«Foi a segunda vez em apenas dois dias que as autoridades de Pequim sublinharam a intenção de reagir contra os Estados Unidos; e a primeira em que uma fonte associada ao governo citou empresas norte-americanas específicas. A reacção surge na sequência da sucessão de ataques de Washington contra a China, suficientes para provocar o que parece ser “um tsunami” de descontentamento entre as autoridades oficiais chinesas e também nos círculos de negócios.
Pequim já anteriormente reagira à acumulação de acções litigiosas nos Estados Unidos contra a China a propósito de alegadas responsabilidades chinesas na disseminação da pandemia de COVID-19 e, nesse sentido, está a ponderar tomar medidas preventivas punitivas contra indivíduos e entidades norte-americanas.
De acordo com análises que circulam na capital chinesa, os últimos movimentos de Pequim manifestam uma intenção de resposta de igual para igual no âmbito do aumento de tensão em curso entre as duas maiores economias do mundo e que tem repercussões políticas e económicas.
Muito recentemente o governo Trump fez adiar o embarque de semicondutores para a Huawei produzidos por fabricandos globais de chips. O Departamento do Comércio dos Estados Unidos informou que o adiamento decorre da alteração das regras de exportação e da lista de entidades envolvidas, de modo “a atingir estrategicamente a aquisição de semicondutores por parte da Huawei que resultem directamente de softwares e tecnologias norte-americanas”, de acordo com uma informação oficial.
Fazê-los “sentir onde mais dói”
“A China tomará contramedidas vigorosas para defender os seus direitos legítimos” no caso de os Estados Unidos avançarem com a intenção de alterar as regras e de impedirem que fornecedores essenciais de chips, incluindo a TSMC de Taiwan, vendam esses produtos à Huawei, disse uma fonte próxima do governo em declaração exclusiva ao Global Times.
As medidas incluem agregar as empresas norte-americanas envolvidas à “lista de entidades que não são dignas de confiança” da China, impor restrições ou iniciar processos nesse sentido a empresas norte-americanas como a Qualcomm, a Cisco e a Apple, de acordo com as leis chinesas sobre Revisão de Cibersegurança e Antimonopólio; Pequim pode também suspender a compra de aviões à Boeing.
As empresas citadas – Apple, Qualcomm, Cisco e Boeing – são todas altamente dependentes do mercado chinês.
“A China devem implementar essas contramedidas de maneira a que os Estados Unidos não ousem pedir por uma milha depois de terem entregado uma polegada”, disse He Weiwen, um ex-alto funcionário comercial e membro do Conselho Executivo da Sociedade Chinesa para Estudos da Organização Mundial de Comércio.
Nesse sentido, aconselhou a China a promover “investigações completas sobre empresas norte-americanas relevantes” e “fazê-las sentir onde mais lhes dói”.
Medidas punitivas contra grandes empresas dos Estados Unidos como a Qualcomm, Cisco e Apple” são como “bombas nucleares”, comentaram analistas.
“A China deverá iniciar uma interminável série de investigações sobre essas empresas, fazendo pairar espadas sobre as suas cabeças, o que diminuirá a confiança dos investidores e reduzirá as suas receitas no mercado chinês”, revelou uma outra fonte que desejou manter o anonimato. No primeiro trimestre de 2020 o mercado chinês representou 14,8% das receitas totais da Apple.
Uma reacção em cadeia na economia dos Estados Unidos
Os analistas económicos consideram que se os chips fabricados por essas empresas norte-americanas não puderem ser vendidos no mercado chinês, uma das suas mais importantes fontes de receitas, isso tornaria extremamente difícil às empresas tecnológicas dos Estados Unidos recuperar o investimento. Algumas poderão ficar atoladas nessas perdas.
A indústria de chips é uma das principais actividades exportadoras dos Estados Unidos e um dos poucos sectores que ainda gera superavit comercial, impulsionado, em grande parte, pelo crescimento de vendas na China, de acordo com um trabalho publicado pelo The Wall Street Journal; segundo este texto, a proibição de vendas de chips à China pode custar aos fabricantes norte-americanos a perda de receitas da ordem dos 36 mil milhões de dólares.
“O que também irá gerar uma reacção em cadeia atingindo outras actividades a montante e a jusante da produção de chips nos Estados Unidos”, sublinhou a fonte.
Boeing em queda livre
Quanto à Boeing, a China poderá anular todas as encomendas feitas ao grupo se os Estados Unidos insistirem nas suas posições, mesmo que isso implique que algumas empresas chinesas tenham de pagar pela quebra de contratos, disse uma fonte do sector da aviação ao Global Times.
Se a Boeing perder as encomendas chinesas, tratando-se de uma empresa à beira da falência só poderá salvar-se recorrendo à ajuda do governo dos Estados Unidos, acrescentou a fonte; salientou ainda que além das encomendas que já existiam a China poderia ainda contratar a compra de mais de cem aparelhos ao grupo norte-americano, num valor de mais de quatro mil milhões de dólares anuais.
A “dor” de que falam as fontes chinesas decorrente das respostas em preparação em Pequim atingirá não apenas as empresas citadas, como a Apple, a Cisco e a Boeing, mas também outras menores, provavelmente mais vulneráveis.
A maioria das empresas norte-americanas incluídas na lista das “entidades que não são dignas de confiança” são mais pequenas que os gigantes citados e altamente dependentes de empresas chinesas, disse Gao Lingyun, um especialista da Academia Chinesa de Ciências Sociais e próximo do governo de Pequim.
“Trata-se de empresas vulneráveis a medidas restritivas”, afirmou. “Do lado chinês, os custos da imposição de sanções são baixos; porém, a maioria dessas empresas norte-americanas de menores dimensões poderão ficar à beira do colapso”, acrescentou Gao. Essas contramedidas poderão, portanto, servir como um aviso “de primeiro nível” ao lado norte-americano.
O Ministério do Comércio da China anunciou há um ano que divulgará a sua própria lista de entidades estrangeiras que comprometem seriamente os interesses legítimos das empresas chinesas.
Essa lista de entidades “que não são dignas de confiança” incluirá organizações estrangeiras, indivíduos e empresas que bloqueiam ou encerram cadeias de abastecimentos ou adoptam medidas discriminatórias por razões não comerciais e cujas acções colocam em risco os negócios de empresas chinesas, consumidores e empresas globais. Uma vez integrada na lista, uma empresa enfrentará as medidas legais e administrativas consideradas necessárias; e a população chinesa será informada da situação.
Taiwan sofre por tabela
Especialistas revelaram que os procedimentos administrativos para a concretização dessas contramedidas serão os seguintes: as empresas chinesas informam as autoridades relevantes sobre os comportamentos inadequados de empresas norte-americanas em termos de mercado; os reguladores recebem, investigam e reúnem provas desses comportamentos; depois decidirão em conformidade se revogam as licenças de actuação dessas empresas na Chinas ou se se irão impor outras penalidades.
As restrições impostas à Huawei são um lembrete firme de que Taiwan não pode confiar nos Estados Unidos como parceiro comercial ou económico, disse Tom Fowdy, analista britânico de relações políticas e internacionais. Sublinhou, a propósito, que a Casa Branca pressionou a empresa taiwanesa TSMC a investir nos Estados Unidos e, poucas horas depois de dado esse passo, decidiu restringir os negócios com a Huawei em que também aquela está envolvida.
“É um comportamento extraordinariamente desonesto”, declarou Fowdy.
A Taiwan Semicondutor Manufacturing Co ou TSMC – a terceira maior fabricante de chips do mundo – anunciou recentemente que pretende construir uma fábrica de semicondutores de 12 mil milhões de dólares no Arizona no início do próximo ano, segundo a CNN. No entanto, de acordo com as mais recentes medidas norte-americanas de controlo das exportações, empresas estrangeiras como a TSMC que usem equipamentos de chips dos Estados Unidos têm de solicitar uma licença antes de enviarem componentes para a Huawei.
“O que o governo de Washington está efectivamente a fazer é forçar a TMSC a diminuir os seus negócios na Ásia devido a interesses específicos da política externa norte-americana, o que é extremamente traiçoeiro e desprezível”, afirmou Tom Fowdy.
Apesar de tudo, a China está a agir passivamente e em termos defensivos, protegendo os seus interesses legítimos, uma vez que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, montou uma conspiração contra a China a pretexto da pandemia de COVID-19. Em 6 de Maio, Trump prorrogou por mais um ano a ordem executiva assinada em 2019 em que declara uma “emergência nacional” que impede as empresas norte-americanas de usarem equipamentos de telecomunicações fabricados por entidades que representem “um risco contra a segurança nacional”, informou a Reuters.
A decisão foi concebida para atingir directamente as empresas chinesas Huawei e ZTE Corp.
Os Estados Unidos fracassaram na intenção de liquidar a Huawei com uma proibição que se prolongou por mais de um ano; e também estão cientes de que quanto mais durar a proibição maior será o custo a pagar pelas empresas norte-americanas, pelo que o tiro está prestes a sair pela culatra.
Por isso, o Departamento do Comércio dos Estados Unidos está prestes a assinar uma nova regra que permitiria a empresas baseadas no país trabalharem com a Huawei na definição de padrões para as redes 5G, informou a Reuters em 7 de Maio.
Analistas chineses consideram, porém, que não existe qualquer gesto de boa vontade nesta medida. Ela significa apenas que os Estados Unidos perceberam os custos de se recusarem absolutamente a cooperar com o maior contribuinte de patentes para a tecnologia de próxima geração, a 5G. As empresas norte-americanas estão a ficar bem atrás da Huawei nas patentes 5G.
Resposta assente na experiência
A China “documentou-se muito bem” sobre as ameaças e técnicas de repressão praticadas por Washington contra empresas chinesas, incluindo a Huawei, durante anteriores fases de confronto; por isso, possui agora um amplo conjunto de contramedidas nas mãos que podem atingir com precisão a economia dos Estados Unidos, disse Gao Lingyun. Daí, acrescentou, que se os Estados Unidos continuarem por esse caminho a China reagirá certamente sem qualquer hesitação.
“Adoptando contramedidas, a China acabará por beneficiar a situação entre Pequim e Washington, pois as relações e o comércio entre os dois países apenas podem voltar ao normal quando for derrotada a pequena fracção de políticos norte-americanos que prejudicam as relações bilaterais”, disse Gao.
Global Times/O Lado Oculto
Também penso que não embora não tenha conseguido ler todo o seu texto.
ResponderEliminarAbraço e saúde
Não te deixes iludir pelo meu comentário de ontem, Rogério; posso não passar de uma Maria-Ninguém, mas tenho vindo a piorar bastante e tive de passar as passinhas do Algarve para conseguir terminar a leitura deste texto.
ResponderEliminarEntretanto, ocorreu-me que se o mundo sempre tivesse continuado a ser "o que era dantes", ainda estaríamos todos a matar-nos mútua e alegremente à pedrada.
Abraço
Oxalá que entre a China e os Estados Unidos não "rebente" algo de muito grave que afecte. e muito, pessoas e bens, de toda a humanidade. Oxalá...
ResponderEliminar.
Felicidade em seu coração