30 abril, 2014

29 abril, 2014

Que se encham as ruas, que as praças sejam cheias de gente. Que seja grande a maré enchente

Que seja assim, como naquele dia foi

CANÇÃO DO COOPERARIADO
Coopera o opErário 
Esse imenso operaDor 
Sem ele não temos ópera nem opeRações sem dor 
Opera todas as máquinas 
É muito cooperativo 
Opera computaDores 
Supõe-se um executivo 
Funda cooperativas 
Busca coopeRação 
Coopera em cantigas 
Paga as letras da canção 
Pertence ao operariado muitas vezes sem saber 
Porque tanta coopeRação não dá bem para entender
Pertence ao operariado muitas vezes sem querer 
Porque tanta coopeRação só dá para empobrecer 
Já foi herói proletário 
Termo meio bolCHEvique 
O tratamento moderno é telecomando-chip 
Diz-se profissional 
Técnico e funcionário 
Também recurso huMano 
Unidade de trabalho 
Mas afinal (ele) é um grande operacional 
Ele opera e coopera 
Sem ele ponto final 
Fica assente 
Meus Senhores
O que é um operário 
Sem gravata e com gravata 
Morre a viver do salário 
Peça da engrenagem
Produto da produção 
Faz o carro e faz a estrada 
Faz a mesa e faz a cama
Coopera até na morte fabricando o seu caixão

Uns chamam-lhe ParafUso Outros GloBalização

Poema de César Príncipe

27 abril, 2014

Geração sentada, conversando na esplanada - 60 (27 de Abril sempre, apartheid nunca mais!)

(ler conversa anterior)
"Cuito Cuanavale foi a viragem para a luta de libertação do meu continente e de meu povo do flagelo do apartheid"
"...dia 27 de abril de 1994, os cidadãos não brancos votaram pela primeira vez com plenos direitos em eleições multirraciais que transformaram Mandela, líder do partido Congresso Nacional Africano (CNA), no primeiro presidente negro do país."

A esplanada era uma imensa algarviada. Os assuntos estavam pulverizados e falava-se de tudo. Sem lugar para se estirar, o rafeiro do senhor engenheiro corria, lá adiante, atrás do melro que gozava com a perseguição e esvoaçava logo que o cão estava prestes a alcançar-lhe a asa. O engenheiro ia falando, sem que eu lhe desse atenção até que lha dei ao ouvir uma frase próxima de uma outra, ouvida e repetida: "27 de Abril sempre, racismo nunca mais!" ia ele dizendo, como um murmúrio. Depois olhou-me com aquele ar de quem não interroga e avançou: - "Sabe que as datas quase se tocam, e o 27 não existiria se não houvesse 25?"- um leve sorriso meu deu-lhe a certeza de que sabia do que ele falava, e continuou - "Depois da descolonização, não acha estranho que a África do Sul tivesse de esperar 20 anos para se libertar?" - Aí, eu respondi: "Os povos libertam-se com processos que não se esgotam nas datas em que começam!" - Ele sorriu como eu tinha sorrido e eu fiquei com a certeza de ele ter entendido o que tinha eu tinha dito. Antes de se calar, lá foi dizendo: - "Pois é meu amigo, a luta continua!"
Na mesa ao lado, falava-se dos santificados e, numa outra, com admiração, na morte de Vasco Graça Moura... Lá adiante, o cão não desistia do melro nem o melro desistira do cão. Estranho entendimento para "gente" tão diferente...
__________________________________

Para além da data, este post foi inspirado pelas tentativas de João Salgueiro pretender reescrever a história. Ele "ignora", quando afirma que o sucesso da África do Sul se deveu ao facto de o Projecto Mandela ter sido preparado em mais de uma década, que o processo se deveu a outros factos, aqui descritos.  

26 abril, 2014

O 40º Aniversário do "dia inicial inteiro e limpo", o votar abaixo das nossas possíbilidades e os suspiros dos submissos - 6


...
Quando eu finalmente eu quis saber
Se ainda vale a pena tanto crer
Eu olhei para ti
Então eu entendi
É um lindo sonho para viver
Quando toda a gente assim quiser
...
"Eu vim de longe", José Mário Branco

25 abril, 2014

O 40º Aniversário do "dia inicial inteiro e limpo", o votar abaixo das nossas possíbilidades e os suspiros dos submissos - 5

Hoje foi um dia cheio. Foi um correr. Eu, Minha Alma e Meu Contrário, nenhum se deu parado. Daqui para ali e de lá para cá, entre um e outro lugar. Dizíamos brincando, num interregno para rápidas compras: "Para ser Deu só me falta o poder da omnipresença". A senhora estendeu-me o saco do pão e sorriu, sem perguntar o que eu queria dizer (o autocolante, ao peito, era esclarecedor). E tudo começou pela manhã:

Primeiro, foi no Teatro Eunice Munõz, preso pelo que diziam 7 jovens. Uma jovem, mais velha, entrevistava e, enquanto duas mal tinham forças para erguer o micro, ouviamos e ovacionávamos o que aos outros ouvíamos. Embora nem tudo fosse digno de aplauso, aplaudíamos. Aplaudiamos até o embaraço de estar em palco. Ao lado, um púlpito descaracterizado de cravos de falseada cor, completava o cenário. Este, veio depois servir para muitos e diversos discursos. Uns a merecer aqueles cravos descorados, outros a merece-los mais vivos, vermelhos. Sampaio da Nóvoa, esteve sintonizado (ou mais que isso) discorrendo sobre o "dia inicial inteiro e limpo" com a veemência que fez com que Minha Alma me segredasse ao ouvido "lindo!" Depois foi um desenrolar de testemunhos de juventude caracterizando o Estado Novo. Quase me arrebatava, quando no final do discurso estragou tudo.
E foram mais, e outros. Até que alguém, sério, disse assim:
«Evocar o 25 de Abril é também evocar a alternativa.

Porque não toleramos viver prisioneiros no nosso próprio país, porque não toleramos que a soberania do povo continue a ser profanada, apelamos aos portugueses para que assumam o compromisso de tudo  fazerem para que Portugal se liberte das amarras que o prendem e assim possamos retomar a caminhada por um “Portugal soberano e desenvolvido» - Carlos Coutinho/ Deputado Municipal da CDU.
De tarde, não foi o banho de multidão que surpreendeu, mas a idade. Juventude que, por simpatia, me fez vencer o cansaço da longa espera, enquanto Minha Alma me ia colocando mais, e mais cravos, na lapela...
Começam a haver sinais de que se irá votar em equilíbrio com as nossas possibilidades...

Já de regresso, em Santo Amaro, paro. Saio e atravesso o jardim. De um e do outro lado, um cravo. Muitos cravos, perfilados. Em baixo uma folha de papel era apontada. Escritos, todos os direitos constitucionais. Um casal de idosos, aponta e parou para ler. Eu fui ver. Conferi o que há muito tinha percebido: "O povo unido, jamais será vencido!"

Foi um dia em que mal se ouviu qualquer suspiro submisso...

21 abril, 2014

O 40º Aniversário do "dia inicial inteiro e limpo", o votar abaixo das nossas possíbilidades e os suspiros dos submissos - 1


Inicio a semana com o tema que trago, desde aquela madrugada, dentro de Minha Alma. Aquele "dia inicial inteiro e limpo" ocupará estas páginas, até à data. Começo com um texto de Pezarat Correia, uma reflexão necessária. Necessária sobretudo para os que, tendo votado abaixo das suas possibilidades, agarram-se, em desespero, a suspiros por intervenções desesperadas...

“Qualquer intervenção militar hoje na vida política portuguesa teria muito mais a ver com um 28 de Maio do que com um 25 de Abril”

“Alguns dos militares que fizeram o 28 de Maio também estavam cheios de boas intenções em que Portugal pudesse regenerar a sua democracia. Só que a regeneração da sua democracia deu no Estado Novo, que cá esteve 48 anos"

"Há é que recuperar o 25 de Abril, que é diferente”
 Pezarat Correia, a ler aqui


É um texto (também ele) inteiro e limpo, que termina assim:
“Não é só agora que a Constituição está a ser violada”, sublinhou, acrescentando que “a Constituição começou a ser violada muito cedo, praticamente logo a seguir, com o primeiro governo constitucional”.

20 abril, 2014

Benfica campeão!


“O ser alienado não procura um mundo autêntico. Isto provoca uma nostalgia: deseja outro país e lamenta ter nascido no seu. Tem vergonha da sua realidade.” - Paulo Freire

Páscoa, doce Páscoa


A EXCEPÇÃO E A REGRA
...Oferecer amêndoas
cumprindo a regra da quadra
é uma fuga ao jogo sem regras
Por isso, toque na oferta
pois a regra é tirar uma
e a regra do saborear
faz parte deste jogo manso
A alma? 

Ah, meus amigos
se ela existe, vive na excepção
A minha, em cada momento
determina-me os actos, 

contrariando todas as regras
Rogério Pereira

«Estranhem o que não for estranho. Tomem por inexplicável o habitual. Sintam-se perplexos ante o cotidiano. Tratem de achar um remédio para o abuso. Mas não se esqueçam de que o abuso é sempre a regra»
Bertolt Brecht

18 abril, 2014

Sexta-Feira Santa: "Eli, Eli, lama azavtani?" (Meu Deus, Meu Deus, por que me abandonaste?)


Não me condeneis pelo que julgais serem heresias minhas, 
eu mantenho a fé nas pedras, que são (dizem) também obra Sua

A morte é sempre coisa pequena se comparada com vida tão grande...

« ...
A uma criança, daria asas, mas deixaria que aprendesse a voar sozinha.
Aos velhos ensinaria que a morte não chega com a velhice, mas com o esquecimento.

Tantas coisas aprendi com vocês, os homens… Aprendi que todos querem viver no cimo da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a rampa. Aprendi que quando um recém-nascido aperta, com sua pequena mão, pela primeira vez, o dedo do pai, tem-no prisioneiro para sempre. Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se.
...»
Gabriel García Marquéz, in Carta de Despedida

17 abril, 2014

D. Manuel Clemente escolheu, para esta Quinta-feira Santa, evocar a atitude de serviço e humildade que Jesus teve pouco tempo antes da sua morte. Os poderes instituídos e os actuais vendilhões do templo não lhe perdoariam se tivesse escolhido evocar o que levou Jesus à cruz... mas os humilhados e ofendidos talvez lhe esperassem isso

REMBRANDT - "A expulsão dos vendilhões do Templo"
«Ora, estava próxima a Páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém; e encontrou no templo muitos vendendo bois, ovelhas, pombas, e os cambistas sentados (às suas mesas). E, tendo feito um como que azorrague de cordas, expulsou-os a todos do templo, e as ovelhas e os bois, e deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derrubou as mesas. E aos que vendiam pombas, disse: Tirai daqui isto, e não façais da casa de meu Pai, casa de negócios. Então lembraram-se seus discípulos do que está escrito: O zelo da tua casa devorou-me. Tomaram então a palavra os judeus, e disseram-lhe: Com que sinal nos mostras tu que tens autoridade para fazer estas coisas? Jesus respondeu-lhes, e disse: Desfazei este templo, e eu o reedificarei em três dias.» (Envangelho, segundo São João 2, 13-22)


Joana Manuel, em Oeiras: “Portugal vai pagar este ano quase metade do que recebeu em seis anos de fundos comunitários”


Os Fundos Comunitários são custos calculados (em Bruxelas) que integram a estratégia de empobrecimento, num dar com uma mão para tirar com a outra: “Portugal vai pagar este ano, quase metade do que recebeu em seis anos”. De facto, terminada a sessão, fomos conferir as contas e precisar os números: Portugal recebeu 18 mil milhões de fundos (de 2007 a 2012) mas no ano em curso terá que amortizar, só de juros da dívida pública, mais de 7 mil milhões de euros. É um saque planeado à custa de um endividamento que foi sendo construído desde há muito tempo. Joana foi ilustrando o caminho, com uma expressão viva, directa e pejada de ironia, foi falando do governo de Cavaco, e de como as políticas seguidas conduziram à destruição da economia sobre o estandarte da “Europa connosco”: 
“A economia, é uma ciência humana, distinta da biologia, da física. É uma ciência humana e não depende de mais nada, que não seja da política seguida. E as que foram seguidas desde a criação (1951) da Comunidade Europeia de Ferro e do Aço até à União Europeia, passando pela CEE, são as do domínio dos mais ricos e poderosos. Mas há alternativas”. 
E falou delas, a uma plateia atenta!
_________________________________________

PS: Houve uma coisa que eu (um velho, batido e curtido) aprendi ontem com a Joana (uma jovem). Foi a pedagogia da mensagem que melhor contraria estes afilhados de Goebbels: 1º que se fale do facto 2º que se fale da consequência do facto e só no fim, o 3º passo, que se aponte o dedo aos responsáveis. Aprendi que quase sempre o 3º passo é dispensável, pois quem ouve os dois primeiros o conclui sem dificuldade. Aprendi, ainda, que se começamos pelo fim, ninguém nos ouve! Ontem foi uma excelente lição, dada com a humildade de quem não quer dar lições a quem anda há tanto na luta!

Pássaro de Fogo... Pode ser uma águia? Uma obra genial? O que quiserem...


15 abril, 2014

Joana Manuel: «descobri que nada está só na voz e a voz está em tudo. Até quando se cala». Logo, ela estará entre nós, com a sua voz


É cantora de formação, de profissão. De paixão também é actriz, professora, locutora, dobradora, activista. Vendo bem, de que é feita a profissão se não de paixão? É por isso que Joana Manuel é tudo isto, e mais ainda. Porque faz tudo isto (e mais ainda) de profissão e de paixão.(...) Gravou e cantou com Sérgio Godinho. Foi vocalista da Big Villas Band. Noutras palavras, Música e Joana nasceram sinónimos.
Tal como Música e Teatro. E Joana que o diga. Quando fez o último exame da faculdade de Música saiu a correr da sala directa para a Comuna, para um ensaio geral com Fernando Gomes. Um episódio que retrata na perfeição como divide a vida entre os palcos cantados e os palcos falados. Entre o teatro e a música – e especialmente quando ambos são um todo – o seu currículo é vastíssimo.
Mas entre os palcos cantados e os palcos falados, também há os palcos da rua (ou da vida). E nesses, também é protagonista. Joana Manuel é activista e faz parte do movimento organizador da a manifestação ‘Que Se Lixe a Troika! Queremos as Nossas Vidas!’, de 15 de Setembro, que deu voz a toda uma sociedade desgastada pela incerteza e pela precariedade.

Joana estará entre nós,  LOGO, ÀS 21h NO AUDITÓRIO CÉSAR BATALHA, (Galerias Alto da Barra), em Oeiras - como candidata CDU ao Parlamento Europeu.
 

14 abril, 2014

Do SNS restará apenas o que for residual, ou o que o sector privado não queira...


Por motivos vossos conhecidos, vivo intensamente isto:
"O administrador do hospital de S. João da Madeira confirmou o fim da cardiologia" - Noticia em 10 de Janeiro de 2008

"Hospital da Horta perde três importantes valências: oncologia, urologia e cuidados intensivos." - Noticia de 13 de Maio de 2013

"O Centro Hospitalar de São João anunciou hoje que, com efeito a partir de ontem, o atendimento pediátrico de urgência do Hospital de Valongo passou a ser feito no Porto." - Noticia em 27 de Agosto de 2013
"O Hospital de Portimão vai perder a maioria das especialidades médico-cirúrgicas e corre o risco de se transformar numa espécie de centro de saúde." - Notícia em 16 de Setembro de 2013
"O Hospital Padre Américo, Vale do Sousa (Centro Hospitalar Tâmega e Sousa, EPE), vai perder várias valências, das quais se destaca a especialidade de urologia e cirurgia vascular." - Notícia em 10 de Abril de 2014
"O Hospital de Guimarães foi desclassificado e perdeu três serviços: obstetrícia, urologia e cirurgia - Notícia de 10 de Abril de 2014

"O Ministério da Saúde propõe o fim da cirurgia cardiotorácia no hospital de Santa Cruz, em Carnaxide, e no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia, segundo um despacho publicado em Dário da República." - Noticia em 11 de Abril de 2014
"Entre 2002 e 2012, os hospitais do Serviço Nacional de Saúde perderam três mil camas para internamento, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) relativamente à área da saúde, enquanto os privados ganharam mais 1400."

13 abril, 2014

Geração sentada, conversando na esplanada - 59 (caminhos únicos e os nossos elos)

(ler conversa anterior)
"Os tempos
Apagaram as Rosas dos Ventos
Destruíram mapas dos mares
Sextantes antigos, modernos radares
E outros apetrechos mareantes
Hoje, e esse hoje tem muitos ontens,
Diz-se haver um só caminho
E que fora dele o desastre é certo
Como se não fosse certo o desastre dentro dele
"

"O meu cão sentiu a sua ausência" - disse ao ver-me chegar, não tendo a coragem de dizer que fora ele próprio que a sentira. Sei o que se passa na cabeça e na alma de um velho quando não mais pode contar do que um cão com quem falar. Não que o rafeiro do senhor engenheiro não interaja ou reduza a monólogo qualquer conversa que com ele se tenha, mas um cão nem lê jornais nem toma iniciativas de assunto. 
Sorri e respondi que sim, com detalhes e mais detalhes, e fui espraiando até que me interrompeu: 
- "Está visto, gosta dos velhos!"
- "Sem velhos, perdemos elos!"
- "Foi à manifestação?"
- "Claro!"

Nós e o Mar

12 abril, 2014

Sábado... Foi assim, a semana que hoje finda (13)

O tempo passa lento se lhe metemos pouca coisa dentro. O dia-a-dia é uma distracção, quer se faça algo quer não. É frequente, só muito depois nos apercebermos, olhando o calendário passado, se houve notícias sólidas da nossa passagem pela vida, se foi bem ou mal preenchida, se houve marcos, se nos indignámos e, nesse caso, o que fizemos a seguir à indignação. Exactamente para não ser apanhado desprevenido no futuro, naqueles balanços que descem até nós inquietando-nos os dias, regresso à retrospectiva dos dias, fazendo juízos, corrigindo o que me alertarem dever ser corrigido. Semanalmente.

Meu Contrário - É o ponto alto da semana. Teve todo o mérito em ver confirmada a leitura e análise sobre o destino da "galinha dos ovos de ouro". Provas? Tantas, mais que muitas: as agências de notação financeira fazem promessas de feição lisonjeira; os juros da dívida baixam na praça e os donos do casino fazem discursos de elogio; a governança marada reduz os cortes que ameaçava e diz-se disponível para o que, antes, era impossível. Haverá uma acalmia como há muito não havia.

Minha Alma - Teve pontos altos e baixos. Os pontos altos situam-se nos afectos domésticos, onde deu alento e fez festejo. Minha Alma provou que a alma não se limita a ser o meu interior. O que tenho dentro, fez o que era necessário para o equilíbrio familiar. Não foi fácil. Não vai ser fácil, mas deu confiança. Conseguiu isso em prejuízo de amigos. Foi um ponto baixo, um ponto fraco. Deve fazer profunda reflexão... 

Eu - Andou mal, muito mal. Perante a chegada de amigos manteve-se ausente. Nem agradeceu. Nem fez o que lhe era habitual,  desapareceu. Perante alguns equívocos, não correu a desfaze-los.  Um Eu nunca deve desguarnecer uma relação privilegiando outra. Se o Meu Contrário esteve bem, a verdade é que tal, ao Eu, apenas ocupou o pensamento e não o tempo. Eu deveria ter levado a palavra de Meu Contrário a todos os amigos.

09 abril, 2014

Poesia (uma por dia) - 62


AMANHECER

Navego no cristal da madrugada,
Na dureza do frio reflectido,
Onde a voz ensurdece, laminada,
Sob o peso da noite e do gemido.

Abre o cristal em nuvem desmaiada,
Foge a sombra, o silêncio e o sentido
Da nocturna memória sufocada
Pelo murmúrio do dia amanhecido.
© JOSé SARAMAGO
In Os Poemas Possíveis, 1966

08 abril, 2014

Por que razão a economia não cresce, a questão da produtividade e o salário mínimo nacional!

Está a ver aquela imagem de museu? não, não é um fogão. É uma fábrica de cozer, hortaliças, batatas e feijão. Opera-se lá laboriosamente: coloca-se álcool desnaturado naquele pequeno prato, deita-se fogo e espera-se que a cabeça aqueça um pouco, depois dá-se umas bombadas e se o espalhador estiver como deve ser, a máquina passa à função de cozer.
Está a ver a outra imagem? não, não é um foguetão. É outra fábrica de cozer, hortaliças, batatas e feijão. Para chegar à função de cozer, basta carregar no botão. 
Ah, atenção, compare os tempos de confecção!
Duas fábricas, produzindo o mesmo produto... 
O que é que isto tem a ver com o título? Tem, e muito!
Produtividade dos cozinheiros? Que culpas para os que trabalham com fogareiros?...
O estranho é que um ministro, sabendo de tudo isto, não o soube explicar (por inteiro) ao seu "primeiro"

Minha Alma está pasmada: há uma chamada na primeira página...


É verdade, hoje o Público surpreendeu. Uma vez, sem exemplo? Vamos ver...
"A CDU defende a revogação do Tratado Orçamental (TO)?
Nós defendemos a institucionalização da possibilidade da revogação dos tratados, não apenas do TO. O TO não é, em rigor, um tratado da UE.
Pode ser revogado unilateralmente pelos países.
Há países da UE que não o subscreveram. A desvinculação do TO é uma necessidade, como é a reversão dos tratados da própria UE, concretamente do Tratado de Lisboa, que é profundamente antidemocrático. O Tratado de Lisboa começou com a elaboração do projecto de tratado constitucional, que foi rejeitado, e que foi, de alguma forma, recauchutado em Tratado de Lisboa. Em Portugal, o primeiro governo do PS de Sócrates, prometeu em campanha eleitoral, e depois incluiu no programa de governo, um referendo ao futuro tratado da UE. É interessante recuperar essa formulação do programa de governo do PS, considerando que outra solução não era aceitável, que o processo tinha um défice de legitimidade democrática.
Na altura, foi uma condição negociada que os países abdicassem do referendo para que houvesse acordo...
Nada pode impedir o povo português, se for essa a sua vontade soberana, de se desvincular desse tratado.
Mesmo se isso tiver como consequência possível a desvinculação da própria UE?
As rupturas que defendemos como necessárias com a UE pressupõem uma acção articulada com outros países, começando naqueles que enfrentam dificuldades semelhantes. Sendo certo que não fazemos depender as rupturas necessárias ao país dessa convergência. Mas naturalmente que importa procurá-las."
Ler tudo na entrevista do Público, aqui

07 abril, 2014

O wrestling em dois rings com horário desencontrado... mas falemos para além da politica espectáculo

O wrestling continua... o golpe de Sócrates fez corar as imensas orelhas do contendor... o público aclamou e o povo assistente rejubilou! Depois, no outro ringue, as audiências aumentaram, é que o estimado público saiu a correr, o professor é de não perder... É o espectáculo da política em sessão contínua.

Longe das televisões, há quem teime em se fazer ouvir. Um discurso sério:

06 abril, 2014

Hoje não houve conversas na esplanada...


Há quem acorde feliz por acordar e, no resto do dia, vai passando ao lado da vida. Há quem acorde com a tristeza da quase certeza de que vai perecer, e no resto do dia esquece medos e males e abraça a vida. Contudo, a conversa com o médico é clara e, por entre os termos clínicos quase indecifráveis, foram ditas palavras que não pudemos evitar que tivessem sido ditas. Alheia a isso, quando entro no quarto esboça um sorriso e faz-me um aceno. Aceno que não é uma despedida, é de satisfação pela chegada... Está melhor esta rosa, envelhecida, que se agarra à vida!


04 abril, 2014

O rápido Oeiras-Cais do Sodré


Naquele dia, mal ela sabia, decidira ir de comboio. Apesar da distancia se vencer em menos de meia hora, deu para tudo: olhar a paisagem, fixar-se nos rostos tristes e fechados dos passageiros apinhados e dar uma leitura, rápida, no jornal gratuito pejado de anúncios e parco de assuntos. Ia concentrada em pensamentos, quando o andamento da composição se tornou mais e mais vagaroso, lento, muito lento, até parar. E porque no inicio do dia todos os minutos são contados, começaram os suspiros e de seguida os comentários: "passámos a pagar mais, perdemos regalias e o serviço piora"; "o material está gasto e não é mantido"; "há tempos, houve um descarrilamento e só não aconteceu o pior, sabe lá Deus como..." E as conversas iam evoluindo conforme o prejuízo sentido e o conhecimento que cada um tinha da realidade da linha: "Esta degradação tem a ver com a privatização"; "vai acontecer aqui o que se passa com o comboios que atravessam o Tejo: operador privado, preço dobrado". 
Ela, de si para si dizia, lamentando-se, porque raio se tinha lembrado de naquele dia não ter levado o carro. Olhou o relógio. Tinha tempo. De trás de si uma voz, que se tinha mantido calada, fez-se ouvir sobrepondo-se a todas as outras: «É preciso levar tudo à penúria para que o investimento estrangeiro apareça e seja querido. Não sabem que vão ser gastos milhões e milhões na ferrovia? E vejam: precisamos de renovar carril  ou meter novo, anos depois de a Siderurgia Nacional fechar. Não faz mal, vem de fora; precisamos de renovar carruagens e adquirir mais material de transporte de pessoal e de carga, anos depois da Sorefame e da Metalsines fechar. Não faz mal, mandamos vir de fora; precisamos de substituir rodados e adquirir outros, anos depois de fecharem as principais fundições. Não faz mal, mandamos vir de fora. Há uns anos, não muitos, a incorporação de componentes nacionais num projecto ferroviário tinha um impacto extraordinário. E hoje? Fala o governo que a ferrovia é um projecto estratégico para a economia... Para a economia de quem?»  Ficou tudo calado. Ela encheu-se de energia e repetiu a pergunta. Não foi pelo facto de o comboio ter retomado a marcha que a pergunta ficou sem resposta...

03 abril, 2014

O odioso, os odiados e os factores de mudança

Falando do que se escreve, vê e fala, percebemos que as mensagens são polarizadas em nomes e caras. Tudo é fulanizado. Os dias contarão para a história, correndo-se o risco de o nosso presente vir a ser escrito como o foi no passado, em que os avanços civilizacionais eram devidos a heróis e os retrocessos eram imputados a ditadores, traidores ou a pouco dotados: os odiados. Nos retrocessos sentidos, apontam-se os odiados, ridicularizam-se os discursos, reproduzem-se as caricaturas e pouco se fala, escreve, analisa e aprofunda o odioso . No dia em que um nome, uma cara, saia da ribalta ninguém garante que se esteja perante o fim do quer que seja e quem chega protege-se dos tiques e falas do destituído. Odiou-se Salazar, mal discutindo o salazarismo. Odeia-se Passos, mal discutindo o neoliberalismo. Aprontam-se cabeças cheias de sentenças, como se dependesse a mudança de algum bem-pensante, como se a alternância fosse mudança:
«As causas de todas as mudanças sociais e de todas as revoluções políticas, não as devemos procurar na cabeça dos homens, em seu entendimento progressivo da verdade e da justiça eternas, mas na vida material da sociedade, no encaminhamento da produção e das trocas.»
Karl Marx, no prefácio de "Crítica da Economia Política"

02 abril, 2014

Um post azul, cor de um pássaro

por um CAMINHO AZUL

Porque lhe prometi, porque o dia necessita e porque eu aderi!

...e já agora, uma cena 
tão forte como um poema:


Quem são os autistas?, me perguntava depois do filme.

01 abril, 2014

A dona Esmeralda e a vizinha do 4º andar, a conversar - (19)

Vizinha do 4º andar (começando a conversar) - Dona Esmeralda, já mentiu hoje?  Eu menti, e muito! Aquelas mentiras sem importância nenhuma, só para assinalar a data...
Dona Esmeralda (exaltada) - A data que devia ser assinalada deveria ser dedicada às verdades... Pelo menos haver um dia! Não suporto tanta mentira, tanta conversa da treta, tanta peta!
Rogérito (interrompendo, nesse preciso momento) - Não há é paciência para os que acreditam, por  estupidez ou conveniência! Pior que o mentiroso é o que da mentira tira proveito, sossego ou gozo!