27 abril, 2017

O 25 de Abril. As comemorações em Oeiras - I I


A primeira imagem, à esquerda, é a original e foi tirada por um profissional. Como profissional que é, certamente tirou várias para depois escolher a que melhor enquadrar. Como o orador a que se refere a imagem foi o terceiro a intervir naquele mesmo cenário, pode-se dizer que teria o fotografo toda a oportunidade em adequar os parâmetros da sua sofisticada máquina, de modo a que a luz realçasse as cores nacionais, a que a focagem fosse a correcta (para além de poder esperar que o bombeiro deixasse a cara descoberta).
A segunda imagem é uma grosseira montagem, feita por mim, para tentar emendar tão péssimo trabalho, repor dignidade (e tratar respeitosamente) alguém que tal merece.

E esse é quem? É o meu camarada Carlos Coutinho!
E quem é o Carlos Coutinho?

É um camarada que tem (fez) este discurso, ontem, Na Assembleia Municipal de Oeiras:



Caros Concidadãos,

“Era uma vez um país

onde entre o mar e a guerra

vivia o mais infeliz

dos povos à beira-terra

Onde entre vinhas sobredos

vales socalcos searas

serras atalhos veredas

lezírias e praias claras

um povo se debruçava

como um vime de tristeza

sobre um rio onde mirava

a sua própria pobreza” (Ary dos Santos)


Qual a razão que nos traz a todos, hoje 25 de Abril de 2017, a esta sala?

Qual a lembrança que nos une a todos, hoje, aqui neste auditório?


Qual a palavra que celebramos, hoje aqui?


Pelo verbo do poeta Jorge de Sena o digo:

“Qual a cor da liberdade?

É verde, verde e vermelha.”

Sim, é sem dúvida a Liberdade que aqui nos traz. É ela que nos permite estarmos reunidos neste espaço.



O 25 de Abril de 1974, foi um acontecimento extraordinário que, pela esperança que abriu, que pelas transformações que desencadeou, ficará gravado, para sempre, na nossa memória coletiva, enquanto povo, e, sem dúvida, no nosso património afectivo.



Como precisamos de conhecer o passado, para entendermos o presente e para construirmos o futuro, nunca é de mais lembrarmos que a Revolução dos Cravos nos trouxe a democratização, o progresso, o desenvolvimento de Portugal.



Em Abril de 74, colocou-se um ponto final numa Guerra Colonial fratricida para com os povos africanos irmãos, ao ser derrubado o regime ditatorial de Salazar e Caetano, regime opressor, medíocre, caduco, fechado, cego e surdo aos ventos de mudança que varriam a Europa e o Mundo após a vitória sobre o Nazi-fascismo em 1945. Um regime indiferente às legítimas aspirações do povo português.



Foi a dignidade de homens livres, que ganhámos naquela madrugada libertadora, naquele dia “inicial inteiro e limpo”. (Sophia de Melo Breyner Anderson)



Os jovens Capitães, mais tarde apelidados de Capitães de Abril, abriram o caminho com as suas chaimites, onde balas rapidamente foram substituídas, pelo povo feliz que inundou as ruas, por flores de esperança: cravos vermelhos!

“Qual a cor da liberdade?

É verde, verde e vermelha.”

 Sim, os Capitães abriram o caminho para a nossa liberdade, e por isso lhes estaremos para sempre gratos. Mas, não se iludam, o antigo regime desmoronou-se não por acaso. Foi obra de muitas décadas anteriores de luta, de muitos anos de resistência. Obra de homens e de mulheres que deram a vida por um Portugal que queriam mais livre, mais justo, mais solidário. Homens torturados, que se recusaram a denunciarem os seus companheiros; mulheres a viverem um estatuto de menoridade nas suas decisões mais simples, sempre subjugadas ao poder paterno ou marital; pessoas na clandestinidade sem poderem, durante anos, rever as suas famílias, os seus filhos; operários nas fábricas e camponeses nos campos a fazerem greves por menos horas de trabalho e melhores salários, quando as mesmas eram proibidas; estudantes em luta por um ensino digno; professores e cientistas impedidos de lecionarem por terem ideais opostos à cartilha única; escritores e poetas com os seus livros apreendidos; jornalistas com os seus textos truncados pelo lápis azul da censura prévia; marinheiros, mineiros, empregados de escritório, gente assassinada às mãos da torcidária polícia política do regime, encerrada nas suas prisões e nos seus campos de concentração.



A entrega de todos eles foi recompensada em 25 de Abril de 1974. Com a nossa Liberdade. Liberdade que, não poucos, já não conseguiram gozar.



Mas, mais uma vez, não se iludam. Nunca poderemos baixar os braços, pois é essencial continuar a defender Abril de todos os que dele pretendem fazer um simples dia feriado, sem ideologia, sem significado.



Os estandartes de Abril, as conquistas de Abril, têm que ser as bandeiras que agitaremos com maior ênfase.



Caros Concidadãos,



São quase inumeráveis as conquistas e as transformações que nos trouxeram a Revolução e os tempos que se lhe seguiram.



Muitas dessas transformações foram realizadas pelo Poder Local Democrático, uma das mais sólidas e duradouras conquistas de Abril.



Por este motivo, a CDU e os seus eleitos prosseguem uma intransigente defesa do poder local democrático que, ao longo de décadas tem sido objeto da ofensiva da política de direita para reduzir o seu papel e a sua dimensão plural, representativa e participada que a Constituição da República Portuguesa consagra.



Estaremos sempre, na linha da frente, contra o ataque e a usurpação à autonomia das autarquias, contra o empobrecimento democrático imposto ao seu funcionamento e organização (cujo expoente máximo foi o governo PSD/CDS).



Exigimos, assim, condições financeiras, organizacionais e humanas que permitam o capaz desempenho das atribuições e das competências autárquicas.



Defenderemos, com a luta que for necessária, os serviços públicos e o acesso à cultura, à saúde, à educação, à proteção social e à habitação por parte de toda a população.



O nosso compromisso é inequívoco no sentido da reposição das freguesias liquidadas, pois elas representam um fator de proximidade e de participação democrática.



Na mesma linha, o PCP proporá, na Assembleia da República, que se estabeleça um calendário que permita que em 2019 esteja concluída a criação e a instituição das regiões administrativas.



Já em Maio, o Partido Comunista fará o agendamento da discussão de um projeto de lei sobre a contratação coletiva; e promoverá uma audição pública sobre a desregulação dos horários de trabalho.



A intervenção da CDU nas autarquias é um fator decisivo para dar expressão e força à intervenção em defesa dos direitos das populações e de todos os trabalhadores, à solução dos problemas, à promoção do desenvolvimento e progresso locais.



Rejeitando visões populistas e demagógicas de ataque gratuito e de suspeição generalizada sobre eleitos locais, o percurso reconhecido dos autarcas da CDU, percurso de trabalho, de honestidade e de competência, pautou-se, pauta-se e pautar-se-á pelo exercício de cargos públicos norteados pela recusa de benefícios pessoais, pela intervenção coerente da defesa do poder local, da sua autonomia.



 Caros Concidadãos,



Saudamos e agradecemos a ação dos ex-autarcas que vão ser hoje aqui galardoados, porque lhes estamos reconhecidos pela sua dedicação à causa pública, porque fomos recompensados pelos bons serviços que prestaram a toda a nossa comunidade.



Eles deram o melhor do seu esforço, do seu trabalho, ao desenvolvimento do Concelho de Oeiras, ao bem-estar e à qualidade de vida das nossas populações.



A eles, o nosso abraço fraternal mais apertado.



Por causa deles, a tarefa para os atuais e para os futuros eleitos da CDU é honrar este legado.



Honrá-los com Honestidade, com Trabalho, com Confiança.



De nós, eleitos da CDU, comprometidos com o programa que assumimos com os nossos eleitores, esperem sempre, no presente, e no futuro, como até aqui, a intervenção com todas as nossas forças, com clareza, sem desânimos e com a firme convicção, nas autarquias e fora delas, no sentido da luta para construir um futuro melhor.



Mais importante, ainda, do que meramente recordar o 25 de Abril de 1974, é re-acordar em nós os seus ecos e metermos mãos ao que ainda está por fazer…

“Qual a cor da liberdade?

É verde, verde e vermelha.”



Viva o 25 de Abril !

Carlos Coutinho,
Assembleia Municipal de Oeiras, 
25 de Abril de 2017
 

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