resumido, depois de acontecer o que nunca se tinha visto:
Efeitos sobre o turismo - Às primeiras hora do dia as agências de turismo foram assaltadas por faxes, chamadas e mails oriundos de todos os países do mundo fazendo reservas. Ao meio dia toda a capacidade hoteleira estava esgotada até ao outono de 2013. Entretanto, a meio da manhã, a ponte 25 de Abril estava intransitável com automóveis espanhóis estacionados a filmar o Cristo Rei agarrado ao seu grande bocado do satélite que se tinha despenhado... A baixa de Lisboa também tinha sido invadida e o transito não circulava...
Efeitos religiosos - O Papa Bento cancelou o protocolo da visita à Alemanha e estava reunido, há horas, com os consultores do Vaticano a analisar o significado da ocorrência e, em particular, de o ter calhado ao Cristo Rei aquele grande bocado... Dizia-se que os aparecimentos de Fátima ao pé do sucedido era milagre a ser esquecido... Outras igrejas cristãs emitiam comunicados ressaltando o santo significado e que os portugueses foram o povo escolhido e por isso devia ser protegido...
Efeitos culturais - A UNESCO tinha apelado a todas as organizações da cultura e aos intelectuais que formulassem propostas para prevenir que aquele novo património da estatuária portuguesa viesse a ficar protegido. Milhares de escritores e poetas mobilizaram-se para vir ver Fernando Pessoa e o Camões cada um com a parte do lixo cósmico com que as respectivas estátuas tinham sido "premiadas". Lobo Antunes recusou prenunciar-se por estar na parte final do livro que estava a escrever. Alguns tratadistas e investigadores afirmaram ter iniciado o estudo, nas obra literária da relação entre a poesia e a tecnologia...
Efeitos económicos e financeiros - A bolsa de Lisboa, que tinha aberto no vermelho, crescia como nunca se via. O PSI 20 registava um ganho de 40%. As agências de rating, perto do meio-dia, atribuíram o máximo da tabela (AAA) e previsões de crescimento sustentado da economia. Os credores estavam reunidos a acertar proposta de reestruturação da dívida. A Troika autodissolveu-se e Alberto João passou o resto do dia com inesperada alegria... 
Efeitos políticos - O Presidente da Republica, a abrir os noticiários da noite, veio fazer uma comunicação ao País: O povo Português estava salvo graças ao lixo cósmico e ao reconhecimento divino da importância da sua história. Afirmou, a finalizar, que a oposição não tinha qualquer razão ao considerar perda da independencia nacional o facto das estátuas estarem confiscadas pela Casa Branca, pois o EUA, no uso do seu direito continuava a ser dono de todos os fragmentos caídos do céu. As estátuas, por lhes estarem encastradas, eram meras sequelas do miraculoso impacto. Disse. E ainda não tinha acabado de o dizer já a sexta esquadra cercava o Bugio. As escutas tinham produzido efeito...  
     FIM (com muitas pessoas a desejarem que as coisas corram assim)

22 setembro, 2011

Segundo fontes próximas da NASA, o lixo cósmico vai cair em Portugal - Parte II

Resumo do episódio anterior: Na madrugada deste dia a NATO recebe aviso da NASA, logo passado ao Primeiro Ministro português de que, contráriamente ao previsto os destroços do satélite iriam cair sobre 26 localizações. A chamada interceptada por um escuta foi passada aos media e logo divulgada. O pânico instalou-se e o Conselho de Ministros foi convocado para tomar as medidas adequadas.

O satélite irá fragmentar-se e os seus 26 bocados por Lisboa irão ser espalhados

11.35 am - A reunião extraordinária do Conselho de Ministros, após a surpresa inicial, corria com decisões rápidas sobre o que havia a fazer: convocar a Protecção Civil; redigir um comunicado breve e tranquilizador; nomear dois ministros e restantes membros de uma task force para a emergência. O ponto mais discutido foi se deviam ou não dar conta das estranhas localizações. Uns diziam que sim, que tal mobilizaria para a colaboração das populações com a protecção civil. Outros defendiam o contrário, que os locais tinham risco limitado e que podia acontecer os fragmentos poderiam sofrer desvios de rota. O ministro da cultura chegou a admitir erros da NASA e levou fortes reprimendas dos ministros dos negócios estrangeiros e da defesa, para além de "à partes" várias e bem azedas. O ministro encarregue dessa e de futuras comunicações foi o das finanças, reconhecido que lhe foi o mérito da voz pausada e sonolenta. Terminado o conselho foi lido o comunicado, sem conferência de imprensa.
11.40 am - Já todas as televisões tinham passado ou tinham no ar entrevistas a especialistas ou pessoas bem informadas, sobre catástrofes várias e sobre o que era normal ou recomendável fazer. Uma estação ainda tinha a correr uma entrevista ao ilustre Professor, comentador domingueiro, que ia a sair de casa, mostrando um notável conhecimento em tudo o que tinha a ver com o que ia acontecer chegado a dissertar sobre o espectáculo esplendoroso que se adivinhava mais espectacular que as sessões de fogo de artificio realizadas pela municipalidade. Todas as estações estavam na rua. As entrevistas a gente importante estavam difíceis, pois tinham abandonado o pais. Restavam os populares. Uns diziam ser castigo dos céus. Outros, atarefados, diziam não saber de nada respondendo a olhar para as nuvens. Outros ainda, desesperados, diziam palavras impróprias desejando que todo o país fosse para o "galheiro". Um lugar de boa recolha de reportagem eram as igrejas, apinhadas de gente rezando e implorando, em cânticos, a intervenção divina.
02.00 pm - Os noticiários ficaram diluídos na enxurrada de pretensas noticias, recolhas de opiniões, programas sobre lixos cósmicos, antecedente de quedas inofensivas de outros satélites, entrevistas. No prédio do Rogérito, a vizinha do quarto andar estava desfeita por ter perdido a novela da tarde e a filha da Dª Esmeralda perguntava desesperada se os "Morangos com Açúcar" iam ser prejudicados. O Rogérito, atento, ia registado factos para futura redacção e, enquanto isso acontecia, a Protecção Civil reunia. A imprensa internacional dava destaque empolado e escolhiam homens de negócios nacionais, "de passagem" nesses países, para serem interpelados sobre este impacto na economia. Políticos responsáveis de todos os países da Comunidade Europeia manifestaram solidáriedade. Nenhum credor da divida soberana se prenunciou, mas as Agência de Rating agravaram a notação. As bolsas fecharam e a filha da Dª Esmeralda ficou sem os seus "Morangos...". O marido da vizinha do quarto andar barafustava aos gritos ouvidos em todo o quarteirão: "Se esta merda continua nem o Porto-Benfica vai dar..."

O CATACLISMO FENOMENAL, SURREAL...

09.45 pm - A noite estava quente, melhor que qualquer outra de Agosto, e o céu muito estrelado. De repente, um clarão de mil cores, de uma inusitada e nunca vista beleza cobriu, sem exagero, toda a área metropolitana de Lisboa. Parecia um dia colorido. Foram muitos minutos, não contados, mas os suficientes para toda a população desses locais infringirem as recomendações da Protecção Civil saindo à rua ou chegando à janela. Depois, inusitadamente e desafiando todas as leis da gravidade, foram aparecendo, brilhantes e soltando faíscas artísticas, de extraordinária beleza, como que bailando no ar e procurando, sem massa específica, o lugar onde poisar. Tudo em movimento lento. De cada uma que se ia separando do grupo e procurava seu poiso, sem qualquer impacto violento, se ouvia um oh da multidão mais chegada. Foi assim, com o fragmento que se alojou por baixo da mão levantada da estátua de Fernando Pessoa, foi assim que se passou com a que se foi estatelar por baixo da espada da estátua de Camões. Em Belém, o monumento aos descobrimentos, foi contemplada por mais de um fragmento. Levou dois ohs de espanto, da multidão: um pedaço de razoável volume veio a calhar ao Infante D. Henrique; outro pulverizou a esfera armilar, empunhada por Pedro Nunes, colocando-se no seu lugar. Os fragmentos iam, assim, não caindo mas poisando, um a um em cada estátua de Lisboa. Um fragmento de entre os de grandes dimensões mas que não parecia pesado, veio colocar-se entre os braços abertos do Cristo Rei enquanto outro se ia instalar sob a pata levantada, no ar, do cavalo de D. José I, em pleno Terreiro do Paço. Caíram 25 pedaços, faltava o último: o que fizera soltar um ohoooo prolongado, quando as suas coordenadas foram avisadas pela NASA. Ouviu-se então um tremendo ruído, um uivo (quase grito) e perante multidões de milhões dispersas, de Cascais a Vila Franca e de Almada a Caneças, o enorme fragmento desviou-se do Palácio de São Bento e foi estatelar-se no Bugio, fortificação de defesa da barra do Tejo, construída no reinado dos Filipes (período em que Portugal perdera a independência e fora província espanhola). Os que conheciam as coordenadas originais, Ministros, Almirantes e Generais, do Governo e da NATO, já não se surpreendiam. Apenas se interrogavam sobre a razão de estar incorrecta aquela localização...
10.00 pm - A população dava vivas, largas à sua alegria e os que partiram preparavam-se para, aliviados, regressar. Os ministros, outra vez reunidos, nem lembraram o silêncio do Presidente em todo o tempo calado e ausente. Estava o secretário de estado da cultura a comentar a estética impecável das estátuas e a interrogar-se sobre o significado de um Cristo Rei que agora parecia querer mostrar à cidade um monte de aço artísticamente retorcido, quando o télélé do Primeiro Ministro tocou, estridente. "Tô", disse sem ter o cuidado de saber, previamente, quem é que estava do outro lado. A voz disse, num inglês de sotaque bem vincado e pronúncia marcada: "Vou passar ao presidente Obama" e ele ficou à espera que a chamada fosse passada...


Termina amanhã, com a descrição dos efeitos e sequelas

21 setembro, 2011

Segundo fontes próximas da NASA, o lixo cósmico vai cair em Portugal - Parte I

4.00 am  - À vista desarmada, no céu, não se via nada

4.05 am - O Almirante acordou assarapantado com o telemóvel reservado a tocar iluminado e a vibrar. Sem se alarmar, pois um Almirante, comandante da NATO, está treinado para não ficar alarmado, atendeu. A voz do outro lado, identificou-se. Era da NASA, do Centro Espacial e deu ao Almirante uns reduzidos 15 minutos para reatarem contacto na sala de comando operacional com todo o comando. O aviso era Laranja. O Almirante desligou, pegou no dispositivo de alerta e carregou no botão laranja. (se carregasse no vermelho, o alarme era geral e a sirene em grande chinfrineira tocaria até que a fizesse calar e não era o caso)
4.21 am - Todo o comando estava reunido, ensonado, mal vestido e pronto para o que desse e viesse. Foi reatado o contacto e passado a alta voz. A consola de visualização via satélite foi ligada e a voz que se ouvia pausada, ia dando as informações. O satélite que estava em queda e há dias a ser monitorizado, iria cair em Portugal. Foram dadas as coordenadas para 26 posições, tantas quantos os bocados fragmentados do lixo cósmico resultante do satélite UASR. O comando foi encarecidamente aconselhado ao sigilo mais reservado e foram dadas instruções preliminares nomeadamente que voltassem a estar reunidos, passadas três horas, para a confirmação das rotas e locais de colisão. Enquanto as coordenadas eram dadas as localizações correspondentes eram mostradas. Por cada uma, um coro de sonoro oh e noutra, a última, um ooooh!
7.30 am - O Primeiro-ministro folheava ávido os jornais da manhã procurando reacções à entrevista da noite anterior. A cada texto e foto, um sorriso largo. Quando passava a página, deparou-se com a da Ciência com a notícia da queda do satélite. Leu, (com o sentimento de estar a perder tempo): 26 bocados a cair entre o Canadá e a América do Sul e o maior bocado do tamanho de um autocarro. "Pudesse eu dirigir-lhes a rota e haveria de escolher acertar em cima de quem me anda a chatear. O maior, para já, devia cair em cima do Alberto João ou todos em conjunto na Grécia, talvez a ilha se afundasse de vez. Pimba e a crise acabava", era o que ia pensando... quando o télélé lhe interrompe o sorriso alarve e pouco televisivo que o pensamento lhe provocara. Antes de atender, leu quem ligava. "NATO - Oeiras". "Esta gente não tem maneiras" Vociferou incomodado pela interrupção da refeição matinal. Atendeu. Foi ouvindo e dizendo "Sim, comandante" e a dada altura, por gestos, pediu à sua prestimosa esposa que lhe desse algo que escrever e disse para quem lhe ligara "estou pronto para anotar, pode dizer". E ia anotando no mais fino linho branco da toalha rendada, as coordenadas das 26 quedas. Depois, seguiram-se recomendações e desligaram-se. Olhou a mulher e disse: "temos mais chatice". Vestiu o casaco e saiu para de logo voltar e recortar a parte da toalha onde tinha apontado as coordenadas. A mulher ficou calada a olhar consternada o buraco que ele tinha deixado.
7.40 am - Com a mão trémula ligou o número do costume e pouco esperou até ser atendido pela Agência Cliente. "Está, é o Fulano-de-Tal? Tenho aqui gravada uma escuta bestial" e deu todos os detalhes da escuta que ao Primeiro-ministro tinha feito toda ela a preceito só falhando as coordenadas de localização, em estado de impossível audição. Do outro lado ouviu "Grande furo". E era. De pronto acertaram os honorários daquele grande negócio...
7.58 am - Com intervalo de poucos segundos, as televisões e rádios suspendiam os programas para dar a notícia, que oriundas da mesma agencia, tinham texto igual. O lixo cósmico iria cair em Portugal e as fontes eram "próximas da NASA". Todos, sem excepção, prometeram próximos desenvolvimentos.
9.30 am - As agências não paravam. As de turismo e as de aviação. Por telefone, net e ao balcão. Uns queriam sair, com receio de o lixo nos toutiços lhes cair. Outros queriam entrar. Destes uns eram jornalistas outros turistas que tinha reservado destinos exóticos e queriam vir para Lisboa fotografar lixos cósmicos. Dos portos de recreio saiam as primeiras embarcações e iates com destino a outras partes onde o risco não se previa. Eram muitos os que se lamentavam do TGV ainda não existir. Era já difícil outros meios para poder fugir. Os motoristas de carros de luxo faltaram ao emprego... Tudo e todos estavam em desassossego. Excepto a vizinha do quarto andar, do prédio do Rogérito, a Dª Esmeralda e o dito.
9.40 am - A reunião de emergência do Conselho de Ministros começara, com atraso de 40 minutos (à espera de 3 ministros apanhados no aeroporto a partir para parte incerta). O Primeiro-ministro expôs a situação lamentando a fuga de informação e o clima de pânico que se estava a instalar. Abriu o farrapo da toalha de branco linho onde havia apontado as coordenadas enquanto o ministro da educação abriu o google earth. O Primeiro lia e o ministro procurava. Por cada local encontrado, um coro ministerial de sonoro oh e no último a ser encontrado um ooooh mais prolongado! No fim das 26 localizações, todos estavam prostrados sem palavras, eles, que tão palavrosos são...

Continua

NOTA DO REDACTOR: Qualquer possível aderência deste texto à realidade ou à evolução dos acontecimentos são meras e "trágicas" coincidências. A ocorrerem em qualquer parte e com vitimas, a continuação deste post será substituída por outro mais adequado.  

20 setembro, 2011

"Morangos com Açúcar" - 2

O titulo deste post é só para poder ser relacionado com um outro com o mesmo nome. Faço-o porque esse foi-me inspirado não só por uma professora aposentada, (minha querida amiga, hoje devotada a uma especialização em Literatura Infantil, escreve para crianças e está ligada a uma biblioteca escolar), como também a um post que comentei. Como resultado desse comentário o Vox Nostra (*) editou o post "os beneficios da leitura" de que reproduzo o texto integral. Antecipo que já corrigi o imerecido tratamento por colega, pois não sou (com pena minha) professor... 

"A propósito do comentário do colega Rogério Pereira ao post “Mais de metade dos jovens portugueses valorizam a leitura”, que considero muito relevante no que ao modo de se ‘fazer leitura’ diz respeito, gostaria de reforçar a importância que todos os projetos integrantes do PNL tiveram face à angariação e formação de leitores.
Passados 5 anos da sua existência, vários estudos (cf., por ex., site PNL e o PISA 2009) confirmam que efetivamente se angariaram mais leitores, uns mais proativos do que outros, com certeza, mas todos mais leitores. Isto é, leitores capazes de ir engrandecendo o seu capital cultural e educativo. Note-se que o PISA 2009 confirma um aumento significativo da literacia da leitura – Portugal é já apontado como o 4º pais da OCDE que mais progrediu. Esta preocupação também foi um dos assuntos referidos na “V Conferência Internacional Ler + Ler melhor”, e ter-se apontado uma estimativa de 1 milhão e oitocentos mil leitores conquistados também me parece ser uma afirmação bastante consistente e a ter em conta.
Claro que abordar a questão da leitura e do como ela é efetuada, sobretudo em contexto escolar é um assunto de suma importância e questionável, pois, não basta, para se ‘fazer’ leitores, ler por ler. Relembremos que o bem conhecido Pinóquio aprendeu a ler mas nunca se tornou leitor. É necessário que associada ao momento da leitura literária, ou não (mas de qualidade), se crie o desejado momento de mediação, de interpelação e de inferência máxima para que a intervenção do leitor seja a de um leitor consciente e desafiador face aos múltiplos códigos que o texto encerra.
Esperemos que as decisões do atual governo referentes ao futuro da Rede de Bibliotecas Escolares tenham em consideração o muito que já se fez e se faz em prol de uma leitura de desafios na formação do ser social. Pois, e como já o afirmou a Dra Teresa Calçada (Comissária-Adjunta do PNL e responsável pela RBE), é nossa obrigação formar leitores e ter a consciência de que “ler mais faz ler melhor e que ler melhor faz ler mais”Gisela Silva
Resta aguardar que os desejos de Gisela se cumpram... e que os organismos aqui listados sejam poupados ou as suas atribuições entregues a outras instituições.

(*) Sigo este blogue há mais de um ano. Como cidadão, sinto-me obrigado a acompanhar trabalho sério e dedicado à profissão de professor. Como bloguer tenho-me inspirado nesse trabalho e publicado vários textos nomeadamente "Geração Wikipédia" além de outros que figuram no meu baú "Educação e Jovens"

19 setembro, 2011

Metamorfose - V (Pedra, depois pó e finalmente vida)


Olhei a pedra
Fria, Estúpida, Parada
Calada
De tanto a olhar, julguei-a bela
transformei-me nela
Frio, Estúpido, Parado
Calado
Sem destino sequer
de pedrada no charco
Sujeito à degradação do relento
e à erosão do vento
em breve serei pó

Não olhes para mim, assim
Mexe-te, ao menos

A pouco e pouco se mexeram
e num repente
o Mundo assistiu
ao despertar das pedras
_________________Rogério Pereira

NOTA DO AUTOR:  A parte escrita a verde, é uma acréscimo posterior à edição original. Segundo os primeiros comentários, não se espera de mim mensagens negativas nem derrotistas. Eu concordei e como um poema não se emenda...  

18 setembro, 2011

Homilias dominicais (citando Saramago) - 49


Uma amiga, num comentário à minha anterior homilia, escreveu: "Admirar José Saramago, para mim, não será razão válida para concordar com tudo o que ele disse e escreveu.". Tem razão. Não concordei com ele em várias coisas e em algumas até se enganou nas expectativas que tinha (e que por as ter também as ampliou, a quem o leu). É o caso da frase com que encerra este escrito seu. Mas se discordo dele numa frase, num paragrafo ou num texto - inteiro que seja -, logo vêm a seguir mil frases, mil parágrafos ou mil textos onde a concordância, para além de poder (ou não) existir, me faz pensar (ou fazer entrar em desassossego) que é coisa que tende a desaparecer mesmo a quem teria, por dever de oficio, a obrigação de o fazer:

HOMILIA DE HOJE
"Grande alvoroço nas redacções dos jornais, rádios e televisões de todo o mundo. Chávez aproxima-se de Obama com um livro na mão, é evidente que qualquer pessoa de bom senso achará que a ocasião para pedir um autógrafo ao presidente dos Estados Unidos é muito mal escolhida, ali, em plena reunião da cimeira, mas, afinal, não, trata-se antes de uma delicada oferta de chefe de Estado a chefe de Estado, nada menos que As veias abertas da América Latina de Eduardo Galeano. Claro que o gesto leva água no bico. Chávez terá pensado: “Este Obama não sabe nada de nós, quase que ainda não tinha nascido, Galeano lhe ensinará”. Esperemos que assim seja. O mais interessante, porém, além de se terem esgotado As veias na Amazon, as quais passaram num instante de um modestíssimo lugar na tabela de vendas à glória comercial do “best-seller”, de cinquenta e tal mil a segundo na classificação, foi o rápido e parecia que concertado aparecimento de comentários negativos, sobretudo na imprensa, tratando de desqualificar, embora num caso ou noutro com certos matizes benevolentes, o livro de Eduardo Galeano, insistindo em que a obra, além de se exceder em análises mal fundamentadas e em marcados preconceitos ideológicos, estava desactualizada em relação à realidade presente. Ora, As veias abertas da América Latina foi publicada em 1971, há quase quarenta anos, portanto, a não ser que o seu autor fosse uma espécie de Nostradamus, só com um hercúleo esforço imaginativo seria capaz de adiantar a realidade de 2009, tão diferente já dos anos imediatamente anteriores. A denúncia dos apressados comentadores, além de mal intencionada, é bastante ridícula, tanto como o seria a acusação de que a História verdadeira da conquista da Nova Espanha, por exemplo, escrita no século XVII por Bernal Díaz del Castillo, abunda, também ela, em análises mal fundamentadas e em marcadíssimos preconceitos ideológicos. A verdade é que quem pretender ser informado sobre o que se passou na América, naquela América, desde o século XV, só ganhará em ler o livro de Eduardo Galeano. O mal daqueles e outros comentadores que enxameiam por aí é saberem pouco de História. Agora só nos falta ver como aproveitará Barack Obama da leitura de As veias abertas. Bom aluno parece ser."
José Saramago, in Eduardo Galeano

17 setembro, 2011

"Morangos com Açúcar"

Afagou com os dedos (decididos) os contornos da secretária e depois, com a palma da mão, o tampo como se acariciasse alguém muito íntimo. O olhar, sem vestígios de resignação, percorreu a vazia sala. Estava ali sentada, mais uma vez, já depois de estar aposentada. Agora à espera, naquela sala parecida a tantas. Quantas, sem conta, conhecera na vida de professora? Os rostos e os nomes dos alunos, com esforço, juraria os ter na memória bastando para tal reconstruir os locais onde leccionou. Ia pensando neles, enquanto continuava olhando em volta: a porta de entrada (das que se lembrava, deixava-as sempre abertas); as carteiras em fila; as paredes com desenhos, pinturas e colagens. O quadro e, por cima dele, as ausências de crucifixos e das sinistras fotos dos governantes de tempos idos. Levantou-se e aproximou-se da janela para olhar o pátio através dela. Na proximidade do Outono, folhas amareladas atapetavam o piso cimentado. com traçados de jogos meio apagados O vento, dolente, apenas levantava uma ou outra folha  como se todas as outras, em maioria, não fossem dignas de voar. Sentiu-se, por momentos, a folha que voava  pois a alma poética conduziu-a a essa identificação, mas logo se arrependeu desse sentir, e sorriu ao ver as folhas que voavam juntar-se às outras. "a classe volta a unir-se", pensou com ironia. Encostou a testa ao vidro calcando as rugas, pequenas mas firmes, contra à frescura da janela. Esteve assim tempos sem fim e sem se dar conta de que o pátio, lentamente, se ia enchendo de gente. Gente muito jovem, que conversava e gesticulava com tique da telenovela. Vestindo como na telenovela. Sorrindo como na telenovela. Apenas um pensamento lhe acudiu: como seriam eles, confrontados entre as dificuldades da vida e a futilidade dos dias? De repente a voz de quem esperava interrompeu o que pensava: - "Doutora, em principio pode continuar o seu trabalho. Apesar do Plano Nacional de Leitura ser um organismo a eliminar, ir-se-á  assegurar a actividade, não sabemos ainda em que termos... Ligue amanhã, pode ser?" Claro que podia ser...  Saiu. Nem por um só momento lhe atormentou a incerteza da continuidade do projecto que ia abraçar. Podia lá ser depois dos resultados já alcançados. Que pena, deixar a juventude à mercê dos morangos... com açúcar.... E com este pensamento encaminhou-se para casa, decidida a telefonar no dia seguinte.

16 setembro, 2011

Mia Couto, de inteiro corpo (não escondido por trás da obra que lhe admiramos)

No blogue "O Cheiro da Ilha", a Maria colocou um post: Mia Couto falando "sobre o medo". Resolvi edita-lo aqui. Outros amigos, (alguns recentes) tinham postado também sobre obra sua dedicando-lhe a merecida atenção. Atenção que agora reclamo para as suas palavras (a ouvir até ao fim)

:"O cidadão que o escritor é não pode ocultar-se por trás da obra. Ela, mesmo importante, não pode servir de esconderijo para dar ao autor uma espécie de boa consciência graças à qual ele poderia dizer que está ocupado e não tem tempo para intervir na vida do país."
Palavras do meu mestre, que Mia Couto segue à risca. Que outros lhe sigam o exemplo. Mais do que nunca o mundo disso está carente.

15 setembro, 2011

Redacções do Rogérito (7)

Tema de hoje à escolha: "O SNS faz hoje 32 anos" ou "Da escola: da rede e das  dimensões que contam" (o miúdo usou os dois)

 Hoje foi o meu primeiro dia de escola e estou muito contente com tudo o que aconteceu nesta escola que é muito nova a estrear e tem muitos corredores e salas para a gente passear o que se revela muito eficaz pois as longas caminhadas deixa as pessoas pequenas cansadas e quando chegamos à sala o que apetece é ficar quieto e calado o pior é que muitos foram dar à sala errada e tiveram que fazer o caminho todo ao contrário e quando chegaram já a aula tinha acabado de tão grande e comprido aquele edifício ser até parece o hospital onde visitei a Dª Esmeralda onde ela ficou internada e quando chegámos para a ver já a hora da visita tinha acabado e nesta escola é quase igual   só diferente diferente foi o professor de matemática que mandou a apresentação à fava e entrou logo na revisão da matéria dada no ano passado com explicações e demonstrações sobre cálculo de percentagens disto e daquilo e até dos gastos na saúde que á um serviço já crescido que faz hoje anos e ele para desfazer desenganos até explicou que andam para aí a enganar com a matemática das percentagens dos custos e sobre aquilo que se gasta em percentagem da produção da riqueza pois o valor da produção sendo muito pequenino para o que se gasta dá uma percentagem grande e um outro país com uma produção de riqueza grande dá uma percentagem de despesa mais pequena e assim se comparando um país pobre com um mais rico fica a despesa do pobre a parecer muito maior do que a do rico e o professor disse a finalizar que o que conta é o que cada pessoa gasta e chamou-lhe gastos "per capita" que é um nome fácil de decorar e até bem catita e que se usado Portugal passa a ser menos gastador do que se faz supor pois naquela explicada percentagem ficamos à frente da Dinamarca da Holanda da Suécia e da Espanha mas se for o gasto por capita ficam eles a ser mais gastadores coisas que não são faladas pelos jornalistas e outros senhores e quando acabar a redacção vou dizer à Dª Esmeralda que não precisa de ficar desolada com os gastos que o Estado teve com a doença dela e vou dizer-lhe também que o meu professor de matemática é fixe e não se chama Soares e ainda que o pior ainda está para vir na minha escola se o aquecimento não funcionar com o frio que vai lá fazer e com as correntes de ar.

CONSELHO - Para quem não se adapta a um texto não pontuado, pode consultar o anexo onde as questões abordadas têm igual nexo (e são fáceis de ler e de entender): Em anexo: Documento do Observatório das Desigualdades sobre gastos com a saúde. Se tal dificuldade for de um professor, pode distribui-lo aos alunos como exercício de pontuação (fará um bom serviço à Nação). Boa?

14 setembro, 2011

Avisos que faltam

Sem que tenham perguntado dou a resposta quanto à pergunta se concordo ou não com os avisos, quase todos alertando para os malefícios do tabaco: concordo, pois. Mas generalizo: todo o vicio devia ter alerta quanto ao respectivo malefício. Como exemplo não falo do café, onde as opiniões se dividem, mas do jornal matinal. Consumido com o café. Todos os jornais deviam em cabeçalho (ou rodapé) anunciar em caixa alta: "Ler esta porcaria mata a cidadania" ou então "Não procure o omitido, publicá-lo pode produzir outro resultado"... 

Se o prazer de um cigarro nos faz tanto mal, que prazer se há-de ter em ler um jornal? - Haver quem saiba assim escrever...

12 setembro, 2011

Em Braga, ninguém "delirou". Os discursos foram bem arrumadinhos, iguais e por isso previsíveis. Mal de mim, sonhando com impossíveis

"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar"
Este post devo-o a Gisa, a uma sua amável prenda. Amável e oportuna. Galeano fala-nos do que ansiamos ouvir... Obrigado Gisa (ela é capaz de não saber o que se passou em Braga. Se me perguntar, dir-lhe-ei: Não se passou nada)

11 setembro, 2011

Homilias dominicais (citando Saramago) - 48

Desde sexta-feira que se escreve sobre a data. Assim, não me faltariam textos para inspirar palavras próprias. Mas quais? Que dizer, que não tenha sido dito antes? E depois, havendo datas semelhantes para referir horrores diferentes, como passar icólume sob os muito prováveis impropérios de quem estivesse disposto a julgar o meu desvio de atenção para coisas consideradas menores? Ainda pensei em passar ao lado do significado directo da data e aproveitar este dia para colocar um poema de Bob Dylan - "Its Alright, Ma (i´m Only Bleeding)". Tudo me pareceu apropriado mas a escolha recaiu sobre este texto de Saramago, escrito 8 dias depois do 11 de Setembro de 2001: 

HOMILIA DOMINICAL 
Algures na Índia. Uma fila de peças de artilharia em posição. Atado à boca de cada uma delas há um homem. No primeiro plano da fotografia um oficial britânico ergue a espada e vai dar ordem de fogo. Não dispomos de imagens do efeito dos disparos, mas até a mais obtusa das imaginações poderá "ver" cabeças e troncos dispersos pelo campo de tiro, restos sanguinolentos, vísceras, membros amputados. Os homens eram rebeldes
Algures em Angola. Dois soldados portugueses levantam pelos braços um negro que talvez não esteja morto, outro soldado empunha um machete e prepara-se para lhe separar a cabeça do corpo. Esta é a primeira fotografia. Na segunda, desta vez há uma segunda fotografia, a cabeça já foi cortada, está espetada num pau, e os soldados riem. O negro era um guerrilheiro.

Algures em Israel. Enquanto alguns soldados israelitas imobilizam um palestino, outro militar parte-lhe à martelada os ossos da mão direita. O palestino tinha atirado pedras. Estados Unidos da América do Norte, cidade de Nova Iorque. Dois aviões comerciais norte-americanos, seqüestrados por terroristas relacionados com o integrismo islâmico, lançam-se contra as torres do World Trade Center e deitam-nas abaixo. Pelo mesmo processo um terceiro avião causa danos enormes no edifício do Pentágono, sede do poder bélico dos States. Os mortos, soterrados nos escombros, reduzidos a migalhas, volatilizados, contam-se por milhares.

As fotografias da Índia, de Angola e de Israel atiram-nos com o horror à cara, as vítimas são-nos mostradas no próprio instante de tortura, da agónica expectativa, da morte ignóbil. Em Nova Iorque tudo pareceu irreal ao princípio, episódio repetido e sem novidade de mais uma
catástrofe cinematográfica, realmente empolgante pelo grau de ilusão conseguido pelo engenheiro de efeitos especiais, mas limpo de estertores, de jorros de sangue, de carnes esmagadas, de ossos triturados, de merda. O horror, agachado como um animal imundo, esperou que saíssemos da estupefacção para nos saltar à garganta. O horror disse pela primeira vez "aqui estou" quando aquelas pessoas saltaram para o vazio como se tivessem acabado de escolher uma morte que fosse sua. Agora o horror aparecerá a cada instante ao remover-se uma pedra, um pedaço de parede, uma chapa de alumínio retorcida, e será uma cabeça irreconhecível, um braço, uma perna, um abdómen desfeito, um tórax espalmado. Mas até mesmo isto é repetitivo e monótono, de certo modo já conhecido pelas imagens que nos chegaram daquele Ruanda-de-um-milhão-de-mortos, daquele Vietname cozido a napalme, daquelas execuções em estádios cheios de gente, daqueles linchamentos e espancamentos daqueles soldados iraquianos sepultados vivos debaixo de toneladas de areia, daquelas bombas atómicas que arrasaram e calcinaram Hiroshima e Nagasaki, daqueles crematórios nazis a vomitar cinzas, daqueles camiões a despejar cadáveres como se de lixo se tratasse.

De algo sempre haveremos de morrer, mas já se perdeu a conta dos seres humanos mortos das piores maneiras que seres humanos foram capazes de inventar. Uma delas, a mais criminosa, a mais absurda, a que mais ofende a simples razão, é aquela que, desde o princípio dos tempos e das civilizações, tem mandado matar em nome de Deus. Já foi dito que as religiões, todas elas, sem excepção, nunca serviram para aproximar e congraçar os homens, que, pelo contrário, foram e continuam a ser causa de sofrimentos inenarráveis, de morticínios, de monstruosas violências físicas e espirituais que constituem um dos mais tenebrosos capítulos da miserável história humana. Ao menos em sinal de respeito pela vida, deveríamos ter a coragem de proclamar em todas as circunstâncias esta verdade evidente e demonstrável, mas a maioria dos crentes de qualquer religião não só fingem ignorá-lo, como se levantam iracundos e
intolerantes contra aqueles para quem Deus não é mais que um nome, nada mais que um nome, o nome que, por medo de morrer, lhe pusemos um dia e que viria a travar-nos o passo para uma humanização real. Em troca prometeram-nos paraísos e ameaçaram-nos com infernos, tão falsos uns como os outros, insultos descarados a uma inteligência e a um sentido comum que tanto trabalho nos deram a criar.

Disse Nietzsche que tudo seria permitido se Deus não existisse, e eu respondo que precisamente por causa e em nome de Deus é que se tem permitido e justificado tudo, principalmente o pior, principalmente o mais horrendo e cruel. Durante séculos a Inquisição foi, ela também, como hoje os taliban, uma organização terrorista que se dedicou a interpretar perversamente textos sagrados que deveriam merecer o respeito de quem neles dizia crer, um monstruoso conúbio pactado entre a Religião e o Estado contra a liberdade de consciência e contra o mais humano dos direitos: o direito a dizer não, o direito à heresia, o direito a escolher outra coisa, que isso só a palavra heresia significa.

E, contudo, Deus está inocente. Inocente como algo que não existe, que não existiu nem existirá nunca, inocente de haver criado um universo inteiro para colocar nele seres capazes de cometer os maiores crimes para logo virem justificar-se dizendo que são celebrações do seu poder e da sua glória, enquanto os mortos se vão acumulando, estes das torres gémeas de Nova Iorque, e todos os outros que, em nome de um Deus tornado assassino pela vontade e pela acção dos homens, cobriram e teimam em cobrir de terror e sangue as páginas da História. Os deuses, acho eu, só existem no cérebro humano, prosperam ou definham dentro do mesmo universo que os inventou, mas o "factor Deus", esse, está presente na vida como se efectivamente fosse o dono e o senhor dela. Não é um deus, mas o "factor Deus" o que se exibe nas notas de dólar e se mostra nos cartazes que pedem para a América (a dos Estados Unidos, não a outra...) a bênção divina. E foi o "factor Deus" em que o deus islâmico se transformou que atirou contra as torres do World Trade Center os aviões da revolta contra os desprezos e da vingança contra as humilhações.

Dir-se-á que um deus andou a semear ventos e que outro deus responde agora com tempestades. É possível, é mesmo certo. Mas não foram eles, pobres deuses sem culpa, foi o "factor Deus", esse que é terrivelmente igual em todos os seres humanos onde quer que estejam e seja qual for a religião que professem, esse que tem intoxicado o pensamento e aberto as portas às intolerâncias mais sórdidas, esse que não respeita senão aquilo em que manda crer, esse que depois de presumir ter feito da besta um homem acabou por fazer do homem uma besta. Ao leitor crente (de qualquer crença...) que tenha conseguido suportar a repugnância que estas palavras provavelmente lhe inspiram, não peço que se passe ao ateísmo de quem as escreveu. Simplesmente lhe rogo que compreenda, pelo sentimento se não puder ser pela razão, que, se há Deus, há só um Deus, e que, na sua relação com ele, o que menos importa é o nome que lhe ensinaram a dar. E que desconfie do "factor Deus". Não faltam ao espírito humano inimigos, mas esse é um dos mais pertinazes e corrosivos. Como ficou demonstrado e desgraçadamente continuará a demonstrar- se.

José Saramago, "Factor Deus" in "El Pais" e PÚBLICO - 19.Set.2001

10 setembro, 2011

Sábado... Foi assim, a semana que hoje finda (9)

Nem imaginam o que fiz por aqui... Regresso amanhã, para a minha habitual homilia
(Saudades vossas? Sim!, como não as ter?...)
Foto da (minha) Teresa

05 setembro, 2011

Não há lugar para qualquer retiro espiritual. Mas um curto interregno não me fará nada mal...

Imagem, hoje, às 00,30 horas
Sem sogra nem neto. Só nós dois. Contarei (se tiver para contar) depois...
- Por várias razões (ditas aqui e aqui) o tempo não será de simmples devaneio -

04 setembro, 2011

Homilias dominicais (citando Saramago) - 47

"Ninguém deve contentar-se com o que lhe dizem. Deve averiguar se é verdade. Saber se é a única verdade e compará-la com a verdade dos demais. Há que procurar sempre o outro lado de tudo".
In José Saramago nas Suas Palavras

03 setembro, 2011

Sábado... Foi assim, a semana que hoje finda (9)

As ideias, feixes de luz necessários, não se têm confrontado.
O pior: se deixarem de existir a escuridão será completa

No plano pessoal - A semana não correu mal. Despertei ódios e paixões que é sinal de continuar vivo, fugir ao banal e provocar desassossego...

Acontecimentos relevantes - Confirmaram-se todas as suspeitas: o que se diz, no contexto de um gesto democrático (uma eleição), é para fazer exactamente o contrário logo passada a votação. Confirma-se que as propaladas gorduras do Estado estão no lado errado das própriamente ditas. Constata-se que as únicas propostas claras para estimular a economia partem das organizações sindicais ao reclamarem aumentos salariais (parece ironia mas, face ao desemprego, se o poder de compra não se reforça, quem vai comprar o que se produz? E vale a pena produzir aquilo que não se vende?). Confirma-se que as privatizações são para acontecer e que a não taxação das fortunas é para dar confiança ao capital de que podem comprar, sem risco... 

Conceitos adquiridos:  RNB - Rendimento Nacional Bruto

Descobertas: Guardo o dia de hoje para o efeito (vou àquela Festa que se diz não haver tão bela como ela). Para já conto com uma: esta

02 setembro, 2011

“A semente do meu comunismo vem de uma pergunta que ao longo do tempo se renova: Por que há pessoas que nascem sem nada, castigadas pela miséria e pela fome e outras que nascem com tudo e com a possibilidade de se desenvolver intelectualmente?”

“Se é verdade que, como dizem, o capitalismo controla grande parte do mundo, bem, esse capitalismo é o responsável por tanta escravidão, tanta fome e tanta mortalidade infantil.”
“Sim, a direita existe, sem dúvida, e como existe! E com ela o capitalismo, que todo o tempo vive dizendo que não existe mais esquerda.”

“Do jeito que vão as coisas, se fosse verdade o que não é verdade, quero dizer, se fosse verdade que não há mais esquerda, teríamos que inventá-la urgentemente!”
Foto e texto (parcial) roubados ao "cantigueiro"



01 setembro, 2011

Caminhos cruzados...

As linhas traçadas cruzam-se, sem se tocar, com as que vinham a ser seguidas e apontam para um rumo que se diz ser inevitável. Promete-se, com a correcção da trajectória, vida mais alta e adequada, sem se dizer se mais justa ou mais feliz. Em baixo, o povo dorme. Apenas a estreitos momentos se lhe apontam os sofrimentos. Pode haver aproximação de caminhos? Pode haver diálogo e cedências parte a parte? Não, pois são tão divergentes nos sentidos, desiguais os objectivos e diferentes os que ganham por serem percorridos.
Que fará o povo adormecido quando acordar? Que fará quando perceber que o caminho iluminado na imagem não é mais que uma enganosa  miragem?
Mas o outro que se vinha seguindo não iria acabar mal? Não se sabe, mal se tinha iniciado e já estava a ser desviado, iluminando-se o outro. Uma coisa é sabida: o caminho interrompido foi iniciado pelo povo. O outro. o que agora se está seguindo, poucos se lembram como, quando e por quem foi iniciado. Talvez ao longo do tempo, sem que seu inicio fosse notado. Os que isso têm presente continuaram a lutar... e mantêm a esperança de que os caminhos que Abril abriu se cumpram..
(Imagem retirada daqui)

AVISO: O texto, quase todo ele em sentido figurado, não é um ensaio para regresso a tempos idos onde a mensagem tinha de ser cifrada. Foi mera opção do autor. Desculpem-no por favor