01 junho, 2019

Razões para uma tão elevada abstenção - IV (Os políticos são mesmo todos iguais?)



Quando, recentemente, o PCP foi alvo de abertura de todos os telejornais, o propósito era claro. Para além do ataque cerrado, fazer passar a mensagem "os políticos são todos iguais". E, assim sendo, votar é um acto escusado pois inconsequente. Faz-se passar a mensagem do "venha o Diabo e escolha".

A campanha anticomunista acumulou 3h08minutos de insistentes indesmentíveis mentiras e produziu efeitos... Contudo é altura de reafirmar o que sinto, mas faço-o por voz insuspeita:
«Os congressos do PCP são congressos diferentes. Esta apreciação não é fruto de uma ligeira apreciação voyeurista da política, nem está imbuída de preconceitos anticomunistas primários. É fruto de observação do que é a realidade política portuguesa e essa permite afirmá-lo. Os congressos do PCP são diferentes, não só porque o que se passa na sala é importante, nem apenas porque os discursos são verdadeiramente políticos e programáticos, mas também porque o PCP é um partido diferente.

Todavia, essa diferença é feita de evolução e o PCP que sai do XIX congresso não é o PCP que chegou a Almada na sexta-feira, e muito menos o PCP de há uma ou de há duas décadas. Mais: o PCP pode até ser considerado um partido a anos-luz de diferença do que foi no passado. É hoje um partido que mantém toda a identidade e simbologia comunista, marxista-leninista, a sua matriz revolucionária, a sua natureza de classe e a sua atitude de vanguarda da classe operária e dos trabalhadores.

Mantém as suas características também de partido profundamente pragmático, que está atento à sua realidade envolvente para nela sobreviver e, se possível, se reforçar e crescer. É essa mesma necessidade de adaptação e sobrevivência que leva o PCP à mudança na continuidade que o tem caracterizado.

O PCP que sai de Almada é diferente na composição da sua direcção. Na cerca de centena e meia de pessoas que compõem o comité central, trinta são estreantes. É claro que são comunistas. É evidente que acreditam no ideário do partido em que militam. Caso contrário, estariam noutro partido ou em nenhum. Mas são novos dirigentes. Aliás, o PCP é o partido que mais tem renovado a sua direcção nos últimos anos. Renovado e rejuvenescido. O comité central tem uma média de idades de 47 anos, fruto até da sangria de quadros da geração anterior, dos que eram jovens adultos no 25 de Abril, que abandonaram o PCP nas décadas de oitenta e de noventa do século XX.

E se ao nível do que são os órgãos executivos do comité central, como a comissão política e o secretariado, neste congresso a composição se manteve e há apenas uma estreia em cada um deles, a verdade é que o PCP é talvez dos partidos que mais têm renovado os dirigentes ao longo dos anos e que mais pessoas novas têm integrado nas direcções.

As mudanças não se ficam, porém, ao nível das pessoas que ocupam os lugares de poder interno. Elas acontecem também ao nível da proposta política conjuntural que o PCP defende. Ou seja, se não muda o objectivo último de partido comunista revolucionário que acredita na bondade da implantação de uma sociedade sem classes e sem exploração, o pragmatismo do PCP fá-lo adaptar a sua utopia à realidade do país. E aqui a singularidade do PCP diferencia-o do que são os outros partidos, quer os partidos burgueses e liberais, como o PS, o PSD e o CDS, quer do BE, partido que, sendo reformista e já não revolucionário, obedece, tal como o PCP, a uma lógica colectiva e não-personalizada.

É evidente, até para os mais distraídos, a diferença entre o PCP e o PS, o PSD e o CDS, em mais que não seja na diferença de posição face ao Memorando de Entendimento com a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional que viabiliza os empréstimos financeiros que Portugal recebe desde há um ano.

Mas, neste congresso, ficou claro, nos discursos e nos documentos aprovados, a diferença de posição entre o PCP e o BE em relação à União Europeia e à união monetária. E não apenas pela crítica e recusa do federalismo, que o PCP sempre rejeitou e que o BE defende. Em relação à união monetária, é menos perceptível a diferença, mas ela existe. Enquanto o BE tem uma posição oficial – ainda que haja na sua direcção quem pense diferente - que Portugal não deve nem pode sair do euro, o PCP não é afirmativo na defesa da manutenção de Portugal no euro. Mas a posição que saí do congresso de Almada é a de que não haja um abandono inconsequente do euro por Portugal. Foi isso que foi dito no palco do Pavilhão Cidade de Almada e é isso que está nos documentos aprovados.

Uma posição que mostra como o PCP é um partido pragmático que tempera a convicção e os princípios com a realidade do país. E que é uma evolução em relação à rejeição pura e simples do euro e da União Europeia que o PCP defendeu no passado e que ainda existe em alguns dos seus dirigentes, assim como em partidos comunistas como o KKE, o partido comunista neoestalinista dirigido por Aleka Papariga."»
São José Almeida, jornalista do "Público"
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3 comentários:


  1. Tal como me acontecia em criança, ainda hoje o gesto do punho cerrado em aclamação, protesto ou para o que quer que ele seja usado, amedronta-me, intimida-me.

    Estive a ler e reler a tua frase que tens no cabeçalho... e encontrei-lhe uma brecha: podes perfeitamente manter o mesmo rumo à Barca e conseguir chegar a um destino diferente. Basta mudares o ponto de partida.

    (isto de me poderes a raciocinar e a usar lógica às tantas da matina não vale...)
    Boa noite Rogério, bom descanso
    (^^)

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  2. Clara,

    Um punho cerrado, o direito
    é contra o medo
    È para o imitar, levantar o esquerdo
    E não há mais enganador
    que levantar dois dedos espetados
    com um V de vitoria
    quando somos nós os derrotados

    Quanto a rumos
    sugiro que consultes a "Rosa dos Ventos"

    (acordei eram quase 11)

    Maria João

    Levantar um punho
    é escrever um poema
    por gestos!

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