31 maio, 2020

Dor, raiva, fúria atingem os EUA


De tudo o que se tem escrito, mostrado e dito, extraio este apontamento de um texto publicado num jornal que não perco:
«Alguns jornalistas que procuravam cobrir os eventos, apesar de exibirem os seus cartões ou se identificarem perante as autoridades, foram objecto de repressão policial. O caso mais conhecido é o Omar Jiménez, correspondente local da CNN, preso quando se encontrava a meio de um  directo nacional (ver vídeo, ao 1' 20") e libertado por uma intervenção do director da cadeia televisiva, mas outros jornalistas reclamam terem sido directamente visados por forças policiais, seja com disparos de balas de borracha seja com lançamentos de granadas de gás lacrimogéneo sem aviso prévio nem provocação, refere a NBC

30 maio, 2020

Duas notícias e uma conclusão...


«Em um breve discurso feito na tarde desta sexta-feira (29/05) na Casa Branca, o presidente americano, Donald Trump, anunciou o "término da relação" do país com a Organização Mundial da Saúde (OMS) em plena pandemia de coronavírus.
"A partir de hoje encerraremos nossa relação com a Organização Mundial da Saúde e redirecionaremos estas verbas para outras necessidades globais, urgentes e merecedoras na saúde", afirmou o republicano, sem detalhar como tal rompimento seria feito.»
E VAI DAÍ... 
«A NATO está a desconfinar os jogos de guerra na Europa que, em boa verdade, nunca chegou a confinar. Manobras militares vão decorrer durante duas semanas na Polónia – uma imensa base militar norte-americana – no âmbito dos envolventes e abrangentes exercícios Defender-Europe 20. Milhares de soldados dos Estados Unidos, o país mais atingido pela epidemia, desembarcam na Europa, continente onde se viveu uma carnificina, para queimar milhões de dólares e euros que seriam essenciais para os sistemas de saúde pública e uma genuína recuperação da economia.»
Ler tudo n´O LADO OCULTO
E, ASSIM:

29 maio, 2020

Canções para o desconfinamento - 6 e 7


Ao que lembro...
Não sei porque razão 
de quando em quando 
dou por mim a trautear 
uma ou outra canção 

ao que lembro
elas nos fizeram sair
de um outro 
confinamento

28 maio, 2020

Canções para o desconfinamento - 5

"Um país abandonado, deixado à mercê de um destino que não se vislumbra no horizonte. Um povo descalço, que cai a cada passo que dá, empurrado por uma gigantesca mão feita de aço. Paisagens inóspitas arrancadas, à força, do coração de que é feito esta gente. Um coração que bate, forte, indestrutível. O povo que cai, mas que se ergue sempre após cada queda e continua a caminhar. O povo que é o país, o povo que somos nós. Todos."
Dead Combo/2014

27 maio, 2020

Canções para o desconfinamento - 4

___
Não sei se é canção 
ironia ou oração 
mas sempre que me deito a oiço 
e acordo disposto 
a mudar o Mundo
(o que não custa muito
leva é tempo)

26 maio, 2020

Canções para o desconfinamento - 3


DIA DE SÃO RECEBER
Embora falar da arte
Da arte de sobreviver
Daquela que se descobre
Quando não há que comer
Há os que roubam ao banco
Os que não pagam por prazer
Os que pedem emprestado
E os que fazem render

Este dia a dia é duro
É duro de se levar
É de casa pró trabalho
E do trabalho pró lar

Leva assim uma vida
Na boínha sem pensar
Mas há-de chegar o dia
Em que tens de me pagar

Ai é o dia
De S. Receber

Dia de S. Receber

Já não chega o que nos
Tiram à hora de pagar
É difícil comer solas
Estufadas ao jantar
De histórias mal contadas
Anda meio mundo a viver
Enquanto o outro meio
Fica à espera de receber

Ai é o dia de S. Receber
Dia de S. Receber

Ai a minha vida
Ai a minha vida

É assim esta diálise
Entre o deve e o haver
Sei que para o patrão custa
Enfrentar este dever
O dinheiro para mim não conta
Eu trabalho por prazer
Mas o dia que eu mais gosto
É o dia de S. Receber

25 maio, 2020

Canções para o desconfinamento - 2


QUE NINGUÉM DURMA

Nessun dorma!
Nessun dorma!
Tu pure, o, principessa,
Nella tua fredda stanza,
Guardi le stelle
Che tremano d'amore
E di speranza.

Ma il mio mistero e chiuso in me,
Il nome mio nessun saprá!
No, no, sulla tua bocca lo diró
Quando la luce splenderá!

Ed il mio bacio sciogliera il silenzio
Che ti fa mia!

(il nome suo nessun saprá!...
E noi dovrem, ahimé, morir!)

Dilegua, o notte!
Tramontate, stelle!
Tramontate, stelle!
All'alba vinceró!
Vinceró,
vinceró!

24 maio, 2020

In Memoriam: Maria Velho da Costa (1938-2020)


Nunca, em tão pouco tempo, se escreveu e falou tanto de quem há muito sobre ela pesava um inexplicável silêncio.  Do meu lado, ficam dois apontamentos de vídeo que dá uma ideia da mulher e da obra. Mas fica também um apelo à leitura de um trabalho "Mulheres: a outra metade da humanidade" e onde se dá uma ideia do papel desempenhado pelo julgamento das célebres «Três Marias» no contexto do desenvolvimento dos movimentos feministas no que respeita aos direitos das mulheres. Este trabalho viria a receber, em 2010, o Prémio «Paridade: Mulheres e Homens na Comunicação Social», da CIG.

Até sempre, Maria!

23 maio, 2020

Canções para desconfinamento - 1


CANÇÃO DE MADRUGAR

De linho te vesti
de nardos te enfeitei
amor que nunca vi
mas sei.

Sei dos teus olhos acesos na noite
- sinais de bem despertar -
sei dos teus braços abertos a todos
que morrem devagar.

Sei meu amor inventado que um dia
teu corpo pode acender
uma fogueira de sol e de fúria
que nos verá nascer.

Irei beber em ti
o vinho que pisei
o fel do que sofri
e dei.

Dei do meu corpo um chicote de força.
Rasei meus olhos com água.
Dei do meu sangue uma espada de raiva
e uma lança de mágoa.

Dei do meu sonho uma corda de insónias
cravei meus braços com setas
descobri rosas alarguei cidades
e construí poetas.

E nunca te encontrei
na estrada do que fiz
amor que nunca logrei
mas quis.

Sei meu amor inventado que um dia
teu corpo há-de acender
uma fogueira de sol e de fúria
que nos verá nascer.

Então:
nem choros nem medos nem uivos
nem gritos nem pedras nem facas
nem fomes nem secas nem feras
nem ferros nem farpas nem farsas
nem forcas nem cardos nem dardos

nem guerras
 Ary dos Santos - 1970

22 maio, 2020

A realidade está aí... e não adianta olhar para o lado!

Imagem retirada de um artigo publicado n´O LADO OCULTO
"Mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca..."
"Liberdade", Fernando Pessoa

À imagem de Cristo, seremos milhões a não saber de finanças e seremos poucos a gabarem-se de ter biblioteca. Cristo não precisava disso para saber que seu gesto de correr com os vendilhões do templo era justo. Hoje vivemos um tempo em que me ocorre tal imagem bíblica. 
E porque me ocorreu tal pensamento? 
Não sabe? 
Então adivinhe!

Da minha janela - 5

«Contrariamente ao que vulgarmente se pensa, as janelas não servem apenas à contemplação. »
Há muito escrevi isso, hoje confirmo. A uma janela pode-se fazer o que nunca nos tinha ocorrido fazer. Hoje aconteceu. Dialoguei com um pássaro que certamente, pelo canto, seria um melro. Ele começou primeiro e lançou um canto a que, logo logo, não liguei. Ele insistiu e pareceu-me que seria a mim que dirigia. Fiquei mais atento até perder a dúvida. Sim, seu canto era-me dirigido. Experimentei um tímido assobio, depois outro e depois outro ainda, mais afinado. Houve um silêncio, como se o pássaro quisesse interpretar a minha mensagem posto que ele voltou à liça num chilrear harmonioso, com volteios entre agudos e graves finalizando com chilrear desafiante. Respondi-lhe imitando-lhe parte e depois mais criativo fui inventando sons que nunca tinha ensaiado. Estivemos assim um tempo, ora ele, ora eu até que se calou. Em ar de desafio lancei um trinado  bem timbrado, e o melro nada. Silêncio absoluto. Repeti e nada. Talvez tivesse voado e nem me dera conta. Depois fiquei pensando o que teríamos dito um ao outro... e acabei fazendo paralelo com o que se passa entre gente... fala-se para matar o tempo e das conversas tidas, coisas ditas, nenhum registo para memória futura... 

Mas fica o agrado de termos falado.

20 maio, 2020

O Mundo nunca mais vais ser o que já foi...

 CHINA VAI CONTRA ATACAR “ONDE MAIS DÓI”


A China está preparada para tomar uma série de medidas de resposta contra um plano dos Estados Unidos para bloquear o envio de semicondutores destinados à empresa chinesa de telecomunicações Huawei. Entre essas acções estão a de colocar empresas norte-americanas numa “lista de entidades que não são dignas de confiança”, a imposição de restrições a empresas norte-americanas como a Apple e a interrupção de compra de aviões à Boeing. As informações foram divulgadas por uma fonte próxima do governo de Pequim.

19 maio, 2020

37 hectares de verdejante terreno, tendo uma cidade dentro em regras de desconfinamento...


37 hectares pode ser a dimensão do espaço urbano de qualquer cidade ou vila se lhe retirarmos o espaço ocupado pela valência habitação. Isto é, se subtrairmos a uma comunidade os seu bairros, quarteirões de prédios e blocos habitados e ficassem apenas, teatros e cinemas, restaurantes e esplanadas, museus, livrarias, equipamentos para práticas desportivas e espaços para actividades cívicas e politicas e, naturalmente, as lojas dos lojistas, a dimensão das duas quintas dá e sobra. 

Se tudo isso, em desconfinamento, funciona cá fora... porque é que, cumprindo todas as regras, deverá de ser impedido de funcionar lá dentro?  

Eu já estou decidido a lá ir a uma jornada de trabalho. É que sem trabalho a vida pára e eu não gosto, nem por nada, da vida parada. 

Ah!, mas levo máscara!

18 maio, 2020

Classe trabalhadora em tempo de confinamento


CONSTRUÇÃO
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão, atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado
Chico Buarque

17 maio, 2020

Classe média em tempo de desconfinamento


CLASSE MÉDIA
Em tempos de desconfinamento, o marido
já tinha saído
Pôs agua a correr, em temperatura amena
Preparou o que vestir, a roupa interior, o top de renda
e aquela saia rodada
A banheira transbordava

Escoou-a um pouco para que lhe coubesse o corpo
Como sempre fazia, estendeu-se, languidamente,
deixando que o morno, lhe acalmasse a pressa
Voltou a não esquecer os sais com odores de flores
E assim ficou, como sempre, longos minutos
até despertar para o tempo
em gestos resolutos
Não massajou o cabelo, antes o soltou
e usou o habitual champô 
Passou pela pele o creme de amêndoas
e no rosto o costumado anti rugas, levemente aromatizado

Vestiu-se, fez o penteado
Olhando-se de perfil, detrás e de frente
Treinou um sorriso confiante
Na cozinha, ligou a chaleira
Mas hesitou, entre o chá e a prateleira
onde, alinhados, estavam os iogurtes, ricos em bifidus
muito coloridos
e açucarados
Optou, mais uma vez, pelo o de  morango aos pedaços
Esqueceu a tosta com doce de frutos silvestres
e não meteu na mala a caixa de chicletes
Antes de sair, abriu a janela
para que o sol entrasse por ela
Apressou-se, para não chegar atrasada
à esplanada e não se esqueceu da bela máscara
Chegou, gabaram-lhe  mil vezes o que trazia vestido
a elegância, os cheiros, o penteado
baixou a máscara e esboçou um sorriso
Depois entrou na conversa sobre os horrores da violência doméstica,
a tristeza na incerteza na renovação da moda, a extensa lista de espera para o salão de estética
dissertando, de seguida
sobre as agruras da vida e sobre o enfado
causado pelo continuo cuidado
e sobre aqueles que lhe deram justo uso
sem qualquer descuido  
E quando estava a fazer tal juízo
nesse momento preciso
surge-lhe o toque de uma mensagem
«Querida, compra tu no take away lá do bairro         estou sem saldo
e ainda não recebi nem as comissões nem o salário»

Pela cara dela, perguntaram-lhe o que era
Respondeu - Um anúncio parvo
enviado através do Sapo

Recompôs a bela máscara, tranquila,
levantou-se e foi buscar uma raspadinha
Rogério Pereira

16 maio, 2020

A mensagem de Banksy

Banksy espelha e espalha seu olhar atento através de seu traço. Já são muitas as mensagens que a este espaço tenho trazido impressionado pela sua arte expressa e impressa não apenas nas paredes nuas das ruas mas também em muros. Hoje trago esta, acompanhada de um texto que não é meu
"No Reino Unido, nos corredores de um hospital de Southampton, o artista Banksy realizou uma obra de um metro quadrado, a preto e branco. Representa um menino de fato de macaco que agita, na sua mão, uma boneca com os traços de uma super-heroina: é uma enfermeira de máscara, vestida com uma capa e um avental. Aos pés do menino, relegados sem consideração, Batman e Superman estão juntos num cesto dos papéis. A mensagem de Banksy é clara: no reino dos heróis mascarados, são as enfermeiras que destronam em heroísmo e em verdade os super-heróis de ficção. O que podemos imaginar, através do olhar da criança que brinca, é que debaixo da máscara da enfermeira, debaixo da sua capa e do seu avental bate um coração que atravessou lutos." 
"E se a máscara esconde a coragem, a fadiga, tal como as lágrimas de quem faz face à morte, então o disfarce pode vestir de verdade uma das mais belas formas de heroísmo que existe: o heroísmo do pudor. Nietzsche não se enganou quanto a isso, ele que enunciava este paradoxo num grande texto, sob o título “Prelúdio de uma filosofia do futuro” onde dizia: “Tudo o que é profundo ama a máscara”."

14 maio, 2020

«O pão nosso de cada dia, nos dai hoje!"


Enquanto ontem eu blasfemava, trazendo a oração como texto inapropriado, um camarada meu também fazia publicar uma sua blasfémia trucidando um popular ditado "Casa roubada sem trancas na porta" - O título era pois muito diferente, mas ao estilo dele. Mas o sentido era igual. Oram leiam: 
«Com a chegada da pandemia novamente se lembraram da produção agro-pecuária nacional e de como assegurar os canais para que esta chegue a casa dos portugueses. Nada de espantar. Foi assim em 2008, com um movimento especulativo mundial a fazer trepar os preços dos bens agrícolas. Falaram então da necessidade do país possuir «reservas estratégicas de alimentos». Foi assim em 2012, com os preços dos cereais a disparar nos mercados internacionais e a fazer soar as campainhas de alarme. Só se lembram de Santa Bárbara quando troveja...
Sempre que há desgraças lembram-se que o país precisa de estar preparado, PREVENIDO para uma questão de vida ou de morte, ou seja, haver ou não haver alimentos para a sua população, haver ou não proteína animal e vegetal para produzir a matéria e a energia que assegura a sustentação da vida humana.
Ora às portas da pandemia os sinos tocaram mais uma vez a rebate, desta vez os carrilhões de Mafra.
«Segundo o INE (…) nos cereais de outono/inverno, e pelo sétimo ano consecutivo, a superfície instalada diminuiu, passando para os 106 mil hectares (a menor dos últimos cem anos)»
Um documento (importante) do Ministério da Agricultura fez o balanço das disponibilidades e possíveis problemas com o abastecimento alimentar do país. Pode ler-se na página 18: «Segundo o INE (…) nos cereais de outono/inverno, e pelo sétimo ano consecutivo, a superfície instalada diminuiu, passando para os 106 mil hectares (a menor dos últimos cem anos), com reduções generalizadas: trigo duro (-15%), triticale1 e cevada (-10%) e trigo mole e aveia (-5%) (...)». Do centeio, do praganoso das serranias já nem falam! Cito e sublinho «Grau de Autoaprovisionamento: 4% em 2017/18». Mesmo no milho, onde a situação é melhor, estamos com um grau de autoaprovisionamento de 24,2%.

Dito isto, quem será capaz de dizer que as políticas agrícolas de sucessivos governos PS, PSD e CDS, a Política Agrícola Comum (PAC) e as sucessivas reformas da PAC, guiadas pelos interesses agrícolas da França, Alemanha, Holanda e outros, foram acertadas, adequadas ao país? E outra conclusão se impõe: apesar de todos os avisos, 2008 e 2012, o país não emendou a mão.
Mas dizer o país é atirar a responsabilidade para cima de todos, e muitos houve que, bem pelo contrário, avisaram dos riscos dessas políticas, das suas consequências para a Soberania Alimentar do país.»
...mas "isto" não acaba aqui

12 maio, 2020

A Fátima cometeu um erro de casting?...


Ao longo dos episódios de um programa que podia ser outra coisa se não fosse aquilo que é, a Fátima tem tido rigoroso cuidado na escolha de quem vem convidando. De quando em quando acontece haver reais prós e contras e aparecer alguém a pensar e a intervir fora do quadrado delimitado pelos parâmetros do discurso oficial e a lançar luz ou alerta quanto à matéria do tema.  Fátima, quando isso acontece, treme e ultimamente tem sido mais selectiva pois ela não gosta de tremores. Ontem deve ter cometido um grave erro de casting pois por lá foi dito qualquer coisa como isto:
A pandemia fará com que se venha a rever a globalização, atendendo aos efeitos produzidos sobre as economias. Teremos que rever todas as cadeias de valor e dar mais atenção à produção nacional
Fabricar máscaras e passar a exportá-las é positivo, mas passar a produzir as máquinas para as fabricar teria efeitos mais positivos, até porque o país quem capacidades e competências para fabricar esses e outros equipamentos...
Onde e a quem eu já ouvi dizer mais ou menos o mesmo ?

11 maio, 2020

Há outra pandemia, sabia?

...A PANDEMIA DE DESPESAS MILITARES

A pandemia de COVID-19 continua mas as despesas militares aumentam em todo o mundo, comandadas pelos Estados Unidos e a NATO, apesar de em 2019 já terem sido as mais elevadas em mais de duas décadas. O secretário de Estado norte-americano pediu aos aliados mais 400 mil milhões de dólares para gastos de guerra numa altura em que são necessários enormes recursos para a saúde dos cidadãos e em que o desemprego ataca como um flagelo. 
Mas não nos preocupemos com isso porque alguém está a publicar anúncios de emprego: a NATO.
Manlio Dinucci, Il Manifesto/O Lado Oculto

10 maio, 2020

"A fábula do passarinho", um poema ao estilo satírico mas também um tanto erótico


Já vos tenho falado do Fernando Tavares Marques...
Pois hoje quando andava procurando, em tudo o que era página de grupo de teatro, para saber quando seria retomada a arte, a um terço da sala, e planear umas ideias, daquelas que só ocorrem a verdadeiros Desenhadores de Sonhos para ajudar a salvar a cultura da ameaça que sobre ela paira*, dou com este poema seu, dito por Rui Unas, antecedido por um pequeno texto, também por ele dito:
«De todas as liberdades, a que me é mais cara é de expressão. Em 1965, a poetisa Natália Correia foi condenada a três anos de prisão (substituíveis por multa) pela sua “Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica”. Um livro que reunia “finalmente num único livro, a poesia maldita dos nossos poetas”. A obra foi apreendida, e queimaram-se simbolicamente exemplares. Estamos em 2020 e exerço a minha liberdade de recitar a Fábula do Passarinho de Fernando Tavares Marques. Viva o 25 de Abril! »
Rui Unas
*Sobre o projecto
um dia destes vos conto

09 maio, 2020

Dia 9 de Maio


Para quem não se lembre ou não tenha presente o significado disto, veja o vídeo!
Há quem diga que o dia é mais o que comemora a União Europeia. Mas... que que isso de união? Isso existe?

08 maio, 2020

O "face" ensadeceu... (2)

Há uns anos, mais de nove, montei neste meu espaço uma exposição bem composta.

Pequena exposição - Figuras do meu imaginário de adolescente e rostos que me povoam a mente 

Tinha a dita uma sala de entrada "Sala de afectos" e duas galerias. A uma, designei-a por "Galeria das "Minhas Influências e Crenças" a outra "Os nossos Ódios de Estimação".

Com essa implantação pendurei por lá a parte da obra que poderia até ser minha se tivesse o seu traço, a sua criatividade e arte. As figuras, lá expostas, ainda constam do meu imaginário e os rostos que lá coloquei continuam a povoar-me a mente. Entre mim e o Fernando há cumplicidades de uma geração que passou pelos mesmo e de um empenhamento militante semelhante. Ambos teimamos em tornar o mundo melhor. O facebook coloca-se ao lado de quem não gosta disso, e calou-lhe o bico e ao meu mantém-o calado. 

Estamos ambos censurados!

07 maio, 2020

SNS: nota positiva em tempos difíceis


«Em tempo de solidariedade e de muitas palmas aos trabalhadores do SNS, recrudesce, por entre algumas mentiras e meias-verdades, a campanha a favor dos grupos privados que da saúde fazem negócio.
A crise sanitária que vivemos veio sublinhar, por um lado, a importância e o papel insubstituível do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e, por outro, a necessidade do reforço das suas estruturas, nomeadamente no plano financeiro, passando a canalizar para o SNS muito dos fundos públicos que têm alimentado os lucros dos grupos económicos que actuam na área da saúde e no negócio da doença.


Sem pôr em causa a contratualização temporária e limitada de serviços privados, o que se exige são verbas que permitam também valorizar os profissionais de saúde, designadamente quanto a remunerações e carreiras e, face às necessidades, fazer novas contratações. 
Foi aliás no SNS – que se revelou imprescindível – que milhares de doentes infectados pela Covid-19 encontraram tratamento, e não nas seguradoras ou nos grupos privados da saúde.
Entretanto, em tempo de solidariedade e de muitas palmas aos trabalhadores do SNS, recrudesce, por entre algumas mentiras e meias-verdades, a campanha a favor dos grupos privados que da saúde fazem negócio.


Promovida por comentadores e analistas ao seu serviço, primeiro trataram de questionar a capacidade de o serviço público responder ao surto epidémico, e agora vêm, de mansinho, pôr em causa a possibilidade de o SNS recuperar os doentes em lista de espera, na expectativa de continuarem a alimentar o sector privado da saúde com os milhares de milhões de euros que o erário público transfere anualmente, e se possível ainda com mais dinheiro.


Nesta nova operação de ataque ao SNS, lá estão, na linha da frente, os promotores da política de direita, nomeadamente o PSD e o CDS-PP, a falarem da necessidade e da exigência do reforço do SNS, esquecendo que é deles o velho slogan «quem quer saúde, paga-a». Aliás, um lema que os seus governos (e não só) procuraram aplicar a tudo o que são serviços públicos, em particular nas áreas sociais, nomeadamente através de privatizações ou de cortes substanciais no seu financiamento.


Mas também os propagandistas da chamada «reforma do Estado», que a apresentam como a panaceia para todos os males, embora sem dizerem ao que vêm. Sem concretizarem que a sua «reforma do Estado» passa pela destruição dos serviços públicos, nomeadamente nas áreas da saúde e da educação, e pela redução dos apoios sociais.


Nesse sentido, depois da «revolução nos transportes públicos» do ano passado, e num momento em que se desvanece o mito das vantagens da gestão privada e da empresarialização na saúde, importa partir do trabalho realizado nestes últimos dois meses e melhorar a capacidade do SNS, não apenas para responder a momentos de crise como o que vivemos, mas de forma permanente e em todas as circunstâncias.»

Texto publicado em AbrilAbril 

06 maio, 2020

E esta, hein?!


É que, por demais atarefado, tinha-me passado a notícia. Apanho-a agora e fico a saber que um tal Rui Riso (se confundir com o outro não importa) fez tudo sem ouvir os delegados sindicais e as comissões de trabalhadores. Para um vice-Presidente da UGT, nada mal, até porque o outro Rui, o Rio, deu-a como exemplo de bem comportada.

Balanço: 
- as unidades de saúde SAMS, continuam encerradas 
- cerca de 1500 trabalhadores continuam colocados em regime de lay-off 
- 100 mil beneficiários e utentes dos SAMS que «se viram privados dos seus profissionais de saúde e do acesso aos seus processos clínicos», para os quais continuam a descontar mensalmente, continuam pendurados.

05 maio, 2020

Dia Mundial da Língua Portuguesa...e nós, desprevenidos, ficámos pela "prata da casa"...

A expressão "Prata da casa" não devia ter sido usada. Mas nós, Desenhadores de Sonhos fomos apanhados desprevenidos quando hoje soubemos o significado do dia...
Contudo, a nossa "Prata da Casa" é, tem sido, ouro:
Ouro, o primeiro conto;
Ouro, o segundo, o terceiro 
o quarto e o quinto
E a fechar, com chave-de-ouro
um conto nunca antes publicado

03 maio, 2020

Ó minha mãe, minha mãe

 
Estou sozinho no mar largo
Sem medo à noite cerrada
O minha mãe minha mãe
O minha mãe minha amada


José Afonso

Por vezes, da alma me sai
Falando a quem quero bem
Sou mais que teu pai
Sou quase tua mãe

Rogério Pereira

«Quem estava não tinha procurado a praia e fazia o que sempre ali se fazia, conversava. Conversava, de tudo e de nada até que, pela frequência com que passavam flores, o velho engenheiro, comentou o dia e o negócio que proporciona, dissertando pelo consumismo. Depois falámos de mães e de mulheres, de mulheres e de mães, a seguir de nossas filhas e das mães delas. Não falámos de nós a não ser por falarmos delas e percebemos quanto as admirávamos sem lhes endereçar um só adjectivo e ficando os elogios perdidos no que cada um ao outro contava. Antes de irmos, cada um à sua vida, deixámos quase sentenças:

- "Somos a mãe que tivemos", sentenciou ele.
- "Não é boa mãe quem quer, mas quem soube e o pode ser", disse, antes de me despedir.»
reeditado com pequenos acertos, de conversas antigas


____

02 maio, 2020

Em tempo de pandemia, as missões dos cidadãos


«A directora-geral do Fundo Monetário Internacional, Kristalina Georgieva, pronunciou uma sentença em poucas palavras que vale mais que mil imagens: «A Organização Mundial da Saúde [OMS] existe para proteger a saúde das pessoas; o FMI existe para proteger a saúde da economia mundial.»
(...)
As missões dos cidadãos

Não sabemos se esta é a «grande crise adequada» de que falou o banqueiro David Rockfeller. Que é uma crise longa parece não haver dúvidas, basta ouvir a frequência com que nos vão preparando para «a segunda vaga» ou «a terceira» ou mesmo «a quarta».

A revista Science acaba de publicar um artigo produzido pela Universidade de Harvard segundo o qual o confinamento social deverá prolongar-se até 2022, por insuficiência de imunização; e a pandemia assumirá a forma de uma gripe pandémica circulando sazonalmente após a grande vaga inicial.

Já percebemos, porém, o caminho que as coisas estão a tomar nos domínios do condicionalismo dos comportamentos, dos ataques à privacidade e das restrições às liberdades.

Não há alternativa, dizem-nos. Há um preço a pagar – são sempre os mesmos a arcar com os custos mais elevados e não existe nenhuma garantia de que agora seja diferente.

Nada impede, porém, os cidadãos de redobrarem a vigilância sobre as crescentes tendências autoritárias, sobre a normalização do excepcionalismo nas suas várias designações técnicas.

O capitalismo não será vítima do vírus; pelo contrário, está preparado para tirar proveito dele enquanto as pessoas continuam a morrer. Por outro lado, o neoliberalismo debate-se numa espécie de «guerra civil» entre as suas facções – ainda que ambas convirjam cada vez mais no sentido da imposição do autoritarismo.

Existe, neste quadro, um imenso espaço para a acção e a mobilização anticapitalista. É missão reforçada dos cidadãos estarem atentos a cada direito social, cívico e humano que tentem por entre parêntesis, a cada passo contra a privacidade, a cada prolongamento do excepcionalismo primeiro porque tem de ser e depois porque tem sido assim.

Há que denunciar cada investida deste tipo, mesmo quando embrulhada nas melhores intenções, cada golpe nos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. O direito à luta não prescreve, a vigilância democrática tem de ser à prova de vírus, o distanciamento social não pode capturar o direito à mobilização cidadã como refém.

O neoliberalismo quer tirar partido de um vírus que há muito guardava na cartola? Então há que inverter-lhe o jogo, por muito que as forças sejam desiguais.

Ler tudo n´AbrilAbril
"O neoliberalismo cavalga o vírus"
Uma Opinião de José Goulão 



01 maio, 2020

1º de Maio

 
«- Loucura! - gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
- Mentira! - disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.»
de Vinícius de Moraes