30 junho, 2019

Dominical liturgia [citando Sophia] - 23



Não, a foto não é de Sophia. A foto é da Lídia Borges. Ela tem ocupado este meu espaço com a poesia que escreve e hoje prometi-lhe que a traria aqui. Transcrevo um comentário que ela me deixou no domingo passado, a propósito dessa liturgia onde se ouviam vozes de Sophia e Jorge de Sena. 
«Poesia maravilhosa, densa, profunda, verdadeira, a dizer um tempo em que tudo estava ainda por fazer e tudo era possível, porque possível ainda a autenticidade da determinação em mudar. Havia um país inteiro a sonhar o mesmo sonho. Isso mudou e a Poesia ressentiu-se. Anda agora dispersa, à procura de si própria, num mundo onde os sistemas políticos, jurídicos e afins deixaram de responder às necessidades do homem comum e passaram a servir um deus maior que é o dinheiro. Gostava de escrever poemas dizendo que o dinheiro é nada confrontado com a honestidade, a verticalidade e a palavra de um homem, mas... quem acreditaria em mim?»
Vai poeta, vai por aí, não faltará quem acredite em ti!

27 junho, 2019

Entro mais uma vez nos mais lidos do mês...

«Abril de Novo Magazine | Sempre à Esquerda! é um Portal/Blog de: Intervenção Política, Informação, Cultura, Opinião, Sátira e Sociedade. Um Espaço de Encontros e Liberdade… Informação Crítica Para Um Mundo Mais Justo!

Publicação Online, um Portal/Blog multilingue, afirmativamente, de esquerda, progressista, patriótica e internacionalista. Prezamos pelo direito à informação e dizemos não à discriminação e ao silenciamento!

Os artigos de opinião e correio de leitor difundidos neste magazine são da inteira responsabilidade dos seus autores, não cabendo qualquer tipo de responsabilidade ao colectivo que administra esta publicação.
Abril de Novo Magazine é uma Publicação Periódica Digital de actualização diária. Propõe através da informação, debate e discussão, o desenvolvimento crítico do pensamento e de práticas da liberdade de expressão. A sua prática baseia-se na recolha, produção, publicação e distribuição de informação, opiniões, crónicas, fotos, ilustrações, etc. Em suma, um território de resistência nos tempos que correm.»
 Pois, e eu ando por lá e até figuro entre os três posts mais lidos nos últimos 30 dias. Como aquele meu é mais que vosso conhecido, leiam então o primeiro que lá consta, mas não percam o segundo.



26 junho, 2019

O PS quer mãos livres... quer voltar a tê-las

«O PS termina a legislatura a reclamar uma maioria absoluta e os louros de quatro anos de políticas sociais e económicas que não teriam acontecido se estivesse sozinho. 

As últimas jornadas parlamentares do PS nesta legislatura foram uma espécie de rampa de lançamento para a campanha às legislativas de 6 de Outubro. Depois de Carlos César, líder da bancada do PS, ter reclamado os louros de quatro anos de uma solução política que se traduziu em avanços sociais e económicos, foi a vez de o primeiro-ministro, António Costa, encerrar as jornadas parlamentares, em Viseu, com um discurso de vanglória das conquistas alcançadas, mesmo que grande parte das propostas nesse sentido não tenha partido da bancada parlamentar do PS.

Exemplos disso são a devolução de rendimentos, designadamente de salários e de pensões, e a redução das desigualdades, com António Costa a sublinhar as medidas dos manuais escolares gratuitos e dos novos passes sociais – todas com a chancela do PCP –, salientando o facto de «180 mil portugueses» terem saído da pobreza nos últimos quatro anos.

Na sequência de outros remoques, Carlos César, por sua vez, defendeu que o PS precisa de uma «maioria expressiva» nas eleições de Outubro para «evitar bloqueios» e libertar-se de «inercias», reivindicando exclusivamente para o PS a responsabilidade pelos resultados na economia e pela melhoria da credibilidade internacional do País, como se as medidas se desligassem umas das outras.

As resistências que César teme estão alicerçadas no caminho que o PS pretende trilhar e que, tal como se percebeu nos últimos anos, pode distanciar-se da ideia de progresso social. Basta ver os recentes recuos em relação à Lei de Bases da Saúde e ao fim das taxas moderadoras, ou as reservas em relação ao aumento do salário mínimo nacional, tendo rejeitado a subida para 650 euros em Janeiro. Apesar disso, aproveita o capital alcançado nos últimos quatro anos para iludir os portugueses e embandeirar em arco a obediência à União Europeia.

«Se é verdade que tivemos a ajuda da maioria parlamentar do PEV, do BE e do PCP para cimentar a recuperação social, tivemos por outro lado a difícil e bem sucedida missão de recuperar a confiança, de recuperar a economia, de equilibrar as finanças públicas, não permitindo aventuras orçamentais que nos levariam ao colapso e à desconfiança internacional», afirmou César, naquilo que é uma expressão dos compromissos do PS, privilegiando sempre Bruxelas em detrimento dos direitos dos trabalhadores e do povo, nem que para isso tenha de recorrer ao apoio de PSD e CDS-PP. »
Texto do Editorial

25 junho, 2019

É OFICIAL EM WASHINGTON: ARMAS NUCLEARES SÃO PARA USAR


«O documento sobre Operações Nucleares foi publicado online pelo Pentágono na semana passada e logo depois removido. (...) Os especialistas encaram este documento como uma mudança substancial na política militar dos Estados Unidos, sobretudo nos pontos de vista sobre a política de guerra nuclear. Consideram que o documento não se concentra já na dissuasão nuclear, passando a defender a doutrina do primeiro ataque nuclear como sendo dissuasora da própria guerra. De acordo com analistas em Washington, o facto de os ataques nucleares passarem a ser vistos como “preventivos”, como uma cura potencial para os conflitos, é muito preocupante.»

24 junho, 2019

Tem muito em comum e usam laca da mesma marca!


O semanário Expresso sempre atento e pronto a dar notícia necessária à compreensão do que se passa no mundo informa em título de "caixa alta" que Boris Johnson está à rasca. 
Mas ao que consta o Trump, que é da mesma laia, usa a mesma laca...
"Vamos ver", já dizia o cão ao cego!
_________________
Esse gif giro é do maceta, que mo enviou na caixa dos pregos

23 junho, 2019

Meu Coração Luso, Minha Alma Celta e Meu Sangue Mouro, gostam é do alho-porro

(reeditado)

Foi há cerca de 30 anos, finais da década de 70, que passeei Minha Alma Celta pela noite de São João, no Porto. Passados tantos anos não consigo lembrar quantos foram os sorrisos e toques recebidos com aqueles alhos floridos de nome para mim estranho. Não sei quantos, mas foram muitos. De quando em quando, uma ou outra rapariga mais atrevida, esfregava-me o rosto com aquela haste florida e era provocatório o sorriso.

Não me recordo de levar com um único martelinho, mas por certo já os por lá havia...

Aprofundando as origens dessa tradição, dei-me a várias  leituras e escolhi esta:
«A história do alho porro é anterior à era cristã e as fogueiras de São João cruzam fronteiras. Ao contrário do que muitos julgam, há festas populares e fogueiras de São João de Florença ao Brasil. A tradição repete-se um pouco por todo o mundo cristão, que nalgum momento da sua história se cruzou ou herdou o legado da presença celta.
Os celtas, essas gentes que fundaram o primeiro burgo que haveria de dar origem à povoação romana de Portus Cale [o berço do Condado Portucalense], eram politeístas e correram boa parte da Europa antes de Cristo ter nascido na Galileia. Por isso, não queriam saber da festa de São João para nada. Mas celebravam com pompa e circunstância o Solstício de Verão, que quase coincide no calendário com o dia do santo.
Nessa grande festa de homenagem à Deusa-Mãe Natureza, os celtas faziam fogueiras e ofereciam ervas aromáticas à divindade. Os festejos de S. João [como os de muitos outros santos cristãos] recuperaram este ritual pagão.
As ervas aromáticas que são queimadas variam consoante a latitude do globo - o alho porro pode ser substituído pela alcachofra -, mas a origem do ritual tem um fim comum: espantar o mau olhado, garantir proteção para o ano inteiro e homenagear a fecundidade dos seres humanos e culturas. Tudo em honra da grande Deusa-Mãe: a Natureza que tudo nos dá e garante a sobrevivência das espécies.»
A "tradição" do martelinho de plástico é mais recente, coloco as devidas aspas pois a um hábito de 50 anos, importado de uma criativa festa da Queima das Fitas da Universidade do Porto, tenho relutância em considera-la tradição. Embora a população do Porto a tenha adoptado como tal, o martelinho não tem o mesmo significado que o alho, nem o mesmo odor. Não vou ao ponto de considerar que é uma ruptura com a memória celta, com os seu valores, com essa herança, mas alimento a esperança do regresso ao alho.
Alinho com o abandono do plástico. O ambiente, esse, agradece.


Dominical liturgia [citando Sophia] - 22


Porque hoje é domingo
trago-os comigo
ouvindo, ouvindo, ouvindo

20 junho, 2019

«Us Corpu dus Déus é us corpu dus padre que vem tocar nus sino para falar à gente cuns palavra cagente num intende.»

(reeditado)
«A caminho da igreja iam pequenos grupos de mulheres e crianças, um ou outro velho e raramente um homem mais novo. O sino voltou a tocar, repicado e a miudagem exultava e ria com a pequena melodia que o sino fazia. No local do costume, as prostitutas aglomeravam-se, recatadas e vestidas com panos de cores, achava eu, menos garridas. O furriel Alma Sacrista deu pelo meu ir e esboçou primeiro alguma admiração, depois um sorriso prazenteiro, como se tivesse ele arrebanhado mais um cordeiro para aquele rebanho de Deus. Já a mais de meio caminho, juntou-se o «Meia-Cuca» à minha passada que, por isso, ficou esta mais curta e propícia à retoma da respiração normal do menino e ao deixar de arfar pela corrida que tinha tido para me apanhar. 
«Olá», disse-lhe. «Também vens à missa? Sabes que missa é, e que
O "Meia-Cuca" e o seu sorriso...
dia é hoje?» «O dia e essa missa és dus corpu dus Déus!» Fiquei admirado por ele saber pois, mais do que suspeita, tinha a certeza de não ter frequentado escola ou catequese. «E tu sabes o que é o Corpo de Deus?» O «Meia-Cuca» levou quatro ou cinco passos a responder: «Us Corpu dus Déus é us corpu dus padre que vem tocar nus sino para falar à gente cuns palavra cagente num intende.» Ri e ele não se admirou pois eu ria sempre que ele falava. Entrámos e pouco tempo levou isso a fazer a todos os que se reuniram para ali estar. Mesmo fazendo um esforço de memória não me lembro da homilia, pois apenas estava atento a se falaria da guerra, ou da guerrilha, ou do povo raptado, ou do contratado. 
Como não falasse nada do que eu esperava ouvir, perdi a concentração tal como as prostitutas que passados os primeiros minutos de ouvir latim ensaiaram risinhos e gargalhadas, trocando olhares lascivos e concupiscentes com os seus esperados clientes. Estes, sérios e compenetrados na missa, pareceram incomodados com a acústica que ampliavam as risadas das suas prestadoras de serviços carnais. A dado passo, soaram cânticos correspondidos por um terço das vozes. Foi a parte de maior concentração e à qual reconheci beleza. A missa continuou até acabar, com o «Meia-Cuca» já desesperado por ter de estar todo o tempo sossegado. «Gostaste?» A resposta foi imediata como se estivesse esperando a pergunta: «Esta festa num presta. Us mulher que vai nu cantar num pode dançar, us miúdo num pode corer, us homi num bebe e nu há batucada. Porqui num toca o sino cando us mulher canta?»

19 junho, 2019

Bora lá?!


Mais informação?
Então...será assim:
Em complemento da informação que consta no vídeo, será assim:
8h00 - Concentração, no Largo Marquês de Pombal, frente à Câmara Municipal de Oeiras
8h15 - Saída, transporte em autocarro, com destino a Setúbal
9h45 - Embarque e passeio no estuário do Sado. A empresa contratada (a Sailling Lovers) oferece uma generosa tábua de queijos, miminhos de fumeiro, boa fruta da época, sumos fresquinhos...
12h30 - Transbordo do barco para o autocarro
12h45 - Saída de Setúbal, com destino ao Parque de Merendas da Comenda e piquenique para o qual não precisam de levar nada (pois nós damos tudo)
16h00 - Regresso a Oeiras, ao local de onde partimos
Será um passeio memorável. Inscrições limitadas à lotação do barco. Reservas até dia 23 de Junho. Custo 30 euros

Borá lá reservar: desenhando1974sonhos@gmail.com

18 junho, 2019

Guerra? O Mundo anda numa "trumpalhada"... no Altice Arena ocorre o recrutamento...

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O Altice Arena estava como aqui se vê. Eles, milhares, estavam concentrados. Viam o que lhes era dado ver. Jogavam o que lhes era dado jogar.
A base de recrutamento estava ali, pronta a matar. Quem? Que importa quem? A guerra passou a ser um inocente e divertido e jogo anímico. 
O jogo que se mostra, ronda mais de  7 milhões de visualizações e dá a dimensão da base de recrutamento. A guerra não se faz com velhos.

«A cultura de guerra desenvolve-se sem que "ninguém" se dê conta...» 

Quem disse? 

17 junho, 2019

16 junho, 2019

Dominical liturgia [citando Sophia] - 21


Sophia e Sena
Talvez?
Não! 
Tenho a certeza
Tenho a certeza
que Sophia o olhava assim
na inquietação da distância
encurtada em cada carta
das tantas que trocaram

Fecho os olhos
e não os olho
Oiço-os, oiço-os
como se estivessem aqui
ao pé de mim
(acreditem ou não, estão!)

15 junho, 2019

...agora está na Escola Náutica...


Está na Escola Náutica Infante D. Henrique, em Paço de Arcos. Quem estiver perto, visite-a até ao fim do mês... A Exposição documenta como era viver antes daquele "dia inicial inteiro e limpo". Os três primeiros painéis, ilustram um texto de Mário de Carvalho. O quarto, fala de como era  penoso ser idoso nos anos sessenta e o último centra-se na Revolução e nos direitos conquistados pelos idosos.

Andámos com a exposição de escola em escola, como o vídeo narra.

14 junho, 2019

O Papa não grama o PAN


Pensei que a imagem fosse de ontem, e não é. Data de 2014, mas é intemporal. Disse Francisco: "não criem gatos e cães, façam filhos". Se tivessem dado atenção a Francisco, o PAN não teria sequer sentido e seria hoje maior a taxa de natalidade...

Escrevo assim porque não gosto, nem de cães, nem de gatos?
Quem disse isso, a mim, que tanto escrevi sobre esse tanto gostar?
_______________________________
PS: Acabei de me lembrar que houve ainda um outro gostar

13 junho, 2019

Para que não digam que não falei do santo, deixando a data em branco!

(reeditado)

Soubesse eu desenhar um só som que fosse
Soubesse eu escrever entre claves de várias partituras
Palavras e quadras (1) alegres, graves, suaves ou duras
Que sob a forma de canção
Te desse deste dia toda a sua dimensão

De arco, balão, vestes antigas e com antigas lembranças
Desceram a avenida com marcação e sorrisos
Da Liberdade de que desceram esquecidos
de antes sonhadas e ansiadas esperanças

Soubesse eu desenhar um só som, que nos fosse querido
E escreveria, à memória dos meus mortos (2) um hino
Que lembrasse, também, um sermão esquecido (3)
Desse, que trás ao colo um menino

Povo tão afastado de si, bem levado se leva
Por quem de alegria mascara a treva 
Rogério Pereira
 ____________________________________________
(1) desgarrada (2) meus mortos (3) sermão esquecido

12 junho, 2019

PAN! PAN! Abaixo as beatas, viva a ecologia!


O meu amigo maceta mandou-me o gif e eu ia aguentá-lo à espera de oportunidade, depois de desfeito o impacto dos impactantes discursos do 10 de Junho. Claro, que junto à imagem, em forma de legenda não perderia transcrever escrita sua, assim, como lá consta. 

Acontece, que, rufando o tambor, o PANdego anuncia proposta legislativa digna de destaque: acabar com as beatas pela força da multa. Porá o trabalho d´Os verdes numa escala, a perder de vista. 
Ou talvez não. Nestas coisas do reconhecimento e da visibilidade os média é que ditam...

11 junho, 2019

Até sempre, Ruben


Surgem de todo o lado. Não os cito, nem comento... Junto a esses este reconhecimento colectivo, daqueles dignos de figurar neste dia. Em pouco mais de um minuto um Homem se define. São homens assim que justificam e ilustram as palavras do poeta:
Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis.
Bertolt Brecht 
Até sempre, camarada!

10 junho, 2019

O regresso ao Dia da Raça?

«O Portugal da Mini – um discurso salazarista em Portalegre»

Não resisto, e cito:
«... a arenga de JMT explorou os sentimentos mais baixos das turbas: a resignação, o servilismo hipócrita e a recusa de cada português assumir as suas responsabilidades. Populismo do mais reles. A demagogia do discurso assentou em dois pilares clássicos, já utilizados por Salazar na definição da sua família na capa do livro da 3ª Classe da Escola Primária: os portugueses querem uma vidazinha, uma casinha, os filhos educados, pão e vinho sobre a mesa, um emprego no Estado, uma semana no Algarve, referiu o tribuno, numa concessão pós-moderna. Mais, os portugueses devem abster-se de assumir responsabilidades políticas – a política é uma porca e os políticos uns malandros da pior espécie, disse ele por outras palavras. Só não esclareceu que somos nós, os portugueses, a escolhê-los e a elegê-los, porque isso nos responsabiliza e o discurso da JMT é o da irresponsabilidade. Se os portugueses soubessem o que custa mandar preferiam obedecer, já Salazar sentenciou. (...) O discurso deste 10 de Junho foi um discurso salazarista, com meio século de atraso, que podia ter sido proferido por um antigo graduado da Mocidade Portuguesa. Felizmente Portugal tem muito melhor que este JMT. Infelizmente são estes demagogos sem história que sobem às tribunas da opinião pública. Não é por acaso… e é perigoso…»
Carlos Matos Gomes, Militar de Abril, aqui
Sim, é perigoso e Marcelo sabe quem convida.

09 junho, 2019

Dominical liturgia [citando Sophia] - 20


Com ar sério, Camões pressente...
Entretanto, não é a primeira vez que, também aqui, escrevi sobre a data de 10 de Junho. Nessa, lembrei a primeira celebração depois do 25 de Abril, com discursos (pérolas) de Vergilio Ferreira e Jorge de Sena. Foi em 1977, e de Sena transcrevia parte remetendo o texto restante para um sítio, que entretanto se perdeu. Recupero, do "Noticias do Bloqueio" essa parte perdida. Contudo, antes de o fazer fui confirmar o programa oficial das celebrações e dei com a esperada omissão. Sobre Camões, nada. E no ano que assinalam os dois centenários, o de Sophia e Jorge de Sena, nada. Diria que o sentido "10 de Junho" foi comemorado, em finais do mês passado, em Sevilha.
Isso, em Sevilha!

Prosseguindo esta liturgia, cito Sophia:
Camões e a tença
Irás ao paço. Irás pedir que a tença
Seja paga na data combinada.
Este país te mata lentamente
País que tu chamaste e não responde
País que tu nomeias e não nasce.
Em tua perdição se conjuraram Calúnias desamor inveja ardente
E sempre os inimigos sobejaram
A quem ousou ser mais que a outra gente.
E aqueles que invocaste não te viram
Porque estavam curvados e dobrados
Pela paciência cuja mão de cinza
Tinha apagado os olhos no seu rosto.
Irás ao paço irás pacientemente
Pois não te pedem canto mas paciência.
Este país te mata lentamente.

Sophia de Mello Breyner Andersen
E Sophia nada se importa que aqui traga outra palavra:
"Porque os portugueses são de um individualismo mórbido e infantil de meninos que nunca se libertaram do peso da mãezinha, e por isso disfarçam a sua insegurança adulta sob a máscara da paixão cega, da obediência partidária não menos cega, ou do cinismo mais oportunista, quando se vêem confrontados, como é o caso desde Abril de 1974, com a experiência da liberdade. Isto não sucedeu só agora, e não é senão repetição de outros momentos da nossa história sempre repartida entre o anseio de uma liberdade que ultrapassa os limites da liberdade possível (ou sejam, as liberdades dos outros, tão respeitáveis como as de cada um) e o desejo de ter-se um pai transcendente que nos livre de tomar decisões ou de assumir responsabilidades, seja ele um homem, um partido ou D. Sebastião. (...)
Um país não é só a terra  com que se identifica e a gente que vive nela e nasce nela, porque um país é isso mais a irradiação secular da humanidade que exportou. E poucos países do mundo, ao longo dos tempos, terão exportado proporcionalmente, tanta gente como este".
Jorge de Sena, 10 de Junho de 1977
É um bom exercício ler um e outro, neste dia que tende cada vez mais a ser comemorado como o "Dia da Raça".
(Portugal, ganha a taça. Camões ficou com ar sério... pressente)

08 junho, 2019

O Marxismo-Leninismo já passou à história?


Ontem, em torno de um enredo que metia gelado e medo, insinuava alguém que o Marxismo-Leninismo tinha acabado, jazia morto e enterrado e fazia-o observando que tinha passado à história. 
Aqui se demonstra o contrário. Está mais presente que nunca:

«Os donos do capital incentivarão a classe trabalhadora a adquirir, cada vez mais, bens caros, casas e tecnologia, impulsionando-a cada vez mais ao caro endividamento, até que sua dívida se torne insuportável»- Marx, citado por mim

«A dívida pública tornou-se uma das mais enérgicas alavancas da acumulação original. Como com o toque da varinha mágica, reveste o dinheiro improdutivo de poder procriador e transforma-o assim em capital, sem que, para tal, tivesse precisão de se expor às canseiras e riscos inseparáveis da sua aplicação industrial e mesmo usurária. Na realidade, os credores do Estado não dão nada, pois a soma emprestada é transformada em títulos de dívida públicos facilmente negociáveis que, nas mãos deles, continuam a funcionar totalmente como se fossem dinheiro sonante. Mas também (...) a dívida do Estado impulsionou as sociedades por acções, o comércio com títulos negociáveis de toda a espécie, a agiotagem, numa palavra: o jogo da bolsa e a moderna bancocracia.» - Marx, citado pelo "Castendo"

«Sem sombra de dúvida, a vontade do capitalista consiste em encher os bolsos, o mais que possa. E o que temos a fazer não é divagar acerca da sua vontade, mas investigar o seu poder, os limites desse poder e o caráter desses limites.» - Karl Marx, in "Salário, Preço e Lucro"
«Chama-se compromisso em política ao abandono de certas exigências, à renúncia a uma parte das reivindicações próprias, em virtude de um acordo com outro partido (...) A tarefa de um partido verdadeiramente revolucionário não consiste em proclamar impossível a renúncia a quaisquer compromissos, mas em saber permanecer fiel, através de todos os compromissos, na medida em que eles são inevitáveis, aos seus princípios, à sua classe (...) »
Lénine, «Sobre os compromissos»

05 junho, 2019

Futebol é liiindo, mas... é tudo tão excessivo...


É publico que o treinador é crente. Que seja e que pratique. Não está em causa a sua crença, mas a forma como a pratica. Benzer-se antes do jogo é pretender colocar Deus do seu lado. Ou dizendo de outro modo, que Deus não esteja do outro.

Portugal ganhou, se perdesse dir-se-ia ter sido obra do Diabo. 
Ganhou e já se diz que o verdadeiro Deus é... Ronaldo.

Se disserem que este post é sobre religião, nego. É mesmo sobre futebol... onde tudo é ou tende a ser (cada vez mais) excessivo.

03 junho, 2019

Agustina Bessa Luís - In memoriam

 «...Eu acho que não há inteligência sem coração. A inteligência é um dom, é-nos concedida, mas o coração tem que a suportar humildemente, senão é perfeitamente votado às trevas.»
Agustina Bessa Luís 

É uma bela frase. A obra de Agustina estará impregnada por muitas, não sei. Nunca consegui ler completamente qualquer obra sua. Não li, porque nunca consegui, repito. Humildemente confesso essa minha incapacidade. Especialistas de tradução, em Inglaterra, também desistiram de... a traduzir. Quiseram, sem conseguir. Já na Alemanha ultrapassaram a dificuldade, alterando-lho o texto original.

Verdade, segundo li, «numa comunicação intitulada [Kann der Ubersetzer den Autor lcorrigierenh (Poderá o tradutor corrigir o autor?)], proferida em Outubro de 1987, Georg Rudolf Lind, um romanista alemão de renome, com muitos méritos na divulgação da literatura portuguesa na Alemanha e não só, explica de uma forma aparentemente objectiva as razões que o levaram a corrigir o texto de Agustina Bessa Luís (...). Leva esta posição ao extremo, quando explica que tentou proteger o leitor alemão das reflexões enigmáticas do texto Português que provavelmente não teriam significado algum

Este apontamento não retira um grama ao mérito dela, apenas dá toneladas de demérito à minha capacidade. Digo-o com toda a humildade, antes que meu coração seja votado às trevas.

O dela, deixou de bater. Que descanse em paz!

d

02 junho, 2019

Dominical liturgia [citando Sophia] - 19


Dei-me ao trabalho de procurar exemplos indiciadores da prática democrática nas escolas, local onde se ensina a cidadania. E encontrei. Logo que vi e li, pensei nesta liturgia. Diz o texto:
Os miúdos do Agrupamento de Escolas de Mortágua estiveram tão empenhados no projeto «Miúdos a Votos», que até houve entreajuda entre "rivais"

Durante a campanha, os alunos do Agrupamento de Escolas de Mortágua, em Viseu, estiveram bastante ativos durante a campanha eleitoral: divulgaram as obras preferidas através da elaboração de cartazes, marcadores, crachás e desdobráveis e com apresentações de excertos dos livros aos colegas.

«Os alunos têm trabalhado entusiasticamente e com muita criatividade. Destaco o grupo que faz campanha pelo livro A Fada Oriana, de Sophia de Mello Breyner Andresen, cujos elementos se vestiram de Fada Oriana para dar vida ao seu cartaz», conta-nos a professora Ludovina Ferreira, professora bibliotecária. «É de realçar ainda o espírito de entreajuda colocado na execução das diferentes tarefas, observando-se a ajuda de alunos que tinham os trabalhos mais avançados aos que estavam mais atrasados. Foi bonito de ver!»
Vestir a pele de quem se quer fazer eleger, deve ser uma lição para o eleitor!

01 junho, 2019

Razões para uma tão elevada abstenção - IV (Os políticos são mesmo todos iguais?)



Quando, recentemente, o PCP foi alvo de abertura de todos os telejornais, o propósito era claro. Para além do ataque cerrado, fazer passar a mensagem "os políticos são todos iguais". E, assim sendo, votar é um acto escusado pois inconsequente. Faz-se passar a mensagem do "venha o Diabo e escolha".

A campanha anticomunista acumulou 3h08minutos de insistentes indesmentíveis mentiras e produziu efeitos... Contudo é altura de reafirmar o que sinto, mas faço-o por voz insuspeita:
«Os congressos do PCP são congressos diferentes. Esta apreciação não é fruto de uma ligeira apreciação voyeurista da política, nem está imbuída de preconceitos anticomunistas primários. É fruto de observação do que é a realidade política portuguesa e essa permite afirmá-lo. Os congressos do PCP são diferentes, não só porque o que se passa na sala é importante, nem apenas porque os discursos são verdadeiramente políticos e programáticos, mas também porque o PCP é um partido diferente.