A primeira imagem, à esquerda, é a original e foi tirada por um profissional. Como profissional que é, certamente tirou várias para depois escolher a que melhor enquadrar. Como o orador a que se refere a imagem foi o terceiro a intervir naquele mesmo cenário, pode-se dizer que teria o fotografo toda a oportunidade em adequar os parâmetros da sua sofisticada máquina, de modo a que a luz realçasse as cores nacionais, a que a focagem fosse a correcta (para além de poder esperar que o bombeiro deixasse a cara descoberta).
A segunda imagem é uma grosseira montagem, feita por mim, para tentar emendar tão péssimo trabalho, repor dignidade (e tratar respeitosamente) alguém que tal merece.
E esse é quem? É o meu camarada Carlos Coutinho!
E quem é o Carlos Coutinho?
É um camarada que tem (fez) este discurso, ontem, Na Assembleia Municipal de Oeiras:
Caros Concidadãos,
“Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra
Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza” (Ary dos Santos)
Qual a razão que nos traz
a todos, hoje 25 de Abril de 2017, a esta sala?
Qual a lembrança que nos
une a todos, hoje, aqui neste auditório?
Qual a palavra que
celebramos, hoje aqui?
Pelo verbo do poeta Jorge
de Sena o digo:
“Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.”
Sim, é sem dúvida a
Liberdade que aqui nos traz. É ela que nos permite estarmos reunidos neste
espaço.
O 25 de Abril de 1974, foi
um acontecimento extraordinário que, pela esperança que abriu, que pelas
transformações que desencadeou, ficará gravado, para sempre, na nossa memória
coletiva, enquanto povo, e, sem dúvida, no nosso património afectivo.
Como precisamos de
conhecer o passado, para entendermos o presente e para construirmos o futuro,
nunca é de mais lembrarmos que a Revolução dos Cravos nos trouxe a
democratização, o progresso, o desenvolvimento de Portugal.
Em Abril de 74, colocou-se
um ponto final numa Guerra Colonial fratricida para com os povos africanos
irmãos, ao ser derrubado o regime ditatorial de Salazar e Caetano, regime
opressor, medíocre, caduco, fechado, cego e surdo aos ventos de mudança que
varriam a Europa e o Mundo após a vitória sobre o Nazi-fascismo em 1945. Um
regime indiferente às legítimas aspirações do povo português.
Foi a dignidade de homens
livres, que ganhámos naquela madrugada libertadora, naquele dia “inicial
inteiro e limpo”. (Sophia
de Melo Breyner Anderson)
Os jovens Capitães, mais
tarde apelidados de Capitães de Abril, abriram o caminho com as suas chaimites,
onde balas rapidamente foram substituídas, pelo povo feliz que inundou as ruas,
por flores de esperança: cravos vermelhos!
“Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.”
Sim, os Capitães abriram o
caminho para a nossa liberdade, e por isso lhes estaremos para sempre gratos.
Mas, não se iludam, o antigo regime desmoronou-se não por acaso. Foi obra de
muitas décadas anteriores de luta, de muitos anos de resistência. Obra de
homens e de mulheres que deram a vida por um Portugal que queriam mais livre,
mais justo, mais solidário. Homens torturados, que se recusaram a denunciarem
os seus companheiros; mulheres a viverem um estatuto de menoridade nas suas
decisões mais simples, sempre subjugadas ao poder paterno ou marital; pessoas na
clandestinidade sem poderem, durante anos, rever as suas famílias, os seus
filhos; operários nas fábricas e camponeses nos campos a fazerem greves por menos
horas de trabalho e melhores salários, quando as mesmas eram proibidas;
estudantes em luta por um ensino digno; professores e cientistas impedidos de
lecionarem por terem ideais opostos à cartilha única; escritores e poetas com
os seus livros apreendidos; jornalistas com os seus textos truncados pelo lápis
azul da censura prévia; marinheiros, mineiros, empregados de escritório, gente
assassinada às mãos da torcidária polícia política do regime, encerrada nas
suas prisões e nos seus campos de concentração.
A entrega de todos eles
foi recompensada em 25 de Abril de 1974. Com a nossa Liberdade. Liberdade que,
não poucos, já não conseguiram gozar.
Mas, mais uma vez, não se
iludam. Nunca poderemos baixar os braços, pois é essencial continuar a defender
Abril de todos os que dele pretendem fazer um simples dia feriado, sem
ideologia, sem significado.
Os estandartes de Abril,
as conquistas de Abril, têm que ser as bandeiras que agitaremos com maior
ênfase.
Caros Concidadãos,
São quase inumeráveis as
conquistas e as transformações que nos trouxeram a Revolução e os tempos que se
lhe seguiram.
Muitas dessas
transformações foram realizadas pelo Poder Local Democrático, uma das mais
sólidas e duradouras conquistas de Abril.
Por este motivo, a CDU e
os seus eleitos prosseguem uma intransigente defesa do poder local democrático
que, ao longo de décadas tem sido objeto da ofensiva da política de direita
para reduzir o seu papel e a sua dimensão plural, representativa e participada
que a Constituição da República Portuguesa consagra.
Estaremos sempre, na linha
da frente, contra o ataque e a usurpação à autonomia das autarquias, contra o
empobrecimento democrático imposto ao seu funcionamento e organização (cujo
expoente máximo foi o governo PSD/CDS).
Exigimos, assim, condições
financeiras, organizacionais e humanas que permitam o capaz desempenho das
atribuições e das competências autárquicas.
Defenderemos, com a luta
que for necessária, os serviços públicos e o acesso à cultura, à saúde, à
educação, à proteção social e à habitação por parte de toda a população.
O nosso compromisso é
inequívoco no sentido da reposição das freguesias liquidadas, pois elas
representam um fator de proximidade e de participação democrática.
Na mesma linha, o PCP
proporá, na Assembleia da República, que se estabeleça um calendário que
permita que em 2019 esteja concluída a criação e a instituição das regiões
administrativas.
Já em Maio, o Partido
Comunista fará o agendamento da discussão de um projeto de lei sobre a
contratação coletiva; e promoverá uma audição pública sobre a desregulação dos
horários de trabalho.
A intervenção da CDU nas
autarquias é um fator decisivo para dar expressão e força à intervenção em
defesa dos direitos das populações e de todos os trabalhadores, à solução dos
problemas, à promoção do desenvolvimento e progresso locais.
Rejeitando visões
populistas e demagógicas de ataque gratuito e de suspeição generalizada sobre
eleitos locais, o percurso reconhecido dos autarcas da CDU, percurso de
trabalho, de honestidade e de competência, pautou-se, pauta-se e pautar-se-á
pelo exercício de cargos públicos norteados pela recusa de benefícios pessoais,
pela intervenção coerente da defesa do poder local, da sua autonomia.
Caros
Concidadãos,
Saudamos e agradecemos a
ação dos ex-autarcas que vão ser hoje aqui galardoados, porque lhes estamos
reconhecidos pela sua dedicação à causa pública, porque fomos recompensados
pelos bons serviços que prestaram a toda a nossa comunidade.
Eles deram o melhor do seu
esforço, do seu trabalho, ao desenvolvimento do Concelho de Oeiras, ao
bem-estar e à qualidade de vida das nossas populações.
A eles, o nosso abraço
fraternal mais apertado.
Por causa deles, a tarefa
para os atuais e para os futuros eleitos da CDU é honrar este legado.
Honrá-los com Honestidade,
com Trabalho, com Confiança.
De nós, eleitos da CDU,
comprometidos com o programa que assumimos com os nossos eleitores, esperem
sempre, no presente, e no futuro, como até aqui, a intervenção com todas as
nossas forças, com clareza, sem desânimos e com a firme convicção, nas
autarquias e fora delas, no sentido da luta para construir um futuro melhor.
Mais importante, ainda, do
que meramente recordar o 25 de Abril de 1974, é re-acordar em nós
os seus ecos e metermos mãos ao que ainda está por fazer…
“Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.”
Viva o 25 de Abril !
Carlos
Coutinho,
Assembleia
Municipal de Oeiras,
25 de Abril de 2017
Aplaudo e partilho.
ResponderEliminarMª João
Gostei de ouvir! Faz falta ouvir...
ResponderEliminarLídia
Gostei de ler. É urgente reavivar a chama.
ResponderEliminarUm abraço