Estava ali especado há tanto que o Miguel não se conteve com um "Então, avô?" ao que eu lhe respondi que era frequente eu estar à janela a escrever e quanto é mais fácil, depois, ir ao meu espaço e passar a limpo.
Apetecia-me dizer-lhe que contrariamente ao que ele poderá pensar, as janelas não servem só à contemplação. Apetecia-me dizer-lhe o que é possível ver de uma janela. O que nos diz uma rua, uma praceta, mil telhados e a sarjeta. Dizer-lhe como nos fala uma trepadeira, o que nos canta uma árvore e como nos sussurra a palmeira. Apontar-lhe o rio que me passa diante do pensamento e que raramente transborda as margens físicas, de tão acalmado correr e explicar-lhe que o meu pensamento não é assim tão calmo e sossegado pois frequentemente me inunda o sonho e, embarcando nele, como chego muito para lá do horizonte...
Ia a dizer tudo isso ao Miguel mas contive-me a tempo... É cedo para que entenda e aprenda a ver da minha janela.
Talvez amanhã...
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Texto reescrito a partir de um outro que conta mais de dez anos
Da janela do seu quarto ou sala tem uma bela vista, Rogério.
ResponderEliminarCom tanto motivo de encanto, só não encontra inspiração na paisagem quem não souber sonhar.
E o Rogério sabe.
Bonito texto poético.
Um abraço duplo. :)
Pelo que vejo, a tua palmeira continua bonita :) O Rhyncophorus ferrugineus poupou-a.
ResponderEliminarTalvez amanhã o Miguel entenda melhor o azul do rio-já-mar, as palavras veladas da trepadeira e o sussurro da palmeira. Ainda é cedo, tens razão.
Forte abraço!
És um privilegiado com tanta beleza em frente.
ResponderEliminarQuando comprámos a casa há mais de 50 anos víamos as serranias ao longe, agora tenho uma floresta de cimento diante dos olhos.
Malhas que o urbanismo mal amanhado tece!
Abraço
Que bonita crônica !
ResponderEliminarE certamente o neto com a raiz poética do avô entenderá toda a beleza contida nessa janela.
Não será preciso dizer muito.
Olá, Rogério, fui lendo e descendo as postagens e parei nesta, leve e bonita conversa com o neto! Sim, janelas servem para contemplação enquanto vêm muitas reflexões sobre a vida, sobre nosso país, nossa família, nossos sonhos, e daí tiramos o que vale a pena realmente vivermos, pois as decepções são muitas, navegando um pouco na solidão de nossa janela, chegamos fácil às conclusões. Aqui, no meu país a coisa está decepcionante. Mas temos de dar o valor que merecem, nem menos, nem mais. Assim achamos o equilíbrio.
ResponderEliminarAbraços. Bom domingo!