31 dezembro, 2020

ELEGIA, DO VELHO ANO - A MINHA ODE AO ANO NOVO

ELEGIA, DO VELHO ANO

Caros amigos,
sabendo que está quase chegada a hora
de me ir embora,
aproveito a oportunidade que me é dada
para vos deixar palavras medidas
bem pesadas e reflectidas.
Vou ser acusado de ter sido um mau,
muito mau ano.
Que grande engano…

Nada de mais errado
atribuir ao Tempo
aquilo que está fora das suas competências.
Não sou o causador de vossas dores,
ansiedades, medos e temores... 
Não sou eu quem desencadeia pandemias, nem as guerras que infernizam a terra
sois vós próprios,
caras senhoras e caros senhores.
Sois vós próprios e as vossas circunstâncias,
e mesmo estas não me podem ser imputadas.
O tempo, este vosso servo,
apenas é uma referência intangível
a quem nada é exigível.
Ninguém até hoje me tocou.
Ninguém até hoje me fotografou,
me descreveu a rigor ou desenhou.
Contudo existo,
mas apenas marco referências
de cada facto ocorrido,
de cada acto omisso,
de oportunidades tidas ou perdidas.
E logo, quando cada badalada for ouvida,
das doze que serão escutadas,
não esqueçam de juntar aos vossos doze desejos,
palavras minhas, aqui deixadas:
Que cada desejo não entregue ao tempo anseios
que dependem de vossos gestos.
O tempo nunca resolveu nada
que os povos não tenham querido resolver.
Que cada um saiba o que de importante pode e deve fazer.
Que a sabedoria vos ilumine.
São os meus votos

____________________________________________
MINHA ODE AO ANO NOVO

Deixemos ir o velho
Que eu fico e mesmo em sofrimento me renovo
Há dez anos que por aqui ando
Na esperança de cada ano
Vir a ser um Ano Novo
Hoje, em dia que se quer solidário
Quebro o hábito
E desejo-vos  a todos
Um BOM MUNDO NOVO


30 dezembro, 2020

Antes da minha mensagem de ANO NOVO, vejamos como foi o velho...

É hábito fazer balanço do que foi o ano. E eu o tenho feito. Desta vez delego. Aos fotos que vos trago são (na sua maior parte) da Agência Lusa e a selecção do colectivo do AbrilAbril . Desfrutem. Desfrutem e chorem...

29 dezembro, 2020

Ainda a nossa noite de Natal...

A nossa Noite de Natal foi, evidentemente, um explodir de emoções mascaradas de alegria para abafarem qualquer tendência de cairmos todos num silencio doloroso. Ninguém sugeriu a ninguém para que fizéssemos o que cada um fez. Cada pequena loucura maior que a outra. Mas sempre deu para, ainda que breve, houvesse conversa e até uma pequena discussão.

Na televisão, sempre ligada, passava música seleccionada pelo Luís. Quando passava uma, o Luís lança um provocatório "Sei que gosta do Bruce, mas esta interpretação está um espanto, muito melhor que o original!" e começou aí um desfilar de exemplos de gente, que até nem canta por aí além mas que cria canções que, cantadas por outros, dá gosto ouvir. Dou a mão à palmatória, mas ambos acabámos por concordar que não é por alguém saber bem cantar que esse alguém consegue dar alma a uma criação que a não tem...e o Bruce põe a alma que a Daniela e a Gia souberam, tão bem, recriar.

Muito belo, isto!

 

E há tantos outros exemplos... tantos!

25 dezembro, 2020

CANTATA DESTE NATAL DIVIDIDO - I (a véspera)

Antes de distribuídas as prendas / Beijos e oferendas / De cada a um a cada um (Pois Pai de Natal Não houve nenhum) / O Paulo abriu a garrafa /O Hermínio cortou o queijo  / E eu fazia gracejo... 

 Na cozinha, a Susete Escorreu o tacho / A João escorreu o outro / E depressa / os fizeram chegar à mesa / ao ritmo do Gregoriano / canto saindo como que por encanto / servindo de fundo à cena / E, nesse ensejo, / eu fiz mais um gracejo 

 A Andreia, o Mário e o Diogo / A Sandra, o Luís e o Duarte / A Luísa e o Alberto e a sua descendência / O Pedro, a Vanda e a minha sobrinha Maria /A Dulce e a sua linda família / O Fernando, a Carla, A Catarina e a Carolina / todos ausentes, divididos / por imperativos / desta maldita pandemia 

Assim, privada de gente miúda / Maria pediu com ternura / parceria ao irmão Miguel / pois estava danadinha / por jogar o jogo da sardinha / E enquanto a neta gargalhava / a Marta filmava 

E ela? Sim, esteve sempre presente / no nosso coração, na nossa mente! 

(E lembro, com saudade, a última CANTATA)

 

____

23 dezembro, 2020

Eu, árvore velha e triste, desejo Boas Festas a todas as minhas folhas perenes.

… E tudo começou, 
há 20 anos atrás
Até que um Pássaro Azul
pousou, como estrela
e as folhas
foram nascendo, nascendo
até que a árvore
atingiu
a dimensão do seu coração
enorme
 
___________________________
Tenho recebido e-mails em barda
Uma autêntica enxurrada 
...e até Minha Alma implora: 
volta, volta, volta!
Meu Contrário não diz nada
e como quem cala consente
voltei a abrir a porta
a toda a gente

21 dezembro, 2020

Mesa Redonda (12) - Tema: A blogosfera, fechar a porta ou mantê-la aberta!

Apresentação, contar da esquerda: Eu, Meu Contrário e Minha Alma

Eu (virado para a assistência, com a sala quase vazia): Esta Mesa Redonda decorre daquela outra, realizada em Novembro. Essa, foi considerada decisiva, pois estava colocada a questão de fechar ou não este espaço. Considerava ser pesada a decisão e lembrava ser há mais de pois há 10 anos que mantenho esta janela aberta. Hoje não vos proponho discutir a revisão dessa decisão, mas se devo ou não manter a porta aberta a comentários, atendendo ao que anda por aí... Quem quer tomar a palavra?

Minha Alma (pensativa): Mas... fechares a porta a comentários, terás de abandonar aquilo que tanto gostas, que é deixar comentários nas portas dos outros...

Meu Contrário (interrompendo): Deixa-te de tretas, no Seara de Versos, a Lídia fechou, por razões semelhantes, o espaço de comentários mas não se inibe de os fazer. Com todo o respeito, ela vai deixando, de quando em quando, a sua visão ou opinião...

Minha Alma (gaguejando): Eh pá, sei lá! Acho que tens razão... Na verdade a blogosfera já não é aquilo que era. Cada vez mais se está tornando num universo "facebooquiano".

Eu e Meu Contrário (em coro): Isso mesmo!

(... e os três fomos juntos fechar a porta e transformá-la numa montra onde tudo se mostra!)


20 dezembro, 2020

Um conto de Natal, lembrando Saramago

(reedição revista, da versão publicada em Dezembro de 2010)

"Parece-me completamente impossível ler num ecrã de computador. Lamento. Sou do tempo do livro, do papel. Uma pessoa pode deixar cair uma lágrima sobre um livro. É mais difícil deixar cair uma lágrima sobre um computador. Creio que o livro, apesar de tudo, perdurará." 
Ao ler estas palavras de José Saramago redobro a motivação. Terei que (re)escrever os "meus caminhos" nesse formato, transformando-o em livro*. Contudo, não tenho a visão de que seja impossível experimentar emoção sobre um teclado trocando o virar de página por um "enter", ou sair de abalada  mágica teclando um "ctrl+alt*Del" ou, ainda, que não possa sentir como milagre que um toque de "rato" sobre uma palavra nos leve ao texto certo... Querem tentar? 
Cliquem aqui e vão parar lá, a todo o conto de Natal que vos fará o coração saltar (os corações saltam, sabiam?) 
 
HOMILIA DOMINICAL (extractos de um conto de Natal)

(...) Porque o Menino, a Criança é um menino, levanta-se da mesa, abre a porta, separa-se da Família e desce os três degraus de pedra que conduzem ao mundo. Ali adiante há um muro caiado, baixo, com uma varanda dando para terras ignotas. A Criança vai debruçar-se sobre o muro, deixa cair a cabeça sobre os braços cruzados, e o terrível nó das lágrimas desata-se dentro de si. Da casa vêm risos e vozes, alguém fala muito alto, e depois ressoam gargalhadas. Ninguém está pensando na Criança (...) Mas ela tem os olhos fixos, está confusa, perturbada: o desenho mostra a invariável manjedoura, a vaca e o burrinho, e toda a restante figuração. Sobre esta cena já sem mistério cai a neve, e esta neve é preta. Porquê? “Porquê?”, pergunta a Professora à Menina que fez o desenho. A Menina não responde. Talvez mais nervosa do que quereria mostrar, a Professora insiste. Há na sala os risos cruéis e os murmúrios de troça que sempre aparecem em ocasiões destas. A Menina está de pé, muito séria, um pouco trémula. E responde, por fim: “Pintei a neve preta porque foi nesse Natal que a minha mãe morreu”. Fez-se silêncio e a Professora pensou, assim o veio a contar mais tarde: “À Lua já chegámos, mas quando e como conseguiremos chegar ao espírito duma criança que pintou a neve preta porque a mãe lhe morreu?”. Muitos anos depois destas histórias terem acontecido, contei-as a uma outra Menina, que me perguntou: “E eles ainda estão tristes?”. Nessa altura disse-lhe que sim, que há tristezas que o tempo não consegue apagar, mas hoje conforta-me a ideia de que talvez o Menino do Muro Branco e a Menina da Neve Negra se tenham encontrado na vida, e que talvez por causa deles o mundo já esteja a mudar sem que nós tenhamos dado por isso."

Um Conto de Natal de José Saramago

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* Sim, estas palavras de Saramago foram o empurrão que faltava para publicar "Almas Que Nunca Foram Fardadas", cujo titulo inicial era "Caminhos do Meu Navegar"

19 dezembro, 2020

«A meia-noite é uma chama ardendo numa estrela dourada»

Coloquei esta árvore, pendurada, na trepadeira da sala! 

(obrigado, Luís!)
 

Um hino ao colectivo... em sapateado?... que importa o estilo?

 

Já passa da uma da manhã. À beira da deita, só me ocorre, pela intensidade da semana que hoje finda, deixar um hino ao meu colectivo, ao trabalho colectivo. 

E o que é isso de trabalho colectivo? 

Não explico, veja o vídeo!

16 dezembro, 2020

Quando o entrevistador rejeita a resposta porque a resposta dada pelo entrevistado não é aquela que o entrevistador espera...

Não venho comentar conteúdos, nem do alinhamento das perguntas nem sequer do acerto das respostas. É, naturalmente, pressuposto que as perguntas se insiram e enquadrem nas questões nacionais e que sejam de molde a pressionar os entrevistados a não lhes passar ao lado. Agora é imperdoável que Adelino Faria leve esse papel ao ponto de impedir que o pensamento do entrevistado flua, argumentando que não está a dar a resposta à pergunta. 

E Adelino Faria faz mais, quando o entrevistado afirma e reputa como importante uma solução ou um caminho, ele interrompe e corta o fio ao argumento. A imagem acima reproduz um exemplo dos muitos que poderia ir buscar, no decurso dos 30 minutos que dura a entrevista. 

Vale a pena clicar neste link, ir ao vídeo, colocar o cursor nos seis minutos e trinta e cinco segundos, e veja.

Chegados aqui, a interrogar, diria:

Quem (e o que) faz correr Adelino Faria?

14 dezembro, 2020

Burro velho, afinal, aprende linguas


Se foi fácil ao burro velho aprender a linguagem com que tinha de organizar a Assembleia? Foi! 

Via "zoom", que é aquela ferramenta que usam os putos que não vão à escola sem que essa ausência seja "gazeta", fui dirigir a Assembleia.

E o que então se passou foi:

Cumprindo um Procedimento Extraordinário para regular o acto de discussão, apresentação de propostas de alteração e votação das Propostas de PLANO DE ACTIVIDADES E ORÇAMENTO PARA 2021, foram aqueles documentos aprovados por  (cerca de 48% dos Associados).
Do Plano de Actividades, salientam-se as passagens, a seguir transcritas:

2 – O PLANO DE ACTIVIDADES
i. Projecto “Literacia Democrática” em parceria com o Centro Qualifica e envolvendo Escolas Secundárias – tem uma elevada probabilidade de poder vir a realizar-se tendo em conta que envolve e se destina aos jovens do 12º e aos professores
das escolas com as quais temos vindo a desenvolver actividades;
ii. Projecto “Venham Mais Cinco” – Visitas a exposições e locais de interesse cultural e/ou turístico, nos Municípios limítrofes, com deslocação limitada à lotação de um (ou mais) automóvel ligeiro de passageiros. Tem uma elevada probabilidade dado que é uma iniciativa de organização muito flexível e que tem que ser ajustada às condicionantes decorrentes das medidas praticadas pela entidade a quem pertence a iniciativa/evento;
iii. Projecto “Direitos dos Idosos e prática da cidadania” em parceria com a FARPIL – Depende, em primeira análise, das condições de uso das ferramentas que suportarão a iniciativa;
iv. Projecto na área da saúde, em parceria com a ARIA - Associação de Reabilitação Ajuda e outros, relacionados com os riscos/efeitos da propagação do Covid-19 – encontra-se em processo de concepção e terá início ainda em 2020.
v. Bairros com História – Celebração do 50º aniversário do Bairro da Medrosa, em Maio, como resposta a solicitação dos moradores do bairro. Está em vias de ser formalizada a constituição da Comissão Organizadora da celebração do Aniversário. A “Desenhando Sonhos” foi convidada para coordenar esta comissão, que em principio integrará dirigentes das seguintes organizações: EMACO; Clube Futsal de Oeiras; Clube de Voleibol de Oeiras e Escuteiros de São Julião da Barra, cuja sede foi recentemente inaugurada e que se situa no bairro.
vi. Excursão à Lourinhã – Dino Parque e Paimogo (visita à homenagem de Vhils a José Saramago, naquela praia) – Tem a sua realização condicionada às medidas que vigorarem à data, pelo que se prevê realizar no mês de Setembro.
vii. Iniciativas coincidentes com datas relevantes (a programar pela Direcção):
1. 21 de Março – Dia Internacional da Poesia
2. 25 de Abril – Tema relacionado com o Projecto Literacia Democrática
3. 5 de Junho – Dia Mundial do Ambiente
4. 14 de Setembro – Aniversário da “Desenhando Sonhos”

13 dezembro, 2020

Ah, o tanto que tanto me encanta, este "cante"

Meu Sangue Mouro, Meu Coração Luso e Minha Alma Celta gostam desta... 

Sabendo disso e por gostar de Meu Sangue Mouro, a Luísa ofereceu-me um"cante


12 dezembro, 2020

DECLARAÇÃO DE INTERESSES!

… é só para dizer que, com muito orgulho, a minha assinatura está entre as 15 mil do processo de candidatura de João Ferreira a Presidente da República, a primeira a ser entregue no Tribunal Constitucional!

… sei de muitos amigos/as que, por todo o País, também estariam disponíveis para o fazer se fosse necessário e/ou se lhe tivesse sido solicitado!

11 dezembro, 2020

Eu, um desenhador de sonhos, em luta contra os pesadelos...


O Ministro diz que sim, que será na próxima segunda-feira. Estava, frente ao seu Ministério, a nossa Direção (incluindo-me, claro). A imprensa por lá esteve, mas a notícia certa é a que agora cito, assim:
«O senhor Ministro da Economia encontrou-se com a delegação da CPPME que esteve numa Concentração para serem recebidos hoje no Ministério da Economia.
Foi agendada a reunião para a próxima segunda feira no Ministério.
A Concentração convocada pela CPPME, resultava da falta de resposta a um pedido de audiência com carater de urgência pedido a 15 de novembro, face ao crescente descontentamento que se vem a verificar, perante o agravamento da situação em que a maioria dos setores empresariais constituídos por Micro, Pequenas e Médias Empresas estão a viver, com o inevitável efeito dominó na economia nacional.» 

Sou um "desenhador de sonhos" mas também luto contra os pesadelos que hoje assolam milhares e milhares de pequenos empresários a braços com a sobrevivência. 

Agora, passo a palavra ao meu Presidente (entrevista à Agência Lusa)

09 dezembro, 2020

As árvores falam! Que dizem as árvores?

A árvore jazia arrumada. A última vez que veio à vida brilhou na sala. Hoje exigiu ficar à janela para que as outras árvores olhassem para ela. Contudo, a palmeira mais alta não se limitou a olhá-la e saudou-a com um um olá. Despertas, as árvores à volta, como se acordadas de um sono longo, saudaram a árvore chegada à janela. Envaidecida, por tão calorosa e afável recepção, a árvore muniu-se de coloridas bolas, fitas e outro enfeites e que se juntaram luzes diversas. Ficou vaidosa. 

Foi então, que Cristo Rei, lá de longe e envolto em nevoeiro, fez ecoar a mensagem que chamou à razão. Disse Ele:

Queridas árvores, lembro a proximidade da comemoração do meu nascimento e que o meu trágico destino se deveu a, num determinado dia, ter expulsado os vendilhões do templo.

Depois disso todas as árvores, num murmúrio audível, disseram em coro

Haja Deus!

____ 

O Miguel é que decorou a minha Árvore de Natal e não ficou nada mal... o resto foi na linha do que já antes tinha dito!



08 dezembro, 2020

Uma oferta cultural, em contexto de «caos sensível»

Exposição «Histórias II» de Irina Inozemtseva-Lopes no Fórum Cultural de Alcochete, até 19 de dezembro.

«No meio de toda esta imprevisibilidade, intensificada pela pandemia e pela falta de soluções que evitem uma cada vez maior instabilidade social e política no país e o agravamento dos problemas sociais e ambientais, voltemos ao «caos sensível» e à forma como a especificidade da arte contribui para «ordenar esse caos, sem sair da esfera do sensível». 

No retomar da programação artística, sugerimos alguns dos projetos artísticos apresentados que têm como referência os espaços «que repelem a presença do sujeito» no projeto «VAST/O», «o corpo que acompanha ou proporciona» o movimento da linha em Maria Sassetti, o «objecto-paisagem-corpo» e «a precariedade» em Pedro Ruiz, e as representações do corpo em Francisco Fernandes (XicoFran) e em Irina Inozemtseva-Lopes

 Esta proposta veio via AbrilAbril 

Dela farei agenda. 

Para já, não vou perder ver "O Punho", pois Bernardo era meu irmão!

Um apontamento: a camponesa Maria do Sacramento e a latifundiária D. Mafalda


07 dezembro, 2020

Sinto-me Palma!


Pelos ternos afectos
De filhas, genros
Compadres e netos
Sinto-me Palma

Pelos sorrisos
E doces mimos
Ofertas de vizinhos
Sinto-me Palma

Porque onde me abasteço
Da padaria ao supermercado
Me ofertam sorriso rasgado
Sinto-me Palma

Porque no meu partido
Em cada camarada
Tenho um solidário amigo
Sinto-me Palma

Porque em frente da minha janela
Se ergue uma árvore
Respeitada por toda a comunidade
Sinto-me Palma

É verdade, sim
Hoje me senti assim
Depois de me sentir
Frágil

Encosta-te a mim!
Faz-me sentir como o Jorge!

06 dezembro, 2020

Ainda as intrigantes palavras de Eduardo Lourenço, sobre (alguns) poetas do neo-realismo

Transcrevo,  as intrigantes palavras de Eduardo Lourenço, naquele texto meu que ele "escreveu, num texto seu, referindo-se à obra de Manuel da Fonseca como "folclorismo populista", considerando os poemas de Fernando Namora "prosaicamente agressivos" e quanto aos poemas de Álvaro Feijó e de Políbio Gomes dos Santos de uma autenticidade  de "inegável adolescentismo".

Sobre Álvaro Feijó, foi ele considerado, por quem meu leu, de enorme maturidade de escrita e, assim, negando-se o inegável.

Vejamos o que se considera de Políbio Gomes dos Santos...

Testamento Aberto

Só para ver curar minhas pernas partidas
Nas dores eternas
Dos saltos gorados,
Eu amo a aparente inconsciência dos loucos,
Embora fique aos poucos nos meus saltos
Desabridos e falhados.

Apraz-me, no espelho, esta face esmagada,
À força de querer transpor o além
Da minha porta fechada...

Porém,
Seja o que for, que seja,
Se uma CERTEZA alcanço
E uma mulher me beija.

Que importa
Que eu fique molemente olhando a minha porta
Aberta,
Ou que eu parta e a morte me espreite
Num desfiladeiro?...
E quem virá chorar e quem virá,
Se a morte que vier for a de lá
Certeira e minha...
E merecida como um sono que se dorme
Após a noite perdida?...

E que piedade anda a escrever um frágil,
Na embalagem dos ossos
Que trago emprestados...
Que deixarei ficar ao sol e à chuva
E que serão limados
No entulho dos calhaus que também foram rocha?...

Para quê, se mil vezes provoco
Os tombos do chegar e do partir?!
- A minha fragilidade
Foi-me dada
Para me servir.

Políbio Gomes dos Santos, in 'As Três Pessoas'*

* A Maria João tem o livro, vou pedir-lho! 


05 dezembro, 2020

Proibi a Maria João, hoje mesmo, que escrevesse... nem mais um soneto!

 

Visitei-a, como uma vez a tinha visitado. Ligou-me, mas desta vez a razão era diferente como foi diferente a conversa do médico, que fez prognóstico mais reservado fazendo sentir que tudo podia acontecer, dado que a lesão da córnea era grave. Nas urgências do São José esperei, pacientemente, que o atendimento decorresse depois de algumas peripécias até chegar a ele (a "saúde 24" encaminharam-nos para o São Francisco Xavier, desconhecendo que o hospital não tem urgência da especialidade).

Segunda-feira irei levá-la ao Egas Moniz... Veremos...

A manifestar o desejo que tudo se resolva, fica o soneto que um dia me foi dedicado.

NÃO HÁ FIM PARA O SONHO. NÃO HÁ FIM...
Não há, neste planeta, mar nem céu,
Estrada longa demais, alta montanha,
Ponte suspensa sobre um medo teu
Que te trave esse sonho e, coisa estranha,

Um pouco desse sonho é também meu,
Um nada dessa chama em mim se entranha
E aonde chegar, chegarei eu,
Pois nisto ninguém perde. Só se ganha.

Não há fim para um sonho construído,
Nem haverá lugar para o vencido
Num sonho desta forma partilhado

Se, quando te pareça estar no fim,
Vês que mal começou dentro de mim
E que outros vão nascendo a nosso lado.
Maria João Brito de Sousa – 02.05.2018

04 dezembro, 2020

Eduardo Lourenço e um seu pensamento...


O vídeo refere-se a uma entrevista realizada em 2014 para a exposição “Les universalistes, 50 ans d’architecture portugaise”, Cité de l’Architecture et du Patrimoine/Fundação Calouste Gulbenkian. 

 

Diz Eduardo Lourenço, a um dado momento (17min e 52seg):

«A revolução do 25 de Abril, a nossa revolução das flores, começa exatamente no momento em que a era das revoluções estava acabada na Europa, de maneira que tinham que haver aqui uma […] de último jardim zoológico da revolução que já não existia, e então o Sarte que anda sempre à procura do último país revolucionário que era a China e o Vietname que tinha acabado, Cuba não dava, a nova Cuba que estava aqui a preparar-se a ver este país, não viu nada, coisa nenhuma, viu sim uma espécie de uma festa, uma revolução festiva, uma revolução festiva quer dizer uma não revolução. Felizmente […] o 25 de novembro é ironia, uma revolução festiva foi sentida como uma libertação uma coisa sem saída e de que não tinha sujeito responsável a não ser o antigo regime na sua totalidade, inclusive o homem já tinha morrido ele não viu o fim dramático do seu próprio sonho, quem apanhou essa dramatizagem foi o Marcelo Caetano porque foi uma mistura de verdadeira revolução e de complô no sentido técnico da palavra, só os militares é que podiam fazer aquilo impunemente naquela altura. Ao fim de vários meses a comprar os jornais os franceses já estavam chateados, toujours les portugais. Só se falava daquilo.» 
Assim lido, até arrepia...

03 dezembro, 2020

Poesia (uma por dia) - 98


«Nasci numa manhã com neblina de bronze / sobre o rio. / O Sol era uma incógnita na bolsa esverdeada do horizonte / e, embora primavera, uma manhã de outono.» [Os Poemas de Álvaro Feijó*, 1961]

POEMA

Fundiu-se o olhar do poeta em lágrimas salgadas
e o poeta não quis cantar o que os seus olhos viram.
É que o poeta só cantava
para as meninas dos balcões floridos
de cactos e de cravos,
para aquelas
que sonham com estrelas
e príncipes de lenda.
- E preferiu cegar.
Fechar os olhos ao vaivém da rua
e continuar morando em sua Torre de Marfim.

Ah! Poeta inútil!
Enrouqueceu a cantar as líricas inúteis
aos cravos das janelas
das meninas fúteis
e ninguém mais se lembrará de ti.
Mas se cantares a rua, a fome, o sofrimento,
se abrires os olhos sobre o nosso mundo,
se conseguires que toda a gente o veja
e o sinta, e sofra, só de ver sofrer,
ninguém se lembrará de ti, poeta,
mas terás feito a tua luta,
e, nela,
justificado uma razão de ser.

Álvaro Feijó, in «Corsário (1940)»

___________________________________________

*O meu anterior escrito,  permite-me agradecer a Eduardo Lourenço o ter-me lembrado a obra de um poeta quase esquecido. Álvaro Feijó, que faleceu com 25 anos. Eduardo Loureço qualificou-a de uma autenticidade  de "inegável adolescentismo" ficando-me a dúvida de se, com tal  adjectivação, estava a desvalorizar , por imatura, a poesia do jovem poeta ou se se trataria de um elogio. 

01 dezembro, 2020

Eduardo Lourenço, in memorian (1923-2020)

 

«INTERROGADOR INCESSANTE.

Eduardo Lourenço é uma das grandes referências das culturas de língua portuguesa. O ensaísmo que cultivou, na senda de Montaigne e em diálogo com António Sérgio e Sílvio Lima, mas também com Unamuno e Ortega, é uma marca indelével que ficará como um sinal marcante da democracia portuguesa.»

Começa assim a notícia, tal como aparece na página do Centro Nacional de Cultura. Desse elogio fúnebre, diz-se de Eduardo Lourenço «é um filómita e cultiva os mitos como modos de realizar a grande psicanálise mítica do destino português.»

Não podia estar mais de acordo, olhando eu (a meu modo) sobre o que foi a sua evolução, a forma em como se relacionou com o movimento neo-realista português. Apenas como exemplo não posso deixar de sublinhar que escreveu, num texto seu, referindo-se à obra de Manuel da Fonseca como "folclorismo populista", considerando os poemas de Fernando Namora "prosaicamente agressivos" e quanto aos poemas de Álvaro Feijó e de Políbio Gomes dos Santos de uma autenticidade  de "inegável adolescentismo". (in Como Uma Pedra No Silêncio, pág. 365)

Sobre a sua forma de olhar a realidade, vai além da psicanálise mítica entrando mesmo na visão metafisica dos factos históricos, como aqui se dá elucidativo exemplo

Há, para a parte do mundo que aprecia a sua vasta obra, o reconhecimento da fluência e ligação do seu discurso e o mérito de o saber comunicar pela palavra e pela escrita. Assim, ousaria dizer que irá ser considerado o maior pensador actual, um "sinal marcante (desta) democracia  portuguesa.

Regresso ao inicio, à notícia do CNC, onde se dá destaque aos diálogos entre Eduardo Lourenço e António Sérgio para publicar uma carta inédita que este lhe endereçou, em 2 de Fevereiro de 1950, e onde é notório um clima de quase ruptura, apesar do tom afável.

Meu caro Camarada,

Recebida a sua estimada de 30, apresso-me a declarar que me não magoou o ferrete dado nos meus lombos, não havendo na dúvida que lhe submeti a menor influencia da vaidade ou do egotismo: e a prova é que aceito a designação  de neo-kantista, que já me foi aposta por nacionais e estrangeiros. Seria também a de neo-kantista (e não neo-cartesiano) que eu aplicaria ao Brunchvicg, pelo menos segundo as obras dele de que tenho algum conhecimento: e afigura-se-me que na medida em que somos ambos discípulos do Kant é que os nossos pontos de vista se aproximam, como bem diz. Quando o li pela primeira vez, no meu exilio de Paris, achei na verdade que muito do que ele sustentava tinha consonância com o que eu propusera como plausível nas Notas sobre Antero e nos primeiros volumes dos Ensaios, apesar de acentuadas divergencie,4 nalguns temas, - como, por ex., na chamada "evolução da razão" ou na atitude perante o bergsonismo: e nesses campos de divergência me pareceu (com razão ou sem ela) que estava eu mais próximo de um "kantismo ideal" do que o grande filósofo francês. Porém, concordo em que para discutir este ponto seria necessário determinar primeira o que se julga fundamental em Descartes e o que se entende por "neo-cartesiano".

Quanto ao Nobre, explico, com efeito, no prefácio da segunda edição do primeiro volume dos Ensaios que, fazendo eu ali história e crítica da cultura na sociedade portuguesa, e não crítica literária, considerei apenas nesse poeta o nacionalismo estético que os admiradores transformaram em nacionalismo politico e social. Aliás, ainda que eu me tivesse revelado insensível aos valores poéticos e propriamente literários do autor do Só (e não era disso, repito, que eu tratava) suponho que seria abusiva a sua frase: incapaz de integrar a criação artística: porque, nem o Nobre á toda a poesia, nem toda a poesia é toda a arte. Nas adorar o Nobre não pode significar ser insensível a toda e qualquer arte. Também não sei a que "analise" o meu caro Camarada se refere, porquanto não fiz analise alguma dos poemas do Nobre.

Quanto ao que chama "sem-razão", tanto e certo que lhe dou lugar na arte que escrevi o seguinte no mesmo volume dos Ensaios, logo depois de falar no Nobre: "o sentimento e a lógica, a inspirará e o bom senso, a sinceridade e a harmonia, a FÚRIA e a Ordenação as duas qualidades que, reunidas, fazem a obra superior". Ora a FÚRIA (posta ali em primeiro lugar) designa precisamente aquilo a que o meu caro Camarada chama na sua carta certa sem-razão". O critico que afirmou que eu detesto o 'fermento romântico" não percebeu absolutamente nada do meu pensar, por isso que creio que sem fermento romântico não existe a menor arte, e que o fermento romântico é o PRIMEIRO elemento de toda arte, a sua PRIMEIRA condição. logo acrescento, porém, que as mais altas obras aliam ao fermento romântico uma forte dose de disciplina critica, de modéstia, de organização mental, e que as obras supremas são as que aliam o máximo fermento romântico à máxima dose de tal disciplina.  Aliás, não disseram outra coisa um Goethe, um Baudelaire, um André Gide. A maioria doa leitores, porém não é capaz de apreender um pensamento sintético e complexo, de duas faces: só vê uma única face, e assim fica, não com a doutrina do autor, mas só com uma caricatura do seu pensamento. O que os críticos portugueses (salvo raríssimas excepções) têm dado de mim são miseráveis caricaturas. Decerto o meu caro Camarada ouviu alguma dessas caricaturas, e lhe deu credito.

Perdoe estas longas explicações (tenho a mania de explicar) e creia-me, com muita estima,

Camarada atento e grato,

António Sérgio

E diz-se no "AS PALAVRAS SÃO ARMAS"

Eduardo Lourenço “pensou Portugal”, não viveu Portugal, passeou-se por entre cérebros “ilustres” que mutuamente se elogiavam e… pensavam. Tratavam-se por pensadores que ensaiavam pensamentos.

A burguesia escolhe e fabrica as suas estrelas que o tempo desvanece.