23 abril, 2017

A senhora apareceu-lhe


A senhora apareceu-me

A senhora apareceu-me!... Aparição, visão, sonho ou fantasia?
Dormia eu a sesta à sombra duma azinheira (numa manta de retalhos, pois claro!) quando uma senhora brilhante, não tanto como o sol, chegou à minha beira.
Não me disse para a louvar por ser celeste,
Não me sugeriu que sofresse para lhe agradar,
Não me exigiu que lhe agradecesse a força do meu trabalho,
Não me pediu que lhe suplicasse a felicidade,
Não me rogou que lhe repetisse como um papagaio preces e avés,
Não me segredou guerras futuras se não a venerasse,
Não me culpou pelos meus prazeres carnais,
Não disse nada.
Não vinha de calças, nem de saia comprida, nem de mini-saia.
Nua e serena, aproximou-se. 
Só uma senhora assim para me pôr de joelhos.
Pôs-se de joelhos também.
Enrolámo-nos na manta de retalhos. Paz, amor e sorte.
Azar, era dia 13, um melro largou-se no meu rosto.
Acordei.
Da santa ou companheira, nem sinais.
Dei um salto.
Falei alto
À sombra duma azinheira:
25 de abril sempre! Fascismo nunca mais!

7 comentários:

  1. Gostei. A metáfora da revolução nua, pronta a fazer amor com um povo que sonha com ela, é muito interessante.
    Um abraço

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    1. Ampliaste o entendimento
      no sentido certo

      Fica exultante o bácoro
      pois foi dele o sonho sonhado

      (brinco, claro!)

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  2. Também me pareceu uma bela alegoria da revolução dos cravos, até ao momento em que um fortuito melro situa o encontro num qualquer dia treze... ficou a dúvida, mas gostei muito do poema.

    Abraço.

    Maria João

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  3. Inapropriado o texto? Nem pensar...Pertinente e cheio da vivacidade inteligente a que nos habituaste.
    Beijinho

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    1. De seu a seu dono
      o texto está assinado

      e tens razão, não é inapropriado o texto
      inapropriado é este tempo

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  4. Ah, o que eu gosto da 'bacorada' do Pata Negra, Rogério! :)

    Já aqui, há atrasado,:) foi publicado aqui, por si, um poema muitíssimo engrado. Desta vez é que lá vou 'buscá-lo´ para o meu canto, para o ter mais a jeito.
    Qual revolução, aquilo é mesmo o que parece, uma bela alegoria em forma de prece. :)

    Abraço.

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