«A virtude subdivide-se em quatro aspectos: refrear os desejos, dominar o medo, tomar as decisões adequadas, dar a cada um o que lhe é devido. Concebemos assim as noções de temperança, de coragem, de prudência e de justiça, cada qual comportando os seus deveres específicos. A partir de quê, então, concebemos nós a virtude? O que no-la revela é a ordem por ela própria estabelecida, o decoro, a firmeza de princípios, a total harmonia de todos os seus actos, a grandeza que a eleva acima de todas as contingências. A partir daqui concebemos o ideal de uma vida feliz, fluindo segundo um curso inalterável, com total domínio sobre si mesma. E como é que este ideal aparece aos nossos olhos? Vou dizer-te.O homem perfeito, possuidor da virtude, nunca se queixa da fortuna, nunca aceita os acontecimentos de mau humor, pelo contrário, convicto de ser um cidadão do universo, um soldado pronto a tudo, aceita as dificuldades como uma missão que lhes é confiada. Não se revolta ante as desgraças como se elas fossem um mal originado pelo azar, mas como uma tarefa de que ele é encarregado. «Suceda o que suceder», — diz ele — «o caso é comigo; por muito áspera e dura que seja a situação, tenho de dar o meu melhor!» Um homem que nunca se queixa dos seus males nem se lamenta do destino, temos forçosamente de julgá-lo um grande homem! Tal homem dá a conhecer a muitos outros a massa de que é feito, brilha tal como um archote no meio das trevas, atrai para junto de si todas as almas, dada a sua impassível tranquilidade, a sua completa equanimidade para com o divino e o humano. Tal homem possui uma alma perfeita, levada ao máximo das suas potencialidades, tal que acima dela nada há senão a inteligência divina, uma parte da qual, aliás, transitou até este peito mortal. E nada há de mais divino para o homem do que meditar na sua mortalidade, consciencializar-se de que o homem nasce para ao fim de algum tempo deixar esta vida, perceber que o nosso corpo não é uma morada fixa, mas uma estalagem onde só se pode permanecer por breve tempo, uma estalagem de que é preciso sair quando percebemos que estamos a ser pesados ao estalajadeiro.»
Séneca, in “Cartas a Lucílio”
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Nota: Este post é cópia quase integral do que foi publicado no Bulimunda's Blog, espaço que sigo há muito!
"Epistulae morales ad Lucilium" vale a pena ler, mesmo quando Séneca não é o filósofo favorito.
ResponderEliminarNão sou assim tão esquisito
EliminarPara mim, todo o filosofo
é favorito
pois não enjeito
nenhum pensamento
(Marx é alemão...)
Já que não és esquisito, Rogério, gostas também de ler a filosofia de Georg Wilhelm Friedrich Hegel Friedrich Nietzsche Martin Heidegger???
EliminarComo comunista, tinhas que gostar de ler o homem de Triestre.
Faltam as vírgulas a separar 3 alemães com um filosofia tão diferente do vosso Marx, embora ele fosse muito influenciado pela filosofia de Wilhelm Friedrich Hegel.
EliminarTeresa, querida amiga, passa o tempo a fulanizar a coisa... vai-me buscar o fulano, o beltrano e o sicrano e passa ao lado do conteúdo... ainda há-de chegar o dia em que vá directa ao assunto...
EliminarMas, como não enjeito nenhum pensamento também dou atenção ao seu!
Voltando a Séneca: "O homem perfeito, possuidor da virtude, (...) nunca aceita os acontecimentos de mau humor, pelo contrário, convicto de ser um cidadão do universo, um soldado pronto a tudo, aceita as dificuldades como uma missão que lhes é confiada."
"O homem perfeito, possuidor da virtude, (...) nunca aceita os acontecimentos de mau humor, pelo contrário, convicto de ser um cidadão do universo, um soldado pronto a tudo, aceita as dificuldades como uma missão que lhes é confiada."
EliminarÉ nos tempos que correm 'café frio'.
Eu proveito sempre o melhor e enfrento de pé o pior que possa acontecer.
Se não me dás a liberdade de comentar como me der na real gana, Rogério, deixo de comentar!!!!!!!!
A propósito da partida de Eduardo Lourenço, este teu post? Mera coincidência?
ResponderEliminarAbraço!
Quando fazemos recurso ao pensamento ajuizado todas as coincidências são possíveis! Né?
EliminarTens razão, tens razão...
EliminarLi que por decisão do primeiro-ministro, amanhã, quarta-feira, é dia de luto nacional.
EliminarRecordando Seneca.
ResponderEliminarGostei bastante do que li.
beijinhos
:)
Ambos gostamos de poemas, mesmo que estes não lhe revistam a forma.
EliminarSéneca também gostaria de te ler...
Gostei do que li. Não conheço nada da literatura dos filósofos gregos e romanos.
ResponderEliminarAbraço, saúde e bom Dezembro
Por vezes é preciso ir beber a fontes antigas
Eliminarpara ter presente que somos humanos...
Séneca é meu irmão
"Muitas coisas não ousamos empreender por parecerem difíceis; entretanto, são difíceis porque não ousamos empreendê-las."
ResponderEliminarSêneca assim também escreveu e eu com ele concordo.
Um beijinho amigo Rogério
Como se ajusta "meu pássaro azul"
Eliminarteu comentário ao meu texto, reforça a minha intenção
(que bom, o teu regresso!)