30 abril, 2017

Entre Macron e Le Pen... Francisco não mete a colher


O Papa Francisco afirma isto. Não sei se o faz como chefe máximo da Igreja se como Chefe de Estado do Vaticano. Fica a impressão de um distanciamento que se entende. Contudo, se referisse que opinar seria cometer ingerência numa disputa que compete ao povo francês resolver, teria sido neutro...
Mélenchon pode ser mais directo: entre um e outro candidato, que o escolha o Diabo, ainda que (ao que parece) o não tenha dito. E sobre o que se diz que ele disse, um meu amigo desmente isso.

Amanhã, 1º de Maio. E uma imagem histórica que não me sai da memória...


A Lei Ingersoll estipulava 8 horas de jornada diária. O capital não a respeitava e os trabalhadores desencadearam uma luta para a fazer respeitar. Convocaram uma greve geral. Foi no primeiro de maio de 1886.

O que amanhã se celebra não é apenas essa luta, mas todo o seu significado. Os "mártires de Chicago" permanecem na nossa memória... 

Amanhã, a rua é nossa!

28 abril, 2017

Heloísa, o outro pilar da ponte

«Caros amigos e amigas,
Declaro, perante vós, que aceitei o convite que me foi dirigido para me candidatar, pela CDU, à presidência da Câmara Municipal de Oeiras. É uma honra para mim!»

O discurso sai-lhe fluido. A voz, bem colocada, transmite uma mensagem directa, clara. Ela é "o  outro pilar da ponte" disse-me um camarada, (re)citando Saramago.
Amanhã o novo dia
Se o merecer e me for dado
Um outro pilar da ponte
Cravado no fundo mar
Torna mais breve a distância
Do que falta caminhar
Saramago in "A Ponte"

27 abril, 2017

O 25 de Abril. As comemorações em Oeiras - I I


A primeira imagem, à esquerda, é a original e foi tirada por um profissional. Como profissional que é, certamente tirou várias para depois escolher a que melhor enquadrar. Como o orador a que se refere a imagem foi o terceiro a intervir naquele mesmo cenário, pode-se dizer que teria o fotografo toda a oportunidade em adequar os parâmetros da sua sofisticada máquina, de modo a que a luz realçasse as cores nacionais, a que a focagem fosse a correcta (para além de poder esperar que o bombeiro deixasse a cara descoberta).
A segunda imagem é uma grosseira montagem, feita por mim, para tentar emendar tão péssimo trabalho, repor dignidade (e tratar respeitosamente) alguém que tal merece.

E esse é quem? É o meu camarada Carlos Coutinho!
E quem é o Carlos Coutinho?

26 abril, 2017

O 25 de Abril. As comemorações em Oeiras - I


Referi eu ontem que o meu 25 de Abril começara no sábado passado, numa iniciativa digna. Referia-me a esta, promovida pela parceria entre a Espaço e Memória - Associação Cultural de Oeiras  e a A25A - Associação 25 de Abril. Por mil e uma razões a ambas as associações estou particularmente grato.  Estendo essa gratidão a duas razões de alguma forma egoístas. Primeira, foi ter a EMACO concedido a honra de editar aquele livrinho de que alguns estarão lembrados. A segunda, foi por a A25A nos ter acolhido, na sua sede, a apresentá-lo.

Mas regressando à evocação de Abril (o meu amigo Jorge de Castro faz no seu espaço mais desenvolvida reportagem) assinalo aqui alguns aspectos:

Primeiro, a intervenção do meu camarada José Pós-de-Mina (o primeiro da esquerda na imagem acima) em dois aspectos que irão marcar decisivamente o futuro do poder local: um aspecto, tem a ver com a descentralização das competências no Poder Local se traduzir num descartar de responsabilidades do Governo Central nas autarquias em domínios de elevado peso orçamental (saúde e educação, mas também em outros) ficando assim à mercê de politicas restritivas e dos consequentes cortes orçamentais. Outro aspecto, os riscos de a alteração da Lei das Finanças Locais virem a limitar os recursos financeiros das autarquias à colecta de impostos, taxas e derramas, deixando as autarquias do interior e as de menor capacidade financeira entregues a si próprias, cada vez mais empobrecidas e agravado a capacidade de prestar os serviços públicos a que as populações, por dever constitucional, têm direito.

Segundo, o elevado nível atingido pelos momentos culturais (no inicio e no fim), de que sobressaem nomes (e rostos) que, quem não conheça, convirá registar.

O Duo Lavoisier  (Patrícia e Roberto); Raquel Cambournac; João Paulo Oliveira e Jorge Castro
Terceiro, a alocução de Simões Teles, em representação da Associação 25 de Abril, assim (quase na integra):
«As primeiras palavras são de agradecimento à Câmara Municipal de Oeiras pela cedência deste auditório municipal e pela adesão a esta iniciativa.
Não é por o Presidente da Câmara a ter ignorado que a A25A deixa de existir. Estamos vivos! E o mesmo facto também nos pode sugerir que as suas palavras sobre o 25 de Abril terão sido de circunstância.

25 abril, 2017

O meu 25 de Abril que começou a 22


É verdade, o meu 25 de Abril, começou a 22. Sábado passado, numa iniciativa digna, passou-se algo que merece ser assinalado. Tenho um texto, mas faltam-me imagens alusivas ao acto. Para não ficarem assim, a olharem para nada, adianto que das intervenções havidas, houve uma que vaticinava existir o risco da evocação de Abril cair em rotina. E antecipo isto, pois as imagens acima afastam esse risco (obrigado Eduardo). A avenida, hoje, encheu-se de juventude e quando a juventude pega, já não larga.

Voltarei a tal evento quando tiver acesso a imagens que ilustrem o que registei.

Hoje, foi assim, embora não desfilasse.


E não desfilei porque andei por outros lados. Por onde? Fica outra promessa adiada, pois o registo do que vale a pena registar, nos lados por onde andei, também carecem do que ainda não está disponível. Talvez amanhã...

23 abril, 2017

A senhora apareceu-lhe


A senhora apareceu-me

A senhora apareceu-me!... Aparição, visão, sonho ou fantasia?
Dormia eu a sesta à sombra duma azinheira (numa manta de retalhos, pois claro!) quando uma senhora brilhante, não tanto como o sol, chegou à minha beira.
Não me disse para a louvar por ser celeste,
Não me sugeriu que sofresse para lhe agradar,
Não me exigiu que lhe agradecesse a força do meu trabalho,
Não me pediu que lhe suplicasse a felicidade,
Não me rogou que lhe repetisse como um papagaio preces e avés,
Não me segredou guerras futuras se não a venerasse,
Não me culpou pelos meus prazeres carnais,
Não disse nada.
Não vinha de calças, nem de saia comprida, nem de mini-saia.
Nua e serena, aproximou-se. 
Só uma senhora assim para me pôr de joelhos.
Pôs-se de joelhos também.
Enrolámo-nos na manta de retalhos. Paz, amor e sorte.
Azar, era dia 13, um melro largou-se no meu rosto.
Acordei.
Da santa ou companheira, nem sinais.
Dei um salto.
Falei alto
À sombra duma azinheira:
25 de abril sempre! Fascismo nunca mais!

22 abril, 2017

O administrador do condomínio


O condomínio é um condomínio de prestigio, ainda que haja, entre os muitos que aí residem, quem passe por dificuldades na vida.  
O condomínio teve tempos em que o  condómino administrante se repetia de eleição em eleição. Era um homem de presença forte, humor que baste, de ironia fina e se alguém com ele se zangasse, desarmante, sorria. 
Ninguém sabia, até se saber, que o condómino do quinto frente, teve ferragens renovadas, à conta do arranjo da fechadura da porta da entrada. 
Favor do administrador que, prestável, estendeu o serviço do rés-do-chão ao quinto.
Ninguém sabia, até se saber, que o condómino do último piso recuperou o terraço por conta da reparação do piso da garagem. Favor do administrador, prestável, que estende a obra do terraço à garagem.
Ninguém sabia, até se saber, que o sexto esquerdo, o vigésimo quarto direito, e outros quantos condóminos foram servidos por amáveis serviços. 
Quando era chegada a hora da prestação de contas, na reunião de condóminos, havia quem comentasse que o condomínio era caro mas, de pronto, se elevavam as vozes referindo o prestígio de se viver em tal condomínio, que em todo o país não havia vida mais feliz.
Perante o plano de obras e o correspondente orçamento o administrador voltava a ser reeleito. E foi assim, durante muito tempo.
Hoje, depois de ausência forçada, o ex-administrador está de volta. 
E diz o condómino da cave esquerda, em casa onde o sol mal entra.
«O homem "onera"! Mas qu´importa, se faz obra...»
_______________
NOTA DO AUTOR: O referido condomínio é ficção e o dito administrador é personagem inventada, qualquer  semelhança com a realidade é mera coincidência.

20 abril, 2017

Poesia (uma por dia) - 92


INACABADA FLOR DE ABRIL
Hoje vi com os meus olhos
uma santa mulher
asfixiar um pássaro
nas mãos
só para desenhar no chão
a dor que sentimos

chamei-a
para deixar nas areias
um beijo côncavo
até a memória arder
os últimos barcos
e as algas discernirem
de olhos abertos
todos os ritmos das marés

chamei-a
para esgrimir contra
a invenção dos destinos
erguer o seu corpo
recolher todos os grânulos disponíveis

Hoje vi uma mulher amada
esculpida na praia
a despontar nas areias

inacabada flor de Abril

Eufrázio Filipe
(poema a incluir na próxima colectânea)

19 abril, 2017

Poesia (uma por dia) - 91


MINHA LOUCURA

Depois de muito andar, muito perder, muito lutar,
dizem-me: «Para quê?»
Eu digo simplesmente: «Para viver melhor.»
Dizem-me: «Como assim,
se tu vives bem? Que queres mais, diz?»
Eu respondo sem jeito: «Não sei.»
É o que desejo para todos,
e digo para comigo: «Claro que estamos bem!»
E continuo a trabalhar o mais que posso
para uma glória total,
com inocência
e às vezes com tanta claridade
que essa luz quase me agride.

Gabriel Celaya
“El hilo rojo”

15 abril, 2017

Páscoas e opções da alma e da razão

(reeditado, com alterações)

Todos nós (ou quase todos) temos uma quinta a onde ir na Páscoa.
Se não temos já tivemos.
Eu tive. Tive duas, ambas no Ribatejo, das minhas avós.
Eram diferentes as quintas e as chegadas. Mas em ambas não havia chaves debaixo dos tapetes, nem sei mesmo se havia tapetes ou se eram estrados plantados nas entradas sempre de portas encostadas ou fechadas no trinco...
Uma avó adormecia contando as contas de um rosário e murmurava orações.
Outra, contava os montes por onde passara e murmurava canções.
Cresci passando Pascoas entre uma avó e outra amando as duas e com as duas aprendendo a enfrentar a deslocação dos medos... foi a alma que fez a opção, eu não, de ficar mais marcado por aquela que abraçava flores vermelhas. Nem me lembro se eram papoilas, mas talvez fossem... cravos. 

(deixei este texto, num comentário,
 em 2013, num sítio muito bonito)
***
Abandonei a cruz desde sexta feira
Não quis tirar protagonismo a Cristo
pois eu não ressuscito 
Regressarei aonde estava
até à ressurreição da esperança, da vontade
das bandeiras e dos hinos
Abril é já agora. Boa Páscoa

14 abril, 2017

... e porque é Sexta-feira Santa, Always Look on the Bright Side of Life



Tenho, desde sempre, assinalado este dia pela parte que a muitos esquece. Mas tal insistência, já cansa.
Se hoje, tal como ontem, houve jovens violadas, desligue
Olhe Sempre Pelo Lado Bom da Vida
Se hoje, tal como ontem, o filho bateu no pai, o homem na mulher e o namorado na namorada, não ligue a nada
Olhe Sempre Pelo Lado Bom da Vida
Se este mês, tal como no passado, recebeu magro salário, deixá-lo 
Olhe Sempre Pelo Lado Bom da Vida
Se ontem, tal como no outro dia, soube de gente faminta, siga
Olhe Sempre Pelo Lado Bom da Vida
Se neste ano, tal como no ano passado, centenas de bombas terão rebentado, passe ao lado
Olhe Sempre Pelo Lado Bom da Vida
Se Trump foi eleito e se barimba no Direito Internacional, qual o mal?
Olhe Sempre Pelo Lado Bom da Vida
Se há povos que elegem e são governados por não eleitos, que há de errado em tais preceitos?
Olhe Sempre Pelo Lado Bom da Vida

Se há milhões de crucificados neste dia...
É a vida
E olhe sempre pelo lado bom que ela tem 

12 abril, 2017

A Gaivota - um conto acidental

"Estamos nós, gaivotas, a olhar para o fim da liberdade no nosso mundo?"

"Olá" - grasnou ela, do lado de fora da janela.
"Olá" - respondi-lhe dirigindo-me a ela, nem me ocorrendo que pudesse fugir à minha aproximação. Não fugiu. Abri devagar a vidraça que estava mais afastada, e ela acompanhou o gesto sem se mover. Parecia até que o esperava. Sem saber o que fazer não fiz nada, olhava-a. Ela nada fazia e olhava-me também. Foram longos segundos, até que me lembrando que ela me tinha falado, falei-lhe.
"Que fazes aqui?"
"Espero! Espero que me dês alguma coisa de comer... qualquer coisa!"
Não me ocorrendo o que de melhor lhe dar dei-lhe o que estava mais à mão, uma peça de fruta, que fui dentando e bocado a bocado lhe ia dando à medida que ela, picada a picada a ia comendo. Acabada a peça a gaivota voou naquele vou elegante e ágil que tanto encantam os poetas.

No dia seguinte e no outro e no outro a cena foi-se repetindo, apenas o que lhe dava a comer ia mudando. 

Hoje, antes de pousar no meu beiral pousou num candeeiro em frente e fitou-me, de lado, longamente. 
Fiquei ali esperando o que ela iria fazer de seguida, até que voou ao meu encontro e disse:
"Sabes?, vou partir!"
"Quando?
"Agora! o bando me espera! Vim, não para comer mas te deixar o meu obrigada! Não são muitos os homens que alimentam a liberdade, agora que é hora em que ela mais periga!"

E grasnando ao bando que naquele momento ia passando, voou ao seu encontro e lá foram em direcção ao mar...

Rogério Pereira 

11 abril, 2017

100 milhões ligados, num jogo onde a próximidade com a realidade não é nada inocente. Cada jogador é um potencial recruta...


Ele joga. Joga noite fora. Se alguém entra, ele cumprimenta. Cumprimenta com um sorriso e um monossílabo, pois cada segundo conta, na ânsia de regressar ao jogo.
Com ele estão mais 100 milhões ligados.Tremo.
Bato uma foto e fujo. Penso em ir investigar saber o que estão a jogar. Tremo.
Desisto de fazer o download do jogo, de o analisar por dentro, de lhe perceber a lógica e de avaliar o efeito no comportamento.
Desisto pois não é preciso ir tão longe para perceber.

Quanto aos efeitos nessa multidão de jovens, ninguém está em condições de avaliar. Sendo mais que certo que são tremendos. O texto seguinte arrepia (e o que lá ficou não arrepia menos):

«Como uma resposta direta a crescente instabilidade física e política do mundo, os principais feiticeiros de Valoran – incluindo diversos invocadores poderosos – chegaram à conclusão de que os conflitos deveriam ser resolvidos de uma maneira controlada e sistemática. Eles formaram uma organização chamada League of Legends, cujo propósito era supervisionar a resolução organizada dos conflitos políticos em Valoran. Instalada no Instituto da Guerra, a Liga teria a autoridade conferida pelas entidades políticas de Valoran para governar os resultados dos conflitos organizados que eles administrariam.»

09 abril, 2017

ONU, ONU, para que nos serves tu? - III


A imagem retrata uma manipulação reconhecida pela BBC que a veio a retirar depois de uma chuva de críticas após “acidentalmente” usar uma foto tirada no Iraque em 2003 para ilustrar o “insensível massacre de crianças” em 2016, na Síria. O texto a que me refiro alude a mais casos de montagens para atingir os objectivos precisos: causar uma onda de indignação para fins que copiam outros já realizados e com os resultados conhecidos. Foi no Iraque e tudo se encaminha para ser também assim na Síria, caso se venha a concretizar o derrube de Bashar al-Assad.

Hoje, é irrefutável que terá havido mesmo a matança que a imprensa afirma ter havido. Quanto aos responsáveis... é mesmo melhor ver o vídeo e depois tirem as V. conclusões:

08 abril, 2017

Mais actual do que nunca... ou o tanto em que uma previsão se espalha

Sondagem realizada em Maio de 2013
Vem isto à baila porque anda por aí uma sondagem, que prova que as sondagens não são o resultado de um efectivo trabalho, que este só é honesto na perspectiva de quem paga o serviço e que a competência, se existe, é algo que o passado recente (e a imagem) desmente.

Como já diz toda a gente, depois de alguém o ter dito: "Previsões? Só no fim do jogo." E o jogo é jogado colocando no tabuleiro não os rostos mas a obra obrada, o trabalho realizado, a honestidade que lhe foi inerente e a competência com que foi realizada. O resto? O resto será determinado por uma infinita soma de acontecimentos, arremessos, lutas acesas, azedumes, vinganças e talvez pelas campanhas.


07 abril, 2017

Síria, a outra parte de uma realidade que mais parece um filme de terror (produzido em Hollywood?)

Imagem editada aqui

Ah!, o que eu já escrevi sobre a Síria.  Mas não vos maço com longas transcrições. Apenas uma, que tinha então um título parecido embora se referisse à Líbia. Lá, tinha um depoimento do General Wesley Clark, assim e que explica tudo:
"Quando retornei ao Pentágono em Novembro de 2001, um dos oficiais militares superiores teve tempo para uma conversa. Sim, ainda estamos em vias de ir contra o Iraque, disse ele. Mas havia mais. Isto estava a ser discutido como parte de um plano de campanha de cinco anos, disse ele, e havia um total de sete países, a principiar pelo Iraque e então a Síria, Líbano, Líbia, Irão, Somália e Sudão".
Post em que citava Michel Chossudovsky, editado em 2011
Seis anos passados, depois do muito que se passou, fica a pergunta:
"Que interesse teriam as forças militares sírias na utilização de armamento proibido numa operação militar de limitadas consequências, numa fase da guerra em que a supremacia é evidente, e quando muitos olhos neste mundo aguardam com avidez um pretexto para dar aos "rebeldes" o tempo e a força que lhes vai escapando?"

06 abril, 2017

Escalar não é trepar...


Ela começou com o desembaraço que lhe lhe permite o treino...


Depois eu também bem o tentei... quase ia conseguindo
mas fiquei pelo caminho...


... depois, lá bem no cimo
de mim ficaram rindo

Eu bem tentei, tentei
caí, mas não me senti humilhado
escalar não é trepar
levava calçado
desadequando

Foi giro!

04 abril, 2017

Ainda Amadou Hampâté Bá : “Cada ancião que morre é uma biblioteca que se queima”


Sobre as histórias contadas e vividas... 
«Nós as aprendíamos de cor e, se fossem belas, já no dia seguinte espalhavam-se por toda a cidade. Este era um aspecto desta grande escola oral tradicional em que a educação popular era ministrada no dia-a-dia. (...) Para as crianças, estes serões eram verdadeiras escolas vivas, porque um mestre contador de histórias africano não se limitava a narrá-las, mas podia também ensinar sobre numerosos outros assuntos, em especial quando se tratava de tradicionalistas consagrados. (...) Tais homens eram capazes de abordar quase todos os campos do conhecimento da época, porque um ‘conhecedor’ nunca era um especialista no sentido moderno da palavra mas, precisamente, uma espécie de generalista. O conhecimento não era compartimentado. O mesmo ancião (no sentido africano da palavra, isto é, aquele que conhece, mesmo se nem todos os seus cabelos são brancos) podia ter conhecimentos profundos sobre religião ou história, como também ciências naturais ou humanas de todo tipo. »
(in "Amkoullel, o menino fula" pag.174)

02 abril, 2017

A tradição viva e um (outro) belo conto de Amadou Hampaté Bâ

"A escrita é uma coisa, e o saber, outra. A escrita é a fotografia do saber, mas não o saber em si. O saber é a luz que existe no homem. A herança de tudo aquilo que nossos ancestrais vieram a conhecer e que se encontra latente em tudo o que nos transmitiram, assim como o baobá já existe em potencial em sua semente."
Baobá
 Sabem os que me conhecem e também os que me seguem que quando encontro um filão não o largo. "Conheci" Amadou Hampaté Bâ há pouco e não lhe perco um conto.

E este é lindo

01 abril, 2017

Em dia das mentiras, um conto africano


A VERDADE E A MENTIRA
«Deus decidiu, um dia, criar todas as coisas, as boas e as más.
Criou a noite e o dia, o direito e o avesso, a lua e o sol, o alto e o baixo; e assim, a cada objecto e situação foi criado o seu contrário.
A Verdade foi criada grande, majestosa, de uma beleza incomparável. Por seu lado, a Mentira, era pequena, feia e doentia.
Deus, na sua grande bondade, deu à Mentira uma faca de mato para que melhor se pudesse defender e ter as mesmas oportunidades que a Verdade; depois enviou-as para o mundo.
Verdade e Mentira foram, cada uma, para o seu lado, caminhando e andando.
As pessoas preferiam ouvir a Verdade, era tão atraente pela sua beleza e, com ela, tudo era tão límpido!
A Mentira, rejeitada, começou a sentir crescer, dentro de si, ciúmes e raiva contra a Verdade.
Um dia, decidiu esperar pela Verdade num caminho escondido e provocá-la.
Irrompeu uma briga entre os dois opostos da Palavra. A Verdade, mais forte e mais resistente ficou em vantagem mas, demasiado confiante, distraiu-se. A Mentira, então, aproveitou esse momento de distracção para lhe cortar a cabeça, com a sua faca de mato.
A Verdade, atordoada, cega, procurou às apalpadelas a sua cabeça, a fim de a voltar a colocar no seu corpo. Procurando febrilmente o seu belo rosto acabou por sentir uma cabeça sob os seus dedos e, com uma rapidez e força insuspeitas puxou-a para si e colocou-a no seu corpo.
Mas … foi a cabeça assustadora e feia da Mentira que, na sua cegueira, também tinha decapitado.

Andando e caminhando a Verdade anda pelo mundo com a cabeça imunda da Mentira e a Mentira com a bela e altiva cabeça da Verdade … e os homens já não conseguem distinguir a verdade da mentira!»


Amadou Hampaté Bâ/Tradução Maria Abreu