02 maio, 2020

Em tempo de pandemia, as missões dos cidadãos


«A directora-geral do Fundo Monetário Internacional, Kristalina Georgieva, pronunciou uma sentença em poucas palavras que vale mais que mil imagens: «A Organização Mundial da Saúde [OMS] existe para proteger a saúde das pessoas; o FMI existe para proteger a saúde da economia mundial.»
(...)
As missões dos cidadãos

Não sabemos se esta é a «grande crise adequada» de que falou o banqueiro David Rockfeller. Que é uma crise longa parece não haver dúvidas, basta ouvir a frequência com que nos vão preparando para «a segunda vaga» ou «a terceira» ou mesmo «a quarta».

A revista Science acaba de publicar um artigo produzido pela Universidade de Harvard segundo o qual o confinamento social deverá prolongar-se até 2022, por insuficiência de imunização; e a pandemia assumirá a forma de uma gripe pandémica circulando sazonalmente após a grande vaga inicial.

Já percebemos, porém, o caminho que as coisas estão a tomar nos domínios do condicionalismo dos comportamentos, dos ataques à privacidade e das restrições às liberdades.

Não há alternativa, dizem-nos. Há um preço a pagar – são sempre os mesmos a arcar com os custos mais elevados e não existe nenhuma garantia de que agora seja diferente.

Nada impede, porém, os cidadãos de redobrarem a vigilância sobre as crescentes tendências autoritárias, sobre a normalização do excepcionalismo nas suas várias designações técnicas.

O capitalismo não será vítima do vírus; pelo contrário, está preparado para tirar proveito dele enquanto as pessoas continuam a morrer. Por outro lado, o neoliberalismo debate-se numa espécie de «guerra civil» entre as suas facções – ainda que ambas convirjam cada vez mais no sentido da imposição do autoritarismo.

Existe, neste quadro, um imenso espaço para a acção e a mobilização anticapitalista. É missão reforçada dos cidadãos estarem atentos a cada direito social, cívico e humano que tentem por entre parêntesis, a cada passo contra a privacidade, a cada prolongamento do excepcionalismo primeiro porque tem de ser e depois porque tem sido assim.

Há que denunciar cada investida deste tipo, mesmo quando embrulhada nas melhores intenções, cada golpe nos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. O direito à luta não prescreve, a vigilância democrática tem de ser à prova de vírus, o distanciamento social não pode capturar o direito à mobilização cidadã como refém.

O neoliberalismo quer tirar partido de um vírus que há muito guardava na cartola? Então há que inverter-lhe o jogo, por muito que as forças sejam desiguais.

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"O neoliberalismo cavalga o vírus"
Uma Opinião de José Goulão 



2 comentários:

  1. Que dizer, senão que concordo, que é bem evidente que "o neoliberalismo cavalga o vírus" e que o cavalga com mestria, encontrando-se, de momento, em posição de destaque na "corrida"?

    Abraço, Rogério.

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  2. Maravilhoso seu blog e suas publicações.

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